Você está na página 1de 1

45º CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA

Belém, 26 de setembro a 01 de outubro de 2010

Quartzo olho-de-gato com padrão incomum de distribuição de agulhas


Jurgen
Jurgen Schnellrath
Schnellrath -- CETEM/MCT
CETEM/MCT
Roberto
Roberto Salvador
Salvador Dias
Dias Miceli
Miceli -- CETEM/
CETEM/ MCT
MCT

Introdução
A presença de inclusões aciculares paralelas entre si no cristal hospedeiro
produzem o chamado efeito chatoyance ou de acatassolamento. No caso em que
o cristal hospedeiro é o quartzo dá-se o nome de quartzo olho-de-gato (Fig 1). O
fenômeno óptico que promove esse efeito é o espalhamento dos raios de luz que
incidem sobre as inclusões. O alinhamento paralelo de inclusões (fig. 2) é Figura 1 - Imagem da gema Figura 5 - Imagem de MEV Figura 6 – Detalhe da imagem
comum e imprescindível para a formação do fenômeno óptico olho-de-gato. sob luz natural (elétrons retro-espalhados) de anterior de MEV (elétrons
Entretanto, é raro observar, numa visão transversal do cabochão, um padrão de (comprimento: 10,7 mm). uma seção transversal às retro-espalhados) mostrando
distribuição destas inclusões aciculares como o que aparece na figura 3, padrão inclusões. Os pontos claros agulhas isoladas de tamanho
são as pontas das inclusões nanométrico e aglomerações
este que fica ainda mais claro quando observado em uma escala menor (Fig. 4). aciculares e a matriz de cor locais chegando a ter
As áreas mais escuras de cor marrom correspondem às regiões de densa cinza mais escura é diâmetros na faixa de 1 μm.
aglomeração de inclusões (quanto mais escuro, maior a quantidade de inclusões constituída de quartzo.
aciculares por unidade de área), e as lamelas de cor clara correspondem às
regiões onde as agulhas estão ausentes.
Figura 2 – Imagem em
Objetivo microscópio óptico de
imersão da amostra a cima.
As amostras, que são objeto desse trabalho, não têm procedência precisa. A luz transmitida, comprimento:
única informação existente, coletada junto ao comerciante que forneceu as 10,7 mm)
pedras, é que elas são provenientes da Índia. Assim sendo, tratamos da
caracterização desse quartzo olho-de-gato, visando identificar as inclusões
responsáveis pelo fenômeno óptico, e sugerir uma explicação para o padrão raro Figura 7 – Espectro EDS da análise realizada sobre um aglomerado
e extremamente incomum da distribuição das inclusões nesta gema. de inclusões.

Métodos empregados
Figura 3 – Vista da seção
• um polariscópio Schneider PK-1 (CETEM/MCT) transversal às agulhas do
• uma balança de precisão Mettler Toledo CB203 com kit para determinação do mesmon cabochão
peso específico (CETEM/MCT) (microscópio óptico de
imersão, luz transmitida,
• um refratômetro Schneider RF2 com leitura de índices de refração entre 1,30 e comprimento: 10,7 mm).
1,81 (CETEM/MCT)
• filtro polarizador e filtro monocromático (CETEM/MCT)
• microscópio horizontal de imersão Schneider DE4 2000C (CETEM/MCT) Figura 8 – Espectro EDS do quartzo hospedeiro.
• microscópio eletrônico de varredura Jeol JSM-6460 LV (COPPE-UFRJ)
• fotografia Laüe por reflexão (QOG02) (IF/UFRJ)
Figura 4 – Detalhe de uma
• Difração de Raio X - difratômetro tipo-F da Siemens (IF/UFRJ)
lâmina plano-paralela cortada
perpendicularmente às
Resultados : Figuras 2, 4 e 5 a 11 inclusões. (microscópio óptico Figura 9 – Resultado da Figura 10 – Fotografias Laüe
de imersão, luz transmitida, simulação da fotografia Laüe por transmissão de lâminas
largura: 6,0 mm) por reflexão. plano-paralelas - à esquerda,
Conclusões REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS imagem de amostra do quartzo
Antao S.M., Hassan I., Wang J., Lee P. L., Toby B. H. 2008. State-of-the-art high-resolution powder x-ray diffraction (HRPXRD)
hialino; à direita, imagem da
Através das fotografias Laüe foi possível concluir que as agulhas do mineral illustrated with Rietveld structure refinement of quartz, sodalite, tremolite, and meionite. Canadian Mineralogist, 46:1501-1509.
Bank H, Henn U., Milisenda C.C. 1996. Star quartz from Brazil. Z. Dt. Gemmol. Ges., 45(4):153–154. nossa amostra olho-de-gato.
incluso estão dispostas paralelamente ao eixo óptico a do quartzo olho-de-gato Bank H, Henn U., Milisenda C.C. 1997. Quartz cat’s eye. Z. Dt. Gemmol. Ges., 46(3):124–125.
Bank H, Henn U., Milisenda C.C. 1999. Rose-quartz cat’s-eye from Brazil. Z. Dt. Gemmol. Ges., 48(1):4–5.

