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Serviço Público Federal

Campus Universitário do Marajó - Breves


Faculdade de Linguagem
Disciplina:Literatura Brasileira Contemporânea
III

Professor ESP. JOÃO PAULO M. GONÇALVES


• A Ditadura Militar no Brasil
• (1964-1985)
Influências ...
Oswald de Andrade
• Oswald vai assumir uma postura radicalmente crítica perante a
cultura brasileira. Lança mão da paródia, da blague, do riso, da
anarquia para realizar a "canibalização" cultural das nossas
fontes primitivas reprimidas (Tupy or not tupy, that is the
question) e das experiências e informações estrangeiras. A
intenção oswaldiana é clara: deglutir a informação que vem de
fora e devolver um produto novo e acabado, brasileiro.

• Nada de "macumba para turista", como Oswald se referia aos


produtos culturais que nada mais eram do que a matéria-prima
bruta exportada pelo Brasil.

• E é, pois, com esse mesmo espírito de "canibalismo" cultural,


deglutindo informações tão díspares como a música pop e o
samba, que o Tropicalismo vai produzir suas canções e marcar,
de forma original, sua presença no cenário cultural brasileiro.
Bossa Nova

• Inicialmente influenciada pelo jazz, bebop e cool


jazz, a bossa nova, com a explosão internacional
no início dos anos 60, passa a influenciadora da
música americana, impondo-se e constituindo,
assim, um caso típico do "canibalismo cultural"
pensado pela antropofagia de Oswald de Andrade.

• E é com os olhos postos na bossa nova, o ouvido


colado na voz e violão de João Gilberto que
Caetano Veloso propõe, em maio de 1966, a
"retomada da linha evolutiva" da música
brasileira, linha evolutiva essa que vai desaguar,
logo a seguir, no Tropicalismo.
Carmem Miranda
• Com suas vestes de baiana estilizada e o
arranjo de frutas tropicais que carregava na
cabeça, marcas definitivas de sua imagem,
Carmen Miranda, a "Pequena Notável",
acabou por expor ao mundo uma visão
caricata e estereotipada do Brasil, o que
despertou na intelectualidade brasileira certo
sentimento de desprezo por sua figura. E é
menos por sua importância musical na cena
brasileira e mais pela vinculação a essa
imagem estereotipada do Brasil que Carmen
Miranda viria a ser assumida como um dos
ícones tropicalistas, estando presente seja
em letras de canções tropicalistas (como
Tropicália, de Caetano Veloso), seja na
imitação dos trejeitos da artista - o torcer das
mãos e o revirar dos olhos - com que
Caetano Veloso por mais de uma vez
brindou/provocou a platéia.
Chacrinha
• Chacrinha - "uma experiência dadá de
massas que às vezes parecia
perigoso por ser tão absurdo e tão
energético", no dizer de Caetano
Veloso - despertou a atenção de
estudiosos da comunicação como o
pensador francês Edgar Morin.
Assumido pelo Tropicalismo como
uma espécie de símbolo pop, foi
homenageado por Gilberto Gil em seu
samba de despedida Aquele Abraço,
na partida para o exílio londrino.
Indagado sobre o que pensava do
Tropicalismo, Chacrinha respondeu:
"Sou tropicalista há mais de vinte
anos. O que acontece é que antes a
imprensa me chamava de débil
mental, de maluco, de grosso".
Carnaval
• Oswald de Andrade
chamou o carnaval
de "religião da raça
brasileira". Caetano
Veloso viu nele "um
exemplo de
solução estética" e
de "saúde criativa"
do povo brasileiro.
Jovem Guarda
• Nome do programa musical estreado em
1965, na paulista TV Record, pelos artistas
da chamada "geração iê-iê-iê" que reunia,
entre outros, Roberto Carlos, Erasmo Carlos
e Wanderléa.

