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Direito

Constitucional I
Professora Sandra Medeiros
Direito Constitucional

 Pertence ao ramo do direito público, destacando-


se por seu objeto e princípios fundamentais
orientadores de sua aplicação!
 José Afonso da Silva observa que o direito
constitucional “configura-se como DIREITO
PÚBLICO FUNDAMENTAL, por referir-se
diretamente à organização e funcionamento do
Estado, à articulação dos elementos primários do
mesmo e ao estabelecimento das bases da
estrutura política”;
CONSTITUCIONALISMO

 Conceito
 J.J Gomes Canotilho, define o constitucionalismo como
uma “... teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do
governo limitado indispensável à garantia dos
direitos em dimensão estruturante da organização
político-social de uma comunidade.
 Nesse sentido, o constitucionalismo moderno representará
uma técnica específica de limitação do poder com
fins garantísticos.
 Kildare Gonçalves Carvalho, por seu turno, vislumbra
tanto uma perspectiva jurídica como sociológica:
“...representa um movimento social que dá sustentação à
limitação do poder, inviabilizando que os governantes
possam fazer prevalecer seus interesses e regras na
condução do Estado”.
CONSTITUCIONALISMO
 Diante de inúmeras violações a direitos surge a necessidade da
previsão de limites impostos aos governantes manifestadas por
intermédio de um movimento denominado constitucionalismo;

 O Constitucionalismo teve sua origem formal nas Constituições dos


Estados Unidos da América em 1787, após a independência das treze
Colônias e na França em 1791, após a revolução francesa, ambas com
duas características marcantes, senão vejamos:

 a) organização do Estado, separação de poderes e;

 b) limitação do poder estatal, mediante previsão de direitos e


garantias fundamentais.
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

 José Afonso da Silva: “sistema de


normas jurídicas, escritas ou costumeiras,
que regula a forma do Estado, a forma de
seu governo, o modo de aquisição e o
exercício do poder, o estabelecimento de
seus órgãos, os limites de sua ação, os
direitos fundamentais da pessoa e as
respectivas garantias”.
CONSTITUIÇÃO

 Constituição é a organização jurídica fundamental do


Estado.

 As regras do texto constitucional, sem exceção, são


revestidas de supralegalidade, ou seja, possuem eficácia
superior às demais normas.
 Por isso se diz que a norma Constitucional é norma
positiva suprema.

 Eis alguns sinônimos de Constituição: CÓDIGO


SUPREMO, TEXTO SUPREMO, LEI MAIOR, LEI
FUNDAMENTAL, CARTA POLÍTICA, CARTA MAGNA
etc.
CONCECPÇÕES
DE
CONSTITUIÇÃO
Constituição. Sentido
Sociológico
 (1825 - 1864)  Político alemão nascido
na Alemanha, organizador do movimento
operário alemão, que, embora inspirado
nas idéias socialistas de Karl Marx,
apresentava um viés nacionalista, em
contraste com o internacionalismo
marxista. 
 Existem várias concepções ou acepções a serem
tomadas para definir o termo “Constituição”.
 Vimos que na concepção aceita no Brasil (que é o
pensamento de Hans Kelsen) a constituição seria
uma norma escrita fundamental, que se sobrepõe
às demais. Para Ferdinand Lassale, isso é
diferente. 
Constituição. Sentido Sociológico.
 Ferdinand Lassale em seu Ensaio Qué es una
Constitución?, defendeu que uma Constituição só
seria legítima se representasse o efetivo poder
social, refletindo as forças sociais que constituem
o poder. Caso isso não ocorresse, ela seria
ilegítima, caracterizando-se como uma simples
“folha de papel”.
 A Constituição, segundo a conceituação de
Lassale, seria, então, a soma dos
fatores reais do poder dentro de uma
sociedade.
 Deste modo, defendia ele que o Estado
possuía 2 constituições: A “folha de papel”
e a “Constituição Real”, que era a soma
dos fatores reais de poder.
 A Constituição deve ser reflexo das
forças sociais que estruturam o poder,
sendo representação efetiva dos
anseios da sociedade.
 Caso o texto constitucional não
expresse esses fatores reais de poder,
tal texto não terá validade, conforme
defende Lassale: "  De nada serve o
que se escreve numa folha de papel se
não se ajusta à realidade, aos fatores
reais e efetivos do poder. "
Constituição. Sentido
Politico
 Carl Schmitt ( 1985) foi um jurista, 
filósofo político e professor universitário 
alemão.
 É considerado um dos mais significativos e
controversos especialistas em 
direito constitucional e internacional da
Alemanha do século XX.
 A sua carreira foi manchada pela sua proximidade
com o regime nacional-socialista. O seu
pensamento era firmemente enraizado na 
teologia católica, tendo girado em torno das
questões do poder, da violência, bem como da
materialização dos direitos.
Constituição. Sentido
Político.
 No seu livro: TEORIA DA CONSTITUIÇÃO, encontramos o
sentido político, que distingue Constituição de lei
constitucional, vejamos: “... Só se refere à decisão política
fundamental (estrutura e organização do Estado, direitos
individuais, separação de poderes); as leis constitucionais
seriam os demais dispositivos inseridos no texto do
documento constitucional, mas não contém matéria de
decisão política fundamental”;

 Na visão de Carl Schmitt, em razão de ser a Constituição


produto de decisão política, ela seria, nesse sentido, a
decisão política fundamental do titular do poder
constituinte!
 Assim, Schmitt pregava que a Constituição
formal, escrita, não era o importante, pois, deve-
se atentar ao conteúdo da norma e não à sua
forma. Esta concepção de Schmitt é o conceito
exatamente oposto ao que veremos no
positivismo de Kelsen.
 Atualmente este conceito de Carl Schmitt
não foi totalmente abandonado,
embasando a divisão doutrinária entre
normas “materialmente constitucionais”
(Ou seja, que possuem conteúdo próprio
de uma Constituição) das normas apenas
“formalmente constitucionais”.
 Ou seja, que possuem forma de
Constituição, mas o seu conteúdo não é o
conteúdo fundamental que uma
Constituição deveria prevê.
Concepção Jurídica ou
concepção puramente
normativa da 
Constituição.
 Hans Kelsen (Praga, 11 de outubro de 
1881 — Berkeley, 19 de abril de 1973) foi
um jurista e filósofo austríaco,
considerado um dos mais importantes e
influentes estudiosos do Direito.
 TEORIA PURA DO DIREITO
Hans Kelsen - Para ele, o que importa para ser
Constituição é ter a forma de uma, que é um texto
que se coloque acima das demais normas, que só
pode modificar-se por um processo rígido,
complexo, que deverá ser observado por todas as
demais dentro de um ordenamento jurídico.
Assim, não interessa qualquer pensamento
filosófico, político, sociológico ou qualquer outro que
contrarie as normas do texto magno. Temos um
norma maior, uma norma pura, fundamental.
 O sentido jurídico proposto por Kelsen traz
com ele 2 desdobramentos:
1. Sentido lógico-jurídico: É a
Constituição hipotética que foi imaginada na
hora de escrever seu texto.
2. Sentido jurídico-positivo: É a norma
suprema em si, positiva, que efetivamente se
formou e que servirá de base para as demais
do ordenamento.
Assim, diz-se que a norma em sentido lógico-
jurídico é o fundamento de validade que
legitima a feitura da norma jurídico-positiva.
 Segundo Kelsen, a Constituição, por seu turno,
tem o seu fundamento de validade na norma
hipotética fundamental, situada no plano
lógico, e não no jurídico, caracterizando-se
como fundamento de validade de todo o
sistema, determinando-se a obediência a tudo o
que for posto pelo PODER CONSTITUINTE
ORIGINÁRIO!

