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A FILOSOFIA DO

IDEALISMO ALEMÃO
Prof. Luizir
O alcance do idealismo
 “Filosofia clássica alemã”
◦ Indicar mais um nível de resultados preeminentes
do que caracterizar um estilo ou conteúdo
específico.
◦ Entre o idealismo “crítico” de Kant e o “absoluto” de
Fichte, Schelling e Hegel.
 Continua a exercer grande influência em
outros campos do saber: ciência das
religiões, teoria literária, política, artes, bem
como nas metodologias das ciências
humanas em geral.
O cenário geográfico
 Königsberg e Berlim
 Weimar e Jena

◦ Centros de “peregrinação”
◦ Cenários de uma revolução
intelectual sem precedentes,
comparada por muitos pensadores
à época de ouro de Atenas.
Os (muitos) méritos do Idealismo
Alemão
 Preenche uma lacuna óbvia gerada
pelas expectativas tradicionais da
filosofia e os problemas causados pela
ascensão da autoridade inquestionável
da ciência moderna;
 Exige que a filosofia aceite o desafio

tradicional de fornecer um quadro


sinóptico de todos os nossos
interesses mais básicos;
Os (muitos) méritos do Idealismo
Alemão
A filosofia deve consistir de um
esforço profundamente unificado
e autônomo, e não apenas uma
série de soluções ad hoc a
enigmas abstratos técnicos,
tampouco uma mera aplicação
dos resultados extraídos das
outras disciplinas.
Problemas de terminologia
 Os aspectos do termo “idealismo”:
◦ Negativo
 Associado imediatamente a doutrinas
metafísicas ou epistemológicas
negativas;
 Indica algum tipo de antirrealismo, como
se “ideal” sempre tivesse de significar
“não real” – algo muito diferente daquilo
que Platão já havia ensinado!
Problemas de terminologia
 Os aspectos do termo “idealismo”:
◦ Positivo
 Trata-se de adicionar significados, e não
subtraí-los: o que quer que digamos
acerca do status de muitas coisas que são
pensadas como existentes num nível
senso comum, também temos de
reconhecer um conjunto de
características ou entidades que possuem
uma natureza mais elevada, mais “ideal”.
O Ideal
 Característicasou entidades
ideais não precisam ser
projetadas em “outro”mundo.
 Podem simplesmente ser

consideradas a estrutura útil ou a


forma ideal do nosso mundo de
objetos ordinários, quando estes
são compreendidos de modo
apropriado.
K. Ameriks (p. 9)
 “Os pensadores desse período deram as
boas-vindas aos radicais resultados
científicos do Iluminismo tardio, procurando
elaborar modelos dinâmicos, químicos e
orgânicos que visavam não a negar a
existência das formas naturais dadas, mas a
afirmar as estruturas profundas (“ideais”) que
tornam essas formas compreensíveis como
um todo, e que nos leva além do pobre
vocabulário da mecânica”
Outras dificuldades
 São tão elaboradamente sistemáticos que seu
idealismo consiste de um holismo de um tipo
altamente ambicioso e “idealizador” que se
recusa a tomar qualquer estrutura particular,
totalmente contingente e limitada como ponto
final.
 Mesmo que não neguem a natureza e a

