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Ciência e construção

– validade e
verificabilidade das
hipóteses

Na forja, Ethan Murrow, 2011


A construção da ciência

 As teorias científicas são propostas de


solução para os enigmas da Natureza e do
Universo.

 A investigação de um enigma relativo ao


funcionamento do mundo compreende dois
momentos:
 o da descoberta de uma solução para
o enigma.
 o da justificação do valor da solução
encontrada. Erupção do vulcão Mayón, Filipinas, 1984
A construção da ciência
DESCOBERTA

 Depende essencialmente de processos mentais inventivos e criativos:

 o cientista ocupa-se dos diversos aspetos do enigma por muito tempo, ensaiando e falhando
tentativas de solução.

 por fim, surge uma nova tentativa de solução, capaz de dar uma explicação sólida dos
diversos aspetos do enigma.
JUSTIFICAÇÃO

 Depende essencialmente de processos mentais racionais e analíticos:

 a teoria é submetida a testes, lógicos e empíricos, que determinam o valor da teoria.

 os testes só têm validade científica se forem metódicos e rigorosos.


A perspetiva indutivista sobre o método científico

Como conhecemos o mundo? Como chegamos às leis e às teorias científicas?

 A ciência começa com a observação cuidadosa e com o registo sistemático dos resultados da
observação:

 a observação permite alcançar coleções de registos particulares.

 Por indução, a partir dos dados da observação, alcançam-se as leis:

 sucessivas inferências indutivas permitem progredir dos dados da observação até às leis e
das leis menos gerais até às leis mais gerais.

 o conhecimento das leis gerais permite fazer previsões exatas.


A perspetiva indutivista sobre o método científico

 A perspetiva indutivista do método científico e da ciência assenta em duas ideias


principais:

 a ciência começa com a observação e é impossível conhecer o mundo sem o


observar.

 a inferência indutiva é a única forma de inferência capaz de produzir


conhecimento genuinamente novo sobre o mundo.
A perspetiva indutivista sobre o método científico

Indutivismo clássico

descoberta – as inferências indutivas permitem alcançar conclusões gerais a partir do


conhecimento de casos particulares.

 justificação – as inferências indutivas permitem extrair conclusões dos resultados dos


ensaios experimentais e determinar se esses resultados constituem a evidência empírica
necessária para se considerar que uma lei ou uma teoria foi provada.
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Objeções à perspetiva indutivista
Entidades inobserváveis

As teorias científicas mais avançadas e explicativas são, quase todas, teorias que pretendem
explicar fenómenos e entidades inobserváveis.

 se é verdade que muitas teorias científicas são acerca de fenómenos e de entidades


inobserváveis, então pelo menos essas teorias não foram descobertas indutivamente.
Objeções à perspetiva indutivista

Começamos por problemas

 toda a observação está impregnada de


teoria.

 a observação é sempre posterior à teoria.

 não existe a observação pura, ou


puramente sensorial, pressuposta pelo
Sem teorias sobre a Natureza e o Universo, sem indutivismo.
expectativas sobre o funcionamento do mundo,  segundo Popper, a investigação científica
nada se destaca ao ponto de ser um objeto de
tem origem em problemas.
inquietação ou curiosidade e, por consequência,
de observação.
2ª RESPOSTA: confirmação experimental
das hipóteses

A tese da confirmabilidade

 A indução não tem um papel relevante na descoberta científica, mas a justificação das leis e das
teorias científicas depende das inferências indutivas.

 A ciência empírica recorre ao método experimental para testar as leis e as teorias científicas:

as experiências científicas consistem em testar consequências experimentais logicamente


deduzidas da hipótese.
A confirmação experimental das hipóteses

A tese da confirmabilidade

 a hipótese é confirmada se as suas consequências experimentais forem verificadas em todos


os ensaios experimentais realizados.

 as hipóteses científicas podem ser experimentalmente confirmadas, mas nunca podem ser
experimentalmente verificadas.
A confirmação experimental das hipóteses

A tese da confirmabilidade

As hipóteses científicas não podem ser verificadas porque são proposições universais:

a verificação de uma proposição universal implicaria a verificação de todos os casos


particulares incluídos na proposição universal, e isso é impossível.

podemos verificar que “este corpo pesado, quando suspenso no ar, cai perpendicularmente
ao chão”, mas não podemos verificar que “todos os corpos pesados, quando suspensos no ar,
caem perpendicularmente ao chão”, pois isso implicaria observar todos os corpos.
A confirmação experimental das hipóteses

A tese da confirmabilidade

A repetição de ensaios experimentais bem-sucedidos aumenta a probabilidade de a hipótese ser


verdadeira, mas nunca dá uma prova conclusiva da veracidade da hipótese.