 Obs.: O Poder Constituinte Originário é ilimitado


e em tese pode fazer qualquer coisa!
Constituição. Concepção
Normativa.
 Konrad Hesse (1919 - 2005).
 Foi um jurista alemão que, de 1975 até
1987, exerceu a função de Juiz do
Tribunal Constitucional Federal alemão
 Força Normativa da Constituição -Konrad Hesse: a
concepção jurídica do Hesse é uma antítese da
concepção sociológica de Ferdinand Lassale.
 Hesse aduz que a Constituição possui força normativa
capaz de modificar essa realidade, para isso, é
necessário que os detentores do poder se empenhem em
concretizá-la.
 Diante disso, a Constituição real influencia a Constituição
escrita, ou vice-versa, estão no mesmo patamar, de
forma coordenada.
 Konrad Hesse - critica e rebate a
concepção tratada por Ferdinand Lassalle.
A Constituição possui uma força normativa
capaz de modificar a realidade, obrigando
as pessoas. Nem sempre cederia frente aos
fatores reais de poder, pois obriga. Tanto
pode a Constituição escrita sucumbir,
quanto prevalecer, modificando a
sociedade.
  O STF tem utilizado bastante esse
princípio da força normativa da 
Constituição em suas decisões.
Constitucionalização Simbólica”
 O conceito se deve ao Professor Marcelo
Neves em estudo feito em 1992 para
obtenção do cargo de professor titular da
Universidade Federal de Pernambuco.
 Marcelo Neves diz que
a constituição simbólica é caracterizada
pela falta de eficácia das normas/valores
constitucionais. 
 Cita o autor que a norma é mero símbolo.
O legislador não a teria criado para ser
concretizada. Nenhum Estado Ditatorial
elimina da Constituição os direitos
fundamentais, apenas os ignora. Ex:
salário-mínimo que "assegura" vários
direitos.
CONCEPÇÃO CULTURALISTA
 É uma síntese das três concepções:
sociológica, jurídica e política.
 Significa que a Constituição culturalista ao
mesmo tempo que é condicionada pela
cultura da sociedade, também é
condicionante de alguns aspectos dessa
cultura, por isso, é considerada total.
 Constituição Aberta - Peter Häberle e
Carlos Alberto Siqueira Castro.
 Leva em consideração que
a Constituição tem objeto dinâmico e
aberto, para que se adapte às novas
expectativas e necessidades do cidadão.
Se for aberta, admite emendas formais
(EC) e informais (mutações
constitucionais), está repleta de conceitos
jurídicos indeterminados. Ex:
art. 5º, XI, CF - no conceito de "casa" .
 A idéia dele é que nós devemos urgentemente
recusar a idéia de que a interpretação deve ser
monopolizada exclusivamente pelos juristas.
 Para que a Constituição se concretize é
necessário que todos os cidadãos se envolvam
num processo de interpretação e aplicação
da constituição.
 O titular do poder constituinte é a sociedade,
por isso ela deve se envolver no processo
hermenêutico de materialização da constituição.
Essa idéia abre espaço para que os cidadãos
participem cada vez mais nessa interpretação.
 O Conceito IDEAL de constituição,
para CANOTILHO, é o conceito a partir
de um conceito cultural
da constituição, devendo: 
 "(i) consagrar um sistema de garantia da
liberdade (esta essencialmente concebida
no sentido do reconhecimento dos direitos
individuais e da participação do cidadão
nos atos do poder legislativo através dos
Parlamentos);
 (ii) a Constituição contém o princípio da
divisão de poderes, no sentido de garantia
orgânica contra os abusos dos poderes
estaduais;
 (iii) a Constituição deve ser escrita" .
Neoconstitucionalismo