• Suas canções e guitarras elétricas despertam


a atenção dos tropicalistas e são o primeiro
passo do movimento na direção da música
pop internacional. Augusto de Campos
chama a atenção para o fato de, mesmo
cantando rock'n'roll, Roberto Carlos e Erasmo
Carlos estarem muito mais próximos do estilo
de cantar inaugurado por João Gilberto do
que os novos bossa-novistas como Elis
Regina ou os cantores de protesto como
Geraldo Vandré.
Poesia Concreta
Movimento de vanguarda surgido
na segunda metade dos anos 50
questionando a forma tradicional
da poesia estruturada em rimas e
métricas, decretando o fim do
verso e propondo substituí-lo por
estruturas baseadas na disposição
espacial das palavras em
alinhamentos geométricos.

O concretismo resgata e radicaliza propostas anteriores que


percorreram difusamente os movimentos de vanguarda do início
do século, particularmente o futurismo e o dadaísmo. O mote dos
concretistas é o dístico do poeta russo do começo do século,
Maiakóvski: "Sem forma revolucionária não há arte
revolucionária". Suas principais influências são Mallarmé, James
Joyce, Maiakóvski, Ezra Pound, e.e. cummings, João Cabral de
Melo Neto e Oswald de Andrade.
Pop Arte
• Movimento surgido nas artes
plásticas norte-americanas, no fim
dos anos 50, numa crítica radical à
clássica separação existente entre
obra de arte e objeto de consumo.
Artistas como Andy Warhol,
decidem romper com a idéia da
"pureza" da obra de arte,
compreendendo que, numa
sociedade em que tudo se
transforma em mercadoria, a
própria obra de arte vira um objeto
de consumo, uma mercadoria.
Na música, a atitude pop vai encontrar seu equivalente no
rock'n'roll, com suas guitarras elétricas, suas experimentações
artísticas, a busca de novas linguagens poéticas e a
performance de seus artistas. Pela via musical a pop art chega
aos tropicalistas por meio dos Beatles e de Roberto Carlos e a
jovem guarda.
• A inspiração trazida pela pop art constitui
um dos elementos decisivos para o
surgimento do Tropicalismo. O Tropicalismo,
portanto, é pop. É pop quando supera as
falsas dicotomias do tipo "cultura nacional x
cultura internacional" e "arte engajada x arte
alienada" que mobilizavam a intelectualidade
brasileira de então. É pop porque incorpora
criativamente símbolos e signos da
modernidade urbano-industrial do país,
misturando produtos típicos da indústria
cultural com os materiais das tradições
nacionais.
Reportagens
• CAETANO VELOSO
É VÍTIMA DO
TROPICALISMO
Vaiado e agredido no
Teatro da
Universidade Católica,
o cantor Caetano
Veloso recusou-se a
defender É Proibido
Proibir, uma das seis
músicas classificadas
para representar São
Paulo na fase nacional
do Festival da Canção
, no Rio.
GIL ESPERA
TRANQÜILO
OUTRA VAIA

Gilberto Gil sabe que


poderá levar outra
vaia na sexta-feira,
no Teatro
Paramount, quando
apresentar sua
música Domingo no
Parque,
acompanhado de
guitarras elétricas,
consideradas como
uma heresia entre os
defensores radicais
da música popular
brasileira de raiz.
DEPOIS DA FESTA, UMA
CEIA DE BANANAS E
ABACAXIS
Ramos de coqueiros
enfeitavam o salão. Por todas
as paredes muitas faixas com
frases, algumas incompletas.
Mais de 2.000 pessoas
estavam na gafieira Som de
Cristal para ver a festa e o
programa de Gilberto Gil e
Caetano Veloso. Nara Leão,
Maria Bethânia, Dalva de
Oliveira, Dircinha e Linda
Batista também estavam lá. A
festa tropicalista começou à 1
hora e foi até as 4 da manhã.
Depois eles foram cear.
• 1. Miserere Nobis

Discografia (Gilberto Gil & Capinan)


2. Coração Materno
(Vicente Celestino)
TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENCIS
3. Panis et Circensis
Philips - 1968 (Caetano Veloso & Gilberto Gil)
4. Lindonéia
(Caetano Veloso & Gilberto Gil)
5. Parque Industrial
(Tom Zé)
6. Geléia Geral
(Gilberto Gil & Torquato Neto)
7. Baby
(Caetano Veloso)
8. Três Caravelas (Las tres carabelas)
(A.Algueró Jr./G.Moreu versão: João de
Barro)
9. Enquanto Seu Lobo Não Vem
(Caetano Veloso)
10. Mamãe Coragem
(Caetano Veloso & Torquato Neto)
11. Bat Macumba
(Gilberto Gil & Caetano Veloso)
12. Hino do Senhor do Bonfim
(João Antonio Wanderley)
• 1. Tropicália
(Caetano Veloso)

