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B&E assessoria
Gênero discursivo - Tirinha (ou tira)
1) Gênero argumentativo
2) Expressão de um ponto de vista
3) Análise de questões sociais, políticas, culturais etc
4) Justificativas da posição assumida
Estrutura e linguagem do artigo de opinião
No artigo de opinião, comumente encontra-se a seguinte
estrutura:
1. Um parágrafo inicial que contextualiza o tema abordado
para que o leitor possa se “localizar” e recuperar as
informações de que já dispões sobre o assunto.
2. Parágrafos de desenvolvimento que constroem a cadeia
argumentativa.
3. O encerramento do texto com uma conclusão da análise
efetuada. Costuma trazer uma explicitação da tese do autor.
A linguagem do artigo de opinião pode ser formal ou informal,
dependendo do público-alvo.
NELSON ASCHER
Lições de Virginia Tech
TERÇA-FEIRA PASSADA , Cho Seung-hui, estudante sul-coreano de 23 anos,
cuja família se estabelecera em 1992 nos EUA, matou a tiros, entre
colegas e professores, 32 pessoas no Instituto Politécnico da Virgínia
(Virginia Tech), onde estudava Letras. Por que o rapaz, armado com duas
pistolas que adquirira, perpetrou esse massacre e como isso foi possível?
A resposta é simples, óbvia e só não a aceitam aqueles que se deixaram
voluntariamente cegar por algum tipo de propaganda maliciosa.
É fácil adquirir armas de fogo nos Estados Unidos, bem mais do que na
Europa e no Brasil. Armas, como se sabe, matam (como, aliás, caminhões
cheios de fertilizante, bombas caseiras, facões etc.). Um homicida
atacadista sempre vai dispor ali das ferramentas necessárias para realizar
seu trabalho. Além disso, como na Virginia Tech as armas eram
rigorosamente proibidas, nenhuma das vítimas potenciais dispunha dos
meios para se defender de alguém disposto a transgredir as leis e as
normas locais. Caso algum estudante estivesse armado, ele poderia ter
parado o assassino.
As escolas e universidades norte-americanas são competitivas, voltadas para o
mercado. Os alunos são, desde cedo, qualificados como "winners" (vencedores) ou
"losers" (perdedores), e estes últimos amargam o desprezo, seja das instituições, seja
dos colegas. A pressão é insuportável e, hora dessas, a corda arrebenta. Convém
mencionar também que, nos EUA, os universitários são crianças mimadas que, não
mais submetidas à disciplina e às exigências rigorosas de antigamente, vivem numa
redoma artificial de bem-estar na qual os administradores fazem de tudo para que
ninguém se sinta diminuído diante dos outros. Os sentimentos de todas as minorias, de
quem quer que tenha uma reclamação, são protegidos pela imposição da correção
política e, portanto, os jovens nunca estão preparados para enfrentar o mundo real.
Como a sociedade mais injusta, imperialista, militarista e violenta que já existiu, a
americana é o caldo de cultura da violência individual, violência esta encorajada pelos
meios de comunicação, videogames e pela ideologia do país. Jovens facilmente
influenciáveis absorvem os valores oficiais e cometem barbaridades. Além disso, as
instituições de ensino superior são verdadeiros centros de doutrinação anticapitalista e
antiamericana, nos quais a democracia local é retratada como uma tirania. Professores,
inclusive os de Letras, falam de culpa coletiva e pregam a destruição revolucionária do
sistema. Alunos facilmente influenciáveis ouvem esse blábláblá e tomam a justiça nas
próprias mãos.
Vale a pena acrescentar razões suplementares para o massacre. A guerra do Iraque, que
legitimou a violência.
Os protestos contra a guerra do Iraque, que indispuseram os americanos entre si. A repressão
sexual, que canaliza a testosterona rumo a opções perigosas. A licença sexual, que leva
aqueles que não se dão muito bem neste jogo a se tornarem rancorosos e vingativos. A
discriminação de que são vítimas os imigrantes. O excesso de imigração, que não dá tempo
aos recém-chegados de se adaptarem à cultura local. A miséria e a fome. A opulência e a
obesidade. O aquecimento global.
E quanto a Cho Seung-hui? Ele, afinal, era o verdadeiro culpado. Ele era, afinal, a vítima
principal. Cho era um narcisista que queria aparecer. Cho era um introvertido que queria
desaparecer. Ele era um maluco anti-social cujos próprios colegas previam que certo dia faria
uma dessas. Era um rapaz normal, enlouquecido por um ambiente cruel e predatório. Era um
herói, um mártir corajoso que, com seu sacrifício, ajudou a punir uma sociedade injusta.
Todas as explicações acima e muitas outras, às vezes em combinações complexas, podem ser
achadas na imprensa, na internet, na mídia em geral. Alguma faz sentido? Talvez. Todas
juntas? Só numa multiplicidade de universos paralelos. Se há pouco de sério a dizer sobre Cho
e o massacre, a variedade quase infinita de enfoques e interpretações aponta, porém, para
algo interessante.
Poucas coisas despertam tanto a curiosidade humana como o crime, principalmente os
assassinatos em massa, os hediondos e os inexplicáveis. Cada indivíduo ou grupo os interpreta
de maneira a que façam sentido na sua visão mais ampla de mundo, mas de modo também a
que não a refutem nem contradigam. Como o mistério mais fascinante neste vale de lágrimas,
nada revela tão bem as crenças e a ideologia de uma pessoa quanto o modo segundo o qual
ele ou ela busca explicar a criminalidade em geral e, em particular, o homicídio.
Gênero discursivo - Editorial