Prof. João Roberto Lopes Pinto (Depto. de Estudos Políticos – UNIRIO) Com base na leitura dos Capítulos 1 e 6 do Livro do Putnam, discutiremos as seguintes questões: 1. Como o argumento de Putnam sobre a influência da cultura política sobre o desempenho da política pública se inscreve na vertente que privilegia os condicionantes culturais, sociais e econômicos? o autor discute em que medida a cultura política influencia o desempenho dos governos. Tal abordagem se inscreve nos modelos de análise que reconhecem no contexto sócio- econômico a variável explicativa das políticas governamentais – a exemplo das teorias da modernização de S. Lipset e W. Rostow, bem como da “cultura cívica” de Almond e Verba. vale ressaltar que Putnam está preocupado com o desempenho governamental. Como afirma, “as instituições são mecanismos para alcançar propósitos, não apenas acordos. Queremos que o governo faça coisas, não apenas decida coisas”. 2. Como Putnam busca explicar a diferença de desempenho entre os governos das regiões do Norte e do Sul da Itália, após a reforma administrativa de 1970? para o seu propósito, Putnam compara o desempenho governamental das vinte regiões da Itália, ao longo de quase vinte anos após a reforma administrativa de 1970, que descentralizou a administração pública em favor das regiões. Desta forma, o autor isola a variável institucional, já que seria a mesma para todas as regiões. Putnam constata uma clara diferença de desempenho governamental entre as regiões do norte e as do sul, onde o desempenho ficou bem aquém daquele alcançado no norte. Com a variável institucional isolada, o autor investiga, na esteira da tradição tocquevilleana, a relação entre “cultura cívica” e desempenho institucional. para tanto, ele vai se valer de indicadores de desempenho – presteza orçamentária, serviços de informação, inovação legislativa, clínicas familiares, gastos com unidade sanitária, na agricultura, em habitação e desenvolvimento urbano, sensibilidade da burocracia – e de “civismo” – vida associativa, leitura de jornais, participação em votações de referendo e voto preferencial. ao aplicar os referidos indicadores, Putnam verifica uma correlação direta entre “civismo” e bom desempenho, característica presente no norte, enquanto no sul, o fraco desempenho se refletia na baixa incidência de civismo. 3. Como o autor define capital social ? ao discutir as raízes do civismo nas regiões do norte, Putnam argumenta que a “comunidade cívica” se caracteriza pela presença de “capital social”, ou seja, de uma combinação virtuosa de “cooperação” e “confiança”. Isso teria sido possível graças a uma tradição do norte de experiências baseadas em regras de reciprocidade, como associações de crédito rotativo, associações comunitárias, clubes desportivos etc. O exercício da “reciprocidade balanceada” por meio destes sistemas de participação tenderia a se traduzir em “reciprocidade generalizada”. 4. Qual a diferença entre o "equilíbrio cívico", presentes nas regiões do Norte. e o "equilíbrio hobbesiano", característico das regiões do Sul? como base nestes achados, Putnam reconhece que, enquanto nas regiões do norte prevalecia o que ele nomeia de “equilíbrio cívico”, baseado na cooperação e confiança; nas regiões do sul, dominaria o “equilíbrio hobbesiano”, exatamente porque lá prevaleceria o “oportunismo” e a “desconfiança”. Neste caso, o mau desempenho seria decorrente da relação assimétrica, de clientela, em que predomina a dependência e exploração do cliente pelo patrono.