CAETANO VELOSO 2. Clarice


(Caetano Veloso & Capinan)
Philips - 1968
3. No Dia em que Eu Vim-me Embora
(Caetano Veloso & Gilberto Gil)
4. Alegria, Alegria
(Caetano Veloso)
5. Onde Andarás
(Caetano Veloso & Ferreira Gullar)
6. Anunciação
(Caetano Veloso & Rogério Duarte)
7. Superbacana
(Caetano Veloso)
8. Paisagem Útil
(Caetano Veloso)
9. Clara
(Caetano Veloso)
10. Soy Loco por Ti, América
(Gilberto Gil & Capinan)
11. Ave Maria
(Caetano Veloso)
12. Eles
(Caetano Veloso & Gilberto Gil)
• 1. Frevo Rasgado
(Gilberto Gil & Bruno Ferreira)
2. Coragem pra Suportar
GILBERTO GIL (Gilberto Gil)
Philips - 1968
3. Domingou
(Gilberto Gil & Torquato Neto)
4. Marginália II
(Gilberto Gil & Torquato Neto)
5. Pega a Voga, Cabeludo
(Gilberto Gil & Juan Arcon)
6. Ele Falava Nisso Todo Dia
(Gilberto Gil)
7. Procissão
(Gilberto Gi)l
8. Luzia Luluza
(Gilberto Gil)
9. Pé da Roseira
Gilberto Gil
10. Domingo no Parque
Gilberto Gil
• 1. Panis et Circencis
Letra de Caetano Veloso - Música
de Gilberto Gil
OS MUTANTES 2. A Minha Menina
Polydor - 1968 ( Jorge Ben)
3. O Relógio
( Os Mutantes)
4. Adeus Maria Fulô
( Humberto Teixeira / Sivuca)
5. Baby
( Caetano Veloso)
6. Senhor F
( Os Mutantes)
7. Bat Macumba
( Gilberto Gil / Caetano Veloso)
8. Le Premier Bonheur du Jour
( Jean Renard / Frank Gerald)
9. Trem Fantasma
( Caetano Veloso / Os Mutantes)
10. Tempo no Tempo
( J. Phillis / versão: Os Mutantes )
• 1.São São Paulo
(Tom Zé)
2. Curso Intensivo de Boas Maneiras
(Tom Zé)
TOM ZÉ
Rozenblit - 1968 3. Glória
(Tom Zé)
4. Namoradinho de Portão
(Tom Zé)
5. Catecismo, Creme Dental e Eu
(Tom Zé)
6. Camelô
(Tom Zé)
7. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
(Tom Zé)
8. Profissão de Ladrão
(Tom Zé)
9. Sem Estrada e Sem Mais Nada
(Tom Zé)
10. Parque Industrial
(Tom Zé)
11. Quero Sambar, Meu Bem
(Tom Zé)
12. Sabor de Burrice
(Tom Zé)
• 1. Não Identificado
(Caetano Veloso)
2. Sebastiana
(Rosil Cavalcanti)
GAL COSTA
Philips - 1969 3. Lost in the Paradise
( Caetano Veloso)
4. Namorinho de Portão
( Tom Zé )
5. Saudosismo
(Caetano Veloso)
6. Se Você Pensa
(Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
7. Vou Recomeçar
(Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
8. Divino, Maravilhoso
( Gilberto Gil - Caetano Veloso)
9. Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim)
( Jorge Ben)
10. Baby
( Caetano Veloso)
11. A Coisa Mais Linda que Existe (Gilberto
Gil - Torquato Neto)
12. Deus é o Maior
(Jorge Ben)
1. Bat Macumba - Gilberto Gil
2. Minha Menina - Os Mutantes
3. Tuareg - Gal Costa

