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OOo yi ' fal Sumario Apreseotagion 1. Sate Mental, Teritsiose Pronteins 2. Ua Intitisio para Lacs, Doentes e Siow 5. Das Psiquitias Reformadas 3s Rupr com a Paiguatia 4. Estatégios © Dimenssies do Campo da Sade Mental e Atengio Psicossocil Mental e Atengio Psiconsocal no Brasil Consideeagee Hine ui nove hye social Referéacns Sugestdes de Leitusas Filmes u 5 a 3 o at 105 ‘ApRESENTAGAD Este lero vem carnage de hisivins «extras (como a0 vsava diz ‘antgamente). Quando me forme em medicna, ¢ ‘escolhi a psiguiatria como expecialidade, nio existiam emuitas| perspectivas de um tabalho que se pudesse considerar como, sendo de sade, O destino quase cera de wen psiquitsa reed formado era tabalhar nos manicdmios piblics, decrépitos © Jmundor ou em manicémios privados, deceépitos © imundos, ‘onde, pat prs, ramos espoeados pela “indistia da Ioocur”, como diria 0 saudoso e quetido amigo e profetsor Carlos Gentle de Mello A opcia, que muitos adotaram, er fier vist grossa para ‘ssa situagio © montar um consulésio de psicanlie, pcio que tins um futuro bastante promissor¢ valorzado socialmente Isso porque, mquela época, mesmo no consultio patel, & prdvca da psiquntria era considerads como wma peitiea menor (0 objetivo da maioria cra se pscanait, fazer ailise , nesta linha, o pera se tomar um psicanalista data, Como disse um jutro amigo, Antonio Lanceti, eram tempos em que set anti sanicomial nfo estava na moda Foi num daqueles manicémios que, com mais dois coleyas médicos, decidimos dizer io violéncia da psiquiatria denun- dando 3 sociedade a realdade cruel e perversa das instiuigies in [aw Psiquticas Mos, como eram tempos de ditadur, fomos ime tltmente demitidos e conoseo todos agueles que ousarsm nos apex: Mas, exam também tempos de “abertura democrses”, outeos gritos ocoriam aque aol Um destes gritos origin 8 eriagio do Centro Basilio de Estudos de Saide (Cebes), onde nos anearamos —até hoje e passamos a ht mais cole- tivamente. Neste contest, icon mareado a iniio do process «Gh refocena psiqufticabrasieea que ven transformando, des e entio, a telacio ente a sociedad e a loucurs, questinnaede io 56 as instigSes «peticas psiquiticas vigentes, mas tm bbém os conceitos e saberes que dio fundamentos e legimidade ais pics Ester tem como escopo istigaroIitor a efltis sole todo este percurso, que vi das bases da psiguitsa e do manic mio aos projetosatuss de construgio de um novo “ugar soil" pnt as pessoas em sofimento mental Pars tant, comecd’ por forcteszet 0 processo de apeopracio da lowcuts pela medi 1m com constiugio do saber eda principal insinigio psigui- Sita, © hospi, identicando e desenvolvenda os princpais comecitos e priticas que fondacam o paradigena prigutica A ‘seul, 2 ma breve histiae dseussao des princpas expec fxcias que vera como objetivo transforma peiquntia, sein sulequando ou sjustando 0 model assistenil ass on moder- hizando-o em dive & sae mental na comunidad (as deno- ‘mids reformas psiqistrca), seit rompendo com a bases do modelo cence que inaugurou € legidmou a intervengso psiquitrea no mei soca Apo est revisio histics, com base nela, procuro con tebuie para a ampliagio do entendimenta das diamensdes es- astégias do campo da sxe mentale atengio psicossocial, pars ‘qual desenvalvo o conccita de process socal complexo que, ‘ens uma pala, aos langa num terreno onde as tansformagdes no ve limitam is emdangas merumente asistencns: F como ido que pasts pass ‘uma anise dos eaminhos ¢ tendéncas das poiins de sage _mentaleatengtopsicossocal no Brasil onde a utopia, entendida ‘camo um objetivo e um proto de Its, a consteugio de um nove higar cil pam a2 pearone em voftimento mental asso seguinte, nada mas justo e neces Poe it, sugicoalgumasleiture alguns filmes O mais pro- fando € rgoroso teatado centifico ni consegue, na maioca ds veres, flr tio dzetamente 3 alma como uma obra de ate Este tems também é assunto para nosso livea, Quero segstne meus agradecimentos 3 mina companheien Leandsa Besl e aos amigos Faveldo Nabuco, Paulo de Tatso Peixoto e Bin Aduers pea letura e observagbes 1 | SaGpe Mental, TeRRITORIOS E FRONTEIRAS: ‘Mare tabi se sr carta ‘Deport, ninguén€ normal As ores eg em iba ta (A olga ne a me al” «Vac prof, Caetano Veloso (0 que se conhece como side mental é uma rea muito extensae complesa do conhecimento. Quantas vezes ouvimos flgum profissiona falar que “tabalha a aie mental”? O que te eth dizendo com isso? Que trabalha com quests rlacio- tudes A sade mental das pestous? A partir de uma repost, posiiva a esta pergunta, podemos extrir um primero grande ‘tio da expe ae menu a poses rset ‘rom nas reflexGes, Equal € ce? Eo de que ste mental € Sin campo (ou una dts) de