 O neoconstitucionalismo parte de uma


nova visão da constituição, buscando
dar a ela sentido e, assim superando o
seu caráter meramente retórico,
encontrando mecanismos para a real e
efetiva concretização de seus preceitos.
 O neoconstitucionalismo é caracterizado
por um conjunto de transformações no
Estado de direito constitucional, entre as
quais se destaca a prevalência dos
princípios, o pós-positivismo e um novo
papel ao Poder Judiciário na efetivação
dos Direitos Fundamentais.
 O neoconstitucionalismo, ou
constitucionalismo contemporâneo, se
constitui justamente em uma doutrina que
tenta transcender ao positivismo, chega-
se então ao conceito de pós-positivismo.
 O neoconstitucionalismo adveio do pós-
positivismo, onde o direito não era mais
confundido com a lei, e sim, a garantia da
aplicação dos direitos fundamentais acima
dela.
 Para os defensores do
neoconstitucionalismo o direito deve ter
como foco a Constituição e esta, na
verdade, seria um "bloco constitucional"
onde os aspectos principiológicos e os
valores se tornam tão importantes quanto
as regras insculpidas no texto
constitucional.
Neoconstitucionalismo
 O STF está assumindo um ativismo judicial
sem precedentes?

 “Concluído o julgamento do famoso caso Raposa


Serra do Sol (demarcação de terras indígenas),
mais uma vez entrou em pauta o tema do
“ativismo judicial", visto que o Min. Menezes
Direito sugeriu a imposição de 19 medidas para a
implementação da demarcação contínua.
 De ativismo judicial já se falou também quando o
STF impôs a fidelidade partidária,
 o direito de greve no serviço público,
 a proibição do nepotismo, o uso restrito das
algemas etc.
ATIVISMO JUDICIAL

 Vamos ao conceito:
 O " ativismo judicial " (que retrataria uma
espécie de intromissão indevida do
Judiciário na função legislativa, ou seja,
ocorre ativismo judicial quando o juiz "cria"
uma norma nova, usurpando a tarefa do
legislador, quando o juiz inventa uma
norma não contemplada nem na lei, nem
dos tratados, nem na Constituição).
Ativismo judicial no Brasil

 Quais seriam as razões do ativismo judicial no


Brasil? Luiz Roberto Barroso invoca duas:
 (a) nova composição do STF (por Ministros
bastante preocupados com a concretização dos
valores e princípios constitucionais) e
 (b) crise de funcionalidade do Poder Legislativo
(que estimula tanto a emissão de Medidas
Provisórias pelo Executivo como o ativismo judicial
do Judiciário).
 Todo poder quando não exercido (ou quando não
bem exercido) deixa vácuo e sempre existe alguém
pronto para preencher esse espaço vazio por ele
deixado.
EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS
NORMAS CONSTITUCIONAIS
 Conceito: Eficácia é o poder que tem as
normas e os atos jurídicos para a
consequente produção de seus efeitos
jurídicos próprios.
 No entendimento de José Afonso da Silva
“a eficácia jurídica da norma designa a
qualidade de produzir, em maior ou menor
grau, efeitos jurídicos ao regular, desde
logo, as situações, relações e
comportamentos nela indicados”.
 Quanto às diversas espécies de eficácia, a
eficácia do direito pode ser apreciada
dentro de diversos ângulos de observação,
que permitem o melhor esclarecimento de
sua realidade.
 Num primeiro plano, pode ser entendida
no sentido social e no sentido jurídico.
 A eficácia social da norma jurídica
significa que a conduta humana se efetiva
realmente de acordo com a própria norma.
A norma é realmente seguida e aplicada.
Pode ocorrer que uma norma tenha
eficácia jurídica, mas não tenha eficácia
social, não sendo efetivamente cumprida
no mundo dos fatos, na realidade social.
 A eficácia jurídica designa a força que
tem a norma jurídica de produzir seus
próprios efeitos na regulação da conduta
humana.
 Indicam uma possibilidade de aplicação
da norma, a sua exigibilidade, a sua
exeqüibilidade, a sua executoriedade
como possibilidades.
 Eficácia = potencialidade = capacidade
das constituições gerarem efeitos.
EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS
CONSTITUCIONAIS
 Algumas normas constitucionais possuem todos os
elementos para serem aplicadas a partir da edição
da Constituição!

