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Neurociências:

As Novas Tendências
de Investigação em
Desporto e
Movimento Humano
Neurociências do
Desporto e
Movimento Humano:
Da Neuroplasticidade
às Técnicas de
Investigação
A Evolução do Homem e o Cérebro Humano

Ao contrário de outros primatas, o bebé humano nasce completamente indefeso. Pode parecer contra-
intuitivo, mas este fenómeno resulta do processo evolutivo e vem permitir que o cérebro do bebé
continue o seu desenvolvimento a um ritmo adequado.
A Evolução do Homem e o Cérebro Humano

Existem comportamentos vestigiais que podem ser desnecessários ou adaptados a outras


necessidades. Estes podem ser movimentos com que vem equipado o bebé! A viagem do
desenvolvimento motor começa como todas as outras aquisições: Com a aprendizagem que é
conseguida devido à plasticidade cerebral.
Fenómenos de Plasticidade Neuronal

1. A plasticidade neuronal inclui diversos


processos que se sucedem ao longo de toda a
da vida;

2. A plasticidade neuronal depende da idade;

3. A plasticidade neuronal apresenta-se em duas situações: i. durante o


desenvolvimento e na idade adulta (processos de memoria e aprendizagem); ii. Como
resultado de mecanismos adaptativos para compensar a perda de funções;

4. O ambiente (externo e interno) condiciona a plasticidade.


O Princípio de Kennard

“QUANTO MAIS PRECOCE É A LESÃO CEREBRAL, MENOR É A PERDA NO PLANO


COMPORTAMENTAL”

O princípio da plasticidade ilimitada deduzido de


experiências desenvolvidas com animais  Uma
lesão provocada nas áreas motoras e pré-
motoras do córtex cerebral do jovem macaco
produzia défices irrelevantes quando
comparados com aqueles resultantes de lesões
análogas em macacos adultos.
Problemas Fundamentais:
1. Pressupõe que todos os cérebros em
desenvolvimento são semelhantes
independentemente da fase de desenvolvimento;
2. Ignora que alguns aspectos do
desenvolvimento cognitivo dependem da
integridade inicial das estruturas cerebrais.

Kennard (1936) American Journal of Physiology, 115, 138-146.


Princípio Hebbiano da Plasticidade

Reforço das sinapses com a actividade síncrona

Neurónios pré-
sinápticos activos
em modo síncrono
Neurónios pré-
sinápticos activos
em modo assíncrono
Actividade do
neurónio pós-
sináptico

Se um neurónio pré-sináptico A activa repetitivamente o neurónio pós-sináptico B, a


conexão sináptica entre A e B é reforçada.
Corolário: se A falha repetidamente a activar B, a conexão entre A e B torna-se débil.
Hebb, 1949
Crescimento e Maturação do Cérebro

As várias regiões neuroanatómicas e os sistemas de


neurotransmissores desenvolvem-se em diferentes
etapas e tempos (Teicher & Baldessarini, 1987).

O Desenvolvimento neuronal pode ser traçado de


acordo com 4 etapas principais:

1. Nascimento da célula ou neurogénese.


2. Migração celular.
3. Formação das conexões (elaboração de
processos, formação de de sinapses, morte de
algumas células, apoptose, regressão neuronal.
4. Mielinização (Insel, 1995).
Crescimento e Maturação do Cérebro

Impulso eléctrico na neurotransmissão.

Passagem dos vesículos (pontos escuros) contendo os neurotransmissores, em direcção à


membrana pré-sináptica.
Períodos Críticos e Sensíveis

Os períodos críticos são períodos durante os quais estamos mais sensíveis à influência
do ambiente e da experiência. Durante estes períodos, as experiências modelam, de
maneira definitiva, aquele que será o comportamento para o resto da vida.

A semântica Os critérios

Período Crítico: • Ponto de partida identificável


- Começa e acaba abruptamente; • Ponto final determinado
- Fora deste período, os fenómenos • Componente extrínseca
deixam de ocorrer. • Componente intrínseca
Período Sensível: • Um sistema crítico definido
Começa e acaba gradualmente;
Período de máxima sensibilidade.

Nash, 1978
Características do Imprinting

Período Crítico para o imprinting


parental em gansos

Konrad Z. Lorenz a ser seguido por gansos “imprinted”

• Restrito a um período de tempo determinado;


• Irreversível;
• Consequências inerentes ao desenvolvimento a longo
termo independentemente do objecto “imprinted”
Lorenz, 1935 original.
Características do Imprinting Filial

Reintrodução de espécies no meio selvagem


Características do Imprinting Filial sexual Revertido

Kibbutz Gan Shmuel em Shavuot, 1959 Crianças num Kibbutz, 1950


Períodos Críticos de Aprendizagem Motora
Efeitos da Deprivação Visual Precoce

Blakemore & Cooper (1970) Nature, 228, 477-478. Blasdel et al. (1977) Journal of Physiology, 265, 615-636.
Janela temporal favorável à plasticidade

Katz e Shatz (1996) sustentam que o


cérebro em desenvolvimento depende
progressivamente menos da actividade
espontânea e progressivamente mais da
experiência sensorial.