Raridade !!! 4. Domingo No Parque - Gilberto Gil, Os Mutantes

5. Alfômega - Caetano Veloso


6. Sebastina - Gal Costa
7. Procissão - Gilberto Gil
8. Irene - Caetano Veloso
9. Ave Genghis Khan - Os Mutantes

10. Take It Easy, My Brother Charles - Jorge Ben

11. Jimmy, Renda-Se


12. Ando Meio Desligado - Os Mutantes
13. Tropicália - Caetano Veloso
14. Quero Sambal Meu Bem
15. Vou Recomeçar - Gal Costa
16. Panis et Circenses - Os Mutantes
17. Gloria
18. Quem Tem Medo de Brincar de Amor - Os
Mutantes
19. Lost in Paradise - Caetano Veloso
20. Bat Macumba - Os Mutantes
Moda Tropicalista
Músicas
É PROIBIDO PROIBIR
(Caetano Veloso)
Intérprete: Caetano Veloso
A mãe da virgem diz que não E o anúncio da televisão
E estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
A além da porta há o porteiro
Sim
E eu digo não
E eu digo não ao não
E eu digo é proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
Ao ser vaiado na apresentação da canção de sua autoria É
Proibido Proibir... Caetano Veloso improvisa aos gritos,
um marcante discurso contra o Júri e a platéia
presentes na eliminatória do III FIC:

"Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o


poder! Vocês têm coragem de aplaudir este ano uma
música que vocês não teriam coragem de aplaudir no
ano passado! São a mesma juventude que vai sempre,
sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu
ontem... Vocês não estão entendendo nada, nada, nada.
Absolutamente nada!... O problema é o seguinte: estão
querendo policiar a música brasileira. Mas eu e o Gil já
abrimos caminho... Não fingimos aqui que
desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém
nunca me ouviu falar assim, entendeu? Só queria dizer
isso, baby, sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos
coragem de enfrentar em todas as estruturas e sair de
todas. E vocês? E vocês? Se vocês em política forem
como em estética, estamos feitos!" (Caetano
Veloso/Setembro de 1968)
• Tropicália
• Composição: Caetano Veloso

Sobre a cabeça os aviões


Sob os meus pés, os caminhões
Aponta contra os chapadões, meu nariz

Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país

Viva a bossa, sa, sa


Viva a palhoça, ça, ça, ça, ça
• O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga,
Estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente,
Feia e morta,
Estende a mão
Viva a mata, ta, ta
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta

• No pátio interno há uma piscina


Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina
E faróis
• Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis
Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança a um samba de tamborim
Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele pões os olhos grandes sobre mim
Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
• Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém, o monumento
É bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Viva a banda, da, da
Carmen Miranda, da, da, da, da
Panis Et Circenses
Composição: Caetano Veloso

Eu quis cantar Mandei plantar


Minha canção iluminada de sol Folhas de sonho no jardim do
Soltei os panos sobre os mastros no ar solar
Soltei os tigres e leões nos quintais
Mas as pessoas da sala de jantar As folhas sabem procurar pelo sol
São ocupadas em nascer e morrer E as raízes, procurar, procurar
Mas as pessoas da sala de jantar
Mandei fazer Essas pessoas da sala de jantar
De puro aço luminoso punhal São as pessoas da sala de jantar
Para matar o meu amor e matei
Às 5 horas na Avenida Central Mas as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar São ocupadas em nascer e
São ocupadas em nascer e morrer morrer
• Bat Macumba – Mutantes - Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil
• bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba o
bat macumba ê ê, bat macumba
bat macumba ê ê, bat macum
bat macumba ê ê, batman
bat macumba ê ê, bat
bat macumba ê ê, ba
bat macumba ê ê
bat macumba ê
bat macumba
bat macum
batman
bat
ba
bat
bat ma
bat macum
bat macumba
bat macumba ê
bat macumba ê ê
bat macumba ê ê, ba
bat macumba ê ê, bat
bat macumba ê ê, batman
bat macumba ê ê, bat macum
bat macumba ê ê, bat macumba
bat macumba ê ê, bat macumba o
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles

a) uma herdeira de Clarice Lispector: revalorização do


intimismo feminino; o universo introspectivo da
mulher (ou dos homens); porém, em Lygia o mundo é
mais real e palpável ou absolutamente fantástico.