 Mas em outras a aplicabilidade depende de norma


posterior!

 E em outras a norma constitucional poderá ter


aplicabilidade restringida.
Aplicabilidade das normas
Constitucionais
 O Prof. José Afonso da Silva afirmou que todas as
normas constitucionais, sem exceção, são revestidas de
eficácia jurídica, ou seja, de aptidão à produção de
efeitos jurídicos, sendo assim todas aplicáveis, em maior
ou menor grau;

 Para se graduar essa eficácia dentro de categorias


lógicas, foram propostas três classificações, senão
vejamos:
 norma constitucional de eficácia jurídica plena;
 norma constitucional de eficácia jurídica limitada;
 norma constitucional de eficácia jurídica contida;

 ESSA CASSIFICAÇÃO TEM SIDO APLICADA PELO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (MI 438-2/GO, RT
723/231)!
Norma Constitucional de
Eficácia Jurídica Plena.
 É aquela que contém todos os elementos necessários para a
pronta e integral aplicabilidade dos efeitos que dela se
esperam, ou seja, é dotada de aplicabilidade imediata,
plena, integral, dispensam qualquer ato normativo para ter
aplicabilidade;
 Vale dizer, a norma é completa, não havendo necessidade
de qualquer atuação do legislador, vejamos alguns
exemplos;
 a) CRFB. Art. 1º A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos;
 b) CRFB. Art. 2º São Poderes da União, independentes
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
 Norma Constitucional de Eficácia Jurídica
Limitada.

 É aquela que NÃO contém todos os elementos


necessários à sua integral aplicabilidade, porque
ela depende de um comportamento legislativo
infraconstitucional;
 Vale dizer, a efetividade da norma constitucional
está na dependência da edição de lei que a
integre (lei integradora). Somente após a edição
da lei, a norma constitucional produzirá todos os
efeitos que se esperam dela;
 São normas pendentes de regulamentação!

Art. 37, VII - o direito de greve será exercido nos


termos e nos limites definidos em lei específica.
 Sem essa lei, o direito não teria como ser
exercido!

 O constituinte, prevendo que o legislador


poderia não criar lei para regulamentar a
norma constitucional de eficácia limitada,
criou mecanismos de defesa dessa norma:

 · Mandado de injunção;

 · Ação direta de inconstitucionalidade por


omissão.
A norma constitucional de eficácia
limitada divide-se em:

 a) NORMAS CONSTITUCIONAIS DE PRINCÍPIO


INSTITUTIVO, são traçados esquemas gerais para que o
legislador os preencha por lei, por exemplo:
 Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e
judiciária dos Territórios.

 Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados


os princípios estabelecidos nesta Constituição.
 § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do
Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída,
em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos
Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio
Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos
Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil
integrantes.
 b) NORMAS CONSTITUCIONAIS DE
PRINCÍPIO PROGRAMÁTICO, são traçados
princípios ou programas que servirão de diretriz
para todos os órgãos estatais, por exemplo:
 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.
 Art. 205. A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
 Normas de eficácia contida  possuem
aplicabilidade direta e imediata, mas
possivelmente não integral, já que a
norma infraconstitucional poderá reduzir a
sua abrangência.
 Os efeitos podem ser limitados pela
legislação infraconstitucional.
 Art. 5º, XIII da CF 88, que assegura o direito do
livre-exercício profissional, mas uma lei , no caso
o Estatuto da OAB, pode exigir que para ser
advogado o bacharel em direito seja aprovado
no exame de ordem. Neste caso, a lei
infraconstitucional reduziu a amplitude do direito
constitucionalmente assegurado.
 Outros exemplos: Art. 5º, VII,VIII, XV,
XXIV e XXV; 15, IV; 37, I ; etc.
 Diferenças:

Normas de eficácia contida as leis podem


RESTRINGIR-LHES o alcance.

