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Aula 4 – Desenvolvimento da

linguagem e da personalidade
na 2ª. infância
Profa. Dra. Thalita Lacerda Nobre
Linguagem
• Pensamento e linguagem como ferramentas:
https://www.youtube.com/watch?v=ZvY8qbIuLvQ
• Apesar do crescente interesse pela linguagem, em geral, e pela aquisição de
linguagem em particular, a literatura disponível indica que indagações
teóricas sobre a natureza da linguagem, seu processo de desenvolvimento,
mecanismos envolvidos e pré-requisitos necessários à sua aquisição são
constantes e muitas questões não são respondidas;
• Há muitos séculos a pergunta "Como as crianças aprendem a falar?“ vem
preocupando os homens. Já no século V a.C. Heródoto relata uma pesquisa
levada a efeito pelo rei egípcio Psammentichus I , onde se percebia a crença
de que o entendimento do processo de aquisição da linguagem poderia
esclarecer alguns aspectos primordiais referentes à natureza do homem.
• Década de 1960 = percepção de que a criança não se expressa simplesmente
por meio de uma versão inadequada e imprecisa da fala adulta. A linguagem
infantil caracteriza-se por padrões peculiares que justificam plenamente o
estudo de como se processa a aquisição da linguagem e de como essa
linguagem sofre transformações à medida que a criança cresce.
Linguagem
• Estudos foram apontando que havia que se pensar que a linguagem não era
exclusivamente um meio de comunicação mas tem um papel preponderante na
representação, organização e interação com o meio ambiente. Organiza o
mundo caótico da mente e tem função simbólica.
• Acesso ao abstrato. O domínio da linguagem é, pois, condição essencial para
que o ser humano seja capaz de relembrar, planejar, raciocinar e direcionar
tanto o curso de sua própria vida como o da comunidade em que se encontra.
• Três correntes de entendimento do uso da linguagem:
• Chomsky = supõe que a capacidade de representar eventos, característica
essencial do ser humano, é, em grande parte, especificada biologicamente.
• Skinner = a posição empirista. Nega a existência de qualquer estrutura
linguística inata. A linguagem é aprendida exclusivamente por meio da
experiência.
• Piaget = Piaget. Visão interacionista. Tanto os fatores biológicos como aqueles
vinculados à experiência são instrumentais na aquisição da linguagem.
Socialização
• No processo de formação da personalidade da criança vai-se
desenvolver também aquele aspecto do eu que nos dá a sensação de
pertencermos a grupos, que faz com que nos sintamos ao mesmo
tempo iguais a todos os outros indivíduos do grupo e diferentes de
todos eles. A este sentimento Erikson denominou sentimento de
integridade do eu ou sentimento de identidade pessoal.
• Erik Erikson = em cada fase do ciclo vital existe uma crise psicossocial
(associada ao crescimento orgânico na infância e às etapas de
maturidade e envelhecimento na idade adulta), isto é, uma necessidade
de ajustamento pessoal às solicitações do ambiente social.
• Erikson: a personalidade se desenvolve de acordo com uma escala pré-
determinada, na prontidão do organismo humano para ser impelido na
direção de um círculo cada vez mais amplo de indivíduos e instituições
significantes, ao mesmo tempo em que está cônscio da existência desse
círculo e pronto para a interação com ele“.
Socialização
• 18 meses aos 3 anos de idade = controle dos esfíncteres.
Desenvolvimento da autonomia e do controle do ambiente.
• Para Erikson = em continuação à confiança x desconfiança, a criança
desenvolve autonomia x vergonha ou dúvida, isto porque:
• Quer desafiar as exigências maternas para "testar" a capacidade de ser
amada mesmo quando se autodetermina, indo contra os desejos da
mãe.
• A criança testará se colocar com todos os aspectos do seu eu (bons e
ruins, em termos culturais) e mesmo assim continuar sendo aceita e
amada. Mas, se isso não ocorrer, a criança poderá pender para um
sentimento negativo em relação tanto aos seus produtos corporais
como à sua capacidade de tomar iniciativas, e assim irá ser levada mais
para um sentimento de vergonha (que rapidamente se associará à
culpa) e de dúvida (a respeito de si mesma e da firmeza de seus pais
enquanto educadores).
