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Bloqueio de esquiva como

ferramenta psicoterapêutica
Prof. Ma. Beatriz Azem Corrêa Cordeiro
O QUE É ESQUIVA?
O comportamento de esquiva pode ser
explicado a partir do conceitos de reforço
negativo condicionado. Estímulos
previamente neutros, aos serem
emparelhados a estímulos aversivos
tornam-se condicionados.
Catania (1999) afirma que um repertório
comportamental de fuga/esquiva pode ser
persistente, uma vez que é suscetível ao
reforço acidental, o que faz com que a
extinção – ou enfraquecimento – dessa
resposta possa ser lenta.
Efeitos negativos da esquiva

Falta de contato com reforçadores


positivos – déficits comportamentais
Recorrência de respostas emocionais ou
sentimentos dolorosos
Aumento do potencial aversivo da
situação evitada
Generalização de respostas emocionais
Bloqueio de esquiva
Durante o processo terapêutico, ao promover a
aceitação dos eventos privados aversivos,
reduz-se a esquiva experiencial e aumenta-se a
tolerância emocional. Isto é, promove-se e
amplia-se um repertório para suportar o acesso
aos eventos privados evocados por estímulos
aversivos e permanecer em contato com eles
sem a apresentação de comportamentos de
fuga, esquiva ou confronto (Cordova &
Kohlerberg, 1994).
Esquivas em sessão:

Não acessar sentimentos aversivos;


Não fazer relato de situações aversivas;
Esconder informação relevante do
terapeuta;
Mentir;
Faltar/Desistir/Abandonar;
Demonstrar melhora súbita e espontânea.
A Esquiva Experiencial
Regras culturais definem que a causa dos
eventos aversivos encontram-se nos
eventos privados;
Regras culturais que ensinam que a
solução para os problemas é controle
emocional;
Padrões comportamentais que sejam
eficazes na esquiva experiencial são
reforçados
Estimulação aversiva passa a ser alvo de
controle verbal
Efeitos negativos da Esquiva
Experiencial
Perda de contato com reforçadores positivos
(evito situações que possam ser Sd para a
estimulação aversiva)
Predominância de sentimentos/pensamentos
aversivos
Restrição comportamental (em dois sentidos)
Aumento do potencial aversivo do estímulo e
generalização
Impedimento de autoconhecimento
Tolerância emocional
“Promove-se e amplia-se um repertório
para suportar o acesso aos eventos
privados evocados por estímulos aversivos
e permanecer em contato com eles sem a
apresentação de comportamentos de
fuga, esquiva ou confronto” (Cordova &
Kohlerberg, 1994)
Interessante para o aumento de
verbalizações como:

Autorrelato
Exposição de sentimentos
Acesso a eventos privados aversivos
Permissividade
Autoexposição a aversivos (tolerância
emocional)
Categorização
Importante operacionalizar as categorias
que serão analisadas
Categorização dos relatos verbais
do terapeuta
Solicitação de relato
Solicitação de relato encoberto
Solicitação de reflexão
Interpretação
Facilitação
Empatia
Aprovação
Silêncio
O procedimento terapêutico evoca
situações difíceis;
A AP considera 3 formas pelas quais pode-
se tornar mais fácil tolerar emoções
negativas:
1) Estimulo a auto-observação
2) Redução da culpa
3) Experienciação das respostas emocionais
em sessão
Bloqueio de Esquiva
“Esse procedimento envolve que o terapeuta
reapresente o estímulo aversivo, que foque nos
comportamentos de fuga/esquiva evidenciando
que o cliente está evitando o contato com as
emoções. Envolve, também, que se foque na
emoção do cliente relacionada à similaridade
funcional entre a terapia e a vida cotidiana e
emita recomendações para que ele observe seu
próprio comportamento no aqui e agora, assim
como observe o que está fazendo para impedir a
si mesmo de sentir.”
Relato de outros
T: Mas quando você fala não “sei se vale a
pena enfrentar”, você se refere a quê? (solicita
relato de encoberto mantendo o cliente em
contato com a estimulação aversiva)
 C: Não sei se vale a pena enfrentar esse
medo. (exposição de sentimentos) T: Ah,
entendo. (empatia)
 C: Ou se vale a pena... Se vale a pena ter
que lidar com isso... Na verdade, o que não tá
bom é a questão do trânsito [...]. (esquiva)
Autopromover
“Eu cheguei em um ponto de maturidade
profissional que o caminho é esse mesmo,
digamos assim, ou eu assumo um cargo
de liderança pra eu poder colocar em
prática aquilo que eu sei, que eu aprendi
[...]”
Confrontação/Oposição