 Os testes empíricos usados na justificação de uma hipótese científica apenas podem dar-lhe um
certo grau de confirmação experimental.
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Lei

Filosofia 11ºano
Objeções à tese da confirmabilidade

Não é possível encontrar uma fórmula que, em cada caso, determine quantos ensaios
experimentais bem-sucedidos são necessários para obter uma confirmação da hipótese.

 Segundo Popper, o problema da indução é insuperável:

 se as inferências indutivas não podem ser justificadas, então também não podem ser usadas
para justificar as teorias científicas.
Objeções à tese da confirmabilidade

a justificação científica depende exclusivamente de procedimentos dedutivos – os testes


lógicos e os testes empíricos a que as teorias científicas são submetidas dependem apenas de
inferências dedutivas.

 Popper resolveu o problema da indução, no domínio da justificação científica, afastando-o ou


dissolvendo-o.
O lugar da indução na ciência

Será que a indução desempenha um papel central na construção das leis e das teorias científicas?
A perspetiva falsificacionista de Popper

 Popper defendeu que a conceção indutivista da


ciência é errada e apresentou uma perspetiva
falsificacionista da ciência, segundo a qual o objetivo
dos testes experimentais é falsificar as hipóteses
avançadas pelos cientistas.

 para compreender o papel da falsificação de


teorias no método científico e a sua importância para
o progresso da ciência, é preciso compreender o que
é uma proposição falsificável.
Proposições falsificáveis

Todos os corpos metálicos flutuam na água.

 É uma proposição falsificável porque podemos conceber um estado de coisas que a refuta e que,
se for verificado, mostra que ela é falsa.

 É uma proposição falsa porque já observámos um estado de coisas que a refuta.

Quando suspensas no ar, todas as pedras caem.

 É uma proposição falsificável porque podemos conceber um estado de coisas que a refuta e que,
se for verificado, mostra que ela é falsa (para sabermos que uma proposição é falsificável apenas
precisamos de a analisar, não precisamos de observar nada).

 Como ainda não observámos um estado de coisas que a refute, podemos aceitá-la
provisoriamente como verdadeira.
Proposições não falsificáveis

 Uma proposição não é falsificável – ou é empiricamente irrefutável – se não pudermos conceber


um estado de coisas que a refute.

 As proposições particulares são empiricamente irrefutáveis.

Alguns corpos metálicos afundam-se na água.

Algumas pedras flutuam no ar.

 As proposições tautológicas são empiricamente irrefutáveis.

Se protestarmos, o governo cederá ou não cederá.

 As proposições imprecisas são empiricamente irrefutáveis.

Se acreditarmos em nós, o governo cederá.


Proposições não falsificáveis

 As proposições empiricamente irrefutáveis, ao contrário das proposições falsificáveis, não


excluem estados de coisas e, por essa razão, não são informativas.

 Algumas proposições não falsificáveis podem ser tornadas falsificáveis.

Se acreditarmos em nós, o governo cederá.


Proposições não falsificáveis

 Para tornar esta proposição falsificável, é necessário descrever “acreditar em si” em termos
observacionais e tornar mais precisa a noção de “o governo ceder”.

Se todos fizermos greve por duas semanas, o governo aceitará o aumento salarial que os
sindicatos propuseram e manterá o atual código do trabalho.

 As proposições falsificáveis excluem estados de coisas e, por essa razão, são informativas.
Graus de falsificabilidade

 As proposições podem ter graus de


falsificabilidade diferentes.

Se formos firmes no nosso protesto, o governo não


poderá ignorar-nos.