Retirado de Blakemore & Cooper (1970) Nature, 228, 477-478.


Relação entre o cérebro e as experiências sensoriais perceptivas

A sintonia fina das conexões sinápticas é essencial durante o desenvolvimento visual

A privação visual precoce altera a organização neuronal


Efeitos da deprivação precoce

A Deprivação Motora não costuma ocorrer de forma isolada


Efeitos da deprivação precoce
Efeitos da Deprivação Visual Precoce

O input visual durante a infância é necessário para o desenvolvimento normal de


alguns aspectos do processamento facial.

Geldart et al. (2002) Developmental Science, 5(4), 490-501.


Os Efeitos de Deprivação Precoce: Victor de l’Aveyron

Que se saiba, a linguagem nunca foi


adquirida depois de uma certa idade
(depois dos 12 anos). Isto sugere a
existência de períodos sensíveis para o
desenvolvimento da linguagem.
Ao desenvolvimento das diversas áreas
cognitivas correspondem diversos
períodos sensíveis.
Itard, 1801, 1806
Os Efeitos do Trauma Psicológico no Cérebro

O Efeito do Trauma Infantil no


Desenvolvimento do Cérebro

Nos anos 80, muitos profissionais achavam


que na altura do nascimento, a estrutura
dos seus cérebros já estava geneticamente
determinada. No entanto, investigações
recentes têm mostrado a alteração da
função cerebral como resultado de abuso ou
negligência precoce. A chave para esta
ocorrência está no cérebro.
”Os nossos cérebros são esculpidos pelas
nossas experiências precoces. O Mau
tratamento ou a negligência são formões
que moldam o cérebro para lidar com a
dificuldade, mas ao custo de feridas
profundas e persistentes.”

--Teicher, 2000, p. 67
Modificações Estruturais no Cérebro após a Infância

Volume do hipocampo  correlacionado com o


número de horas “de táxi” .

Maquire et al. (2000) PNAS, 97(8), 4398-4403.


O Cérebro e o Trauma Psicológico na idade Adulta

Ganzel et al. (2008) Neuroimage, 40, 788-795.


Homúnculos Motor

Representação somatotópica
no espaço cerebral:

As partes do corpo com repertórios


complexos de movimento requerem mais
espaço cortical em M1. Outras partes que
executam movimentos relativamente
simples, como a anca, requerem menos
espaço cortical.
O Córtex Motor
A Música e o Cérebro

Músicos profissionais têm certas representações corticais aumentadas  Córtex


somatosensorial e auditivo.

Pantev et al. (2001) Annals of the New York Academy of Sciences, 930, 300-314.
Super Dedo

A organização funcional do sistema nervoso


maduro é alterada como consequência da
experiência.
A estimulação intensa de uma parte do corpo
humano pode conduzir a um aumento das
zonas corticais e da ordem topográfica
correspondente.

Sterr et al. (1998) Journal of Neuroscience, 18(11), 4417-4423.


A outra face da Medalha

Plasticidade Maladptativa: Os movimentos repetidos e sistemáticos podem levar a distúrbios


hipercineticos do movimento devido à desorganização dos mapas motores e
somatosensoriais.
Candia et al. (2005) Annals of the New York Academy of Sciences, 1060, 335-342.
A plasticidade no adulto como na criança também pode ser temporária

Facchini, S., & Aglioti, S.M. (2003) Neurology, 60, 1998-1999.


Aniruddha Das (1997) Network: Comput. Neural Syst., 8(2), R33-R76.
Reorganização dos mapas Corticais

Os mapas corticais reorganizam-se


alguns meses depois dos dedos serem
cosidos.

Os mapas motores e sensoriais podem


modificar-se com a experiência.

Merzenich et al. (1983) Neuroscience, 8(1), 33-55.


A Atenção como Esculptor da Mente

A estimulação natural, para a qual é dirigida a atenção, pode modificar a organização


tonotópica de A1 no primata adulto e que esta alteração está correlacionada com a
acuidade perceptiva.
Recanzone, Schreiner, & Merzenich, 1993
Bidireccionalidade da Mente?

Bidireccionalidade da Bidireccionalidade da
Modificações
eléctricas e
Percepção Sensorial Mente?
químicas no
cérebro
permitem que
ocorra a
percepção Mas será que estes
visual pensamentos, crenças e
emoções a que
chamamos mente
podem alterar o
cérebro?

A experiência visual A actividade cerebral


também altera a está na base de
estrutura e função do pensamentos, crenças e
cérebro emoções
A força da Mente (ou o Controlo da Consciência)

Distúrbio Obsessivo - Compulsivo

Quatro « R’s »:
• Re-etiquetar
• Reatribuir
• Refocar
• Reavaliar

Diminuição significativa do metabolismo ao nível do núcleo caudado direito apenas nos


seis pacientes que responderam ao tratamento. Por outro lado, nos três pacientes nos
quais não ocorreu qualquer melhoria significativa dos sintomas clínicos do DOC, também
não ocorreu qualquer mudança significativa no metabolismo desta estrutura subcortical.
Schwartz & Begley, 2002
Atenção vs. Consciência

A Atenção e a consciência representam


processos neuronais distintos, com
funções distintas:

• Muitas vezes tornamo-nos conscientes


dos elementos aos quais prestamos
atenção;

• No entanto, também podemos atender


a objectos ou eventos sem nos
tornarmos necessariamente conscientes
dos seus atributos;

• Da mesma forma, podemo-nos tornar


conscientes de algum objecto sem
atendermos ao mesmo.

