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A NATUREZA, A TEOLOGIA E

ENSINAMENTOS DA SC
1.O primeiro capítulo da SC fala
sobre a natureza da liturgia e sua
importância na vida da Igreja.
• A liturgia é mistério. Sua natureza se compreende a partir do
desvelamento da ontologia do mistério: de Deus, do reino e da Igreja.

• Esse tema vai do n. 5-13. Sendo que do n. 5-8 trata-se especificamente


da natureza da liturgia. Esses números são densos de uma verdadeira
teologia e nos dão a compreensão da liturgia e sua finalidade. Isto é
glorificar a Deus e santificar o gênero humano.

• A história da salvação aborda toda a liturgia e faz dela a razão vital do


cristianismo. A história da salvação rege três momentos:
• O primeiro
momento é o
momento profético,
marcado pelo
anúncio, no qual vai
sendo dado a
conhecer
progressivamente o
amor de Deus que
deseja salvar a todos
(Tm 2,4) e elege a
• O segundo momento é o da plenitude dos
tempos. É o momento em que “a Palavra se
fez carne”. A salvação entra no tempo e o
torna impregnado da presença de Deus na
humanidade de Cristo.

• A natureza do culto cristão transcende a


realidade dos sinais sensíveis, mas através
deles realiza-se o múnus sacerdotal de Cristo e
da Igreja, seu corpo (SC,7).
• O terceiro momento é continuação do segundo,
isto é, o tempo de Cristo dá origem o tempo da
Igreja e a salvação operada por Cristo atinge
todo gênero humano em todo tempo e lugar, por
isso a liturgia é compreendida no contexto da
economia da salvação realizada por Cristo, na
história. Assim, a historia se torna história da
salvação.
• A natureza da liturgia é sagrada, é divina. Por
isso a teologia oriental a chama de “a divina
liturgia”.
• A centralidade de Cristo na liturgia não faz do
evento litúrgico sacramental uma ação isolada de
Cristo e da Igreja. A liturgia é ação conjunta da
Igreja e da Trindade. Tudo se dá por Cristo, ao Pai,
na ação do Espírito Santo.
• A natureza da liturgia é
divina porque a liturgia
é mistério, mas é
também humana
porque a Igreja, sujeito
eclesial, recebeu do
Divino Cordeiro a
ordem para fazer
memória dele
• Então podemos dizer
que a ação litúrgica é
uma ação teândriaca
porque é uma ação
conjunta da Trindade e
da comunidade eclesial.
• A natureza da liturgia é
essencialmente
trinitária. Na liturgia a
Igreja opera com a
Trindade. Como eu já
disse, todo o louvor da
Igreja se dirige ao Pai,
• Assim o mistério da economia litúrgica vai
atualizando, na história, o mistério da economia da
salvação, até a consumação dos séculos.
• A finalidade suprema da liturgia e de todo o culto
cristão é glorificar a Deus e santificar o gênero
humano. Deus é o destinatário primeiro do louvor e
da ação de graças da Igreja e a Igreja é a primeira
beneficiada, porque o primeiro efeito da liturgia é
santificar os que dela participam.
• É nesse sentido que Yves Congar diz que “a
ecclesia ou comunidade cristã é sujeito integral da
ação litúrgica” (in J.P. Jossua e Y. Congar, La
liturgia después del Vaticano II, Taurus, Madrid
1969, 279-338).
A liturgia é, também, uma
ação ritual regida pelo
cordeiro pascal que nos
salvou pelo mistério da sua
cruz, mas é, também, uma
ação eclesial. Diz a
Constituição Sacrossanctum
Concilium: “ As ações
litúrgicas não são ações
privada, mas celebrações da
Igreja, sacramento da
unidade, isto é, povo santo
reunido e ordenado sob a
direção dos Bispos” (SC, 26).
• Por ser de natureza divina, a liturgia abraça o
céu e a terra. É um evento cósmico, não é só
eclesial. A presença de Cristo ressuscitado,
Mediador entre Deus e a humanidade plenifica
de sentido os gestos e o rito fazendo de cada
celebração um momento histórico da salvação.