experiência, frequentemente insistem em


oferecer um arcabouço filosófico absolutamente
preciso a fim de “fundamentar” ou completar a
“verdadeira” ciência.
Cenário
 Racionalismo e empirismo: as duas correntes
que predominavam no século XVIII.
◦ Escolher entre uma delas era o que uma pessoa
pensante tinha de fazer
 Kant mostrou que a escolha entre uma ou
outra é irreal:
◦ Cada uma delas é igualmente equivocada
◦ A única metafísica concebível deve ser a um só
tempo tanto empírica quanto racional
O período das “Críticas” kantianas
 A Crítica da Razão Pura
◦ Ascensão das ciências
 Ceticismo filosófico/método empírico
 Quadro de unanimidade e objetividade com que nenhum
sistema de metafísica podia rivalizar
 Filosofia num impasse: não parecia que nada
pudesse oferecer uma contribuição peculiar para
o conhecimento humano
◦ Pergunta de Kant: como a metafísica é possível?
◦ Crítica sistemática do pensamento e da razão: crenças
◦ Descrição da natureza e dos seus limites do
conhecimento
As tarefas de Kant
 DEMONSTRAR:
◦ Que existe um emprego legítimo do entendimento
cujas regras podem ser reveladas; é possível
estabelecer limites a esse emprego legítimo;
◦ Que o ceticismo humeano é impossível, uma vez
que as regras do entendimento já são suficientes
para estabelecer a existência de um mundo objetivo
e obediente a uma lei de relação causal
◦ Que certos princípios fundamentais da ciência
(conservação da substância; razão suficiente;
objetos existem no espaço e no tempo) podem ser
estabelecidos a priori
E mais!
 A ciência não trata de verdades necessárias, mas de
questões factuais contingentes
 Apoia-se sobre certos axiomas e princípios universais,
porque a verdade deles é pressuposta no início de qualquer
indagação empírica, e não podem eles mesmos ser provados
empiricamente;
 Verdades necessárias, justificáveis (?) por meio da reflexão,
em qualquer mundo concebível.
 Idealismo transcendental: porque transcende aquilo que o
argumento deve pressupor
 Conhecimento: síntese de conceito e experiência:
transcendental, porque não pode ser observada como um
processo, mas deve ser sempre pressuposta como um
resultado
O Iluminismo na Alemanha
 Christian Wolff: o filósofo mais proeminente da primeira
metade do século XVIII
◦ Solene, acadêmico, sistemático, e de uma erudição acurada, cujo
racionalismo estava no pólo oposto ao romantismo de Rousseau
◦ Sistema eclético e abrangente, acolhendo elementos do
aristotelismo clássico, da escolástica latina, do racionalismo
cartesiano e da metafísica leibniziana
◦ Adota de Leibniz o princípio de razão suficiente, que considerava
a base fundamental da metafísica juntamente com o princípio de
identidade
◦ A razão suficiente para a existência do mundo teria de ser
encontrada em um Deus transcendente, cuja existência podia ser
estabelecida pelos argumentos ontológicos e cosmológicos da
tradição
Ainda Wolff...
 O mundo em que vivemos é o melhor dos mundos
possível, escolhido livremente pela sabedoria de
Deus
 Organizou os diferentes ramos da filosofia,

popularizando distinções: teologia natural e


metafísica geral (ontologia)
◦ Ontologia: “ciência de todas as coisas possíveis na medida
em que são possíveis”
◦ Ênfase nas “essências possíveis” antes que na existência de
fatos (Avicena, Duns Scotus)
◦ Física (estudo experimental das leis naturais contingentes
deste mundo) e Cosmologia (investigação a priori de todo
possível mundo material)
Ainda Wolff...
 Física (estudo experimental das leis naturais
contingentes deste mundo) e Cosmologia
(investigação a priori de todo possível mundo
material)
 Aceitava a existência de uma alma humana

