Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A outra forma de emprego das bandeiras foi como força de segurança interna - o
sertanismo de contrato – com principal incidência no Nordeste. As bandeiras foram
contratadas como forças de repressão, para garantir a ordem social, diante de fatores
adversos da colonização, como as rebeliões de escravos e os ataques de índios hostis
As expedições bandeirantes contribuíram, de modo indireto, para a colonização dos
territórios situados além das Tordesilhas. Independentemente dos seus três objetivos
principais, as suas incursões promoveram a miscigenação como índio, difundiram a
cultura portuguesa, trouxeram informações geográficas e deram origem a localidades.
Foram inúmeras ainda as oportunidades em que as bandeiras foram utilizadas contra a
presença estrangeira, quer combatendo invasores, quer lutando contra os espanhóis na
consolidação de territórios ocupados anteriormente.
Nesse contexto, destacou-se a obra de Antônio Raposo Tavares, um dos expoentes do
bandeirismo. Entre 1628 e 1638, participou da destruição dos redutos jesuítas espanhóis
do Guaíra e do Tape. Integrou as forças mobilizadas para combater os holandeses na
Bahia e em Pernambuco, entre 1639 e 1642. Seu maior feito, entretanto, foi a grande
expedição iniciada em1648. Raposo Tavares, ao partir de São Paulo, pretendia refazer a
rota de Aleixo Garcia, a princípio como mesmo objetivo - a busca de metais preciosos do
Peru. Inicialmente, rumou para o Mato Grosso, onde deu continuidade aos ataques às
reduções espanholas do Itatim, quando veio a perder a maior parte de seus efetivos.
Tendo reorganizado os remanescentes, subiu o rio Paraguai e, utilizando os rios Guaporé,
Mamoré e Madeira, atingiu o rio Amazonas, prosseguindo até Belém, de onde retornou a
São Paulo. Sua expedição, que durou três anos, é considerada a primeira grande viagem
de exploração ao interior brasileiro, tendo contribuído de forma significativa para o
levantamento de informações sobre a área percorrida, as quais passaram a constar dos
documentos lusitanos da época e serviram para instruir a política de ocupação da região,
desde então.
A EXPANSÃO TERRITORIAL
a) Relacionar Bula Inter Coetera e o Tratado de Tordesilhas. (CONCEITUAL)
b) Relacionar ocupação portuguesa no Brasil com cobiça internacional.
(CONCEITUAL)
c) Identificar os elementos fomentadores da expansão da colonização
portuguesa no século XVII. (FACTUAL)
Após a descoberta de Colombo, a Espanha reivindicou, junto ao Papa Alexandre VI, por
intermédio da bula Inter Coetera, a posse das terras ocidentais descobertas e ainda por
descobrir, tendo como referência o meridiano localizado 100 léguas a oeste das ilhas de
Cabo Verde. Esse limite conferiria à Espanha todos os territórios das Américas. De
imediato, o rei D. João II, de Portugal, questionou tal documento. No ano seguinte, as
Coroas ibéricas firmaram entre si o Tratado de Tordesilhas, que estendia para 370 léguas
a medida prevista na bula anterior.
As contestações da legitimidade do tratado ibérico pelas potências europeias emergentes
à época, não tardaram. A França, a Inglaterra e, posteriormente, a Holanda efetivaram
ações no sentido de estabelecer a posse de colônias no Novo Mundo, invocando o
princípio do uti possidetis, ou seja, a posse pela ocupação. Tal postura ensejou várias
tentativas das citadas potências europeias de incursões ao território colonial português,
algumas como objetivo de estabelecimento de colônias
A manutenção das atividades comerciais como Oriente ficou muito onerosa para Portugal.
Esse quadro econômico, somado à expectativa da descoberta de metais preciosos, a
exemplo do achado espanhol no Peru e no México, fez com que os portugueses voltasse
mas vistas para o Brasil. Havia ainda o risco da perda das novas terras diante da ambição
de outros reinos da Europa.
Em1623, o Capitão Luís de Aranha Vasconcelos chega ao Pará com as missões de organizar
uma expedição para explorar o Amazonas na direção oeste, fazer o reconhecimento da
margem esquerda do estuário até o cabo do Norte, e expulsar os estrangeiros
encontrados. Dias após sua saída de Belém, a tropa defrontou-se com uma guarnição
composta por ingleses e holandeses, no Forte Mariocai, que havia sido construído por
holandeses no início do século, na ilha de Gurupá.
Entre 1624 e 1625, novas feitorias estrangeiras foram levantadas nas proximidades de
Gurupá. A missão de destruí-las coube a Pedro Teixeira, auxiliado por Pedro da Costa
Favela. Na oportunidade foi destruído o Forte de Mandiutuba e outras instalações na
região do Xingu.
