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O behaviorismo de Watson:

Material professor
RICARDO TORRI DE ARAÚJO
• [232] O behaviorismo, a maior escola de
psicologia da história dos Estados Unidos, foi
criado por John Broadus Watson (1878-1958).
• [233] Watson doutorou-se em psicologia em
1903, pela Universidade de Chicago, o “berço”
do funcionalismo. Na “Cidade dos Ventos”, foi
aluno de Dewey e Angell.
• [234] Em 1904, Watson casou-se com Mary
Ickes, com quem teve dois filhos
• [235] Em 1908, tornou-se professor de
psicologia da Universidade Johns Hopkins, em
Baltimore, Maryland.
• [236] No ano seguinte, Watson tornou-se
chefe do departamento de psicologia da
mesma universidade
• [247] O marco de fundação do behaviorismo é
uma palestra feita por Watson em fevereiro de
1913 na Universidade de Columbia. Esse
discurso ficou conhecido como o “manifesto”
behaviorista.
• Um mês depois, a sua fala foi publicada na forma de
artigo na Psychological review sob o título:
• “A psicologia tal como o behaviorista a vê”. Passados
alguns anos, em 1919, com a colaboração de Rayner,
Watson transformou o referido artigo num livro: “A
psicologia do ponto de vista de um behaviorista”, sendo
essa a exposição mais elaborada do seu pensamento.
• [248] Tendo se configurado como escola na
Universidade Johns Hopkins, o behaviorismo difundiu-
se, em seguida, por todo o país.
• Após um período de ascensão gradual, o
comportamentalismo chegou a dominar
completamente o cenário da psicologia
estadunidense por, pelo menos, três décadas,
de 1930 a 1960, aproximadamente
• [249] Eis o primeiro parágrafo do manifesto de 1913: “A
psicologia, na visão do behaviorista, é um ramo
experimental puramente objetivo da ciência natural. Seu
objetivo teórico é a previsão e o controle do
comportamento. A introspecção não faz parte essencial
dos seus métodos, nem o valor científico dos seus dados
depende da prontidão com que se prestam à
interpretação em função da consciência. O behaviorista,
em um esforço para obter um projeto unitário de
resposta animal, reconhece não haver linha divisória
entre o homem e o animal.
• O comportamento do homem, com todo o seu
refinamento e a sua complexidade, forma apenas uma
parte do projeto total de investigação do behaviorista”.
O parágrafo terceiro, por sua vez, começa assim:
“Chegou a hora de a psicologia descartar toda referência
à consciência; de ela não mais se iludir pensando que
pode fazer dos estados mentais objeto de observação”
• [250] Como se vê, o discurso de Watson foi mesmo
programático. Percorramos, um a um, os diversos
elementos do seu modo de entender a psicologia.
• [251] Para Watson, a psicologia é uma ciência
da natureza. O behaviorismo, nomeadamente,
é uma psicologia decidida a ser científica. O
seu princípio fundamental é o da objetividade.
• [252] O objeto da psicologia é o
comportamento humano e animal. São os atos
comportamentais observáveis, direta ou
indiretamente, e passíveis de descrição
objetiva
• [253] Tomemos como exemplo o pensamento. Segundo a
concepção corrente, o pensamento é um fenômeno mental,
um processo que não está sujeito à observação. Watson,
porém, argumentou que o pensamento é, ele também, um
comportamento objetivo passível de ser observado. De que
modo? Pensar é falar para si mesmo sem emitir som. Essa
fala subvocal, por sua vez, é acompanhada de leves
movimentos da língua, boca e laringe, contrações passíveis
de serem captadas e medidas por meio de instrumentos. O
pensamento, portanto, é um comportamento laríngeo que
pode ser observado indiretamente.
• [254] A alma, a mente, a consciência, o
psiquismo, a interioridade do sujeito e
fenômenos semelhantes não se constituem no
objeto de estudo da psicologia.
• [255] Pode-se falar em dois tipos de
behaviorismo: um metodológico, também
chamado “empírico”, outro metafísico,
também chamado “radical”.
