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Filosofia

A dimensão religiosa – analise e compreensão da experiencia


religiosa
- Introdução

• A filosofia da religião examina


criticamente crenças e conceitos
religiosos fundamentais. O termo
religião parece apontar para a ligação
ou união do humano com o divino. Esta
ligação pressupõe, geralmente, uma
rotura entre o sagrado e o profano,
cuja existência torna o espaço e o
tempo não homogéneos. Chama-se
hierofania ao ato de manifestação do
sagrado.
- O sagrado e o profano

• Ao nível etimológico, o termo religião tem uma origem discutível. Trata-se, no fundo, da
ligação ou união do humano com o divino.
• Esta ligação, pode ser feita a diversos níveis, pressupõe uma rotura entre o sagrado e o
profano.
• O sagrado, sendo relativo a algo reservado, interdito, separado, suscetível de veneração,
“designa uma ordem de realidades cuja natureza e valor superam radicalmente a natureza
e o valor das coisas do mundo em que vivemos”.
• O profano refere-se a “tudo aquilo que, de algum modo, é estranho à espera do sagrado ou
religioso e que, por isso mesmo, faz parte integrante do mundo natural e quotidiano, o
mundo da experiencia comum”.
• Mircea Eliade, refletindo sobre a experiencia religiosa, considera que o espaço não é
homogéneo: há lugares sagrados e há lugares profanos.
• O ato de manifestação do sagrado designa-se por hierofania. O divino é o objeto da
- A finitude e a transcendência

• Viver é abrir-se a inúmeras possibilidades; mas essas comportam determinada margem de


risco, de insegurança, de angustia e de incerteza. Esta sensação de desamparo e
inacabamento equivale à experiencia da finitude.
• A finitude designa o caracter limitado e contingente da existência humana, marcada pela
aspiração ao infinito, mas sujeita à ignorância, à fragilidade e à morte.
• É por ser uma criatura frágil que o ser humano é habitado pelo mundo, é atraído pelo
mistério e procura ultrapassar a sua finitude e a sua contingência.
• A experiencia da finitude conduz a uma abertura do ser humano para alem de si mesmo, a
uma presença que o reconforta e protege. Trata-se da abertura à transcendência.
• A transcendência ao que se situa fora ou acima de determinado âmbito de realidade; designa
tudo o que esta para alem de, implicando uma natureza radicalmente diferente e superior em
relação a outras.
• Esta opõe-se à imanência, que designa a ação cujo termo é interior ou intrínseco ao sujeito,
referindo-se não aquilo que é exterior, mas sim aquilo que é interior ao pensamento e ao ser.
- A religião como resposta ao sentido da
existência
• A religião tenta responder ao problema do sentido da existência – do razão de
ser, da finalidade, do significado e do valor das ações e da vida – recorrendo a
uma realidade divina, enquanto fonte primordial de todo o sentido, procurando
garantir ao crente a salvação.
• A ideia de salvação pressupõe a existência de vida depois da morte, que
implica, a maior parte das vezes, a noção de uma alma imortal. As doutrinas da
ressuscitação e da reencarnação exemplificam esta perspetiva.
• Platão defendeu vários argumentos que sustentam a imortalidade da alma, como
o da simplicidade da alma. Também existe um argumento cientifico, associado
aos fenómenos mediúnicos e às experiencias de quase-morte, e outro de caracter
teológico, que pressupõe a existência de Deus.
- Criticas à perspetiva religiosa

• A perspetiva religiosa acerca do sentido da existência


está sujeita a varias criticas, como a de que pode
haver sentido sem religião, de que a imortalidade
não garante o sentido e de que o sentido de Deus e
da vida futura deve ser, igualmente, questionado.
• Também há objeções contra os argumentos de
defesa da imortalidade da alma, como a negação de
que a alma seja indestrutível, que seja uma
substancia imaterial persistente ou que seja inclusive
uma substancia permanente em nós. Além disso, há
quem afirma, com base na ciência, que a vida mental
e espiritual depende de puros processos cereais.
- As dimensões pessoal e social das religiões

• A dimensão pessoal da religião remete-nos


para a fé e para a experiencia religiosa. Esta,
segundo Rudolf Otto, tem como aspeto
essencial a consciência de um outro como
sagrado ou divino – o numinoso. Mas tal
caracterização revela-se inadequada se
tivermos em conta a experiencia mística.
• Assim, a experiencia religiosa é uma
experiencia em que se sente a presença
imediata do divino, havendo experiencias
religiosas não místicas e experiencias religiosas
místicas.
- As experiencia religiosas místicas e não
místicas
Experiência mística extrovertida

• As experiencias religiosas 1. Olha para o exterior, por meio dos sentidos.


não místicas são aquelas 2. Vê a essência interna das coisas, uma essência que parece viva, bela e a mesma em todas as coisas.
3. Sensação de união entre o eu mais profundo e esta essência interior.
em que se sente a presença 4. Sentimento de ter experiência do divino.
5. Sensação de realidade, deve ver as coisas como realmente são.
imediata do divino como 6. Sensação de paz e felicidade.
algo distinto do eu. As 7. Intemporalidade, nenhuma consciência da passagem do tempo durante a experiência.