Normas de eficácia limitada as leis podem


AMPLIAR-LHES o alcance.
Classificação de Maria Helena Diniz
 
 Normas supereficazes ou com eficácia absoluta –
são intangíveis, não podendo ser emendadas. Dotadas de
efeito paralisante de qualquer legislação
infraconstitucional com elas incompatíveis. Exemplos:
Arts. 1º; 14; 18; 60 §4º;

 Normas com eficácia plena - reúnem todos os


elementos necessários à produção completa de seus
efeitos a partir da redação da própria Constituição, não
exigindo, e às vezes não aceitando, legislação
integradora. Podem ser imediatamente aplicadas.
 Consistem nos preceitos que contenham
proibições, confiram isenções, prerrogativas, como
por exemplos os arts. 1º parágrafo único; 14 §2º;
17 §4º;21;22;69;153;155.
 Normas com eficácia restringível - cuja
definição corresponde às normas de eficácia
contida, de José Afonso da Silva, e que, em
síntese, admitem legislação integradora, com
efeito de restringir o seu alcance, mas a falta
dessa legislação não tira a força normativa do
dispositivo constitucional, que atua, então, livre
dessa restrição por legislação infraconstitucional.
Ex: arts. 5º, VIII, XI, XII, XIII; 184.
 Normas de eficácia relativa complementável
ou dependente de complementação - cuja
produção de efeitos depende da elaboração da
legislação integradora, sem a qual seu comando
fica latente, sendo divididas em normas de
princípio institutivo e de princípio programático.
Classificação de Celso Bastos e de
Carlos Ayres Brito
 Normas de aplicação - aquelas que estão aptas
a produzir todos os seus efeitos, dispensando
regulamentação, e que se dividem em normas
irregulamentáveis (incidem diretamente sobre os
fatos regulados, impedindo qualquer
regulamentação posterior, não admitindo
tratamento senão pela própria Constituição) e;
 Regulamentáveis (são as que permitem
regulamentação, sem qualquer restrição da parte
da Constituição);
 
 Normas de integração - são as que sentem uma
distância entre a sua previsão ou comando e a
efetiva condição de produção de efeitos, para o que
é necessária a elaboração de legislação). Esta
segunda categoria admite dois tipos, as normas
complementáveis (exigem uma legislação integrativa
para a produção completa de seus efeitos) e normas
restringíveis (admitem a restrição do comando
constitucional pelo legislador ordinário).
Classificação de Luiz Roberto Barroso
 Normas constitucionais que têm por objeto
organizar o exercício do poder político, e que
seriam normas constitucionais de
organização;
 Normas constitucionais que têm por objeto fixar
os direitos fundamentais dos indivíduos,
classificadas como normas constitucionais
definidoras de direito;
 Normas constitucionais - têm por objeto traçar os
fins públicos a serem alcançados pelo Estado ditas
normas constitucionais programáticas. 
Elementos da Constituição
 Em uma Constituição inserem-se normas de
conteúdos diversos. José Afonso da Silva
classifica as normas constitucionais em cinco
grandes grupos:
a) Elementos orgânicos - normas que tratam da
estrutura do Estado, dispondo sobre sua
organização e modo de funcionamento.

b) Elementos limitativos – normas que tratam dos


limites da atuação do Estado, restringindo o
poder de atuação de seus agentes para
resguardar direitos considerados indispensáveis
de cada pessoa humana
c) Elementos socioideológicos – normas que revelam
o compromisso da ordem constitucional
estabelecida com determinados princípios
ideológicos.

d) Elementos de estabilização constitucional –


normas destinadas a garantir a solução dos
conflitos constitucionais, instrumentos de defesa
do próprio Estado e das instituições
democráticas.