I. Liturgia momento histórico da


salvação
• Todo agir de Deus na história passa pelo seu
eterno plano de nos salvar, antes da criação do
mundo (Ef 1,4).
A paixão, morte e ressurreição de Jesus
inauguram um novo tempo, o tempo da
Igreja que se estende até a vinda gloriosa
do Senhor para julgar os vivos e os mortos.
Enquanto isso, a Igreja proclama: “ele está
no meio de nós” e pede: vinde Senhor
Jesus”

Para compreendermos a natureza da


liturgia, temos que situá-la no contexto
histórico-salvífico, ou seja, como momento
1.Antigo Testamento: no Livro do Êxodo,
Deus propõe uma aliança com seu povo.
Chama Moisés e lhe dá a seguinte
instruçaõ: “Assim dirás à casa de Jacó e
declararás aos filhos de Israel: ‘Vós
mesmos vistes o que eu fiz aos egípcios, e
como vos carreguei sobre asas de águia e
vos trouxe a mim. Agora, se ouvirdes a
minha voz e guardardes a minha aliança,
sereis para mim uma propriedade
particular entre todos os povos, porque
Deus pede ao povo:
a) que ouça sua voz,
b) guarde sua aliança.

Vivendo a mística da escuta e do


cuidado com a aliança, o povo de Israel
seria um reino de sacerdotes e uma nação
santa. Isto é, nação, sacerdotal, uma nação
consagrada ao serviço e ao culto do
Senhor. (serviço nesse sentido significa:
A liturgia de Israel evocava a norma de
viver centrada em duas coisas: ouvir a
palavra de Deus e vivê-la. Esta seria a
mística litúrgica do povo de Deus.

Contudo, o culto de Israel foi se


caracterizando, também, pela oferta de
sacrifícios de animais.
Inicialmente, tais sacrifícios não
pertenciam à natureza do culto de Israel,
basta ouvir o que Deus diz pelo profeta
Jeremias: “Eu não disse nem prescrevi
nada a vossos pais, no dia em que vos fiz
sair da terra do Egito, em relação ao
holocausto e ao sacrifício. Mas eu ordenei
isto: Escutai a minha voz, e eu serei o
vosso Deus e vós sereis o meu povo.
Andai em todo caminho que eu vos
ordeno e vós sereis o meu povo” (Jr 7,21-
II. No Novo Testamento:
O culto da nova aliança se dá “por Cristo,
com Cristo e em Cristo ”. É centrado na pessoa
do Cordeiro pascal.
Nele e por ele se dá a plena realização do
culto agradável a Deus. Ele é o altar, a vítima e
o sumo e eterno sacerdote, o realizador do culto
em espírito e verdade centrado no cumprimento
à vontade do Pai e na obediência até a morte e
morte de cruz.
Naquela noite, agradável para uns e “grávida
Fazer em sua memória significa fazer como ele,
isto é, traduzindo na oferta da vida e na
autenticidade dos gestos a vontade do Pai. Por
isso ele é o mediador e regente do culto cristão e
faz da liturgia o exercício do seu múnus
sacerdotal.

III. Liturgia: exercício do


sacerdócio de Cristo.
Depois de compreender a liturgia como
momento da história da salvação, a SC (7)
O mistério pascal de Cristo é o ponto angular
para o qual converge todo o sentido teológico
da celebração litúrgica.
O mistério pascal de Cristo é o ponto fontal
da natureza da liturgia cristã e a razão central
da Igreja celebrar.

Se Cristo é a pedra angular, o mistério pascal


de Cristo é o sustentáculo teológico em
torno do qual e para o qual converge, gira e
emana o sentido e a razão de celebrar o
memorial da nossa salvação.

Na liturgia, nem o antropológico, nem o


histórico-social, nada pode substituir seu
sentido teológico pascal. As lutas históricas
são iluminadas e alimentadas pela força da
páscoa de Cristo. Como evento escatológico
na história, a liturgia celebra a vitória
antecipada dos cristãos, em Cristo.
IV. Teologia e ensinamento da SC:
Constatamos que a hermenêutica teológico-litúrgica da SC difere daquela de
Trento. Trento pendia mais para uma compreensão estática e jurídica da
liturgia.
A natureza da liturgia era compreendida pelo exercício completo do rito,
conforme regiam determinadas rubricas. Na SC, a natureza da liturgia pede e
suscita uma participação plena, consciente, ativa e frutuosa por parte dos
fieis (SC, 14).

A SC oferece uma chave de leitura teológica interessante. Ela ensina que a


liturgia tem uma parte “imutável porque de instituição divina e elementos
susceptíveis de mudanças” (SC, 23). A essência da liturgia não muda.
(Mudam os elementos que foram incluídos no decorrer do tempo e que
originam de outras tradições litúrgicas).