que era uma simples substância acessível à


autoconsciência, mas a relação entre ela e o
corpo é explicada por meio de um apelo à
harmonia preestabelecida leibniziana
Ainda Wolff...
 Ética: a noção-chave é a de perfeição. Bom é
aquilo que aumenta a perfeição; mal, o que a
diminui.
◦ Motivação humana fundamental; auto-
aperfeiçoamento, que inclui a promoção do bem
comum e o serviço em honra de Deus
◦ Embora os corpos vivos (os humanos aí incluídos)
sejam máquinas, desfrutamos do livre-arbítrio: a
escolha racional pode e deve superar todas as
pressões da sensibilidade
O início do Idealismo
 Idealismo: forma especial da própria penetração
do pensamento, na vastidão do horizonte dos
problemas e na força da sua penetração, quer em
toda linha, quer em pontos isolados: de Kant a
Hegel.
 Começa na década de 1780 e segue até a metade
do século XIX, com seu apogeu na primeira
década do XIX:
◦ Fichte, maduro;
◦ Schelling, precocemente amadurecido;
◦ Hegel, avançando vagarosamente: Universidade de Iena;
depois, Berlim
O problema comum
O que reúne os pensadores do
idealismo alemão num grupo
homogêneo, a despeito das oposições e
pontos de discussão conscientes é a
posição do problema comum:
◦ Todos partem da filosofia kantiana. A meta
comum a todos é a criação de um vasto
sistema de filosofia, rigorosamente
homogêneo, baseado em fundamentos
últimos e irrefutáveis
A necessidade de um “Sistema”
1. Paira sobre todos indistintamente, o
ideal da “metafísica futura” para o
qual Kant havia oferecido apenas os
prolegômenos
2. O sistema deve surgir de uma só
peça, numa certeza inequívoca que
realize a sua concepção de filosofia
3. A crença de que tal sistema ideal é
possível e acessível à raça humana é
comum a todos
A necessidade de um “Sistema”
4. Dirigem-se para a idéia de totalidade e
quase todas as suas obras contêm um
novo esboço de sistema
5. A base é não tanto o sistema, mas a Crítica
como pressuposto do sistema: reação do
sistematismo ao criticismo
6. Os primeiros pensadores pós-kantianos
não se propõem ainda tanto a transformar
como a compreender a verdadeira teoria
kantiana
Ainda o sistematismo - Reinhold
 Deu o impulso mais decisivo para promover uma
forma diferente de apreciação de valor
◦ Com a divulgação da doutrina kantiana introduz-se não
só a interpretação do seu significado específico, mas
também a tendência a retirar dela certos pontos
insatisfatórios
 Final do século XVIII: surge uma série de
defensores e de adversários da filosofa kantiana
(crítica), para os quais ainda se trata de (1)
interpretar Kant, e (2) tomar uma posição em
relação a ele:
◦ Schulze, Maimon, Beck, Jakobi e Bardili
A filosofia de Reinhold
O “princípio da consciência”
◦ Na consciência, a representação é
distinguida pelo sujeito, na relação
sujeito-objeto, e refere-se a ambos.
◦ Com este princípio, julgou poder explicar
o fundamental para todo conhecimento:
 A cognição é essencialmente a
representação consciente de um objeto
por um sujeito;
 A representação refere-se tanto ao
sujeito quanto ao objeto da cognição.
A correção proposta por Fichte
A representação não constitui um fato
(Tatsache) da consciência, mas sim
um ato (Tathandlung) pelo qual a
consciência elabora a distinção entre
sujeito e objeto ao propor a distinção
entre o eu e não-eu.
 Esta proposição consitui o

fundamento da sua Doutrina da


Ciência (Wissenschaftslehre – 1794).
A “controvérsia panteísta”
 O “equívoco” de Espinosa: a
identidade Deus siue Natura.
◦ Jacobi: qualquer tentativa de
demonstrar verdades filosóficas
estava fadada ao fracasso.
◦ Concluiu que o idealismo
transcendental subordina a
certeza imediata (fé), pela qual
conhecemos o mundo, à razão
demonstrativa transformando a
realidade numa ilusão – niilismo
◦ A defesa de Kant veio por meio
de Reinhold.
Os três “grandes” nomes
 Com Fichte inicia-se um
movimento novo e mais amplo,
cujos condutores se propõem,
com uma atitude independente, os
mais altos objetivos especulativos
Schelling, Hegel,
Schleiermacher,Krause até
Schopenhauer
A influência de Reinhold
 Inspirados na filosofia de Reinhold, Fichte,
Hegel e Schelling esforçaram-se por
derivar todas as diferentes partes da
filosofia de um único princípio
 O princípio primeiro constitui O Absoluto

◦ Porque o absoluto, ou incondicional, tem


de preceder todos os princípios que são
condicionados pela diferença entre um
princípio e outro.
Desenvolvimentos...
 Esses três
grandes
sistematizadores
procuraram, cada
um a seu modo,
ultrapassar a
divisão existente
entre
racionalismo e
empirismo.
J. G. Fichte
 Vai a Königsberg para uma entrevista com
Kant.
 Redige um ensaio, Versuch einer Critik aller

Offenbarung
◦ Investiga as conexões entre a revelação divina e a
filosofia crítica de Kant (tão profundo e bom que
pensaram tartar-se de um texto do próprio Kant…)
◦ A reputação de Fichte espande-se enormemente: “a
mais espantosa e impactante notícia […] pois
ninguém, a não ser o próprio Kant, poderia ter escrito
esse livro. Uma maravilhosa notícia de um terceiro sol
no céus filosófico que me deixou totalmente confuse”
(Carta de Baggeson a Reinhold)
J. G. Fichte
 1793 – publica anonimanete dois
panfletos nos quais defendia a liberdade
de pensamento e a ação, nas quais
advogava mudanças políticas.
 Convidado a lecionar na Universidade de