Uma das consequências advindas das decisões da Liga de Augsburgo foi a assinatura do
Tratado Provisional (1700), entre Portugal e França, que estipulou a neutralização da
posse da Capitania do Cabo do Norte, determinando que Portugal demolisse os fortes da
área. O Tratado de Utrecht (1713) anulou o Tratado Provisional de 1700 e estabeleceu,
em seu Artigo 8º, a renúncia da França às pretensões de posse das terras entre a foz do
rio Amazonas e o rio Oiapoque.
A OCUPAÇÃO DO VALE DO AMAZONAS
a) Identificar a expedição de Pedro Teixeira e suas contribuições para o
território. (FACTUAL)
b) Identificar o fator religioso na exploração do Amazonas. (FACTUAL)
c) Identificar a utilização da imigração como estratégia portuguesa para
povoar a região. (FACTUAL)
d) Relacionar a disposição dos aquartelamentos da Amazônia e a fronteira
com o Tratado de Madri de 1750. (CONCEITUAL)
Haviam chegado ao Forte Gurupá, provenientes de Quito, oito remanescentes de uma
expedição espanhola, sendo dois religiosos e seis soldados, os quais foram conduzidos à
presença de Jácome Raimundo de Noronha, Governador do Estado do Maranhão. De posse
das informações prestadas pelos espanhóis, o Governador decidiu organizar uma
expedição portuguesa como objetivo de fazer o trajeto no sentido inverso.
Sem demora, Jácome de Noronha incumbiu o Capitão Pedro Teixeira de tal missão. Teve
início, então, o evento épico que abriria as portas para a conquista da Amazônia
brasileira. A iniciativa foi muito oportuna, tendo em vista que estava em curso o
movimento restaurador da independência de Portugal em relação à Coroa espanhola.
A ocupação militar, vista como ação garantidora da soberania do Estado, foi o que bem
representou a política de expansão territorial portuguesa. Deve-se levar em conta, ainda,
que, desde os primórdios da colonização, as instalações militares voltadas para a defesa
aglutinavam em torno de si crescente população de colonos, resultando, na maioria dos
casos, na fundação de localidades.
Outro fator, o religioso, em muito contribuiu para a consecução dos objetivos do Estado
português, em particular na Amazônia. Na catequese dos gentios, os padres jesuítas,
carmelitas, franciscanos e mercedários promoveram a organização das missões onde e, a
par da conversão religiosa dos nativos, procediam à aculturação deles. Nesse processo,
tinham a possibilidade de agir como mediadores entre índios e colonizadores, facilitando
as ações de interesse destes. As missões religiosas, cuja quantidade chegou a cerca de
uma centena, da mesma forma que as instalações militares, propiciaram o surgimento de
localidades e, indiretamente, a miscigenação. Entretanto, as missões não sobreviveriam
sem o suporte econômico representado pela exploração do extrativismo vegetal (drogas
do sertão).Nisso também se destacaram os religiosos, lançando mão do trabalho dos
índios reunidos nos aldeamentos missioneiros.
Paralelamente às lutas empenhadas na conquista da Amazônia, os portugueses envidaram
esforços no sentido de utilizar a imigração para aumentar a presença na área. Para tanto,
ainda em1672, chegou a Belém o primeiro contingente significativo de imigrantes (234
pessoas), vindos dos Açores. Em1752 vieram mais 430 açorianos, e em 1770 cerca de mil
pessoas oriundas de Mazagão (colônia portuguesa do Norte da África, à época, hoje
território marroquino). Houve também o concurso de população negra (estima-se que
tenha chegado a 30.000 o número de indivíduos no final do século XVIII), trazidos como
escravos para substituir a mão de obra do índio, cujo apresamento havia sido proibido
em1755.
Em 1750, as Coroas ibéricas assinaram o Tratado de Madri. Esse dispositivo jurídico
instruiu-se pelos princípios do uti possidetis e das fronteiras naturais. Por ele, no que se
referiu às colônias da América, Portugal teve reconhecida a posse do extenso território
colonial que havia ocupado a oeste de Tordesilhas, muito próximo da conformação
geográfica atual do Brasil.
Embora fosse opositor ao Tratado, Pombal tomou várias medidas que foram positivas para
a organização territorial do Brasil colonial. Durante sua administração foramconstruídos
os seguintes fortes, que delinearam as fronteiras: São Gabriel e São José de Marabitanas
(1763),Macapá (1764), Tabatinga (1766), Príncipe da Beira (1776) e São Joaquim, na
Amazônia; Iguatemi (1765) e Coimbra (1775), no Centro-Oeste; e Jesus,Maria e José (Rio
Pardo, 1752), no Sul. Como objetivo de incrementar a presença do Estado nas áreas
ocupadas, foram criadas as capitanias do Mato Grosso (1748) e a de São José do Rio Negro
(1755).