3 aos 6 anos: iniciativa
• A partir da observação dos adultos no desempenho de seus papéis
sociais, e da possibilidade de desempenhá-los ela própria em seus jogos
simbólicos, a criança estará também aprendendo como funciona o
mundo social e como ela funciona dentro dele: o tipo de atividade da
criança que dá ao adulto a impressão de que ela está em todos os
lugares — quer saber tudo e participar de tudo (além de receber e
repetir as mensagens dos meios de comunicação de massa,
notadamente a televisão) — foi designado por Erikson como intrusão.
• A criança desenvolve o poder de confiar em sua capacidade de iniciativa
no desempenho de suas tarefas na idade adulta.
• O outro extremo da escala seria um sentimento de culpa (mais maduro
do que a vergonha da fase anterior, porque mais interiorizado): a
criança fantasia muito, imagina-se cometendo muitas falhas horríveis
que podem levá-la a perder o amor dos pais, a nível de fantasia.
Construção da personalidade
• Ao mesmo tempo em que a criança elabora as suas vivências
características de cada fase do desenvolvimento psicossexual (oral,
anal, fálica), ela está aprendendo a ser social. Este aprendizado inclui
sentimentos de autoestima e autoaceitação que darão as
coordenadas do relacionamento com as outras pessoas, inclusive na
situação de trabalho produtivo.
• Se as vivências de cada uma destas três fases penderem para os
aspectos positivos, a criança terá desenvolvido a capacidade para
confiar em si mesma e nos seus provedores externos, sentir-se-á um
indivíduo íntegro e autónomo, digno de amar e ser amado, bem como
com possibilidade de realização plena de suas capacidades no
desempenho de tarefas. Se algo falhar em qualquer destas fases,
inúmeras dificuldades surgirão no decorrer da infância e idade adulta,
podendo resultar inclusive em diversos tipos de patologia.
Socialização
• Uma conceituação mais adequada de personalidade deve ter em
conta a extraordinária adaptatividade do homem e suas capacidades
de discriminação, de autorregulação e de mudança construtiva,
quando enfrentar um ambiente em mudança" (Mischel, 1975).
• Gênero: o comportamento sexualmente tipificado (masculino ou
feminino) seria o resultado de um processo individual de síntese de
componentes extraídos de muitos modelos e que se expressaria em
padrões pessoais. Assim, não apenas as características de cada
membro do casal parental (mais ou menos masculinos ou femininos,
recompensador contingente ou não, afetuoso, controlador, etc.)
exerceriam influência na criança, mas também todos os outros
modelos observados (como professores, companheiros, personagens
da TV, etc). Cada criança tornar-se-ia homem ou mulher a partir de
sua história pessoal de socialização.
A família
• No caso da criança pequena, a família é, sem dúvida, o principal agente
socializador. Os pais têm a responsabilidade de fazer com que seus filhos
desenvolvam características de personalidade e de comportamento que sejam
consideradas adequadas a seu sexo e aos vários subgrupos culturais a que
pertencem (religioso, classe social, etc).
• o tipo de ambiente familiar, resultante da adoção por parte dos pais de um ou
de outro tipo de práticas de criação infantil, resulta em maior ou menor
competência da criança para enfrentar situações diversas, bem como em
sentimentos positivos ou negativos para consigo mesma (em termos de
autoconceito).
• As crianças mais saudáveis psicologicamente são aquelas cujos pais adotam
práticas disciplinares consideradas democráticas. Isto é, usam explicação e
reforço positivo como atitudes predominantes, evitam os castigos físicos,
solicitam a participação da criança em decisões familiares que lhe dizem
respeito (atividades escolares, esportivas ou de lazer, por exemplo), procuram
fazer com que seus filhos se tornem competentes e independentes, levando
em consideração a idade da criança, seu sexo, habilidades, etc.