• O behaviorismo metodológico é o behaviorismo da
“caixa fechada”: a mente existe, mas não se tem
acesso ao interior dela; tudo o que se pode
conhecer é o que entra e o que sai; por razões
metodológicas, portanto, a mente deve ser
descartada pela psicologia. O behaviorismo
metafísico é o behaviorismo da “caixa vazia”: a
mente não existe; não interessa como objeto de
estudo simplesmente porque não há o que estudar
• [256] Watson oscilou entre uma forma e outra de
behaviorismo. Parece ter evoluído de behaviorista metodológico
a behaviorista metafísico. Os objetivos da psicologia são a
predição e o controle do comportamento. Dado um estímulo,
compete a ela prever a respectiva resposta; dada uma resposta,
estabelecer que estímulo a desencadeou. Controlar o
comportamento, por sua vez, é o mesmo que modificá-lo.
• [258] A introspecção não se constitui num método
cientificamente válido para a psicologia. O behaviorismo propõe
que apenas métodos objetivos sejam usados – tais como:
observações, estudos experimentais em laboratório, alguns
testes psicológicos, os métodos do tempo de reação, as técnicas
da caixa-problema de Thorndike, o método do condicionamento
pavloviano etc
• [259] Como se vê, o behaviorismo está em
radical descontinuidade com a psicologia
mentalista e introspeccionista que o antecedeu,
seja em sua configuração estruturalista, seja em
sua versão funcionalista. Pode-se mesmo falar
numa “revolução behaviorista”. De fato, o
comportamentalismo propôs um novo objeto e
um novo método para a psicologia. Ou seja,
uma revisão completa da ciência da psicologia.
• [260] A “pedra angular” da psicologia behaviorista é
o esquema estímulo-resposta (E-R). Todo
comportamento é passível de ser explicado em
termos de estímulo e resposta. [261] A “chave” para
a compreensão do comportamento é o
condicionamento. Segundo o behaviorismo, há dois
tipos de condicionamento: um respondente,
também chamado “clássico” ou “pavloviano”, outro
operante, também chamado “instrumental” ou
“skinneriano”.
• O condicionamento respondente é o condicionamento E-
R: nele, um estímulo desencadeia uma resposta. O
condicionamento operante é o condicionamento RE: nele,
um estímulo segue-se a uma resposta. O comportamento
respondente é controlado pelos seus antecedentes; o
comportamento operante, pelas suas consequências. O
primeiro interessou mais a Watson; o segundo, a Skinner.
• [262] O behaviorismo concede grande importância ao
estudo da aprendizagem. Para a psicologia
comportamental, tudo – ou quase tudo – é aprendido. Em
meados da década de 1920,
• Watson formulou um desafio que ficou famoso:
“Deem-me uma dúzia de bebês saudáveis e bem
formados e ponham-nos num mundo criado segundo
as minhas especificações e eu lhes garantirei que
posso selecionar qualquer um, aleatoriamente, e
treiná-lo para tornar-se o especialista que eu quiser:
médico, advogado, artista, comerciante e, sim, até
mesmo mendigo e ladrão, independentemente de
seus talentos, propensões, tendências, aptidões e
vocações e da raça de seus ancestrais”.
• [263] Face ao binômio “nature versus nurture” –
“inato versus adquirido” –, o behaviorismo
privilegia decididamente o que é adquirido pela
aprendizagem. Watson é um ambientalista radical,
um arquiambientalista. [264] A infância se reveste,
assim, de uma grande importância para o
behaviorismo; trata-se do período de formação
mais importante da vida humana. Watson estudou
mais de 500 bebês na Clínica Psiquiátrica Henry
Phipps, em Baltimore.
• [265] Estudando bebês, Watson constatou que há
apenas três reações emocionais inatas, as quais podem
ser despertadas no bebê antes da aprendizagem,
bastando, para isso, o estímulo apropriado. São elas: o
medo, a raiva e o amor. Os bebês não têm medo do
escuro, do fogo, de ratos, cobras ou cachorros. Mas as
crianças maiores frequentemente apresentam esses
medos. Por que razão? Segundo Watson, porque foram
condicionadas as reações emocionais são, em grande
medida, respostas aprendidas.