e) Elementos formais de aplicabilidade –normas


destinadas a possibilitar a aplicação dos próprios
dispositivos constitucionais.
Conceito - interpretação
constitucional
A interpretação constitucional busca compreender, investigar e
revelar o conteúdo, o significado e o alcance das normas que
integram a Constituição.
É uma atividade de mediação que torna possível concretizar,
realizar e aplicar as normas constitucionais.
Nas palavras de J. J. Gomes Canotilho: "Interpretar as normas
constitucionais significa (como toda a interpretação de normas
jurídicas) compreender, investigar e mediatizar o conteúdo
semântico dos enunciados lingüísticos que formam o texto
constitucional. A interpretação jurídica constitucional reconduz-
se, pois, à atribuição de um significado a um ou vários símbolos
lingüisticos escritos na constituição."
Princípios de Interpretação
Constitucional
 Princípio da supremacia da Constituição;
 Princípio da unidade da Constituição ;
 Princípio da força normativa da
Constituição;
 Princípio da máxima efetividade;
 Princípio da justeza, correção ou
conformidade funcional;
 Princípio da presunção de
constitucionalidade das leis;
 Princípio da interpretação conforme a
Constituição;
 Princípio da concordância prática ou
harmonização;
 Princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade.
Princípio da supremacia da
Constituição
 Refere-se à superioridade hierárquica das
normas (princípios e regras) inseridas no
texto de uma Constituição rígida em
relação às demais normas que compõem o
ordenamento jurídico. Como consequência
disso, o certo é interpretar as leis à luz da
Constituição, e não o contrário.
Princípio da unidade da
Constituição
 Determina que as normas constitucionais
sejam consideradas como integrantes de um
único e harmonioso sistema, e não como um
conjunto de normas isoladas. Busca-se, por
meio do princípio da unidade da
Constituição, evitar a existência de
antinomias, de conflitos entre normas
constitucionais.
 DICA: a interpretação constitucional deve ser realizada de
maneira a evitar contradições entre suas normas.
Princípio da força normativa da
Constituição
 Determina que, na interpretação da
Constituição, busque-se a promoção de uma
constante atualização de suas normas, levando-
se em conta não só os aspectos históricos de
sua edição, mas também a realidade social
atual, todo para que alcance a maior otimização
possível dos preceitos fundamentais.
 DICA: entre as interpretações possíveis, deve ser adotada aquela que
garanta maior eficácia, aplicabilidade e permanência das normas
constitucionais.
Princípio da máxima efetividade
 Ligado ao princípio da força normativa da
Constituição, determina que as normas
constitucionais sejam interpretadas de
maneira a lhes conferir a maior eficácia, a
maior aplicabilidade possível.
 DICA: a uma norma constitucional deve ser atribuído o
sentido que maior eficácia lhe conceda.
Princípio da justeza, correção ou
conformidade funcional
 Determina que as normas constitucionais seja
interpretadas de modo a não alterar a repartição das
competências estabelecidas pela própria
Constituição, inclusive no que se refere à separação
funcional dos Poderes constituídos – Legislativo,
Executivo e Judiciário.
 DICA: os órgãos encarregados da interpretação da
norma constitucional não poderão chegar a uma
posição que subverta, altere ou perturbe o esquema
organizatório-funcional constitucionalmente
estabelecido pelo legislador constituinte originário.
Princípio da presunção de
constitucionalidade das leis
 Determina que as leis e demais atos
editados pelo Poder Público sejam
considerados constitucionais, e
devidamente cumpridos, até que
sobrevenha decisão judicial declarando
sua inconstitucionalidade.
Princípio da interpretação
conforme a Constituição
 Determina que o aplicador do direito opte
pela interpretação que garanta a
constitucionalidade da norma, sempre que
esta tiver outras interpretações que