Continuação
• Pais autoritários, que frequentemente usam a punição (algumas vezes
até espancamentos violentos), impondo aos filhos seus próprios
pontos de vista sem qualquer explicação, embora possam diferir no
grau de afeto dedicado às crianças, podem desenvolver atitudes que
favoreçam a adaptação social (principalmente pelo conformismo),
mas não uma personalidade feliz, com possibilidade de ampla
realização pessoal (embora possam ter sucesso profissional ou social).
Também, podem provocar um sentimento de autoritarismo nos filhos
quando estes estiverem em contato com pessoas fora da família.
• Pais permissivos, inconsistentes, desorganizados (em termos de suas
atividades pessoais ou da rotina doméstica) tendem a fazer com que
seus filhos sejam imaturos, inseguros e com baixa autoestima. Em
geral, estes pais são eles mesmos imaturos e inseguros, e seus filhos
são os que têm maior dificuldade de adaptação social e realização
pessoal.
Motivos das açõ es das crianças
• É importante diferenciar motivos sexuais (representados pelo desejo de
obtenção de gratificações, de sensações prazerosas genitais ou não) de
comportamentos sexuais (no caso das crianças, masturbação e
brincadeiras que visam à exploração e exposição dos próprios genitais ou
dos de outras crianças e adultos, interesse pelo processo de fecundação
e nascimento, etc).
• O mesmo ocorre em relação aos motivos agressivos (ligados à
hostilidade, ao desejo de prejudicar física, moral, material ou
psicologicamente alguém) que incluem um elemento cognitivo de
interpretação do comportamento de outras pessoas. Ex: uma criança de
4 anos poderá interpretar o fato de ser matriculada numa escola
maternal como rejeição da mãe, que ficará em casa cuidando de seu
irmãozinho recém-nascido durante o tempo em que ela permanece na
escola. Desenvolverá, então, hostilidade tanto em relação à mãe como
ao irmão e poderá manifestar esse sentimento em forma de agressão
física ou verbal dirigida a um, ou outro, ou a ambos.
Continuação
• Considerando que a criança pré-escolar é frustrada inúmeras vezes
durante o dia, quer pelos pais, quer pelos professores e companheiros
na expressão de seus motivos sexuais, pela presença de obstáculos à
realização de seus desejos de atenção (por exemplo, um irmãozinho), de
exploração (como fatores climáticos, que impedem o brinquedo ao ar
livre) e muitos outros, podemos compreender os inúmeros episódios
agressivos observados nesta fase.
• Consideramos ainda muito natural que os pais possam emitir
comportamentos agressivos para com os filhos (castigar, gritar, bater),
mas não permitimos que as crianças repitam estas atitudes. Oferecemos
ainda uma programação de televisão repleta de cenas agressivas e de
cunho sexual. Excesso de jogos excitantes e alimentação industrializada.
Correria em excesso para fazer inúmeras atividades durante o dia. Além
disso, as crianças nas grandes cidades, em sua maioria, vivem dentro de
apartamentos ou casas sem lugar adequado para brincar — sabe-se que
animais em cativeiro tornam-se mais agressivos.
Agressividade
• Se a agressão faz parte da natureza humana e é de certo modo
importante para a sobrevivência, seria adequado que as crianças (e
os adultos) encontrassem formas saudáveis de expressá-la, como,
por exemplo, a prática de esportes ou brinquedo livre, bem como
manifestações artísticas, etc.
• Sabe-se também que o maior antídoto para o desenvolvimento da
agressão excessiva em crianças e jovens é a boa integração familiar.
Contribuiçõ es de Boyd
• Infância como “breve saída”. Se afastam do vinculo emocional
que tem com os pais e se aventuram no mundo arriscado das
relações com as outras pessoas.
• Para Freud: 1-3 anos corresponde a fase anal, com o treinamento
higiênico. 3-5 anos corresponde a fase fálica e vivência do
complexo de Édipo.
• Socialização marca o desenvolvimento = ao mesmo tempo que
tem iniciativa para pegar um brinquedo, agora pode saber como
fazê-lo do modo mais socialmente aceitável. Autocontrole. Caso
não consiga se enquadrar, pode sentir-se culpada.