Contudo, sabemos que sem a formação litúrgica não há participação ativa. A


formação dá a compreensão teológica e a compreensão teológica dá razões
para a participação litúrgica.
A liturgia, por ser epifania do mistério e por celebrar o
mistério, pede compreensão, pede estudo e aprofundamento.

Na liturgia, o mistério se desvela sem deixar de ser eterno e


inefável, visível e fascinante.

A compreensão litúrgica não se dá pela lógica da


racionalidade e sim pela simplicidade da linguagem
A liturgia é uma realidade tão rica, que
simbólica da ritualidade que suscita contemplação.
deve
ser contemplada de fora e de dentro.
A liturgia é mistério e o mistério não pode ser
visto só de um anglo. Por exemplo, só a
dimensão externa não é suficiente para
conhecer sua essência, é preciso mergulhar no
Na teologia pensa-
se o mistério, na
celebração, vê-se o
mistério, toca-se no
mistério,
contempla-se o
mistério.
É preciso mergulhar
na beleza do
mistério celebrado
na liturgia.
Só fazendo a experiência do mistério, podemos conhecer a verdadeira
natureza da liturgia. Por que? Porque Deus se dá a conhecer de duas
formas fundamentais: no evento revelacional e no evento litúrgico.

Pensar a liturgia como mistério é pensar a liturgia a partir do seu anglo


interno e da sua essência.

V. Liturgia locus teológico


A celebração litúrgica é o
lugar teológico da
confissão da fé trinitária.
Celebrar é experimentar a
gratuidade do amor do
Deus-Trindade que, pela
suavidade do rito, nos
A natureza da liturgia se desvela, por excelência na pragmática
celebrativa do culto cristão. Celebrar é ritualizar a fé. Quando
celebramos o mistério que se revela e suscita a fé, o horizonte
da fé enche daquele fascínio que é, ao mesmo tempo, um
misto de adoração e contemplação, temor e tremor.

Tudo isso pode ser sentido e


compreendido na perspectiva
do imperativo e da urgência
de uma teologia mais
litúrgica e de uma liturgia
mais teológica.
A fé pensada e celebrada na liturgia dá sentido à teologia e a salva
do risco de cair nas garras do discurso seco e enfadonho. Por outo
lado, a liturgia celebrada sem amparo de uma sólida reflexão
teológica corre o risco de se transformar em um rito mofado fadado
à morte.
A natureza da teologia na SC
encheu a teologia litúrgica de
Oddo Casel, Cipriani
Vagaggini e Salvatore Marsili
daquele jeito teológico de
pensar crítico dando voz à
prioridade do mistério.

Na liturgia a alteridade
A teologia litúrgica sustenta a compreensão da natureza da liturgia
com aquele olhar de K. Barth, para quem toda teologia “é uma
função específica do interno da liturgia da Igreja, isto é, daquele
anúncio que é adoração e daquela adoração que é anúncio, no qual a
Igreja escuta Deus”. ( K. Barth, Rivelazione , Chiesa, teologia, in
volontà di Dio e desiderio umano. Torino, 1986, 89-114).
A natureza da liturgia pode ser pensada de outras formas, aspectos
ou dimensões. Estamos refletindo o que nos propõe a
Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia. A SC
considera a liturgia como momento da história da salvação e como
exercício do sacerdócio Cristo.

O Concílio vê a liturgia situada na história da salvação, isto é, a


salvação em ação gerundial, ação que transcorre, por isso, como
momento privilegiado dessa história. Depois, a SC apresenta
liturgia como exercício do sacerdócio de Jesus Cristo, do corpo
A teologia litúrgica na SC é um horizonte aberto e seu constitutivo é a
obra da salvação continuada no hoje da história e no tempo da Igreja.

Nesse sentido, quando falamos tradição litúrgica é porque


compreendemos que a liturgia é atualização do mistério salvífico de
rito, através
Cristo umade umforma
adequada à sucessão
dos tempos e a
diversidade de
culturas e lugares (O
patriarcado de
Jerusalém nunca
celebrou da mesma
forma de
Constantinopla,
• Como vemos, a SC parte da apresentação da
revelação-histórica da salvação e chega
progressivamente à Liturgia-ação salvífica de
Cristo na Igreja. A revelação se manifesta
numa cascata de eventos que, de modo e em
tempos diferentes, realizam o mistério da
salvação, mas é sempre Cristo seu agente
principal.
Cristo é o mesmo ontem, hoje e
sempre. O mesmo Cristo que
encanta os pastores na gruta de
Belém, se manifesta aos teólogos do
século XXI e, hoje, interpela os
agentes de pastoral desta Igreja
Metropolitana.
A Revelação se manifesta como eventos que
indicam a realização contínua do mistério da
salvação e nos coloca diante da dimensão
histórico-transcendente do mistério de Cristo. A
história é história da salvação porque ela está
impregnada do mistério salvífico de Cristo.

