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AILTON KRENAK

LITERATURA INDÍGENA
BRASILEIRA

“IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO”


&
“A VIDA NÃO É ÚTIL”

FRANCIVAN R. DOS SANTOS


UESPI TERESINA 2021
■ AILTON KRENAK (Itabirinha de Mantena,
Minas Gerais, 1953). Escritor, pesquisador,
ambientalista e líder indígena.
■ Participou da Assembleia Constituinte que
elaborou a Constituição de 1988 e da Aliança dos
Povos da Floresta, idealizada por Chico
Mendes. É autor dos livros “Ideias Para Adiar o
Fim do Mundo”, “A Vida Não é Útil” e ”O
Amanhã Não Está à Venda”.
■ Ideias Para Adiar o Fim do Mundo é resultado de
duas conferências e uma entrevista realizadas em
Portugal entre 2017 e 2019.
■ A vida não é útil reúne cinco ensaios adaptados de
palestras, entrevistas e lives realizadas entre
novembro de 2017 e junho de 2020.
■ A vida não é útil. Transformar tudo o que vive em
instrumento passível de uso na corrida em direção
ao progresso – “essa ideia prospectiva de que
estamos indo para algum lugar” (KRENAK, 2020,
p. 10)
■ IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO – 2019:
■ “A humanidade vai sendo descolada de uma maneira tão
absoluta desse organismo que é a terra. Os únicos núcleos
que ainda consideram que precisam ficar agarrados nessa
terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas
do planeta, nas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na
África, na Ásia ou na América Latina. São caiçaras, índios,
quilombolas, aborígenes – a sub-humanidade. Porque tem
uma humanidade, vamos dizer, bacana. E tem uma camada
mais bruta, rústica, orgânica, uma sub-humanidade, uma
gente que fica agarrada na terra.”
■ “Fomos nos alienando desse organismo de que somos
parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e
nós, outra: A Terra e a humanidade. Eu não percebo onde
tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O
cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é
natureza.”
■ “Precisamos ser críticos a essa ideia plasmada de
humanidade homogênea na qual há muito tempo o
consumo tomou o lugar daquilo que antes era a cidadania.
Para que ter cidadania, alteridade, estar no mundo de uma
maneira crítica e consciente, se você pode ser um
consumidor?”
■ IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO – 2019:
■ “Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido
de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência
da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com
relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de
estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas
constelações de gente espalhada pelo mundo que dança,
canta, faz chover. O tipo de humanidade zumbi que
estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto
prazer, tanta fruição de vida.”
■ “A gente [índios] resistiu expandindo a nossa subjetividade,
não aceitando essa ideia de que nós somos todos iguais.
Tem quinhentos anos que os índios estão resistindo, eu
estou preocupado é com os brancos, como que vão fazer
para escapar dessa. A gente resistiu expandindo a nossa
subjetividade, não aceitando essa ideia de que nós somos
todos iguais.”
■ “Sentimo-nos como se estivéssemos soltos num cosmos
vazio se sentido e desresponsabilizados de uma ética que
possa ser compartilhada, mas sentimos o peso dessa
escolha sobre as nossas vidas.”
■ “A minha provocação sobre adiar o fim do mundo é
exatamente sempre poder contar mais uma história. Se
pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim.”
■ A VIDA NÃO É ÚTIL – 2020:
1) Não se come dinheiro – “Ao longo da história, os
humanos, aliás, esse clube exclusivo da humanidade — que
está na declaração universal dos direitos humanos e nos
protocolos das instituições —, foram devastando tudo ao seu
redor. É como se tivessem elegido uma casta, a
humanidade, e todos que estão fora dela são a sub-
humanidade. [...] : “Quando o último peixe estiver nas águas
e a última árvore for removida da terra, só então o homem
perceberá que ele não é capaz de comer seu dinheiro”. ”
2) Sonhos para adiar o fim do mundo – “Estamos vivendo
uma tragédia global. Mesmo que alguns coletivos humanos
pensem para além da linha-d’água, são apenas uma amostra
grátis dessa humanidade. Precisamos evocar, do meio disso,
alguma visão para sairmos desse pântano. [...] Essa
experiência de uma consciência coletiva é o que orienta as
minhas escolhas. É uma forma de preservar nossa
integridade, nossa ligação cósmica. ”
3) Máquina de fazer coisas – “Ainda há ilhas no planeta que
se lembram o que estão fazendo aqui. Estão protegidas por
essa memória de outras perspectivas de mundo. Essa gente
é a cura para a febre do planeta, e acredito que podem nos
contagiar positivamente com uma percepção diferente da
vida. Ou você ouve a voz de todos os outros seres que
habitam o planeta junto com você, ou faz guerra contra a
vida na Terra.”
■ A VIDA NÃO É ÚTIL – 2020:
4) O Amanhã não está à venda – “Esse vírus está
discriminando a humanidade. Basta olhar em volta. O
melão-de-são-caetano continua a crescer aqui do lado de
casa. A natureza segue. O vírus não mata pássaros, ursos,
nenhum outro ser, apenas humanos. Quem está em
pânico são os povos humanos e seu mundo artificial, seu
modo de funcionamento que entrou em crise. É terrível o
que está acontecendo, mas a sociedade precisa entender
que não somos o sal da terra. Temos que abandonar o
antropocentrismo; há muita vida além da gente, não
fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário.”

5) A vida não é útil – “Uma operação de resgate tem


como intuito salvar o corpo que está sendo flagelado e
levá-lo para um outro lugar, onde será restaurado. Quem
sabe, depois de uma reabilitação, ele pode até seguir
operante na vida. Isso partindo da ideia de que a vida é útil,
mas a vida não tem utilidade nenhuma. A vida é tão
maravilhosa que a nossa mente tenta dar uma utilidade a
ela, mas isso é uma besteira. A vida é fruição, é uma dança,
só que é uma dança cósmica, e a gente quer reduzi-la a
uma coreografia ridícula e utilitária.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

■ KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2019.
■ KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
■ MORAES, R.R. Resenha: Ideias para adiar o fim do mundo. Revista Fim do
Mundo, nº 1, jan/abr 2020.
■ SAVI, Melina. PARA AILTON KRENAK EM A VIDA NÃO É ÚTIL, “SOMOS A
PRAGA DO PLANETA”, MAS PODEMOS MUDAR. Anuário de Literatura,
Florianópolis, v. 26, p. 01-08, 2021. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-7917.

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