Koch e Tsuchiya (2006)


O treino mental pode levar o cérebro a um nível superior de consciência

«Prontos para actuar, para ajudar »

• Actividade no córtex pré-frontal


esquerdo (emoções positivas e alegria),
no córtex pré-frontal direito (emoções
negativas negativas e ansiedade) e nas
regiões que comandam o movimento
planeado;

• O exercício da mente envolve


mecanismos temporais integrativos e
pode induzir variações neuronais a
breve e longo termo.

Lutz et al. (2004) PNAS, 101(46), 16369-16373.


Altera-se a relação com o ambiente, altera-se a percepção do mesmo

(Kakigi et al., 2005)


Interacção Complexa entre a Experiência e o Cérebro

Função e estrutura das Função e


próprias áreas estrutura de
implicadas outras áreas

Experiência
O Papel do Cérebro

Saúde

Bem-Estar

Exercício Factor Neurotrófico


Condição Física Derivado do Cérebro
BDNF
Performance
Cognitiva

Reduz o Risco de Doenças


Neurodegenerativas

Dishman et al., 2006; Abbott et al., 2004; Eggermont, et al., 2005; Larson et al., 2006; Scherder et al., 2005; Winter et al., 2007.
O Estilo de Vida altera
a Saúde do Cérebro

“Brain Derived Neurotrophic Factor” (BDNF) = é uma proteína fabricada pelos


neurónios - tem vários efeitos no sistema nervoso central, como crescimento,
diferenciação e reparação dos próprios neurónios

Chan et al. (2008) Neuroscience Letters, 447, 124-128.


O Impacto do Exercício Agudo
de diferentes intensidades no Cérebro

Budde et al. (20010) Psychoneuroendocrinology, 35, 382-391.


Exercícios de Coordenação (agudos) melhoram a atenção em adolescentes

CE NSL

Existe uma relação entre o tipo de exercício físico e as melhorias


cognitivas. Esta relação está intimamente ligada ao
funcionamento e estrutura cerebral.

(Budde et al., 2008)


O Exercício Físico melhora a Saúde do Cérebro e a Plasticidade

(Cotman & Berchtold, (2002). Trends in Neurosciences, 25, 6.


Seja Inteligente: Faça Exercício!

Hillman, Erickson, and Kramer, (2008). Nature, 9, 58-65.


Libertação de Endorfinas no Cérebro após Corrida em Humanos

Os níveis de euforia e bem-estar aumentam


nos atletas

Correlação do “binding“ dos receptores


opioides com as medidas de euforias
resultantes da VAS em corredores.

Os gráficos de pontos computam o


binding do receptor opioide (DV) com
as medidas individuais de euforia
(medidas VAS pós-corrida).

Boecker et al. (2008) Cerebral Cortex, 11(18), 2523-2531.


Memórias Motoras...

Este estudo mostra que a mera observação de movimentos leva à formação de traços
de memória permanentes nas representações do movimento, semelhantes àquelas
elicitadas pelo treino físico.

Stefan et al. (2005) The Journal of Neuroscience, 25(41), 9339-9346.


Memórias Motoras...

O treino motor não visual influencia a percepção do movimento biológico!

Casile & Giese (2006) Current Biology, 16, 69-74.


RM sugere relação entre
actividade física e neurogénese

Aumentos induzidos pelo exercício no giro dentado (em ratinhos) 


correlacionados com a neurogénese.

Pereira et al. (2006) PNAS, 104(13), 5638-5643.


A Importância do Exercício Físico no Envelhecimento normal e
como Profilaxia da Senilidade

http://www.efdeportes.com/efd101/envelh.htm
A Importância do Exercício Físico no Envelhecimento normal e
como Profilaxia da Senilidade

http://www.time.com/time/health/article/0,8599,1697328,00.html#ixzz12F1yjXNP
Estabilidade ≠ Equilíbrio

Duarte et al. Experimental Brain Research, 191, 265–276.


A culpa é do corpo ou do cérebro?

Desuso do Cérebro ou do Corpo?


Condição Física Elevada em Idosos Aumenta o Volume do Hipocampo

Erickson et al. (2009) Hippocampus, 19(10), 1030-1039.


Os Limites da plasticidade

Diversas observações têm demonstrado que a plasticidade


cortical no adulto é limitada.

No caso da área V1, as conexões horizontais no interior do


córtex são as mais plásticas.

As conexões horizontais e verticais podem apresentar


níveis de plasticidade diversos. Para além disto, áreas
diversas apresentam diferentes níveis de plasticidade.

Sereno (2005) Nature, 435, 288-289.


Altera-se a relação com o ambiente, altera-se a percepção do mesmo
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É importantíssimo exercitar a mente e o corpo durante toda da vida!!

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