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GERAL
JOÃO GUIMARÃES ROSA
Reflexões Iniciais
- Aula Expositiva – Com bastante leitura
- O que são os movimentos artísticos?
- O foco de expressão artística vs. O avanço
tecnológico
Renoir, Pierre-Auguste. As grandes banhistas, 1887. Museu de Arte da Filadélfia.
Picasso, Pablo. As Banhistas, 1920
Picasso, Pablo. Banhistas Com Um Brinquedo, 1937
Reflexões Iniciais
- O foco narrativo na literatura é voltado para o
psicológico
- Como os acontecimentos afetam o psicológico
humano?
- O que se passa na mente humana?
MODERNISMO
BRASILEIRO
O Modernismo Brasileiro foi um movimento artístico que surgiu
oficialmente na Semana de Arte Moderna de 1922, se
estendendo até a segunda metade do século passado.
No entanto, estas datas são apenas referências, porque o
modernismo não foi uma coisa só, ou seja, envolveu várias
gerações de artistas, com ideias diferentes entre si, ainda que
algumas características estivessem quase sempre presentes,
como:
• O rompimento com as formas tradicionais de expressão
artística;
• A busca por uma expressão artística nacional e inovadora;
• Na literatura, a valorização do cotidiano, expresso em
linguagem simples.
Além disso, no início, havia o desejo de usar a arte para
representar a realidade brasileira. Com o tempo, os modernistas
se libertaram até mesmo desta obrigação
2º FASE DO
MODERNISMO (a
geração de 30)
• Estendendo-se de 1930 a 1945, a segunda fase
do Modernismo foi rica na produção poética e
também na prosa, sendo essa última a que
mais se destacou, caracterizada pelo
regionalismo voltado especialmente a região
nordeste. O universo temático dessa geração
amplia-se com a preocupação dos artistas com
o destino do Homem e no estar-no-mundo. Ao
contrário da sua antecessora, foi construtiva
2º FASE DO
MODERNISMO (a
geração de 30)
• Rachel de Queiroz;
• Jorge Amado;
• Graciliano Ramos;
• Érico Veríssimo;
• José Lins do Rego;
• Cecília Meireles;
• Vinícius de Morais.
3º Fase do Modernismo
• Obras póstumas
• Estas Estórias (1969)
• Ave, Palavra (1970)
• Magma (1997) – livro de poemas
Outras Obras do Autor
Grande Sertão-Veredas
• A cultura sertaneja
• Explora estruturas sintáticas
• Uso de palavras estrangeiras
• Uso e criação de neologismos
• Vocabulário amplo e complexo
• Escrita com ritmo, aliterações e metáforas
• Temas envolvendo vida, destino, morte, Deus
• Linguagem poética
• Crise existencial e fluxo de consciência
• Ruptura com a cronologia tradicional das
narrativas
• Regionalismo
• Dualismo: bem e mal, velho e novo, rural e
urbano, amor e ódio
Análise da Obra – Campo Geral
“Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus
irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-
Frango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco
conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm.”
A incerteza da exposição dos fatos mostra, desde início a que o leitor está
sujeito: uma narrativa líquida (instável) e profunda (por camadas). Esse
primeiro período já demonstra isso: um certo Miguilim pode indicar qualquer
pessoa que se enquadra na situação vivenciada por pelo protagonista: filho
de uma família com muitos irmãos, pobre, no interior de Minas Gerais, a
mãe possui um relacionamento com o Tio, a tia avó é assaz religiosa, os
cachorros expressam amizade, os irmãos são o mundo, a vida é o mutum,
arraial afastado de tudo. Tudo aqui relembra a ideia de um conto de fadas
(em um mundo distante, muito distante, longe, longe daqui, era uma vez –
são expressões que anunciam que o conteúdo é, antes de tudo, uma
invenção do real, um simulacro.
Análise da Obra – Campo Geral
Personagens
O pai
A relação com o pai é truncada. Ele, Miguilim, não age como os outros irmãos. É lento,
disperso e gosta mais de brincar que de trabalhar nas coisas da roça. O pai talvez seja
seco e violento por causa da relação de afeto existente entre Miguilim e Tio Terêz.
"Este menino é um mal-agradecido. Passeou, passeou, todos os dias esteve fora de cá, foi
no Sucurijú, e, quando retorna, parece que nem tem estima por mim, não quer saber da
gente..." A mãe puniu por ele: — "Deixa de cisma, Béro. O menino está nervoso...”
Desta forma, a triangulação entre pai, mãe e filho demonstra que Béro é avesso ao filho e,
para equilibrar a relação, a mãe o protege. Quase sempre o menino ficava de castigo em
casa quando o pai levava os outros irmãos para as pescarias.
Personagens
Os Irmãos
Chica – Mal humorada, birrenta.
Tomezinho – caçula.