experiencias religiosas Experiência mística introvertida


místicas, por sua vez, são 1.Um estado de consciência desprovido dos seus conteúdos comuns: sensações, imagens, pensamentos,
aquelas em que se sente a desejos e por aí em diante.

união entre o eu e uma 2. Uma experiência de unidade absoluta, sem distinções ou divisões.
3. Sensação de realidade, de se ter experiência da realidade última.
presença divina. 4. Sentimento de que se tem experiência do divino.
5. Sensação total de paz e felicidade.
6. Intemporalidade, nenhuma consciência da passagem do tempo durante a experiência.
- Objeções à existência de Deus

• Será que as experiencias religiosas nos


podem dar boas razoes para acreditar que
existe Deus? Há quem afirme que não,
dizendo eu tais experiencias são meras
expressões de desejos, alucinações de
algo ilusório, dependendo apenas do
cérebro.
- A dimensão religiosa

A religião manifesta-se na oração publica, nas oferendas, nos sacrifícios, nas festividades, nas cerimónias,
Ritos/ liturgia/ nas peregrinações, nas observâncias, no culto dos mortos, etc. O rito, ou culto, apresenta uma vertente social,
/culto expressando a fé dos vários fiéis, irmanados numa idêntica relação com Deus.

• A religião possui uma


Códigos Os membros de uma comunidade religiosa partilham normas morais, que regulam a vida social e privada, e cuja
morais origem se nos escritos sagrados ou na tradição.

dimensão social e
Um conjunto
comunitaria , sendo, a
No interior de cada religião, há um sistema de crenças que se estruturam em doutrinas e dogmas, tendo implicações
de crenças praticas.

este nível, Mediadores São pessoas que estabelecem a ligação entre a humanidade e Deus: profetas, santos, etc., salientando-se figuras

caracterizada pelos
como Cristo, Buda…

Escritos São narrativas que, frequentemente expressas numa linguagem simbólica, tornam inteligível o mundo e a vida.
seguintes elementos: sagrados Alegadamente inspirados por Deus, estes escritos articulam-se com a ideia de revelação.

Embora haja crentes que optem pela solidão do ermitério, é na vertente comunitária que as diferentes formas de
Uma expressão religiosa – a transmissão de doutrinas e textos sagrados, o culto, as cerimónias, os templos e a própria
comunidade criação de mitos e de símbolos – ganham o seu verdadeiro significado, estabelecendo uma coesão entre os vários
membros.

As várias igrejas são instituições sociais que, no âmbito dos Estados democráticos modernos, se encontram sujeitas
Uma ao mesmo enquadramento jurídico das demais instituições. Mas cada organização religiosa funciona de acordo com
organização normas internas, que uma vez pressuposta a liberdade de culto dos cidadãos, vinculam apenas os seus membros.
- Relação entre razão e fé

• O fideísmo é uma doutrina que, opondo-se ao


racionalismo, sustenta a incapacidade da
razão humana para atingir determinadas
verdades, considerando que elas só são
acessíveis através da fé.
• Para os fideístas, há um conflito entre razão
e fé segundo o qual a fé não pode justificar-se
racionalmente.
- Harmonia entre a fé e a razão

• A existência de uma harmonia entre a fé e


a razão foi definida por São Tomás, segundo
o qual algumas das verdades relativas ao
divino podem ser demonstradas pela razão,
ao passo que outras não o podem ser, sendo
apenas objeto de fé e tendo por base a
revelação divina.
- Posições relativas à existência de Deus

• Estudámos as seguintes doutrinas filosóficas relativas à existência de Deus:


- Teísmo: Existe um Deus pessoal e perfeito que governa o mundo e se
revela aos homens.
- Deísmo: Deus existe, criou o mundo, mas não se revela.
- Ateísmo: Deus não existe.
- Agnosticismo: Não nos é possível saber se Deus existe ou não, nem
aceder ao conhecimento da sua essência.
- Panteísmo: Deus e o mundo não são a mesma realidade.
• Para uma classificação das religiões de acordo com a conceção de Deus que
nelas é dominante, podemos distinguir três tipos de religiões: monoteístas,
monistas e dualistas.
- Provas da existência de Deus

• No que toca às provas da existência de Deus os


filósofos desenvolveram:
- Argumentos a posteriori: Pelo menos uma
premissa só pode ser conhecida através da experiencia.
- Argumentos a priori: As premissa são, todas
elas, conhecidas independentemente da experiencia:
• Três argumentos principais:
- argumento cosmológico: a posteriori
- argumento do designo (ou teleológico): a
posteriori
- argumento ontológico: a priori
- Argumento cosmológico