b) tema das relações humanas: as crises familiares e


afetivas (valores burgueses, casamentos, falsa moral).

c) afirmação ou crise da individualidade

d) linguagem dinâmica: ora poética ora despojada


Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles

Os objetos
tema: desgaste afetivo entre marido e mulher
a) Miguel e Lorena, marido e mulher, conversam: ela faz um colar; ele
tem uma teoria sobre os objetos:
“– Veja, Lorena, aqui na mesa este anjinho vale tanto quanto o peso de papel
sem papel ou aquele cinzeiro sem cinza, quer dizer, não tem sentido nenhum.
Quando olhamos para as coisas, quando tocamos nelas é que começam a viver
como nós, muito mais importantes do que nós, porque continuam. O cinzeiro
recebe cinza e fica cinzeiro, o vidro pisa o papel e se impõe, esse colar que
você está enfiando... É um colar ou um terço?”

b) Objetos sem atenção = sem existência: Lorena não o ama mais.


c) A adaga: relembram uma viagem que fizeram juntos ao Oriente.
d) O exame da “bola de cristal” na qual se vê como doido.
e) Ele a convida para tomar chá com biscoitos.
f) Acabaram-se os biscoitos, ele sai para buscar mais.
g) Enquanto ela prepara o chá, ele pega o elevador levando a adaga.
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles
O moço do saxofone
tema: o absurdo das relações humanas
a) O narrador, chofer de caminhão, pensão de uma polaca (de
artistas), conheceu James, sujeito que engolia giletes.
b) Insuportável era o som do moço do saxofone; segundo James:
“– O pobre fica o dia inteiro trancado, ensaiando. Não desce nem para
comer. Enquanto isso, a cabra se deita com tudo quanto é cristão que
aparece.”
c) A lógica do saxofone: mal a mulher subia as escadas com algum
homem, o saxofone começava.
d) Combina encontro: o moço do saxofone lhe indica a porta ao lado.
e) O narrador oferece cigarro e se revolta:
– E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá
uma boa sova, não lhe chuta com mala e tudo no meio da rua? Se fosse
comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me
metendo, mas quer dizer que você não faz nada?
– Eu toco saxofone.”
f) No quarto da mulher, o narrador broxa quando o saxofone começa a
tocar.
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles

A chave
tema: relacionamento com abismo de idade
a) Magô, 31 anos mais nova, aguarda Tomás (janta com Renata e Fernando).
b) Magô e as pernas sólidas de 28 anos; Tomás, 59, está com frio, sono e
irritado com a vivacidade de Magô.
c) Tomás lembra da esposa Francisca, que aceitara a velhice sem reagir:
vestia-se antiquadamente, não se maquiava, ficava jogando paciência.
d) Lembra-se, 10 anos antes, da crise com o pai de Magô.
e) Receio do tal músico Fernando (o Freddy, segundo Magô).
f) Crise com Magô: que se arrumasse, senão parecia um velho X era velho
g) Lembrou a crise com Francisca: a esposa sugeriu que Tomás saísse
sozinho, “como uma mãe olha para o filho antes de lhe entregar a chave da
porta”. Foi quando ele conheceu Magô.
h) Tudo se repete: Tomás sugere que Magô vá sozinha.
i) Tomás se deita: imagina a música de Fernando subindo pelas pernas de
Magô; dançarina e músico pousam na mesa; abre-se um baralho de cartas.
Francisca joga paciência. Tomás deita a cabeça no colo de Francisca,
entregando-lhe a “chave”.
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles

Um chá bem forte e três xícaras


tema: crise afetiva entre marido e mulher

a) Maria Camila, diante da empregada Matilde, observa uma borboleta


amarela que suga uma rosa vermelha que já se decompõe.

b) A mesa está arrumada à espera de uma moça, estagiária do marido.