“Eu andei pensando na discussão que a


gente tava [sic] fazendo e eu cheguei à
seguinte conclusão: de que... sobre essas
questões de poder e tal... na verdade não
tem muito a ver, sabe?”
Racionalizar
“Eu tinha os amigos, mas eu não tinha
muito como me locomover e ir a pé na [sic]
casa de um e na casa de outro, eu não
estava disposto... Agora, de carro, eu até
vou... Porque facilita.. Na verdade, eu não
vejo mais problema nisso, lógico, no
momento que eu tiver [sic] sozinho eu vou
pensar, mas eu acho que fica com os dias
contados essa questão de ficar sozinho
[...]”.
Racionalizar
Dar razões a seus comportamentos sem
correlatos emocionais com reflexões
baseadas em tatos distorcidos.

“O relato aversivo de uma relação funcional


pode ser reprimido através da comunicação
de uma relação fictícia”.
Skinner (1953/2003, p. 320)
Dissociação
C: É, corre rapidinho e eu não quero meu
nome associado a isso. (autorrelato)
T: E qual era a preocupação com a pedofilia?
(bloqueio de esquiva, mantendo o cliente sob
controle do estímulo aversivo; aprendizagem
de tolerância emocional)
 C: Hã? (dissocia)
 T: Qual que era a preocupação com a
pedofilia? (bloqueio – reapresenta o estímulo
aversivo)
Comportamentos de não esquiva
Autorrelato (com correlação emocional e tato);
Exposição de sentimentos (quando relata situações
aversivas e tolera os sentimentos produzidos);
Auto percepção (identificar comportamentos problema e
discriminar a possibilidade de melhora com a instalação
de comportamentos concorrentes);
Permissividade (tatear com a terapeuta sentimentos e
situações aversivas, permitindo as verbalizações e
interpretações do terapeuta sem resistência);
Verbalizações assertivas: discordar com coerência e se
posicionar diante das interpretações da terapeuta sem
função de esquiva.
Autorrelato
“Da pedofilia porque... Essa é uma
preocupação que eu vejo, eu via até
recentemente quando eu saí de lá, né...
Tinha uma vizinha que tinha uma filhinha
de uns 4 anos mais ou menos e uma
sobrinha que tinha uns 9 anos, e essa
menina gostava muito de conversar
comigo [...]”.
Permissividade
“É... Tenho dificuldade pra terminar
relacionamento”.
Exposição de sentimentos
“[...]
por ela eu pude fazer alguma coisa,
pelo meu irmão que se suicidou, não”.
Verbalizações assertivas
“Olha, com caráter sexual não, mas tem a
ver com a questão assim da proximidade
com as pessoas, então conforme eu vou
ficando mais próximo, vai diminuindo essa
ansiedade [...]”.
Autopercepção
“O que mudou... Mudou, assim, a forma
como eu estou olhando pras mulheres,
não tá sendo mais aquele olhar
penetrante, fixo... Essa questão da
insistência do olhar... Algumas pessoas
comentavam que eu tinha um olhar de
tarado [...]”.
Excerto de intervenção
C: Assim, a questão do próprio jeito, eu era muito diferente na
cidade... (autorrelato, a partir de verbalizações anteriores da
terapeuta com função de bloqueio de esquiva)
T: Será que é só em [cidade] que você se sentiu estranho,
[nome]? (Solicitação de relato de encoberto, dispondo
estímulos discriminativos para que o cliente possa tatear seus
eventos privados aversivos)
(cinco minutos de silêncio)
C: Olha na verdade é... Na verdade é sabe, nos outros lugares
não... Eu até... É, por exemplo, quando eu fui pra [outra
cidade] me adaptei muito bem lá... Na... Quando eu tava [sic]
no seminário, eu arrumei namorada lá e tudo e eu me adaptei
bem... (categoria resposta de esquiva de racionalizar)
T: Aham. (facilitação)
Excerto de intervenção
C: Em [outra cidade] eu demorei por falta de dinheiro e
também pelo meu próprio estilo, eu sou fechado mesmo,
até eu pegar amizade com o povo eu sou fechado mesmo.
(racionalização)
T: Aham. (facilitação)
C: Mas daí as coisas fluíram não como eu gostaria, mas
fluíram... (racionaliza)
T: E o que será que faz que você seja assim tão fechado?
(bloqueio de esquiva)
(cinco minutos de silêncio)
C: Hum? Acho que é medo de... É, é de... Não ser aceito
em um determinado grupo, é aquela velha história que,
que eu vou fazer, o que eu vou dizer, o que vão pensar de
mim... (autorrelato)
Resultados da pesquisa
Resultados da pesquisa
Resultados da pesquisa
Resultados da pesquisa
C: É então... Mas é como eu te disse lá no trabalho
(....) -> ESQUIVA
T: O que você sente e pensa quando eu faço
análises como essa?
C: Ah, eu acho também, eu entendo. -> ESQUIVA
T: Mesmo? Eu entendo que possa ser difícil
discordar de mim. Mas você pode, este espaço é
seu e eu não estou sempre certa sobre o que você
sente.
C: Acho que eu não me sinto mesmo a vontade...
Você é uma profissional.