A OCUPAÇÃO DO CENTRO-OESTE
a) Identificar os aspectos fomentadores da expansão para o interior.
(FACTUAL)
b) Identificar o fluxo de migrantes para a região. (FACTUAL)
c) Relacionar recursos minerais com a ocupação. (CONCEITUAL)
d) Identificar as fortificações construídas na região. (FACTUAL)
No Centro-Oeste, a ocupação teve início comas expedições bandeirantes, cuja
incidência foi intensificada após os conflitos que caracterizaram a Guerra dos
Emboabas. Inferiorizados nesse conflito, os paulistas passaram a dirigir as suas ações
exploradoras, em busca de ouro, para as regiões onde seriam formadas as Capitanias de
Goiás e de Mato Grosso. Um atrativo antigo motivava os paulistas para as suas incursões
no Centro-Oeste: as riquezas minerais peruanas.
Em 1718, finalmente, Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro no rio Caxipó-Mirim. Quatro
anos depois, Miguel Sutil descobriu riquíssimas lavras de ouro de aluvião, de fácil
extração, na região onde foi fundada a Vila Real do Bom Jesus do Cuiabá, a atual capital
do Estado do Mato Grosso. Essa descoberta constituiu-se em um marco para a região:
para lá rumaram multidões vindas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O fluxo de
migrantes foi realizado utilizando-se, principalmente, a rota fluvial constituída pelos rios
Tietê (o ponto de partida era a localidade de Araritaguaba, hoje Porto Feliz - SP),
Paraná, e Pardo, da Bacia do Rio Paraná; e rios Taquari, Paraguai, e Cuiabá, da Bacia do
Rio Paraguai. Eram organizados comboios de canoas, em números que superavam várias
dezenas. Tais expedições ficaram conhecidas como monções, em alusão ao fenômeno
asiático (ventos periódicos, que influenciavam as navegações). No caso, o período de
ocorrência das monções cuiabanas correspondia às cheias dos rios, em função das chuvas.
Elas deram grande contribuição para o povoamento das margens dos rios percorridos
Outro acontecimento relevante para a ocupação de terras, no Mato Grosso, foi a
descoberta de ouro no rio Guaporé, a 600 quilômetros a oeste de Cuiabá, em 1734, por
Fernão Pais de Barros. Em1742, foi estabelecida a ligação fluvial com Belém, através dos
rios Guaporé, Madeira e Amazonas (rota já percorrida por Raposo Tavares, em1648), por
Manuel Félix de Lima, e que por isso mesmo foi conduzido preso para Lisboa. A Metrópole
havia proibido tal percurso para evitar a evasão, por contrabando, do ouro cuiabano.
Quanto a Portugal, apesar do pioneirismo, não foram efetivadas ações que pudessem
marcar a sua presença na região, com a fundação de feitorias ou fortes, pelo menos no
século XVI. O próprio fato de a divisão administrativa em capitanias hereditárias ter sido
limitada ao sul pelo paralelo 28º, à altura da ilha de Santa Catarina, é interpretado como
a aceitação da soberania espanhola sobre o Prata, em consonância com a restrição de
Tordesilhas. Tal postura, todavia, não foi permanente. Vários fatores concorreram para a
determinação portuguesa em promover a expansão de sua Colônia para o sul.
O primeiro fator foi a pretensão de estabelecer o limite meridional justamente no rio da
Prata, com base nos feitos das primeiras expedições portuguesas à região e no princípio
das fronteiras naturais.
Outro fator que abriu caminho para o sul foi o conjunto de ações dos bandeirantes
paulistas nos ataques e destruições das missões jesuítas do Guaíra (Paraná) e doTape
(Rio Grande do Sul). Tais ataques já caracterizavam o confronto coma soberania
espanhola. O fato é que as destruições das missões concorreram para o interesse
expansionista para o sul, criando condições para a ocupação do interior, ao passo que
eliminava a presença dos espanhóis.
A ausência de colonização nos territórios correspondentes aos atuais Rio Grande do Sul e
Uruguai estimulou a ambição de Portugal sobre a região. Em 1647, Salvador Correia de Sá
e Benevides obteve da Coroa portuguesa a concessão de terras que iam até o estuário do
Prata. A bula papal Romani Pontificis, de 22 de novembro de 1676, criou a Diocese do Rio
de Janeiro, estabelecendo como seu limite sul o Prata.