Jena
◦ Expõe seu sistema do “idealism
transcendental”, publicado posteriormente
como Einige Vorlesungen über die
Bestimmung des Gelehrten (A vocação do
homem sábio ou O discurso do erudito).
J. G. Fichte
 Demitido de Jena em 1799, acusado de ateísmo
◦ Ueber den Grund unsers Glaubens an eine göttliche Weltregierung
(Sobre o fundamento da nossa crença em um ndo governado pelo
divino), uma respsota ao ensaio de Friedrich Karl Forberg
"Desenvolvimento de um conceito de religião“.
◦ Para Fichte, Deus deveria ser concebido primariamente em termos
morais: “A ordem moral presente e eficaz é o próprio Deus. Naõ
necessitamos de nenhum outro Deus, tampouco podemos
compreender nenhum outro”.
 A publicação de um destemperado Appellation an das
Publikum (1799), provocou F. H. Jacobi a responder
publicamente por meio de uma carta aberta a ele, na
qual Jacobi igualava a filosofia em geral, e a filosofia
transcendental de Fichte particularmente, ao niilismo.
J. G. Fichte
 Como todos os estados alemães juntaram-se
contra ele, restou-lhe a Prússia. Muda-se para
Berlim.
 Junta-se aos irmãos Schlegel, Schleiermacher,

Schelling e Tieck.
 A deplorável situação da Alemanha levou-o a

publicar os famosos Reden an die deutsche


Nation, 1808, que motivaram a sublevação
contra Napoleão.
 Tornou-se professor da Nova universidade de

Berlim, fundada em 1810.


Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 “Imitando” o estilo De Kant, seus textos forma
considerados praticamente ininteligíveis...
 Ele mesmo aceita essa observação, as rebate que seus
textos eram claros e acessíveis àqueles que se
dedicassem a pensar sem preconceitos.
◦ Não aceitou a divisão kantiana entre noúmena e phainómena,
pois isto levaria ao ceticismo.
◦  sugestão radical: aceitar o fato de que a consciência
não possui um fundamento no “mundo real”.
◦ Aliás, tornou-se famoso por seu argumento de que a
consciência só se fundamenta em si mesma.
◦ O mundo fenomênico surge a partir da autoconsciência
– a atividade do Eu – e da consciência moral.
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 Fichte busca construir um sistema para tornar a
filosofia uma ciência precisa e que surgisse de
um princípio único e superior.
◦ Esse sistema ele denominou A doutrina da ciência, uma
tentativa de unificação das três Críticas de Kant.
 A principal inovação na filosofia de Fichte
consiste em modificar o “Eu Penso” de Kant em
seu “Eu Puro”, que é pura intuição, que se
autocria, se autopõe, e, autocriando-se, cria
toda a realidade.
 Outra proposta é identificar a essência desse eu

que se autocria com a liberdade.


Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 O Eu Puro é uma intuição intelectual
◦ O Eu entende a si mesmo e se autodeclara,
dessa forma, provê o fundamento das coisas em
si e dos fenômenos do mundo, assegurando a
união entre o intelectual e o sensorial.
◦ O Eu Puro torna-se a origem única e que está
acima de todos os outros princípios.
◦ Esse Eu Puro elimina o ceticismo e fundamenta a
filosofia como ciência.
◦ Quando o Eu Puro se divide dá origem ao Eu
Prático que acaba por fundamentar o Eu Teórico.
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 O Eu fundamenta a ciência pelo fato de que é
o Eu que pensa e pensando dá sentido a todas
as ligações lógicas que estão na base da
ciência.
 O Eu é condição de si mesmo, compõe a si

mesmo, é da forma que ele se fez a si mesmo:


o Eu é autocriação.
 Até o Ser é algo derivado da ação do Eu

◦ Não é a ação que vem do Ser, mas ao contrário, é o


agir do Eu que define e cria o Ser.
◦ O Ser é o resultado do agir, e quem age inicialmente
é o Eu.
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 O Eu Puro, a inteligência, é algo ativo e sem restrições e
não algo passivo e restrito ou dependente.
◦ É ativa por ser o princípio primeiro e absoluto do qual derivam
todas as outras coisas.
◦ Não se trata do eu e da inteligência do homem prático, mas o Eu e
a inteligência absoluta.
 Contudo, o Eu não pode ficar isolado no mundo.
Necessita de um contraponto, de uma antítese.
◦ Como ele mesmo se pôs, cria um não eu para se contrapor à sua
posição.
◦ Tanto o Eu como o não eu são ações do Eu: o não eu é uma
necessidade para que o Eu possa se identificar como tal.
◦ O não eu não está fora do Eu, faz parte do Eu pois nada pode ser
pensado fora do Eu.
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 Então já temos a tese, o Eu cria a si próprio.
 A antítese:
 Falta a síntese: a delimitação, ou seja, nem o