• Watson se propôs, então, a demonstrar essa tese
experimentalmente. [266] O experimento
aconteceu em 1919. O sujeito foi um bebê de 11
meses, filho de uma das enfermeiras do hospital, o
“Pequeno Albert”. Com a ajuda de Rayner, Watson
condicionou o pequerrucho a ter medo de ratos
usando a técnica do condicionamento respondente.
O procedimento consistiu em bater com violência
numa barra metálica atrás de Albert toda vez que
um rato lhe era apresentado.
• Depois de sete seções de emparelhamento, o
bebê passou a ter medo de ratos. Verificou-se
também que a resposta do medo generalizou-
se para outros estímulos semelhantes. Os
resultados foram publicados em 1920, no
Journal of experimental psychology, num
artigo escrito a quatro mãos, intitulado:
“Respostas emocionais condicionadas
• ”. [267] Além da psicologia infantil, também a
psicologia animal ocupa um lugar eminente na
escola comportamental de psicologia. Pode-se
mesmo afirmar que, para o behaviorismo, a
psicologia animal é a psicologia modelo. O ser
humano, aos olhos do condutismo, é um
animal, uma espécie animal entre muitas
outras, não um caso especial.
• [268] A exemplo do funcionalismo, o behaviorismo
entende a psicologia como uma ciência aplicada. [269]
Tendo deixado a universidade, o próprio Watson teve a
oportunidade de aplicar ao campo da publicidade, por
exemplo, os princípios da psicologia comportamental. De
fato, os condicionamentos respondente e operante podem
muito bem ser utilizados na venda de mercadorias.
• [270] Watson também fez recomendações práticas quanto
ao modo correto de educar as crianças, conforme vimos,
num livro que escreveu com a sua segunda mulher.
• [271] A psicoterapia, por fim, revelou-se um
campo muito fecundo de aplicação da teoria
behaviorista da aprendizagem. [272] Para o
behaviorismo, o sintoma não é sinal de
alguma outra coisa; não é a manifestação
externa de uma problemática subjacente. O
sintoma é a própria doença. Tratar a doença
significa, pois, eliminar o sintoma, não mais do
que isso.
• [273] Para o behaviorismo, as doenças
mentais são comportamentos aprendidos por
condicionamento. A terapia comportamental
consiste, então, em desaprender
comportamentos indesejáveis e aprender
comportamentos preferíveis. Noutras
palavras, trata-se de um descondicionamento
e, em seguida, de um recondicionamento.
Trata-se, enfim, de uma reeducação
• . [274] Para essa reaprendizagem, há várias
técnicas de terapia comportamental.
• [275] A técnica da dessensibilização
sistemática é indicada para o tratamento de
fobias. Consiste em introduzir o estímulo que
causa ansiedade de uma forma progressiva,
levando o paciente, ao mesmo tempo, a
manter-se relaxado.
• [276] Essa técnica foi utilizada pela primeira
vez em 1924 por Mary Cover Jones (1896-
1987), colega de Rayner. Baseando-se em
sugestões feitas por Watson e Rayner sobre o
modo como o medo poderia ser
desaprendido, ela descondicionou o medo de
coelhos num garotinho de três anos chamado
“Peter”.
• [277] O condicionamento aversivo consiste em
associar um estímulo que causa prazer a
alguma coisa desagradável. Essa técnica pode
ser usada no tratamento do alcoolismo, do
tabagismo, de certos desvios sexuais – por
exemplo, o fetichismo –, do excesso no comer
etc
• . [278] A técnica da inundação consiste em
confrontar o paciente massivamente com o
estímulo que lhe causa medo ou aversão de
modo a esvaziá-lo.
• [279] A enurese pode ser tratada fazendo com
que uma campainha desperte a criança ao
primeiro sinal de umedecimento das fraldas. E
assim por diante.

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