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ESTUDO LABORATORIAL DO ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO

Determinação da atividade sérica da CK, da CK-MB e da LDH

2020/2021
QUÍMICA CLÍNICA II

Contextualização EAM, Epidemiologia


O QUE SÃO A CK, A CK-MB E A LDH

2 – PRINCÍPIO DO MÉTODO

1
Determinação da atividade da CK, CK-MB e LDH

3 – INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4 – CONCLUSÃO
QUÍMICA CLÍNICA II

1.1. Enfarte agudo do miocárdio (EAM)

As doenças cardiovasculares (DCV) representam a principal causa de morte e invalidez nos países industrializados, sendo
que a doença coronária isquémica está em primeiro lugar, e o acidente vascular cerebral (AVC) em segundo, na lista de
doenças que mais matam.

Em Portugal as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte (1).

O enfarte agudo do miocárdio (EAM) é a forma mais grave da doença cardíaca isquémica conhecida como síndrome
coronária aguda sendo a arteriosclerose a principal causa. Ocorre aquando de um desequilíbrio entre o suprimento e a
necessidade de oxigénio no músculo cardíaco, ou seja, no miocárdio, levando à necrose (2).
QUÍMICA CLÍNICA II

1.1. Enfarte agudo do miocárdio


Critérios de diagnóstico

O aparecimento de novos biomarcadores serológicos com maior sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de necrose
miocárdica, definidos pela European Society of Cardiology e pelo American College of Cardiology para a redefinição do EAM,
em 2000, estabelecem novos critérios de diagnóstico:
sintomas de isquemia do miocárdio;

a) Subida típica e descida gradual (troponina) aparecimento de ondas Q patológicas no ECG;


ou subida e descida mais rápidas (CK-MB) dos
marcadores bioquímicos de necrose
miocárdica com pelo menos um dos seguintes alterações isquémicas no ECG (supra ou
critérios: infradesnivelamento do segmento ST);

intervenção coronária.

b) Alterações histopatológicas de enfarte (2).


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1.2. Biomarcadores
Variados biomarcadores têm sido utilizados para monitorizar e avaliar a lesão e a disfunção miocárdica. A maioria são proteínas miocárdicas
que diferem na sua localização, cinética após a lesão e clearance, contudo, um biomarcador cardíaco, para ser considerado “ideal,” deve
apresentar as seguintes características:

- Cardioespecificidade e sensibilidade: deve ser sintetizado e libertado pelo coração e estar ausente no sangue de indivíduos sãos;

- Aparecer muito cedo na circulação, permitindo o reconhecimento/diagnóstico precoce de EM ou doentes em risco de vir a sofrer
um EM;

- Semi-vida suficientemente longa para permitir diagnósticos tardios;

- Apresentar aumentos correlacionados com o prognóstico;

- Doseamento através de um método adaptado à urgência: rápido e com resultados disponíveis em menos de 60 minutos,
reprodutível, padronizado e com boa sensibilidade e precisão analíticas;

- Não ser influenciado pelo funcionamento de outros órgãos, em particular, pelo rim (1).

Atualmente não existe um biomarcador ideal da lesão do miocárdio. No entanto, o marcador de escolha, o gold
standard, é a troponina cardíaca (3). Já os biomarcadores estudados em aula foram a CK, CK-MB e LDH.
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1.2. Biomarcadores
Creatina quinase (CK)

Dos biomarcadores estudados em aula, a CK é um marcador de necrose, pois encontra-se no interior das células dos
músculos esqueléticos e no cérebro, consequentemente, a sua concentração aumenta no sangue em caso de lesão dos
mesmos (2)(3).
Identificam-se três isoenzimas citosólicas (CK-3, CK-2, CK-1) e uma isoenzima mitocondrial (CK-MT) de CK. As enzimas
citosólicas são dímeros de duas subunidades, M e B.
A CK-1 (CK-BB) corresponde à forma dominante no cérebro e músculo liso, a CK-2 (CK-MB) é considerada isoenzima
cardíaca por estar unicamente presente no músculo cardíaco e a CK-3 (CK-MM) existe predominantemente em ambos os
músculos cardíaco e esquelético (2)(3).