Eu nem o não eu podem eliminar-se


reciprocamente, mas um delimita o outro.
◦ O Eu e o não eu estão em antítese e se limitam
reciprocamente
 Quando o não eu determina o Eu ocorre o
conhecimento,
 Quando o Eu determina o não eu ocorre a atividade
prática e moral.
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 Esse processo é uma relação dinâmica e
infinita. Nessa relação o Eu pode desenvolver a
liberdade, que será sempre um processo
ilimitado:
◦ A liberdade é uma construção constante e infinita.
◦ Moralmente o homem só será completo ao se
relacionar com outras pessoas e como são diversos
os homens, diversas são também as aspirações e
elas podem entrar em oposição.
◦ Para gerir as diversas oposições de aspirações
humanas é que surgem o Estado e o Direito
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 O eu é livre, mas na convivência com outros
seres livres ele deve limitar sua liberdade, ou
seja, cada ser livre deve demarcar sua
liberdade para que cada um possa praticar a
sua.
 Assim, quando uma pessoa escolhe uma

determinada forma de filosofar, também está


dizendo que aquela é a sua forma de ser como
homem, pois a filosofia não é inativa, não é
uma ferramenta inerte, mas é viva e animada
pelo espírito do filósofo.
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 Assim, a educação tem que ser pública e nesse
sentido encontrar fundamentação em um estado
de direito e encontrar sua normatividade em uma
ordenação jurídica.
 Por outro lado, a educação tem um caráter
humano e pessoal, ou seja, ela deve ser guiada
por uma vontade humana de autorrealizar sua
liberdade.
 Essa educação para a liberdade exige a
instauração das condições materiais necessárias
para sua realização, mas ela é também um projeto
social e exige também uma realização enquanto
coletividade.
Aspectos gerais da filosofia de Fichte
 “Our whole age is imbued with a formal striving. This is what led us to disregard congeniality
and to emphasize symmetrical beauty, to prefer conventional rather than sincere social
relations. It is this whole striving which is denoted by — to use the words of another author
— Fichte's and the other philosophers' attempts to construct systems by sharpness of mind
and Robespierre's attempt to do it with the help of the guillotine; it is this which meets us in
the flowing butterfly verses of our poets and in Auber's music, and finally, it is this which
produces the many revolutions in the political world. I agree perfectly with this whole effort
to cling to form, insofar as it continues to be the medium through which we have the idea,
but it should not be forgotten that it is the idea which should determine the form, not the
form which determines the idea. We should keep in mind that life is not something abstract
but something extremely individual. We should not forget that, for example, from a poetic
genius' position of immediacy, form is nothing but the coming into existence of the idea in
the world, and that the task of reflection is only to investigate whether or not the idea has
gotten the properly corresponding form. Form is not the basis of life, but life is the basis of
form. Imagine that a man long infatuated with the Greek mode of life had acquired the means
to arrange for a building in the Greek style and a Grecian household establishment —
whether or not he would be satisfied would be highly problematical, or would he soon prefer
another form simply because he had not sufficiently tested himself and the system in which
he lived. But just as a leap backward is wrong (something the age, on the whole, is inclined to
acknowledge), so also a leap forward is wrong — both of them because a natural
development does not proceed by leaps, and life's earnestness will ironize over every such
experiment, even if it succeeds momentarily.
 — Søren Kierkegaard, Journals, "Our Journalistic Literature", November 28, 1835
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 Todos os filósofos idealistas (Fichte, Schelling,
Schleiermacher, Hegel, Schopenhauer) dependem,
mais ou menos, de Espinosa
 O romantismo pode ser considerado como a outra
faceta do desenvolvimento do pensamento do século
XIX.
◦ Tratando de questões concernentes à literatura e à arte de
forma geral, também o romantismo é denominado pelo
conceito de criatividade e liberdade do espírito, como o
idealismo;
◦ E com o idealismo tem em comum o historicismo, o conceito
de desenvolvimento, e, por conseguinte, a valorização da
nacionalidade e da religião, que são produtos históricos
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 Kant deixara ainda uns dados, em face dos quais o
espírito é passivo: o mundo do númeno, que o espírito
não consegue conhecer.
 Esse mundo de coisa em si, mundo de dados, é
representado, de um lado, por aquela misteriosa
matéria, e de outro lado, por aquele mundo inteligível,
donde derivaria toda a atividade organizadora e
criadora do espírito, no mundo empírico.
 O idealismo clássico nega todo dado, ou coisa em si,
perante o qual o espírito é passivo, e, portanto, nega o
transcendente mundo numênico kantiano, reduzindo
tudo à mais absoluta imanência do espírito.
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
O mundo da matéria, das sensações, da
natureza, é uma criação inconsciente do
espírito;
O espírito é transcendental - e não
transcendente - com respeito à multiplicidade
e ao vir-a-ser do mundo empírico, no qual
unicamente, entretanto, o espírito se realiza,
vive, concretiza a si mesmo indefinida e
livremente, e é plenamente cognoscível a si
mesmo.
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 Schelling assume no seu sistema a concepção
romântica, em virtude da qual toda a natureza
é espiritualizada, e o espírito humano atinge a
essência metafísica da realidade através de
uma intuição estética.
 • Passou da teologia à filosofia e dedicou-se