possam ser consideradas inconstitucionais.
 Interpretação da Constituição com ou sem
redução de texto
DICA: Interpretação polissêmica
Princípio da concordância prática
ou harmonização
 Determina que, na ocorrência de conflito
entre bens jurídicos fixados por normas
constitucionais diversas, deve-se buscar
uma interpretação que melhor os
harmonize, de maneira a conceder um dos
direitos a maior amplitude possível, sem que
um deles imponha a supressão do outro.
 Dica: Aplicar a normas mais adequada. Exige-se a coordenação
e combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o
sacrifício de uns em relação aos outros.
Princípio da Proporcionalidade
 Não tem previsão expressa no texto
constitucional, estando subentendido na
interpretação de diversos dispositivos
constitucionais.
 A teoria mais aceita sobre sua origem
remonta à Magna Carta inglesa de 1215,
do “Rei João sem Terra”, onde segundo a
qual, em seu art. 20, determina-se:
Princípio da Proporcionalidade
 “Um homem livre não poderá ser multado
por um pequeno delito a não ser em
proporção ao grau do mesmo; e por um
delito grave será multado de acordo com a
gravidade do mesmo, mas jamais tão
pesadamente que possa privá-lo de seus
meios de vida”.
Princípio da proporcionalidade
 a) adequação, significando que o meio empregado
na atuação deve ser compatível com o fim
colimado;
 b) necessidade, porque exige-se que a conduta
seja imprescindível, não havendo outro meio
menos gravoso ou oneroso para alcançar o fim, ou
seja, o meio escolhido é o que causa o menor
prejuízo possível para os indivíduos;
 c) proporcionalidade em sentido estrito,
quando as vantagens a serem conquistadas
superam as desvantagens.
Princípio da razoabilidade
 O princípio da razoabilidade é “um valioso
instrumento de proteção dos direitos
fundamentais e do interesse público, por
permitir o controle da discricionariedade
dos atos do Poder Público e por funcionar
como medida com que uma norma deve
ser interpretada no caso concreto para a
melhor realização do fim constitucional
nela embutido ou decorrente do sistema”
(BARROSO, 2002, p. 373).
Métodos de Interpretação
Constitucional
 Método jurídico ou clássico;
 Método tópico ou tópico-problemático
 Método hermenêutico-concretizador
 Método normativo-estruturante
 Método científico-espiritual
 Método da comparação constitucional
Método jurídico ou clássico
 Parte do pressuposto de que a
Constituição não deixa de ser uma lei –
aliás, a lei das leis, ou a norma jurídica
fundamental –, devendo ser interpretada,
portanto, como devem sê-lo as demais
normas jurídicas.
Método tópico ou
tópico-problemático
 Determina que o intérprete, levando em
conta que a Constituição é um sistema
normativo aberto que admite diversos
significados possíveis, parte de um
problema – de um determinado caso
concreto, e não da norma em abstrato –
para encontrar a melhor solução para
referido caso, analisando todos os pontos
de vista possíveis.
Método hermenêutico-
concretizador
 Ao contrário do método tópico, parte da
pré-compreensão do intérprete acerca do
conteúdo do texto normativo – portanto,
da norma em abstrato, e não do problema
– para encontrar a melhor solução para
um dado caso concreto, levando em
consideração a realidade social e o
contexto histórico que se apresentam.
Método normativo-estruturante
 Partindo da premissa de que não existe
identidade entre o “programa normativo” (os
preceitos normativos propriamente ditos) e o
“âmbito normativo” (a realidade que eles
pretendem normatizar), determina que a
interpretação das normas constitucionais não
se limite ao estudo da literalidade do texto
normativo, levando em conta a realidade social
que o texto constitucional pretende regular.
Método da comparação
constitucional
 Diz respeito ao estudo, por comparação,
de normas constitucionais positivas
(contudo, não necessariamente vigentes)
de dois ou mais Estados.

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