eonhecimento ede atuaio tenia no imbito das polis piblis de snide importante assnalar que poucos earmpos de cosbecimen- to e angio na sade sio tio sgocosamente complexos, phx tai intemetoras € com tanta trnsversaidade de saberes Ao Comercio da peiquitia side mental no ae basia em apenas tim tipo de eonhecimento,« priguata, e muito menos € exer ida por apenas, ou andsmentalmente, um profisionl 0 ps (qiatea, Quando os referimos i side mental, amplamos 0 ‘spectro dos conhecimentos envolvides, de uma forma tio tea « polissémiea que encontremos dificuldades de delimiter suse Feonteeas, de saber onde comecam ou termina seus limites, Safe mental nio é apenas psicopatologa, semiologin. Oa io pode ser redurida a0 estado tratamento das docngas ‘mentais.. Na complexa ede de saberes que se entreerwram as femitica da save mental esto, slém da psiquiatia, «neutologia 35 neurocincia, a psicologi, a psicandlise (oa as psicaniices, Pols sio tants), 2 Bsiologia flosofa, a antropologse, a soci, ‘opin, a histria, a geogrtia (esta tikima nos forneceu, por exer, plo, 0 conecio de teritéio, de fundamental importinci para 2 polticas piblieas). Mas, se estamos falando em histories em sueitos, ema sociedades, em culuuas, aio serie equivocade ex. lit as manifestagdes religiosas ideolipicas,eticas « moras des comunidades e povos que estamos lidando? Eatim, quais sio os limites deste campo? Quais s20 os sabe- tes que efevamente os compdem? Podemos ter uma tesposta ‘lefiniden e exclasva para estas perpuntas? Em O FE Dim ‘rimeio livro do psiguiateae pscanalsta Ronald Laing, um do funcdores ca corente que ficou conkecida como ‘ntpaqi, ‘sia’ © que abordarei mais adiante-, surge uma reflesio scbre ‘go de veda a parts de uma imagem muito comm, ce é geralmente utiliza para ‘brincar de ilusio de ética’ Para me (woduzit 2 images, Laing (1963: 21) observa que © hhomem, pode, em partculs, ser visto come pessoa 01 coisa. Ora, © mesmo objeto focalizade de diferentes pomtos de vista, da oxigem a dus desciges intctsenen, te divenas,e esas provocam das teons inteumente dlvcemas, que resultam em dois grupos inteiramente di. versos de agio. A forma incal de ver uma coisa deter ‘mia todas as nossasrelgdes subseatientes com ela, Neste ponto prope que examinemos a “Figur equivocs, ‘ou ambigua” (Figura 1). Curiosamente, tsnta anos depois, 0 secilogo Bonventara de Sous Santos aos remete a eta es ‘ma imagem, que & a de dois perfis frente a frente que, vistos com outa perspeetiva de fundo ¢ transfundo, e nos fx vet pelo contrivio, um jazeo grego sobre um fundo preto. Qual a |nagem verdad ele os pean? Os dois peti ow o ao? Ambighidade? Exeo da percepeio om do pensamento? Con teadicio da reakdade? ‘Figura 1 — Qual a imagem verdadeita? Os pestis ou o jaeeo? i Mas, enfim, ¢ esta & a grande questio que temos para en: frentar: existe uma imagem verdadeica que anula e inviabiliza 1 ote ou todas as demais? Por que temos que pensar de Forma dualista, antindmica, simplifieada? A natureza do cam- mks Laing (96. tw 13) Pe da sate mental vem contsibuindo para que comecemos 4 pensar de forma eifetente, ndo mais com eate paragon tis verdade nica © definitvs, mas sim em termor de conn Dlexidade, de simltancidade, de transverslidade de saberes, de “coastrucionismo”,de“reflexividade” Spink, 2009), Yeremos mais adiant, Anteriormente,argumentei que quando algo profsion sal nos diz que “trabalha na sade menta”, ele esth nos dh zendo que trabaha com questdes relacionadas a eale men tal ds pessows. as, na verdade, na pritica aeiteneial sed muito pouco tempo ats trabalha “aside mental” signi ficava dizer que se trabalhava com doengat ments, con hospicios, com manicémios! Mas, 0 que ¢‘doenga mental? Eo oposto de saide mental? Eo desequibrio menta? Dy sentido da express epatamosnos agora com um outro ‘tide mental, ou seja, com a idéia de que im estado mental sadio, portanto, poder ‘mos conch um estado normal. Ou dito de outea forma, de jum estado de bern-estas mental, ou de sanidade mental, on rn, fy de nto exist nenbuma forma de desordem mental A Orpanizagio Mundial da Sade (OMS) considera que sa de €0 “retado de completo Lan-estatBsico, mentale spel ¢ te apenas a ausénca de doengas. Com esta defnigho podeda ‘mos admitir que evoluimos um pouco, mas que continamos ol Emit dif eabelecer 0 que ¢ ete edo de complen bemestar. As vezesqustiono sei alguény aie) Batre, parece Sbvio, nas érnto fell define © que ‘em sr doens. Em muitos leon coconteamen define 4 sade como a auténcn de doengt; do mesma modo tue crv o emo doc pu en de Co emo ee PT eimcinaaty depen com um imp. O que é nor Se : Parece agora que aelagio entre os dos grandes sentidos fz ee oe us

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