Os valores deste marcador devem estar entre, no caso das mulheres, os 25 e 175 U/l e para os homens, entre 25 e 200
U/l.
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1.2. Biomarcadores
CK-MB e LDH

A CK-MB é a mais importante e específica, só aumenta a sua concentração no sangue em caso de lesão
do miocárdio. Sendo que o grau de elevação de CK-MB está relacionado com a extensão da lesão
miocárdica, e que a sua elevação não é significativa na angina do peito, por isso, este método acaba
por ser um bom auxiliar de diagnóstico em contexto de EAM.

Em relação aos valores de CK-MB, em condições normais, os seus níveis são inferiores a 5% da
atividade da CK total ou inferiores a 5 mg/L para ensaios da CK-MB massa (1).

A LDH tal como a CK, é pouco específica para as patologias do coração, mas contém uma fração mais
específica, a isoenzima-l da LDH (2)(3). Os seus valores encontram-se elevados em todas as situações
em que ocorre grande destruição celular, sendo que estes devem estar compreendidos entre os 225 e
450 U/l.
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1 - Contextualização EAM, Epidemiologia


O que são a CK, a CK-MB e a LDH

PRINCÍPIO DO MÉTODO
Determinação da atividade da CK, CK-MB e LDH

2
3 – INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4 – CONCLUSÃO
QUÍMICA CLÍNICA II

2.1. PRINCÍPIO DO MÉTODO


Determinação da atividade da CK

Para a determinação da atividade da CK recorreu-se a um método cinético otimizado, executado no analisador Prestige24i,
onde ocorrem as seguintes reações químicas:

Retirado da bula que acompanha o Kit para determinação da atividade da CK.

O método é considerado cinético uma vez que ao longo das reações, o analisador vai medindo a velocidade de variação de
absorvância a λ=340 nm, sendo que esta é diretamente proporcional à atividade da CK (4). Esta determinação da velocidade
de variação de absorvância é realizada através de espetrofotometria, sendo um método rápido e reprodutível.
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2.1. PRINCÍPIO DO MÉTODO


Espectofotometria

O método espectrofotométrico consiste na medição da intensidade de uma luz que atravessa uma amostra. Esta luz é emitida num
comprimento de onda específico e a capacidade de determinado analito absorver a luz que incide e a que acaba por transmitir – absorvância –
é medida, sendo que quanto maior o valor da absorvância, maior a concentração de analito presente na amostra e vice-versa – Lei de Lambert-
Beer (2). Este método pode apresentar algumas interferências como:

• a absorção da luz incidente por parte de outros compostos que não o analito em estudo;
• a dispersão da luz causada por partículas de sais e óxidos não voláteis;
• a transmissão de fundo (que pode ser filtrada eletronicamente);
• a viscosidade ou densidade da solução onde se encontra o analito em estudo;
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2.1. PRINCÍPIO DO MÉTODO


Determinação da atividade da CK-MB

Para determinar a atividade da CK-MB foi utilizado um método cinético otimizado, com uso de anticorpos contra a fração CK-
M. Estes anticorpos específicos contra a CK-M vão inibir a atividade completa da CK-MM (que é a parte principal da atividade
total da CK) e da subunidade CK-M da CK-MB. Por isso, somente a atividade da CK-B será medida.

A velocidade de variação da absorvância a λ=340 nm é diretamente proporcional a metade da atividade da CK-MB


(corresponde à atividade da subunidade B) (5).
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2.1. PRINCÍPIO DO MÉTODO


Determinação da atividade da LDH

Na determinação da atividade da LDH foi utilizado um método cinético


otimizado, sendo que a reação que ocorre aquando da análise pelo Prestige
24i é a seguinte:

A LDH catalisa a conversão de piruvato em lactato, convertendo o NADH em


NAD+. A velocidade de variação da absorvância a λ=340 nm é também
diretamente proporcional à atividade da LDH (6).
QUÍMICA CLÍNICA II