"A liturgia é uma maneira, sui generis,


pela qual, desde Pentecostes até a parusia,
cumpre-se a história sagrada, mistério de
Cristo, mistério da Igreja". (C. Vagaggini).
12.03.2020
• Como já disse, o discurso sobre a Liturgia na
Sacrosanctum concilium está centrado sobre a
história da salvação.

• Mas, como falar sobre os feitos de Deus como


canta o salmista no salmo 8? Ora, se
pensarmos bem, o homem do mundo plural
marcado pelo secularismo, pelo relativismo e o
cientificismo, ele não só quer ser igual a Deus,
mas superar Deus. Mas não é esta a pretensão
do homem, desde a criação?
• Sabemos que o cientificismo, o secularismo e o
racionalismo nos desafiam e nos interpelam
dizendo: você que é cristão o que diz sobre isso, o
que pensa a Igreja sobre isso? (aborto, eutanásia,
celibato sacerdotal...). Às vezes, somos criticados,
acusados e humilhados. Mas se somos cristãos
autênticos e conscientes devemos ser ousados e
darmos uma resposta de fé.
• O apóstolo Paulo nos ensina que, pela fé,
podemos destruir "raciocínios presunçosos e
poder altivos, isto é, as muralhas e fortalezas
que se levantam contra o conhecimento
de Deus" ( 2 Cor 10:4-5).
• Concílio Vaticano II é um horizonte aberto
frente a todos os cenários e nos inspira a
dialogar com todos eles sem sermos
absorvidos por eles e sem perdermos de vista
as razões da nossa fé e da nossa convicção
serena.

• Para quem professa a fé na ressurreição, pode-


se inclinar e entrar no túmulo vazio, pode-se
tocar o lençol semidobrado e, do mistério do
túmulo cheio de vazio, pode-se contemplar,
pela fé, o clarão da pátria definitiva.
formas de conhecimento distintas daquelas que são
próprias das ciências positivas, relegando para o
âmbito da pura imaginação tanto o conhecimento
religioso e teológico, como o saber ético e estético”
(Encíclicla Fidei et Ratio, 88).
• Eu pergunto: quem nega o que cremos, pode nos
impedir de crer? Então a vida continua, porque "A
ciência leva a um ponto, além dele não pode mais
dirigir"(M. Planck, O conhecimento do mundo
físico, (cit. por Timossi, op.cit. p. 160).
• A fé que professamos e celebramos é a fé
apostólica. Os apóstolos mesmo proibidos pelo
Sinédrio, encheram Jerusalém com a mensagem do
• Não precisamos ser contra nem falar mal do
que é do outro, já dizia um discípulo de
Dionísio Areopagita, basta buscarmos a
verdade. (H.Newman, in The Letters and
Diaries, vol. XXIV, Oxford 1973, pp. 77 )

O Concílio nos ensina que Cristo não só é o


centro e o Mediador de toda ação litúrgico-
sacramental, ele é, também, o regente da
história. Na economia litúrgica,
Tudo se dirige ao Pai, por Cristo
no Espírito e tudo vem do Pai,
por Cristo, no Espírito.
O que isso diz ao mundo secularizado? Sabemos
que o secularismo é uma forma do homem viver
e afirmar sua independência de Deus. O homem
secularizado não se interessa pela eternidade. O
tempo presente é definitivo e os fins almejados
justificam os meios usados.
A experiência religiosa
ou de fé vai sendo
construída segundo o
gosto e a escolha de
cada um. O que a Igreja
diz pode ser visto,
Do secularismo vem o racionalismo que é o culto da
razão que favorece o relativismo. Para o
relativismo nada é absoluto. O desfeche disso tudo é
o individualismo que é a negação do comunitário e
da comunhão (cada um faz e age como quer). Isso
traz consequências nefastas para o trabalho pastoral.