Dito – intelectual de 04 anos; perspicaz, atencioso e sereno. Pensava antes de falar. Era o
ídolo de Miguilim.
Drelina. “— Bobo! Eu chamo Maria Andrelina Cessim Caz. Papai é Nhô Bernardo Caz! Maria
Francisca Cessim Caz, Expedito José Cessim Caz, Tomé de Jesus Cessim Caz... Você é Miguilim
Bobo...’’ (ROSA,2019. p.12)
· Mãitina – misto de babá, louca e feiticeira. Vivia na fazenda fazendo pequenos trabalhos
como cozinhar e lavar. Tomava cachaça, predizia o futuro. Gostava muito de Miguilim.
Personagens
· Vó Izidra – Na verdade, a avó real morrera e sua irmã, Izilda, recebera o tratamento por
respeito. Assim, ela era a Tia-avó de Miguilim. Mulher muito religiosa.
· Seu Deográcias: Curandeiro e a quem o pai propôs ensinar os filhos a ler e escrever.
Provavelmente pai de Patori
· Seu Aristeu (Curandeiro): “Mas Vovó Izidra tinha ojeriza de seo Aristeu, que morava na
Veredinha do Tipã, ele também assisava aconselhar remédios, e que para ver o Miguilim a mãe
queria que chamassem.
· Liovaldo: No dia seguinte, sem ninguém esperar, chegou o mano Liovaldo, com tio
Osmundo Cessim, da Vila Risonha. Foi tanta alegria e surpresa, de Mãe, Pai, e de todos, que
ninguém não ia trabalhar na roça.
Os Cachorros
• Tudo se encaminha para um equilíbrio: Tio Terêz se foi, o pai está calmo,
Miguilim pode até ajudar na vida da fazenda levando a marmita para o pai, na
roça. Mas como toda vida calma é sempre balançada por uma “pedra no meio
do caminho”, Miguilim, na volta, encontra Tio Terêz. Este entrega um bilhete
de amor ao jovem, destinado à mãe. Ele seria então o mensageiro de um
amor proibido; um cupido às avessas. E é exatamente aqui a obra começa a
ter outro divisor de águas porque a temática vai abordar a questão ética
Cronologia dos Acontecimentos
• Enquanto filosofa a respeito de como agir, Miguilim fica cada vez menos
inserido nos elementos do cotidiano. Ele nem sabe que o pai não é o dono da
fazenda, mas Seu Sintra sim. Esse distanciamento será explicado no final da
história quando o jovem descobre-se míope. Assim, os valores externos ficam
mais “embaçados” enquanto os valores abstratos, internos, metafísicos toma
destaque e afloram em Miguilim.
Cronologia dos Acontecimentos
• Miguilim eram um consequencialista: pensava que seu ato poderia impactar a
si, ao pai, a mãe, aos irmãos, ao tio. O cálculo era necessário: “que palavras
certas falar?!”. Note que já estamos com outro personagem dentro do
primeiro. O primeiro era infantil, somente. Agora temos uma espécie de
transição para a fase adulta, pois o pré-adolescente é chamado a resolver uma
questão que envolve uma escolha ética. Esse exercício o faz crescer
emocionalmente, apesar da dor (ou por causa dela!). O adulto cresce na
personagem que, por escolha própria, após muito pensar, escolheu dizer a
verdade ao tio:
Cronologia dos Acontecimentos
• “― "Tio Terêz, eu principiei querer entregar a Mãe, não entreguei, inteirei
coragem só por metade..." Ah, mas, se isso, Tio Terêz não desanimava de
nada, recrescia naquela vontade estouvada de pessoa, agarrava braço dele,
falava, falava, falava, não desistia nenhum. Nenhum jeito! Agora Miguilim
esbarrava, respirava mais um pouco, não queria chorar para não perder seu
pensamento, sossegava os espantos do corpo. E não tinha outro caminho,
para chegar lá na roça do Pai? Não tinha, não. Miguilim lá ia. Ia, não se
importava. Tinha de ser lealdoso, obedecer com ele mesmo, obedecer com o
almoço, ia andando.” (p.75)
Cronologia dos Acontecimentos
• Tio Terêz entende a situação. Ao acalentar e agradecer o menino, alivia-o e vai
embora, para sempre. A vida volta ao normal, novamente e, como sempre,
sofre um arrebatamento. Desta forma, podemos criar um gráfico dos clímax
desta novela:
Cronologia dos Acontecimentos
• E assim, Guimarães Rosa consegue compor um carrossel de emoções em que
o leitor se depara com felicidades e incertezas, amor e ódio, crença na vida da
fazenda e vida divina... que vão fazendo-o participar da narrativa e vivenciar
as emoções do protagonista.
Cronologia dos Acontecimentos
• De manhã, Dito brincava no quintal. Queria ver uma coruja e pisou em caco
de vidro. Coruja é símbolo do azar, do mal agouro. E ele, então, contrai a
doença tétano. A doença é cruel: paralisa os músculos e causa muita dor.