Toda a atmosfera é de decadência: o dia, já rosado; a rosa, que vai
perdendo pétalas; o avental da empregada, sem um botão; a
imagem de Maria Camila, mulher “sem cor” que se sente gripada.

c) A exceção é a borboleta, “jovem”, de asas “intactas”, a sugar a rosa


com furor, de modo quase obsceno.

d) Quase à hora da visita, Maria Camila pede a Matilde que prepare a


mesa do chá com três xícaras. Prevenia-se caso o marido
aparecesse.
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles

A ceia
tema: crise afetiva entre homem e mulher (com
diferença acentuada de idade)
a) Restaurante modesto, quase vazio, mesa sob as árvores: Alice
disse a Eduardo que precisavam se ver de vez em quando (15 anos
de relação).
b) Alice pede que ele esqueça a cena que ela fizera, quebrando o copo
de vinho na mão.
c) Alice insiste em vê-lo, para se acostumar com a separação: ele
casará com Olívia.
d) Tomam vinho e comem pão; apesar da cozinha ter fechado, pedem
bifes. Eduardo reforça seu desejo: separar-se educadamente.
e) A atmosfera de decadência: o bar vazio, o escuro, a fonte sem água.
f) Os bifes não vêm, e Alice pede que Eduardo vá embora sozinho.
g) Antes de ela sair, o garçom pergunta se está bem, e ela informa que
tiveram uma discussão. Ele diz que, quando discutia com sua mãe,
também ficava chateado.
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles
Venha ver o pôr-do-sol
tema: paixão e vingança
a) Ricardo, no topo de uma ladeira, esperava Raquel. Ela viera vestida
elegantemente. Ele precisava vê-la bela, ainda uma vez.

b) Ela havia prometido fazer-lhe companhia num fim de tarde, mas não
gostava do lugar - um cemitério abandonado.

c) O plano de Ricardo: ver, com Raquel, o pôr-do-sol mais lindo do


mundo.

d) Ela temia o namorado, mas Ricardo insistira muito: num cemitério


abandonado, não corriam risco algum de serem vistos.

e) Raquel, angustiada, foi levada por Ricardo a conhecer seus


parentes ali enterrados. f) Enganando-a, ele a prende num jazigo e
lentamente sai do cemitério: lá fora, crianças brincam na alameda, e
é impossível escutar qualquer grito. O sol se põe.
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles

Eu era mudo e só
tema: crise afetiva
a) Enquanto a esposa Fernanda lê, Manuel pensa em voz alta: ela é a
esposa ideal, mãe de sua filha, sempre pronta a buscar aspirina se
o marido tem dor de cabeça; já é quase capaz de adivinhar-lhe os
pensamentos, e isso o sufoca.
b) Fernanda é poetisa, só lê os franceses e corrige tudo o que falam.
Na casa tudo combina.
c) Manuel lembra que casou com a filha do senador e foi quase que
obrigado a largar a carreira de jornalista para ser sócio do senador-
sogro, vendendo máquinas agrícolas que odeia.
d) Uma imaginação: a mulher e a casa viram um cartão-postal, e
Manuel está livre, e vai fugir num navio sob as estrelas iluminadas.
e) Mas Fernanda pede que ele feche as janelas da casa, que já chegou
o inverno.
f) Manuel percebe que faz parte do postal e que, através das vidraças,
as estrelas estão muito distantes.
Antes do Baile Verde, Lygia Fagundes Telles

As pérolas
tema: crise afetiva entre marido e mulher
a) Lavínia se prepara para uma reunião chata; o marido Tomás nota,
pelo espelho, que ela ainda é bonita.
b) Surgem-lhe ciúmes de um certo Roberto, que estaria na reunião.
c) Tomás está doente, sente-se à beira da morte e imagina-se traído.
d) Lembra-se de 10 anos antes, dias que antecediam ao casamento: o
quanto o colar de pérolas (falsas, rosadas) haviam chamado a
atenção de Roberto. Ela colocava o mesmo colar para a reunião.
e) Cogitando levar-lhe grampos, Tomás esconde o colar no bolso.
Lavínia o procura em vão.
f) Lavínia decide ir, sob as promessas de Tomás, que afirmava um dia
lhe dar colar verdadeiro.
g) Sozinho, Tomás sente ter tirado alguma coisa do "casal" Roberto-
Lavínia. Seriam as mesmas circunstâncias, o mesmo vestido. Mas
não haveria colar.
h) Antes que Lavínia sumisse, Tomás lhe gritou que achara o colar.
CAIO FERNADES DE ABREU
VIDA E OBRA

