Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
• Incoerência e preconceitos envolvidos nos usos das noções de norma padrão e norma
culta.
• Segundo os PCN, o ensino da língua portuguesa na escola deve oferecer condições para
que o aluno desenvolva seus conhecimentos, sabendo:
1. Ler e escrever conforme seus propósitos e demandas sociais. (competência
sociocomunicativa – adequado/inadequado)
2. Expressar-se adequadamente em situações de interação social diferentes daquelas
próprias de seu universo imediato. (competência sociocomunicativa –
adequado/inadequado)
3. A refletir sobre os fenômenos da linguagem, particularmente os que tocam a questão da
variedade linguística, combatendo a estigmatização, discriminação e preconceitos
relativos ao uso da língua.
(reflexão sobre os fenômenos linguísticos em variação e o respeito às diferenças)
2. A TRADIÇÃO GRAMATICAL ESCOLAR VERSUS A SOCIOLINGUÍSTICA
• Normas - Segundo Faraco, conjunto de fatos linguísticos que caracterizam o modo como
geralmente falam as pessoas de uma certa comunidade. Numa sociedade há inúmeras
normas. Como os falantes podem pertencer a várias de estas comunidades
simultaneamente, é possível dizer que um mesmo falante domina mais de uma norma.
( bi ou multidialetismo)
• Ainda de acordo com o autor, “uma norma qualquer que seja não pode ser compreendida
apenas como conjunto de formas linguísticas; ela é também (e principalmente) um
agregado de valores sociais articulados com aquelas normas.
• Três concepções de norma, segundo Faraco.
• Norma padrão, codificação relativamente abstrata, uma baliza extraída do uso real para servir
de referência, em sociedades marcadas por acentuada dialetação, a projetos políticos de
uniformização linguística. A norma padrão brasileira foi fixada durante o século XIX. A elite
brasileira que fundou o império impôs uma norma padrão muito distante da gramática usada
pela maioria da população brasileira.
• Norma curta, a que tem predominado no sistema escolar, na mídia, nos manuais de revisão e
nos cursinhos, norma estreita com preceitos dogmáticos inflexíveis. Norma padrão purista que
se alastra desde o século XIX, os rótulos de certo/errado.
Observação pessoal: aqui trata-se da mesma norma, ocorre que a segunda representa uma
valoração pessoal do autor acerca da norma padrão.
• Norma culta, conjunto de fenômenos linguísticos variáveis que ocorrem habitualmente
no uso dos falantes letrados em situações monitoradas de fala e escrita. Isto gera valor
social positivo a esse conjunto de variedades. A norma culta não é formada, portanto,
por um conjunto de preceitos dogmáticos tais quais os das normas anteriores, mas por
variedades que já aparecem descritas nas boas gramáticas modernas e nos bons
dicionários. Exemplo: o dicionário de Celso Luft, onde se diz que o verbo assistir era
transitivo indireto e passou a ser transitivo direto no Brasil.
(seria o equivalente ao que se chama de normas urbanas de prestígio.)
• Cabe a escola oferecer condições para que o aluno desenvolva plenamente suas
competências sociocomunicativas. Para tanto deve ensinar a norma culta, não no sentido
de que o aluno substitua a sua norma vernacular, mas no sentido de capacitá-lo a dominar
outras variedades para que possa adequar seu uso linguístico a diferentes situações.
QUESTÕES SOBRE A NOÇÃO DE ERRO
Por sua vez, na escrita, há dois tipos de erros: os que resultam da interferência de traços da
oralidade e os que se explicam porque a escrita é regida por um sistema de convenções
arbitrárias.
• Exemplo de erros resultante da influência da oralidade. É comum em textos s alunos se suprimir o
/r/ em infinitivos, como em ‘compra’ ou “da”. Isso porque no português do Brasil, tendemos a
suprimir o <r>. Porém a supressão do /r/ é uma regra variável.
• Quanto aos problemas de convenção ortográfica, por exemplo, a troca de “calção” por “calsão”,
ou “cedo” por “sedo”. O erro se dá em virtude da transgressão do sistema de convenção
ortográfica, no caso do som /s/ lembre-se que há pelo menos nove maneiras de marcar esse som.
(experiência pessoal)
• Assim, ainda segundo a autora Bortoni-Ricardo, a consideração de uma transgressão à ortografia
como erro não significa entendê-lo como uma deficiência do aluno.
EM QUE PODE A SOCIOLINGUÍSTICA
CONTRIBUIR PARA O ENSINO DA LÍNGUA?
O domínio dos postulados sociolinguísticos básicos e seus desdobramentos e implicações é o mínimo
que se espera do professor de língua portuguesa. É preciso ter um embasamento teórico consistente
acerca da linguagem em seu funcionamento social para poder atuar, de forma competente, na
orientação da aprendizagem e na formação continua do aluno-cidadão.
• Para entender essa mudança, faz-se necessário falar sobre o conceito de gramaticalização
É um processo de mudança linguística que se dá através de regularização gradual,
pela qual um item frequentemente utilizado em contextos comunicativos particulares
adquire função gramatical e pode, uma vez gramaticalizado adquirir novas funções.
Exemplos:
- de item lexical a pronome: caso do substantivo ‘gente’ ao pronome ‘a gente’.
- de advérbios a conjunções: caso do advérbio ‘agora’ a conector ‘agora’, indicativo de
conjunção adversativa.
- No percurso de ‘vossa mercê’/vossas mercês para você/vocês, a forma de tratamento foi
se gramaticalizando →vansuncê(s) → vassucê (s) →vacê (s) → você (s); em alguns
lugares chegando → ocê (s) →cê (s).
Observe-se nesse paradigma que há seis pessoas, diferente do proposto pela gramática tradicional.
Veja-se que as formas ‘seu (s)”, sua (s), que originalmente referiam-se ao pronome de 3ª pessoa
singular e plura (gramática tradicional) passam a referir-se também a 3ª e 6ª pessoas, ou seja, a ‘você’ e
‘vocês’ (novo paradigma).
Assim , é possível mostrar ao aluno que o “lhe (s)” refere (m) -se a também a você (s).
(dando aula sobre pronome oblíquo, peço aos alunos que substituam o elemento destacado por um
pronome oblíquo, eles não sabem: “sim, entreguei a você; lhe entreguei sim.”)
• Também é preciso dizer que ‘você (s)’ continua mantendo uma relação de concordância
com os pronomes de tratamento, como em ‘vossa excelência é’ ou ‘vossa senhoria é’; no
entanto, ao gramaticalizar-se, adquire a interpretação semântico discursiva de 2ª pessoa e
começa o concorrer com tu.
PROPOSTA PARA A PRÁTICA DO PROFESSOR
PESQUISADOR
Desenvolver projetos de pesquisa que levem os alunos, entre outas ações: