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O Menino que Descobriu uma

Coisa

Alberto J. Filho

Julgamento precipitado
Todos os dias esse Menino gosta de ir caminhando para a Escola. 
No caminho ele sempre encontra alguns amigos, e de lá, vão juntos,
conversando, olhando as coisas da rua. E no geral todos os dias são
mais ou menos iguais... 
Mas, hoje ele vai aprender uma coisa muito importante para si
mesmo. Trata-se de uma coisa que quando se aprende, não mais há
como Esquecer...
Certo dia, à caminho da Escola, Ele viu uma pequena plantinha. 
E embora passasse por ali quase todos os dias, só agora ele a
percebera! 
Gostava daquele caminho porque passava diante de um velho e
misterioso galpão, de uma antiga fazenda abandonada, que diziam ser
mal assombrada. Mas o lugar era bonito e ele gostava daquele "Ar de
Mistério" da velha fazenda.
Mas ninguém se importava com a lenda da assombração, e aquele era
um caminho preferido por muitos, e por ser uma área espaçosa, ali
todos gostavam de brincar. 
Ainda assim, no terreno do misterioso velho galpão, ninguém chegava
nem perto. 
Mas, também ninguém se importava com a Plantinha. Passando ou
brincando, sequer percebiam que existia.
De repente ele teve uma ideia! E se ele cuidasse daquela Plantinha? 
Não era preciso muito. Bastava que a olhasse todos os dias, quando
estivesse indo ou vindo da escola. 
Era só Cuidar para que ninguém arrancasse suas folhas. Combinaria
com seus amigos para eles, em outros horários, também dessem uma
olhada! 
E assim todos seriam seus guardiões até que crescesse...
Ele gostou de sua grande Ideia, e Logo falou com seus amigos mais
próximos, e todos concordaram. 
E em cada parte do dia alguém passava por lá e dava uma olhava. E nos
feriados, enquanto ali brincavam, todos estavam de olho. 
Mas, um dia, quando estava voltando da Escola, Ele Viu que no lugar
onde a Plantinha deveria estar só havia um buraco. Alguém a
Arrancara!
Começou a pensar no que poderia ter acontecido ali, e o
principal: Quem poderia ter feito aquilo! 
Embora fosse impossível saber o que de fato acontecera,
sua "Imaginação" não ficou quieta, e logo começou a Criar
Coisas... 
E em sua cabeça, Pensamentos Descontrolados,
procuravam um culpado, mesmo que não tivesse a menor
ideia do que, ou quem, pudesse ter feito aquela "Maldade".
E Ele percebeu uma coisa: sua Imaginação, ao pensar em
alguém, já julgava e culpava aquela pessoa, sem nem ao
menos saber o que realmente acontecera. 
Mas, o fato de não saber, não era um problema, pois os
motivos, ela, sua Imaginação, também criava... 
Sua Imaginação não estava preocupada com a Plantinha,
queria apenas encontrar um Culpado, e qualquer um
servia!
Em pouco tempo, as primeiras Vítimas dos seus
Pensamentos começaram a surgir. 
Primeiro pensou num mendigo que sempre via ali por
perto! E pensou: "Só pode ter sido ele. Um velho daquele,
com aquela cara de ruim que tem, arrancaria a plantinha só
por maldade..." 
Então Percebeu que já o estava Acusando e
Culpando, mesmo sem conhecer a verdadeira história...
Em seguida percebeu que, além de acusar sem provas, sem
nada ter presenciado, sua Imaginação também criava cenas
do que supostamente teria acontecido! 
E Ele chegou mesmo a ver a cena do mendigo pisando na
árvore, enquanto sorria maliciosamente. 
E antes que pudesse pensar nos motivos pelos quais
sua Imaginação criava tudo aquilo, Ela encontrou outro
suposto culpado...
Dessa vez o alvo era sua amiga de sala de
aula. Deduziu que poderia ser ela, já que outro dia a vira
pisando, embora sem querer, numa plantinha no pátio da
escola. 
Outra vez, sua Imaginação criou uma cena mostrando ela
arrancando a plantinha e correndo, rindo e feliz, por ter
feito aquilo. 
Ficou furioso com sua amiga, assim como ficara há um
minuto atrás com o coitado do mendigo!
E ele pensou que, por causa deles, suaÁrvore não mais cresceria... 
Imaginou ela já grande, repleta de frutos maduros. Chegou a se ver embaixo da mesma, colhendo aqueles belos frutos. 
Só que isso não mais aconteceria, graças a um daqueles dois. 
O fato é que sua Imaginação já encontrara os culpados, julgara e condenara a ambos, mesmo sem a existência de provas contra eles.
                 
Sentiu muita raiva daquelas pessoas, e também um forte
desejo de vingança... 
Desejou que algo de mau, um castigo, acontecesse com
elas! Deviam pagar por aquilo, que ele julgava, tivessem
feito! 
Nesse momento, viu que sua amiga, a mesma que
sua Imaginação acusara, ia passando ali perto. 
Ela se aproxinou sem compreender porque estava tão
bravo.
E ela foi logo dizendo: “Você não imagina o que
aconteceu!” 
Ele permanecia calado, com uma cara de poucos amigos. 
E ela continou a falar. “O Mendigo, a gente nem sabia, é
um Guardião das Árvores. Ele sai à procura delas quando
estão ainda pequenas, para então levá-las ao seu jardim,
onde são plantadas. Lá ele cuida de todas elas até que
cresçam e fiquem fortes...”
“Ele veio aqui à noite e levou a plantinha para seu jardim.
Disse que aqui não estava segura, pois alguém acabaria
pisando nela. Seu jardim fica daquele lado...” 
Naquele momento, Ele sentiu-se muito Envergonhado por
ter Imaginado tudo aquilo... 
Com sua Imaginação, condenara inocentes, e agora
percebia seu Erro. Sentia tanta Vergonha que sequer tinha
forças para falar...
Sinceramente arrependido pelo seu Erro de
Julgamento disse: 
“Agora percebo com clareza que o maior Erro de alguém é
julgar os outros com a própria Imaginação. Nosso
pensamento é capaz de criar coisas que não existem, e
então nos engana afirmando que são verdadeiras...” 
E, mais adiante, viu o mendigo em seu florido jardim,
cuidando como ninguém da plantinha.
Aprendera naquele dia, a mais importante lição de sua
vida. 
E, ainda comovido pelo erro que cometera, sentiu que
gostava ainda mais da sua amiga, e de verdade, admirava e
respeitava como nunca, aquele Mendigo. E disse: 
“Hoje foi um dia Especial para mim! Depois de hoje, não
mais serei a mesma pessoa de antes...” 
E eles foram caminhando para casa, como faziam todos os
dias.

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