Caio Fernando Abreu nasceu em


Santiago, no Rio Grande do Sul, em
1948, e morreu em Porto Alegre, em
1996. É considerado um dos
grandes contistas brasileiros.
Escreveu, entre outros livros,
Morangos mofados, Triângulo das
águas, Onde andará Dulce Veiga,
Pedras de Calcutá, Os dragões não
conhecem o paraíso, Inventário do
irremediável, Fragmentos e O ovo
apunhalado (os dois últimos
publicados na coleção L&PM
POCKET). Ganhou os prêmios
Jabuti de 1984 e 1989.
CONTEXTO HISTÓRICO

 PÓS- DITADURA

 REPRESSÃO,

 VIOLÊNCIA

 CENSURA

 ANGUSTIA
Corpo, memória e AIDS na obra de Caio
Fernando Abreu

A obra de Caio Fernando Abreu


projeta no texto escrito
mapeamentos subjetivos e
ficcionais. Morte memória são
retratados na escrita do autor. A
presença da temática da
homoafetividade, o humor campe
queer e o tom confessional
presentes nos contos, romances e
crônicas de Caio geram espaços de
intimidade entre o escritor e o leito
UM DOS PRINCIPAIS CONTOS:
“MORANGOS MOFADOS”

"Morangos Mofados" trata da fineza


de estilo, a agudeza e a percepção
de Caio Fernando Abreu para tratar
da essência, do que há de mais
profundo no ser humano. A busca, a
dor, o fracasso, o encontro, o amor e
a esperança vão se delineando
nessa série de contos que se
entrelaçam quase como se fossem
um romance. Morangos Mofados foi
o maior sucesso de Caio, que lançou
11 livros e foi traduzido para
diversas línguas.
ANALISE DO CONTO

“Morangos mofados” é o livro que proporcionou a Caio Fernando


Abreu reconhecimento nacional e notoriedade pela escritura de
narrativas curtas. Sendo constituída por dezoito contos distribuídos
em três partes, “O mofo”, “Os morangos” e “Morangos mofados”,
formado pelo conto de título homônimo, a obra assinala um
movimento inquietante diante de um contexto em que a repressão é
constante. É nesse sentido que Letíciada Costa Chaplin assinala que
“os personagens que se sobressaem nos contos de Caio vivem o
grande sofrimento da consciência impotente, isto é, suas
personagens falam do diferente, do excêntrico, daquilo que não
segue a linha de pensamento da maioria da sociedade”
Os sobreviventes, que no
encadeamento geral dos contos do livro
é um dos principais contos do livro
Morangos Mofados, representa toda
uma geração que saiu do desbunde
lisérgico da contracultura com aquele
gosto amargo, angustiantemente azedo,
dos morangos de "Strawberry Fields"
(música dos Beatles) na garganta,
agora já esverdeados de podres, e que
não conseguiam cuspi-los, nem os
engolir de forma alguma. Morangos
Mofados, nesse sentido, se caracteriza
por ser ao mesmo tempo um balanço
desse percurso e um rompimento com
elementos que nele se fizeram
presentes.
Tô me afastando de tudo que me atrasa, me
engana, me segura e me retém. Tô me
aproximando de tudo que me faz completo,
me faz feliz e que me quer bem. Tô
aproveitando tudo de bom que essa nossa
vida tem. Tô me dedicando de verdade pra
agradar um outro alguém. Tô trazendo pra
perto de mim quem eu gosto e quem gosta
de mim também. Ultimamente eu só tô
querendo ver o ‘bom’ que todo mundo tem.
Relaxa, respira, se irritar é bom pra quem?
Supera, suporta, entenda: isento de
problemas eu não conheço ninguém. Queira
viver, viver melhor, viver sorrindo e até os
cem. Tô feliz, tô despreocupado, com a vida
eu tô de bem.
Caio Fernando Abreu

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