ao estudo de Espinosa, do qual deriva a sua


concepção idealista;
 De Fichte, que constitui o pressuposto imediato

do seu pensamento, afasta-se logo.


Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 A filosofia de Schelling é,

fundamentalmente, idealista:
 O espírito, o sujeito, o eu, é princípio de

tudo.
 Como Fichte, admite que a natureza é

uma produção necessária do espírito;


contudo, recusa o conceito de Fichte de
que a natureza tenha uma existência
puramente relativa ao espírito
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 A natureza - embora concebida idealisticamente
- tem uma realidade autônoma com respeito ao
sujeito, à consciência.
◦ A natureza é o espírito na fase de consciência obscura,
como o espírito é a natureza na fase de consciência
clara.
 Assim, o princípio da realidade não é mais o eu
de Fichte (o eu absoluto, o sujeito puro); mas
deverá ser um princípio mais profundo, anterior
ao eu e ao não-eu: será precisamente a
identidade absoluta do eu e do não-eu, sujeito e
objeto, espírito e natureza.
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 Dessa identidade, princípio absoluto da
realidade, decorrerá:
1. A natureza e o seu desenvolvimento, e depois o
espírito com toda a sua história, não como sendo
oposição e negação da natureza, mas como seu
desenvolvimento e consciência.
 Que a natureza seja espiritualidade latente e
progressiva, Schelling julga demonstrá-lo
mediante a racionalidade imanente na própria
natureza, e precisamente mediante a sua
finalidade
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 Ao surgir a sensibilidade, nasce no universo
a consciência espiritual, começa o
desenvolvimento do espírito humano, que é
um progresso, uma continuação com
respeito ao desenvolvimento da natureza.
 A unidade, a identidade profunda entre