RELATOS EM SESSÃO
T: Sim, eu sou. Mas é você quem esta
dentro de você. Você que continua com
você mesmo depois que sai por aquela
porta e sabe de tudo o que se passa na
sua vida. (pausa) Como você realmente
se sente sobre a análise que eu fiz agora
a pouco?
2ª sessão - Pai = juiz
Diversas sessões - Verbalizações do tipo: “eu vou
seguir o que você me recomendar”, “eu confio no seu
trabalho” sendo contradito por “eu cheguei ao cúmulo
de vir pedir ajudar pra uma menina”, “na semana
passada eu sai daqui e fiquei com uma raiva de você”,
“que que essa menina esta falando, pior que ela tá
certa?”,
8ª sessão - Minha esposa é minha juíza em casa.
Tenho juíza lá também.
Extremamente direto e sincero em quase todas as
relações, menos com os “juízes”.
C: Eu fiquei “puto” com aquelas coisas na hora.
T: Você já me relatou algumas vezes ter discordado de mim
na hora. (CITEI TODAS AS VEZES) Eu não consigo perceber
isso pelo seu comportamento.
C: É porque eu escondo.
T: Porque?
C: Porque.... Não sei... Por respeito?
T: Você já me descreveu que percebe seu pai como um
grande juiz na sua vida. Sua esposa também, é sua juíza em
casa, não é? Já discutimos sobre a sua relação com Deus ter
um pouco desse formato. Você se sente um pouco assim aqui
na terapia também?
C: Não! Não me sinto! -> ESQUIVA

Relato na 8ª sessão
C: Revelações sobre o casamento
C: “O que você acha? Você acha que eu devo ceder a essas
vontades? Assumir logo que eu gosto de viver assim?”
T: “Porque você me pede essas aprovações?”
C: “Quais?”
T: “Essa! Sobre o processo também, (...)”
C: “Porque... Porque eu quero saber se eu tenho seu aval, eu
acredito que você, por ser psicóloga, vai saber determinar se eu
estou certo, vai me dar o veredicto final! (risadas)”
T: “Como um juiz?” (séria)
C: “É... Sim, acho que sim” (sério)

Relato na 9ª sessão
Cuidados com o bloqueio de
esquiva
Em muitos casos as queixas trazidas pelos
clientes são produtos de uma exposição
excessiva a contingências punitivas, que geram
diversos efeitos colaterais;
Skinner sugere que a terapia deva se constituir
um ambiente de audiência não-punitiva,
estabelecendo-se um contexto diferente dos
demais. Assim, comportamentos que foram
suprimidos como resultado de uma historia de
punição começariam a aparecer em terapia
Audiência não-punitiva
“Particularmente, evita qualquer sinal de contra-
agressão quando o paciente de alguma maneira
critica-o ou ofende. O papel de não punir fica
mais claro, quando o terapeuta frequentemente
responde de modo incompatível com a punição
[...] o aparecimento do comportamento
previamente punido na presença de uma
audiência não-punitiva torna possível a extinção
de alguns efeitos da punição.”
(Skinner,1953/2003, p. 403-404)
Referência:
Gouveia, M. A.;Porfirio, F.; Silva, J. M. de;
Olcaxuk L.; Ingberman, Y. K.,
Procedimento de bloqueio de respostas de
esquiva e aumento da tolerância
emocional. Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva.
Vol. XIX nº 2 24-41. ISSN 1982-3541

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