• Para as teorias sociocognitivas = as mudanças sociais e
emocionais na criança são decorrentes do imenso
desenvolvimento de habilidade cognitivas que ocorre durante os
anos pré-escolares.
Continuação
• Adquirem “percepção das pessoas” = habilidade de classificar
os outros. Ex: nessa fase, as crianças fazem julgamentos muito
semelhantes aos dos adultos quando solicitadas a identificar a
criança mais inteligente em sua classe ou grupo. Ex2:
Conseguem eleger a criança mais “legal” e a mais “chata”. Ex3:
Quem eu gosto mais e quem eu não gosto.
• Elas baseiam esse julgamento em suas interações mais recentes
com os indivíduos. Assim, quem é legal hoje pode ser chato
amanhã.
• Também, organizam as pessoas por características observáveis
como etnia, idade e gênero. Se estabelece, nessa fase, o “efeito
inter-racial”, que é o fenômeno em que os indivíduos são mais
capazes de se lembrar dos rostos das pessoas de mesma etnia
do que de etnia diferente.
Continuação
• Os teóricos sociocognitivos constataram que as crianças
começam a responder de forma distinta às violaões dos
diferentes tipos de regras entre 2 e 3 anos. Ex: Elas acham que
pegar o brinquedo de outra criança sem permissão é uma
violação mais séria às regras do que se esquecer de dizer
“obrigado”.
• É a fase que começam a aprender a discriminar as intenções.
Podem começar a aprender o significado de pedir desculpas
porque aprendem que os delitos intencionais são punidos
mais severamente que os que são feitos “sem querer”.
Autoconceito
• Brincadeiras como “batata quente” ou “corre cotia” ou “barra
manteiga” estimulam a transformação do temperamento para
a personalidade. Ex: nessas brincadeiras, a criança aprende a
tolerar a frustração esperando sua vez, respeitando as regras e
tendo que aceitar quando perdeu.
• Essas experiencias ajudam a ensinar as crianças a moderar os
efeitos de sua falta de controle voluntário sobre seu
comportamento social. Aos poucos, a criança vai aprendendo
a controlar seus impulsos em prol de participar da brincadeira,
por exemplo.
Continuação
• No desenvolvimento do autoconceito, a criança vai começando a dizer
sobre si mesmo quem é. Nessa fase, costuma amadurecer a ideia sobre o
rótulo categórico que tem de si. Pode, inclusive se desenhar como menino
ou menina, grande ou pequeno, bonito ou feio, feliz ou triste.
• As autocategorizações são parte essencial do entendimento que a criança
tem de sua história pessoal. É como se, uma vez estabelecidos rótulos
categóricos estáveis, a criança pode não apenas se projetar num futuro
categórico, mas também projetar rótulos categóricos autoatribuidos ao
passado para organizar uma representação de sua vida no passado (ex:
sou uma menina, quando crescer serei uma mulher)
• Self emocional = as crianças procuram, nessa fase, uma regulação
emocional. Ex: quando estão tristes, já podem começar a procurar algo
que as deixem felizes. Não precisa esperar completamente que outros
façam isso. O temperamento da criança é um fator que influencia nisso.
Continuação
• Empatia = as crianças são capazes de apreender o estado ou
condição emocional de outra pessoa e depois corresponder
àquele estado emocional. Quanto maior a capacidade de
empatia, menor a agressividade. A empatia pode evoluir ainda
para a solidariedade.
• Gênero = inicia-se a desenvolver o senso de gênero nessa fase.
Definição: associações e implicações psicológicas e sociais do
sexo biológico. Inicialmente, a construção que fazem se
baseiam na construção de suas regras morais (o que pode e o
que não pode para meninos e meninas)
• Apego = a qualidade do apego prediz o comportamento
durante a infância.
Bibliografia
• BOYD, D. A Criança em Crescimento. Porto Alegre: Artmed,
2011, cap. 9, p. 265-278
• RAPPAPORT, Clara Regina e outros. Psicologia do
desenvolvimento. Vol 3. São Paulo: EPU, 1981, p. 55-78.

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