natureza e espírito deveria, segundo


Schelling, ser aprendida pela intuição
estética expressa na obra de arte, que é a
obra do gênio.
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 O gênio se encontra só no campo estético, não no
científico.
 Unicamente o gênio artístico atinge e revela o artista
misterioso que atua no universo: a realidade absoluta
é identidade entre natureza e espírito, objeto e sujeito:
unidade de uma multiplicidade.
◦ Mas surge um PROBLEMA que assoma em toda concepção
monista da realidade: ou a realidade verdadeira cabe ao
idêntico, ao indistinto, ao uno imutável; ou o multíplice, o devir
do mundo tem uma realidade verdadeira.
 No primeiro caso, a multiplicidade e o devir do mundo, a natureza e o espírito, são
meras aparências subjetivas;
 No segundo, propende para a primeira solução: o idêntico não é a causa do universo,
mas é o próprio universo.
 Então, como se explica a visão, mesmo ilusória, do universo que aparece múltiplo e in
fieri? Se a realidade absoluta é una e imutável, e nada existe fora dela, como e donde
pode surgir essa visão destruidora do Absoluto?
Aspectos gerais da filosofia de Schelling
 Mas surge um PROBLEMA que assoma em toda
concepção monista da realidade: ou a realidade
verdadeira cabe ao idêntico, ao indistinto, ao uno
imutável; ou o multíplice, o devir do mundo tem uma
realidade verdadeira.
◦ No primeiro caso, a multiplicidade e o devir do mundo, a
natureza e o espírito, são meras aparências subjetivas;
◦ No segundo, propende para a primeira solução: o idêntico
não é a causa do universo, mas é o próprio universo.
◦ Então, como se explica a visão, mesmo ilusória, do
universo que aparece múltiplo e in fieri? Se a realidade
absoluta é una e imutável, e nada existe fora dela, como e
donde pode surgir essa visão destruidora do Absoluto?
Da filosofia da IDENTIDADE à filosofia da
LIBERDADE
 De um sistema racional a um sistema
irracional.
 O ser absoluto, Deus, como indiferença de irracional
e racional, possibilidade do irracional e do racional,
vontade inconsciente que aspira à racionalidade, à
própria autorrevelação.
 Realização de racionalidade
 Revelação de Deus a si mesmo
 Realizam-se na determinação das idéias eternas em Deus.
 Schelling concebe as idéias eternas ao mesmo tempo como
verbo de Deus, revelação de Deus a si mesmo, e como
exemplares universais e imutáveis das existências
particulares e in fieri
Da filosofia da IDENTIDADE à filosofia da
LIBERDADE
 A passagem de Deus, do mundo ideal, ao mundo
empírico e contingente, não se pode realizar mediante
uma dedução lógica, uma vez que há uma essencial
heterogeneidade entre o perfeito, o imutável, o
universal e o imperfeito, o temporal, o particular.
◦ Tal passagem se explica então mediante um ato arracional,
irracional da vontade, de liberdade.
◦ Possível, porque as idéias eternas participam da natureza
divina, que é liberdade e vontade.
◦ Por conseguinte, elas se podem destacar do Absoluto, decair
no mundo empírico da multiplicidade, da individualidade, do
contingente, do devir.
◦ Com efeito, tal queda, tal separação aconteceu e constitui o
mundo material e espiritual, natural e humano, com todo o mal
que nele existe
Da filosofia da IDENTIDADE à filosofia da
LIBERDADE
 Através da história da natureza e da humanidade, deveria
realizar-se progressivamente a redenção dessa queda original,
o retorno das coisas a Deus, da multiplicidade à Unidade, do
finito ao Infinito.
 Essa redenção redimiria não só e não tanto o mundo e o
homem, mas o próprio Deus: porquanto, ele, assim, superaria
o seu fundo originário arracional e irracional, revelando-se
plenamente a si mesmo, conquistando a sua racionalidade.
 Compreende-se, portanto, como, para Schelling, é racional o
mundo das ciências, das idéias; mas irracional o mundo da
existência, da realidade.
 Com relação ao primeiro é possível conhecimento racional, ciência,
filosofia;
 O segundo pode ser descrito unicamente com base na experiência.
Da filosofia da IDENTIDADE à filosofia da
LIBERDADE
 Ao trazer a ciência da natureza para a ciência
do espírito, Schelling preenche o que faltava
ao sistema de Fichte.
 Reconhece que o universo não é, estritamente falando,
a criação do eu e, consequentemente, tem uma
existência relativamente distinta do sujeito pensante
 Pensar não é produzir, mas reproduzir.
 A natureza é, para ele, (e o que ela não é para Fichte!)
um dado ou um fato.
 Não consegue escapar, contudo, da necessidade de
parcialmente reconhecer a experiência e a observação;
ele vai além, ao chamá-las de fonte do conhecimento
Da filosofia da IDENTIDADE à filosofia da
LIBERDADE
 A natureza é a razão existente e o espírito a razão
pensante. O pensamento tem de acostumar-se a
separar a noção de razão da idéia de espírito; tem de
conceber uma razão impessoal para não mais manter
essa fórmula como uma contradição em termos.
◦ Temos de conceber a substância de Espinosa como razão
impessoal envolvendo o eu e o não-eu
◦ Temos de olhar as coisas como imagens do pensamento,
e o pensamento como o irmão gêmeo das coisas.
◦ Há um paralelismo total entre a natureza e o pensamento,
e eles têm uma origem comum: ambos se desenvolvem
de acordo com a mesma lei.
Da filosofia da IDENTIDADE à filosofia da
LIBERDADE
 A natureza, imagem do pensamento, é

Matéria ou Forma ou luz Matéria


gravidade organizada

• Tese: a afirmação • Antítese: negação • Síntese de matéria


brutal da matéria. da matéria, e forma
princípio da
organização e da
individuação,
princípio ideal.
Desenvolvendo...