(Fig. 9); a estrutura cristalina do cristal de quartzo se encontra severamente Choudhary G. & Vyas M.B. 2009. ‘Multiphenomenal’ quartz from India. Gems & Jewellery, 18(1):10-12.
Crowningshield R. 1961. Chatoyant quartz cabochon. Gems & Gemology, 10(6):181.

deformada e com seus parâmetros de cela ligeiramente reduzidos, o que Crowningshield R. 1963a. Quartz cat’s-eye. Gems & Gemology, 11(2):43.
Crowningshield R. 1963b. Unusual Star Effect. Gems & Gemology, 11(4):101–102.

provavelmente pode ser atribuído à presença da fase inclusa (Fig. 10); as agulhas
Crowningshield R. 1977. Quartz - Natural and Synthetic. Gems & Gemology, 15(10):310–312.
Crowningshield R. 1985. Quartz, multi star. Gems & Gemology, 21(1):45.

possuem diâmetro nanométrico, mas atravessam todo o cristal hospedeiro


Dana J.D. & Hurlbut C. 1984. Manual de Mineralogia. Livros Técnicos e Científicos Editora S. A., Rio de Janeiro, p.: 529–532.
Fryer C. 1981. Star quartz. Gems & Gemology, 17(4):230.
Fryer C. 1982. Star quartz. Gems & Gemology, 18(4):231.

(vários milímetros) (Fig. 2 e 5); a composição química das inclusões aciculares Fryer C. 1983. Quartz, a rare cat’s-eye. Gems & Gemology, 19(1):48.
Fryer C. 1984. Pseudo star quartz. Gems & Gemology, 20(4):230-231.
Figura 11 – Esquema
(Si, Fe, Mg e Ca) (Fig. 7 e 8), o seu forte pleocroísmo e a semelhança estrutural Hainschwang T. 2007. An unusual type of phenomenal quartz. Gems & Gemology, 43(3):261-262. mostrando a relação estrutural
Hyrsl J. 2001. Cat’s-eye amethyst from Brazil. Gems & Gemology, 37(2):143-144.
entre um inossilicato de cadeia
dos piroxênios de cadeia simples com a estrutura do quartzo na direção do eixo a Hyrsl J. & Niedermayer G. 2003. Magic world: Inclusions in quartz. Bode Verlag GmbH, Haltern, 240p.
Johnson M.L. & McClure S. F. 1997. Quartz, cat’s-eye effect caused by large rutile needles. Gems & Gemology, 33(1):59. simples (diopsídio) e o quartzo.
(Fig. 11), nos levam a crer que as inclusões sejam um membro intermediário da Johnson M.L. & Koivula J.I. 1999. Twelve-rayed star quartz from Sri Lanka. Gems & Gemology, 35(1):54-55.
Kane R. 1985. Quartz, very dark reddish gray cat´s-eye. Gems & Gemology, 21(2):112.

série diopsídio – hedenbergita; o padrão incomum da distribuição das inclusões Karfunkel J., Quéméneur J.J.G., Wegner R. 1994. Quartz-holmquistite cat´s-eye from Brazil. Canadian Gemmologist, 15(4):114-117.
Kiefert L. 2003. An unusual star quartz. Gems & Gemology, 39(3):234–235.

(Fig. 4) sugere, por comparação visual, a presença de algum tipo de formação de


Koivula J.I. 1987. Phenomenal quartz from Brazil. Gems & Gemology, 23(3):175-176
Koivula J.I. & Kammerling R.C. 1990. California star quartz. Gems & Gemology, 26(1):107.

células eutéticas e/ou crescimento eutético direcional.


Koivula J.I. & Kammerling R.C. 1991. Cat´s-eye rose quartz. Gems & Gemology, 27(1):50.
Koivula J.I., Kammerling R.C., Fritsch E. 1993. Irradiated phenomenal quartz. Gems & Gemology, 29(4):288.
Koivula J.I. & Tannous M. 2004. Three rutilated quartz cat’s-eyes. Gems & Gemology, 40(1):63.
Koivula J.I. & Tannous M. 2004. Double-eye chatoyant quartz. Gems & Gemology, 40(4):352.
Laugier, J, and Bochu, B., OrientExpress Software V3.3, fonte:http://www.ccp14.ac.uk/tutorial/lmgp/lmgpwhatsnew.htm
Liddicoat R.T. 1968. Chatoyant quartz. Gems & Gemology, 12(10):313-314
Milisenda C.C. 2001. Goethite quartz from Brazil. Z. Dt. Gemmol. Ges., 50(2):62–63.
Rios C.T., Trevisan E.A.O., Andreotti F., Coelho A.A., Caram R. 1997 Rev. Bras. de Aplicações de Vácuo, 16:11-16.
Schmetzer K. & Glas M. 2003. Multi-star quartzes from Sri Lanka. Journal of Gemmology, 28(6):321–332.
Welch C. 1987. Phenomenal quartz. Gems & Gemology, 23(1):47
Woensdregt C.F., Weibel M., Wessicken R. 1980. Star quartz asterism caused by sillimanite. Schweiz. Mineral. Petrogr. Mitt. 60:129-132.
Wüthrich A. & Weibel M. 1981. Optical theory of asterism. Phys. Chem. Minerals, 7(1):53–54.
Zwaan P.C. 1982. Sri Lanka: The gem island. Gems & Gemology, 18(2):62-71

Você também pode gostar