3
1 - Contextualização EAM, Epidemiologia
O que são a CK, a CK-MB e a LDH

2 – PRINCÍPIO DO MÉTODO
Determinação da atividade da CK, CK-MB e LDH

INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4 – CONCLUSÃO
QUÍMICA CLÍNICA II

3. Interpretação e discussão dos resultados


Resultados Obtidos

 Parâmetro CK: HN: 111,5 U/L  Parâmetro LDH: HN: 269,8 U/L
HP: 458,6 U/L HP: 747,2 U/L
Amostra 1: 250,2 U/L Amostra 1: 199,2 U/L
Amostra 2: 810,0 U/L Amostra 2: 440,1 U/L
Valores Referência: HN:[110-166] U/L
HP: [353-529] U/L Valores Referência: HN: [270-406] U/L
HP: [630-946] U/L

 Parâmetro CK-MB: HN: 154,3 U/L (Cormay CK-MB Control N91107)


HP: 139 U/L (Cormay CK-MB Control P910-07)
Amostra 1: 40,9 U/L
Amostra 2: 35,3 U/L

Valores Referência: HN: [28,8-43,2] U/L


HP: [111-167] U/L
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3.1. Validação do método

Primeiramente, os valores obtidos para os controlos normal e patológico da CK, foram, respetivamente:

o HN CK: 111,5 U/L , que está dentro do intervalo de referência de 110 a 166 U/L (7);

o HP CK: 458,6 U/L está, também, dentro do intervalo de referência de 353 a 529 U/L (8);

O método pode ser validado para este parâmetro.

Em segundo lugar, os valores obtidos para os controlos normal e patológico da CK-MB, foram, respetivamente:

o HN CK-MB: 154,3 U/L , que está fora do intervalo de referência de 28,8 a 43,2 U/L;

o HP CK-MB: 112,1 U/L, que está dentro do intervalo de referência de 111 a 167 U/L;

O método não pode ser validado para este parâmetro.


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3.1. Validação do método

Por último, os valores obtidos para os controlos normal e patológico da LDH, foram,
respetivamente:

o HN LDH: 269,8 U/L , que está dentro do intervalo de 270 a 406 U/L (7);

o HP LDH: 747,2 U/L , que está, também, dentro do intervalo de referência de 630 a 946
U/L (8).

o O método pode ser validado para este parâmetro.


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3.2. Creatina quinase (CK)

Quanto á amostra 1, o valor de CK foi de 250,2 U/L. Dado que o valor


ótimo seria, no caso das mulheres, entre 25 e 175 U/l e para os homens,
entre 25 e 200 U/l, podemos afirmar que este parâmetro se encontra
aumentado.

Por outro lado, na amostra 2, obtivemos um valor de CK de 810,0 U/L. E,


tendo em conta os valores de referência já referidos, concluímos que este
valor se encontra muito aumentado.
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3.3. Lactato desidrogenase (LDH)

No caso do valor de LDH, 199,2 U/L, uma vez que, para um adulto, o
valor de referência seria entre 225 e 450 U/l, podemos afirmar que este
parâmetro se encontra um pouco abaixo do ótimo.

Por fim, no caso do valor de LDH, 440,1 U/L, comparando com os


valores de referência já citados, podemos afirmar que este valor se
encontra dentro dos parâmetros .
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3.4. Significado clínico-laboratorial

Paciente 1 – amostra 1 :

Deste modo, quanto ao paciente do qual se obteve a amostra 1, podemos tirar algumas
conclusões.
o O facto de o valor de CK estar aumentado, pode indicar lesão muscular na musculatura
estriada, coração e cérebro. No entanto, vale notar que este parâmetro é sensível, mas
inespecífico quanto á lesão muscular.
o Quanto ao valor de LDH, este está um pouco abaixo do intervalo de referência, este
acontecimento pode afetar a forma como o organismo degrada os açúcares, afetando a
obtenção de energia para as células musculares (principalmente). Este fenómeno é
relativamente raro e pode dever-se a mutações genéticas ou ao elevado consumo de
ácido ascórbico (vitamina C)(9).
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3.4. Significado clínico-laboratorial

Paciente 2 – amostra 2 :

Deste modo, quanto ao paciente do qual se obteve a amostra 2:


o Podemos referir que estamos perante uma lesão nas fibras
musculares, seja na musculatura estriada, coração ou cérebro.
Contudo, apesar de sabermos que o doente não está saudável, este
parâmetro acaba por ser demasiado inespecífico para inferirmos sobre
a origem da lesão.
o Por último, o valor de LDH deste paciente encontra-se dentro do
valores recomendados, pelo que não nos fornece nenhuma
informação adicional sobre este caso.
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1 - Contextualização EAM, Epidemiologia


O que são a CK, a CK-MB e a LDH

4
2 – PRINCÍPIO DO MÉTODO
Determinação da atividade da CK, CK-MB e LDH

3 - INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

CONCLUSÃO
QUÍMICA CLÍNICA II

4 - CONCLUSÃO

Pudemos entender, em contexto prático, os princípios do método inerentes ao doseamento dos analitos em estudo.
Aperfeiçoamos as nossas habilidades técnicas e de manipulação de reagentes e equipamentos no laboratório de
química clínica, assim como aprofundamos os nossos conhecimentos acerca do Prestige 24i.

Contudo, passamos por alguns percalços na quantificação da CK-MB. Uma vez que não conseguimos validar o método
para a análise deste parâmetro, não nos foi possível inferir sobre a significância clínica da CK-MB no quadro clínico dos
pacientes. Este acontecimento, afetou o nosso diagnóstico dos doentes, assim como a nossa interpretação dos valores
das suas análises.

Por fim, apesar de não nos ter sido possível fazer uma análise exaustiva aos parâmetros
que estão na base de um enfarte agudo do miocárdio (EAM), cabe-nos também a nós
incentivar a mudança de estilo de vida para evitar este tipo de patologia.
A mudança de hábitos alimentares, associada à prática de exercício físico é essencial na
prevenção do EAM e é um fator determinante na qualidade de vida de um indivíduo
após sofrer um enfarte agudo do miocárdio.
QUÍMICA CLÍNICA II

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Algarve UDO. Biomarcadores Cardíacos no Diagnóstico da Síndrome Coronária Aguda. 2014;

2. Jung K. Tietz Fundamentals of Clinical Chemistry, 6th edition. Carl A. Burtis, Edward R. Ashwood, and David E. Bruns, editors. St Louis,
MO: Saunders/Elsevier, 2008, 976 pp, $96.95. ISBN 978-0-7216-3865-2. Vol. 54, Clinical Chemistry. 2008. p. 1933–1933.Cormay.
PRESTIGE 24i LQ CK. 2003;48(0):751.

3. Marshall WJ, Frcp BS, Frcp F, Frsc E, Fls F, Lapsley M, et al. BIOQUÍMICA CLÍNICA Aspectos clínicos e metabólicos TERCEIRA EDIÇÃO
EDITADA POR [Internet]. Elsevier; 2016. Available from: www.loope.com.br

4. Jung K. Tietz Fundamentals of Clinical Chemistry, 6th edition. Carl A. Burtis, Edward R. Ashwood, and David E. Bruns, editors. St Louis,
MO: Saunders/Elsevier, 2008, 976 pp, $96.95. ISBN 978-0-7216-3865-2. Vol. 54, Clinical Chemistry. 2008. p. 1933–1933.

5. CORMAY. PRESTIGE 24i LQ CK-MB CK-MB FRACTION ACTIVITY. 2008;20(4):427.

6. Cormay. PRESTIGE 24i LQ LDH. 2003;999:7–8.

7. CORMAY. CORMAY SERUM HN Cat. No/Nr kat.: 5-172 Lot/Seria: 911-08 Exp./Data waż.: 2022-07. In.

8. CORMAY. CORMAY SERUM HP Cat. No/Nr kat.: 5-173 Lot/Seria: 911-08 Exp./Data waż.: 2022-07. In.

9. Healthline. HEALTHLINE [Internet]. Available from: https://www.healthline.com/health/lactate-dehydrogenase-test

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