Estágios na evolução da mente

Percepção
exterior e
interior Abstração
Sensação
(intuições e racional
categorias a
priori)
Assim...
 A Sensação, percepção e abstração constituem o eu
teórico, os diferentes graus de compreensão.
 Por meio da abstração absoluta, isto é, a distinção
absoluta pela qual a inteligência transita entre si
mesma e seu produto, o entendimento torna-se
vontade: o eu teórico torna-se eu prático.
◦ Como o magnetismo e o princípio da sensibilidade, inteligência
e vontade são graus diferentes da mesma coisa. Estão
misturados na noção de produtividade ou atividade criativa.
◦ O intelecto é criativo sem o saber; sua produtividade é
inconsciente e necessária;
◦ A vontade é consciente de si mesma; produz tendo consciência
de ser a fonte que produz: daí os sentimentos de liberdade
acompanharem suas manifestações
Como conclusão
 Da mesma forma como a vida na natureza

resulta de duas forces contrárias, a vida do


espírito brota da ação recíproca entre o
intelecto, que põe o não-eu, e a vontade, que o
ultrapassa.
 Estas não são forças novas, são as mesmas que,

depois de terem sido gravidade e luz (material e


forma), magnetismo e eletricidade, irritabilidade
e sensibilidade, manifestam-se na esfera do
espírito como inteligência e vontade.
 Seus antagonismos constituem a vida da raça:

história.
A História

• Caracteriza-se pela predominância do elemento fatalista


• Tese: material, gravidade, inteligência sem vontade
Idade
Primitiva

• A reação do elemento ativo e voluntário contra o destino antigo.


Romanos (até
nós?)

• Síntese dos dois princípios.


• Espírito e natureza: uma unidade harmônica e viva.
• A idéia tornar-se-á mais e mais real.
Futuro • O absoluto, que é a identidade entre o ideal e o real, manifestar-se-á e objetivar-se-á mais e mais.
Os poetas pré-românticos
A Escola dos poetas pré-românticos
desempenha um papel integrador
especial neste desenvolvimento
filosófico
◦ Friedrich Schlegel e Novalis aventuram-se
no campo filosófico.
 Seus espíritos levam para a especulação
idealista a sua nostalgia voltada para o
infinito e para o irracional;
 O mesmo com Hölderlin, de certa forma.
O pré-romantismo
 Influências predominantes: Plotino, Bruno,
Espinosa, Jakob Böhme
◦ Na estrutura do pensamento crítico e sistemático
age o elemento romântico, panteísta e místico, a
princípio ainda como um corpo estranho, que só
lentamente o impregna e o desvia do seu caminho
reto
◦ O irracionalismo propriamente dito só aparece na
ultima fase de Schelling e com Schopenhauer, ao
passo que Hegel jamais duvida da onipotência da
razão
Novalis
 105. “O mundo precisa ser romantizado. Assim
reencontra-se o sentido originário. Romantizar nada é
sena uma potenciação qualit[ativa]. O si-mesmo
inferior é identificado com um si-mesmo melhor nessa
operação. Essa operação é ainda totalmente
desconhecida. Na medida em que dou ao comum um
sentido elevado, ao costumeiro um aspecto misterioso,
ao conhecido a dignidade do desconhecido, ao finito
um brilho infinito, eu o romantizo. Inversa é a operação
para o superior, desconhecido, místico, infinito – atravé
dessa conexão este é logaritmizado – adquire uma
expressão corriqueira, filosofia romântica. Lingua
romana. Elevação e rebaixamento recíprocos.”
A arquitetura da CRP

 Todo conhecimento teórico baseia-


se nos julgamentos sintéticos a
priori
 Duas sub-divisões:

◦ Estética Transcendental: estudo das


condições da sensibilidade
◦ Lógica Transcendental: estudo do
entendimento
Teoria dos Elementos
Estética
Transcendenta
l

Espaç
o Formas Puras
(a priori ) da
Temp sensibilidade
o
Lógica
Transcendental

Analítica Dialética
Transcendental Transcendental

Analítica dos Analítica dos Conceitos


Conceitos dada razão
razão pura
pura
conceitos: tabelas princípios:
princípios: o
o Raciocínios
Raciocínios dialéticos da razão
dialéticos da razão
julgamento
julgamento pura
pura (paralogismos
(paralogismos e e antinomias)
antinomias)
das categorias; valor transcendental em Ideal
Ideal da
da razão
razão pura:
pura:
epistemológico da geral, fenômeno e
impossibilidade
impossibilidade de
existência
de provar
provar aa
existência de
de Deus
Deus pela
pela razão
razão
física noúmeno especulativa
especulativa
noúmeno
Teoria do
Método
 Disciplina da razão
pura
 Cânone da razão pura
 Arquitetônica da razão

pura
 História da razão pura

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