Em janeiro de 1680, D. Manuel Lobo desembarcou na margem setentrional do Prata,
quase em frente a Buenos Aires, e deu início à construção da Colônia do Santíssimo
Sacramento. A Colônia, como ficou conhecida, tornou-se o ponto emblemático em torno
do qual ocorreram as disputas pela hegemonia regional entre os reinos ibéricos. Esses
embates acabaram por promover a ocupação militar e consequente colonização dos
territórios correspondentes ao atual Estado do Rio Grande do Sul.
No mesmo ano da sua fundação, mais precisamente em agosto, a Colônia foi tomada,
pela primeira vez, pelos espanhóis. No ano seguinte, a Colônia foi devolvida a Portugal,
pelo Tratado Provisional de Lisboa de 1681, e reocupada em 1683.
Em fevereiro de 1705, os portugueses resistiram a dois fortes ataques. Pela segunda vez a Colônia
havia sido tomada pelos espanhóis
Em 1715, pelo Tratado de Utrecht, foram reconhecidos os direitos portugueses sobre a Colônia. Coube
a Manuel Gomes Barbosa a tarefa de organizar o seu repovoamento, já em fins de 1716.Onovo
empreendimento foi muito bem sucedido, o que fez ressurgir velhos ressentimentos entre os
espanhóis de Buenos Aires.
Era preocupante aos portugueses o isolamento da Colônia, dependente da ligação marítima, e cujo
apoio terrestre mais próximo era Laguna, no Sul de Santa Catarina. Para minimizar tal óbice, o Rei D.
João V, de Portugal, determinou a fundação do Presídio de Montevidéu, em 1723.
A reação espanhola foi imediata. O Governador de Buenos Aires, mobilizou tropas para expulsar os
portugueses do local. Diante da ameaça, Freitas da Fonseca, encarregado da missão da fundação do
Presídio de Montevidéu, retirou-se para o Rio de Janeiro, onde foi preso e submetido a Conselho. Com
a retirada lusa, os espanhóis instalaram-se no mesmo lugar e fundaram a localidade de Montevidéu,
em 1726, hoje a capital uruguaia.
Quanto à Colônia, os anos seguintes continuaram marcados pelo progresso. Lentamente, os
portugueses foram alargando seus domínios. Os caminhos de Vacaria e Passo Fundo foram
estendidos até Sorocaba, aumentando a apreensão de gado selvagem e favorecendo o
surgimento de estâncias.
Tomou conhecimento do ataque de D. Miguel de Salcedo à Colônia. Silva Pais optou pelo
apoio urgente ao Sul. Os objetivos da expedição organizada eram, sobretudo, mais
abrangentes: incluíam ainda o ataque a Montevidéu e a fundação de uma colônia na barra
do rio Grande (saída para o mar da lagoa dos Patos).
Passou, então, José da Silva Pais à consecução do seu último objetivo: a fundação e uma
colônia no rio Grande de São Pedro. Sua primeira medida importante foi a construção da
fortaleza no porto, a pioneira do território: o Presídio de Jesus, Maria e José (anos depois
seria construído um forte homônimo, no Rio Pardo), onde hoje se encontra a cidade
portuária de Rio Grande - RS.
A resolução do Tratado de Madri estabelecia a posse da Colônia do Sacramento pela
Espanha, ficando com Portugal a região dos Sete Povos das Missões. Essa troca, embora
estabelecida pelo acordo, veio a constituir um grave ponto de discordância entre as
Coroas – em última análise, nem Espanha, nem Portugal pareciam querer abrir mão do
controle do estuário do Prata. Havia ainda a contrariedade dos interesses dos
comerciantes e políticos portugueses, acostumados aos lucros auferidos como
contrabando na região, assim como, do outro lado, a predisposição dos jesuítas em
manter os Sete Povos das Missões, frutos de árduos trabalhos de colonização, por eles
desenvolvidos, durante anos.
À época do Tratado, Gomes Freire de Andrade era o Governador e Capitão-General do Rio
de Janeiro, a quem cabia as responsabilidades pela administração do Sul. Tendo sido
indicado pela Corte como seu representante na Comissão Demarcadora do Sul, Gomes
Freire subdividiu-a em três tropas ou partidas.
Diante da protelação das ações espanholas, até então, e do aumento da animosidade dos
índios, Gomes Freire determinou, em1752, a construção do Forte de Jesus-Maria-José do
Rio Pardo, na confluência do mesmo rio como Jacuí. Sacramento. O Forte do Rio Pardo
constituiu uma barreira importante para a defesa da região, desde então.
As ações conjuntas das tropas portuguesas e espanholas, contra as milícias indígenas das
Missões, produziram a Guerra Guaranítica (1754-1756), um conflito ímpar, reunindo duas
potências europeias contra os índios, por sinal vassalos espanhóis, que foram interpostos
pelas circunstâncias aos interesses das metrópoles ibéricas.