Miguilim, desesperado, passa a ser o elo entre Dito (acamado) e o mundo lá
fora. Tudo o que acontecia, Miguilim informava. Trata-se de uma espécie
de velório em vida:
• “Mas agora o Dito não podia ir ajudar a arrumação, e então Miguilim gostava
de não ir também, ficar sentado no chão, perto da cama, mesmo quando o
Dito tinha sono, o Dito agora queria dormir quase todo o tempo.”
Cronologia dos Acontecimentos
• De manhã, Dito brincava no quintal. Queria ver uma coruja e pisou em caco
de vidro. Coruja é símbolo do azar, do mal agouro. E ele, então, contrai a
doença tétano. A doença é cruel: paralisa os músculos e causa muita dor.
Miguilim, desesperado, passa a ser o elo entre Dito (acamado) e o mundo lá
fora. Tudo o que acontecia, Miguilim informava. Trata-se de uma espécie
de velório em vida:
• “Mas agora o Dito não podia ir ajudar a arrumação, e então Miguilim gostava
de não ir também, ficar sentado no chão, perto da cama, mesmo quando o
Dito tinha sono, o Dito agora queria dormir quase todo o tempo.”
Cronologia dos Acontecimentos
• Essa noite aflitiva era 24 de dezembro, véspera de natal. A família foi
abençoada não com o nascimento do Menino Jesus, mas com a morte de uma
criança inteligente, carismática e amada, principalmente, pelo irmão. Antes de
morrer, Dito reclamou que o papagaio paco-o-paco falava sobre Miguilim, mas
nunca havia falado nada sobre ele, Dito:
• "Escuta, Miguilim, sem assustar: seu Pai também está morto. Ele perdeu a
cabeça depois do que fez, foi achado morto no meio do cerrado, se enforcou
com um cipó, ficou pendurado numa moita grande de miroró... Mas Deus não
morre, Miguilim, e Nosso Senhor Jesus Cristo também não morre mais, que
está no Céu, assentado à mão direita!... Reza, Miguilim. Reza e
dorme!" (ROSA,2019. p.124)
• A ideia era que Tio Terêz voltasse para cuidar da família, mas Miguilim não
estava mais apegado, queria sair do Mutum.
• Foi nesse contexto, então, que um médico passou pela vila Perguntou como se
chamava o garoto. A resposta foi rápida: “Miguilim, irmão do Dito.”
• O médico logo viu que o rapazinho “tinha vista curta” (miopia), pois o garoto
apertava os olhos para ver o que estava longe. Ao colocar seus óculos em
Miguilim, a epifania se fez:
• “Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo
e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os
grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas
passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta
coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda
apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim
assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que
Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café
com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de
Miguilim batia descompasso, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à
Maria Pretinha, a Mãitina. A Chica veio correndo atrás, mexeu: — "Miguilim,
você é piticego..." E ele respondeu: — "Donazinha...” (p.128)
• O crescimento de Miguilim agora era físico: tudo lhe aparecia na retina. O
doutor José Lourenço logo percebeu que um Míope deseja ver as coisas de
perto e por isso convida o rapaz para ir morar na cidade, estudar. A mãe
autorizou e abençoou e, de óculos, deu-se uma despedida ampliada:
Questões de Vestibular
(UFG) – Diversos motivos narrativos compõem a trama de “Campo Geral”, texto da obra Manuelzão
e Miguilim, de Guimaraes Rosa. Qual o motivo narrativo principal para a composição do enredo
desse conto?
a) apenas I.
b) apenas I e II.
c) apenas II.
d) apenas III.
e) todas.
a) afetada.
b) afetiva.
c) arcaica.
d) objetiva.
e) rebuscada.
Questões de Vestibular
(UFRGS) – Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre sentimentos de
personagens de Campo Geral, da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa.
(V) Miguilim odiava seu Pai, pela violência das surras e castigos que ele lhe impunha: mandar
embora a cadela, ou soltar os passarinhos que estavam nas gaiolas.
(F) As rezas da avó e os feitiços de Mãitina enfim surtiram efeito: Miguilim passou a se sentir
culpado pela morte do irmão.
(V) Miguilim detestava o Mutum, mas, com a ajuda dos óculos do doutor, acabou finalmente
descobrindo que se tratava de um lugar bonito.
(V) Dito sentiu inveja de Miguilim porque Papaco-o-Paco era capaz de dizer “ – Miguilim, Miguilim,
me dá um beijim”, mas não conseguia pronunciar “Dito”.
https://www.youtube.com/watch?v=NPrE2IsrqLM
REFERÊNCIAS
BORGES, Gustavo. Resenha de Campo Geral, João Guimarães Rosa. 2020
http://literaturaprofessorgustavoborges.blogspot.com/2020/10/campo-geral-guimaraes-rosa.html