• O argumento cosmológico, defendido por São Tomas, parte da ideia de que


todos os efeitos têm as suas causas. Se partirmos da serie de causas
eficientes no mundo, não poderemos recuar até ao infinito, pelo que deve
existir uma causa incausada, que é Deus.
• Este argumento é criticado por ser:
- Autocontraditório, ao defender que não há causa que não tenha sido
causada e que existe uma causa que não foi causada;
- Por pressupor que não há uma regressão infinita na serie de causas e
efeitos em relação ao passado;
- Por não nos adiantar muito no que diz respeito à natureza de Deus.
- Argumento do designo

• O argumento do designo, definido por W. Paley, sustenta a ideia de que a


complexidade, a ordem, a harmonia, o engenho e a finalidade dos seres e
fenómenos naturais provam que eles foram concebidos por um criador
inteligente: Deus
• Objeções a este argumento:
- O facto de ele se basear numa fraca analogia, pois a semelhança
entre os objetos naturais e artificiais não é uma semelhança entre aspetos
verdadeiramente relevante;
- o facto de perder força quando confrontado com as conclusões da
teoria evolucionista de Darwin, e o facto de tal argumento não provar que
Deus seja único, omnipotente, omnisciente e infinitamente bom, este ultimo
caso em virtude da existência do mal.
- Argumento ontológico

• O argumento ontológico procura demonstrar a existência de Deus com base


exclusivamente na definição da sua essência. Defendido por Santo Anselmo e
Descartes, tal argumento considera que Deus possui todas as qualidades num
máximo grau de perfeição. Sendo mais perfeito existir do que não existir, então
Deus existe necessariamente.
• Criticas a este argumento:
- Pode conduzir a consequências absurdas, como o concluir-se que uma
ilha perfeita existe só porque se pensou nela;
- Kant criticou neste argumento o pressuposto de que a existência é uma
propriedade;
- Este argumento acusa fragilidades por causa da existência do mal, que
parece colidir com a existência de um deus bom e perfeito.
- Argumento moral

• Kant apresentou o argumento moral, defendendo que apenas conhecemos os objetos no


espaço e no tempo, não sendo possível conhecer o numero, Kant pretende chegar a
Deus através da moralidade, da razão pratica. Como ser moral, o ser humano de agir
com o objetivo de alcançar o sumo bem , que consiste na união da virtude e da
felicidade. Esta união só é possível pela intervenção de Deus.
• Kant criticou as provas tradicionais por gerarem erros e ilusões, mas também existem
criticas ao seu argumento:
- A ideia de que devemos procurar fundamentar o soberano bem é questionável;
- Mesmo tendo esse dever, nada garante que seja humanamente possível
alcançar o soberano bem;
- Não se pode dizer que Deus tem de existir para que uns sejam recompensados
pelas boas ações e outros punidos pelas más, pois o próprio Kant acha que devemos agir
por dever, ou praticar o bem independentemente de qualquer tipo de recompensas.
- O problema do mal

• Parece haver uma incompatibilidade entre a existência do mal e a existência de


um Deus perfeitamente bom, omnisciente e omnipotente, como total domínio
sobre o mundo. Assim, a existência do mal, seja do mal moral ou do mal natural,
pode servir de argumento a favor do ateísmo.
• Alguns filósofos elaboraram teodiceias, isto é, justificação da bondade de Deus,
associadas à explicação da existência do mal . De entre as razoes que explicam
porque deus permite o mal, encontram-se as ideias segundo as quais o mal é:
- É necessário para poder apreciar o bem.
- É um castigo da conduta moral.
- Conduz a uma maior virtude moral, permitindo a existência do bem.
- Contribui para a beleza e harmonia geral do mundo.
- É justificável por ser efeito de um bem maior – o livre arbítrio.
- Objeções ao problema do mal

• Objeções a este argumento:


- O haver mais mal e sofrimento no mundo
do eu o que seria necessário para apreciar o bem,
para permitir atos de bem moral e de heroicidade
ou para legitimar a harmonia geral do mundo;
- O caracter discutível da relação
mal/castigo;
- O facto de não se explicar o mal natural
e, por fim, de poder por em causa a existência do
livre-arbítrio.
- Tarefas e desafios da tolerância

• Assim que orientadas muitas vezes para o bem comum, as religiões


institucionalizadas provocaram, com frequência, ao longo da historia, efeitos
nefastos nas sociedades, exprimindo o fanatismo, a intolerância e a incapacidade
para respeitar diferentes valores e culturas.
• Não é só necessária a tolerância entre diferentes confissões religiosas, como
também em relação àqueles que não professam qualquer religião. A tolerância
situa-se para lá do relativismo e da indiferença, baseando-se no caracter
universal dos direitos humanos.
• A responsabilidade pela paz no mundo passa, em grande medida, pela atuação
das religiões e pela paz entre elas. É impossível haver paz entre as religiões sem
dialogo inter-religioso. É impossível haver dialogo inter-religioso sem um estudo
serio e aprofundado dos princípios teológicos das diferentes religiões.

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