A paróquia é vista como o lugar


onde as necessidades imediatas
sejam atendidas e não como o
espaço privilegiado para construir
a comunidade dos discípulos e
discípulas do Senhor.
Não nos esqueçamos de que o conceito de
comunidade precede ao conceito de
paróquia. Aliás, penso que não se devia criar
uma paróquia sem que se constate ali, uma
verdadeira experiência da vivência da fé em
comunidade.

Como viver a proposta do Evangelho, o


apelo do Concílio e as orientações do
recente Documento de Aparecida? Nossa
força e motivação veem da Palavra e da
presença do Senhor ressuscitado em nosso
• Ora, se o secularismo se define como aversão ao
compromisso, os cristãos devem abraçar o compromisso
de testemunhar a fé até o último grito da fidelidade
consumada que é o martírio.
• Estou falando sobre o óbvio e o que é possível. Pois
temos a Igreja que nos alimenta com a Palavra e os
sacramentos, temos a liturgia, por meio da qual Deus
opera e atualiza a salvação no mundo.
• Temos garantida a presença do ressuscitado agindo de
várias formas entre nós. Ouçamos o que diz o Concílio
no número 7 da Constituição sobre a sagrada liturgia:
“Para realizar tão grande obra (a obra da salvação
continuada no tempo da Igreja), Cristo está sempre
presente em sua Igreja, e especialmente nas ações
litúrgicas”. O Concilio indica as formas distintas da
mesma presença do ressuscitado.
1) Sob as espécies
eucarísticas. Esta forma
é presença por
antonomásia, como
disse o Papa Paulo VI
no Documento
Mysterium Fidei,39. A
eucaristia presentifica
todo o mistério de
Cristo, isto é, Deus e
homem.
2) Está presente na
pessoa do ministro.
“Pois aquele que
agora se oferece
pelo ministério
sacerdotal é o
mesmo que,
outrora, se ofereceu
na cruz...”.
3) Está presente nos
sacramentos. “De tal
modo que, quando
alguém batiza é o
próprio Cristo quem
batiza”. Na liturgia, a
Igreja sacramentaliza
a presença e ação
salvífica de Cristo na
história.
4) Está presente na Palavra de Deus. “Pois é ele
quem fala quando na Igreja se leem as Sagradas
Escrituras”.
5) Por fim, Cristo está presente quando a Igreja ora
e salmodia. “Ele que prometeu: onde se acharem
dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no
meio deles” Mt 18,20. = (lembremos-nos da
presença sacramental de Cristo na assembleia
litúrgica e na pessoa de cada batizado em oração).
Nesse sentido, o individualismo é a negação da
presença do Senhor, ele disse onde dois ou mais....
• Cristo está presente, também, na ação
evangelizadora da Igreja. Fala-se tanto em
nova evangelização, mas penso que nossos
métodos favorecem resultados contrários,
porque invertemos o processo. Primeiro damos
os sacramentos, depois a Palavra.
• Se voltarmos às fontes, vamos constatar um
exército de santos e mártires dos primeiros
séculos (com raras exceções), eles receberam
primeiro a Palavra, depois os sacramentos. Ex
os mártires de Abitina, Africa. Entendo a
formação como anuncio para o discipulado e
não só para receber os sacramentos.
FORMAÇÃO
A Sacrosanctum Concilium insiste na formação
litúrgica. Contudo, parece-me que nossa
evangelização e formação carecem de maior
instrução bíblica, e de uma hermenêutica litúrgica
mais orante e teológica e uma teologia mais litúrgica
e mistagógica.
Urge resgatar a compreensão
da nossa vocação universal
à santidade (LG, 40) como
povo régio, profético e
Sacerdotal pela graça do
Santo Batismo.
A graça batismal nos faz
cidadãos plenos e
testemunhas do reino. Dá-
nos serenidade e autonomia
no confronto com a
realidade que se opõe aos
valores do Evangelho.
(Ex: a serenidade de
Policarpo, bispo de
Esmirna, na hora do seu
martírio... foi incitado a
blasfemar, não o fez).
Peço desculpas pela minha
audácia, mas penso que nós,
agentes de pastoral, devemos
ter uma postura mais crítica
diante do mundo, diante da
politica, da economia e de
todas as instâncias sociais. Tal
postura não nos falte frente à
escola litúrgica do poder
midiático que nem sempre é
formativo, quando não
“deformador”.
• Estamos correndo o risco de continuarmos no
espírito cultual da cristandade pré-conciliar e longe
do espírito do Concílio Vaticano II que pede a
participação consciente, ativa e frutuosa e a um
compromisso comunitário na vivência da fé.

• Não podemos subverter, nem diluir o sentido da


Eucaristia como celebração memorial do sacrifício
pascal de Cristo que pela oferta da sua vida na cruz
nos redimiu.

• Nunca é demais repetir que a missa é memorial do


sacrifício pascal de Cristo e não ação terapêutica
medicinal. A celebração eucarística é mais que um
ato de cura é a presença atualizada e operante da
salvação.
• Também a celebração eucarística não pode ser
reduzida a algo que se encomenda para ‘homenagear’
pessoas (vivas ou falecidas). A verdadeira homenagem
é dada a Deus Pai pelo dom daquela vida inserida no
mistério pascal de Cristo, pela graça do Batismo. Deus
Pai é o verdadeiro destinatário do nosso louvor. A
finalidade última do culto cristão é a glorificação de
Deus e a santificação do gênero humano (SC, 5).

• O espírito do Concilio e a natureza da liturgia pedem


e ensinam que a missa é ação comunitária participada
por todos e não um show ou uma diversão religiosa
que distrai a muitos, mas não é ação salvífica.
• Uma pergunta: se a celebração
sacramental é celebração da Páscoa que
nos libertou da raiz de todos os males,
então, porque transformar o culto cristão
num lugar de exorcismo? (Refiro-me,
sobretudo, ao pentecostalismo cristão, e
ao catolicismo pentecostal. ).

• Não podemos nem devemos transformar


o evento salvífico em ato devocional,
nem a piedade litúrgica em intimismo
subjetivo carente do espírito comunitário
eclesial.
• Para isso é indispensável investir na formação
litúrgica. Sem conhecimento dos ensinamentos do
Concilio, colocamos em risco toda a reforma litúrgica
do Concílio Vaticano II.

• Nota-se certa deficiência no que diz respeito à


mistagogia e outras dimensões essenciais da liturgia.
Percebe-se, em nossos dias, um acentuado rigorismo
legalista que engessa e ofusca o espírito do Concílio.

• Por outro lado, precisamos avançar na formação para


superar o laxismo personalista que banaliza o
mistério da liturgia. Ninguém duvida, por exemplo,
que a mídia católica possa ajudar muito na formação
litúrgica, basta assumir o espírito do Concílio.
• Sem formação litúrgica, uma comunidade pode se
tornar refém de um grupinho que ignora o Concilio
promovendo uma práxis litúrgica frontalmente
contrária aos ensinamentos conciliares, seja
engessando ou banalizando a liturgia.
• Banalizar a celebração sacramental é profanar o
mistério da nossa redenção. Deve-se cuidar para que
a Eucaristia não seja profanada com certas práticas
litúrgicas.
• Devemos compreender a Eucaristia como celebração
memorial do sacrifício pascal de Cristo. Repito, a
missa é memorial do sacrifício pascal de Cristo e não
uma seção psicoterapêutica. A celebração litúrgica é
mais que um ato de cura é a presença atualizada e
operante da salvação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Gostaria de terminar esta minha fala com o
pensamento de um dos conferencistas, em Itaici, sobre
os 50 anos da SC. Durante o Seminário Nacional de
Liturgia, o professor Andrea Grilo disse em uma das
suas conferências que o Concílio pede uma conversão
de linguagem.

• Ora, a conversão de linguagem passa pela metanóia


“mentis et cordis”. A meu ver, esta é a tarefa mais
exigente para que os ensinamentos do Concílio sejam
acolhidos e assimilados pela nossa geração e as
gerações futuras.
O ilustre conferencista apontou “quatro coisas a
não serem esquecidas, a saber:
a) que a liturgia é ação ritual,
b) é experiência de comunhão,
c) é tempo festivo doado (é gratuidade),
d) enfim, é fons et culmen”. A liturgia é cume
para o qual se dirige a vida da Igreja e fonte
donde emana toda sua força (SC, 10). Todo o agir
da Igreja converge para a liturgia e da liturgia
emana toda a força para a missão e o agir da
Igreja no mundo.
Tudo isso nos faz pensar que a liturgia é objeto
de estudo, porque é ciência, mas nunca pode ser
colocada dentro de uma forma, porque é
mistério. O mistério torna-se infinitamente
maior quanto mais ele se desvela e se dá. A
liturgia celebra o mistério da comunhão trinitária
que é o mistério de Deus em si mesmo, Pai,
Filho e Espírito Santo. A ele honra glória e
louvor, pelos séculos dos séculos. Amém!

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