Se fizermos greve, o governo cederá. Mineiros em greve, Reino Unido, 1984-85

Se todos fizermos greve, o governo aceitará as


principais exigências dos sindicatos.  Quanto mais falsificável é uma
Se todos fizermos greve por duas semanas, o governo proposição, quanto mais estados de
aceitará o aumento salarial proposto pelos sindicatos coisas exclui, tanto mais informativa e
e manterá o atual código do trabalho. ousada é essa proposição.
As teorias científicas – ousadia e resistência

Ousadia
As leis e as teorias das ciências empíricas pretendem descrever e explicar, com elevado grau de
exatidão, o modo como o mundo se comporta.

Segundo Popper, “toda a boa teoria científica é uma interdição: proíbe que determinadas coisas
aconteçam; quanto mais a teoria proibir, melhor será”.

 As teorias científicas mais avançadas e explicativas são falsificáveis num grau muito elevado e
muito informativas, ou seja, são ousadas.
As teorias científicas – ousadia e resistência

Resistência
 Além de serem falsificáveis num grau muito elevado, as teorias científicas mais avançadas e
explicativas devem resistir às tentativas de falsificação, nomeadamente, aos testes empíricos
severos concebidos para as tentar falsificar.

Todas as pedras flutuam no ar.

 Esta proposição é falsificável num grau muito elevado, mas não é uma teoria científica, porque
cederia à primeira tentativa de falsificação.

 As melhores teorias científicas são, simultaneamente, muito ousadas e informativas e muito


resistentes à falsificação e à crítica.
O problema da demarcação

O que distingue as teorias científicas das teorias não científicas ou pseudo-científicas?

 Segundo Popper, as teorias científicas distinguem-se das teorias não científicas ou


pseudo-científicas pelo facto de serem falsificáveis, ou seja, a falsificabilidade é o critério de
demarcação da ciência.

 As teorias imunes à refutação empírica são teorias não científicas ou pseudo-científicas.

 A falsificabilidade é uma condição necessária, mas não suficiente, das teorias científicas.

 O critério da falsificabilidade só se aplica às teorias das ciências empíricas, ou seja, às teorias que
fazem afirmações sobre o modo como o mundo funciona (as teorias da Geometria, uma ciência
formal, não têm de cumprir este critério).
O método científico

 Segundo Popper, a ciência começa por problemas:

 perante um problema, os cientistas avançam uma teoria.

 seguidamente, submetem a teoria a testes lógicos e empíricos (criticam a teoria).

 Para testar empiricamente a teoria, realizam-se experiências e aplicações práticas cuja finalidade
é verificar as consequências empíricas logicamente deduzidas da teoria.

 Se essas consequências não se verificam, então, dedutivamente, infere-se que a teoria avançada é
falsa e que tem de ser modificada, ou abandonada e substituída por outra.

 Para verificar que a teoria é falsa, é suficiente uma única falsificação das suas consequências
empíricas.
O método científico

 Se as consequências empíricas se verificam, apenas é possível inferir que, até ao momento, a


teoria não foi falsificada e que, na medida em que sobreviveu a testes empíricos severos, a teoria foi
corroborada pelos testes.

Nenhum conjunto de verificações bem-sucedidas das consequências empíricas da teoria a pode


confirmar, nem sugerir que é provavelmente verdadeira.
O método científico

 Um teste que falsifica uma teoria é mais informativo do que repetidos ensaios experimentais
bem-sucedidos.

 Os cientistas devem empenhar-se em submeter as teorias a testes empíricos severos, orientados


para a falsificação da teoria, em vez de repetirem ensaios experimentais orientados para a
confirmação da teoria.
A perspetiva falsificacionista de Popper – síntese

 A ciência consiste em, perante problemas, avançar e testar teorias.

 Os cientistas devem ser, simultaneamente, ousados nas teorias que avançam e críticos nos
testes a que as submetem.

Quanto mais depressa uma teoria for falsificada, mais depressa terá de ser modificada, ou
abandonada e substituída por outra, obrigando os cientistas a avançarem continuamente novas
teorias, cada vez mais informativas ou mais resistentes aos testes lógicos e empíricos.
A perspetiva falsificacionista de Popper – síntese

 A ciência progride na direção da verdade quando as melhores teorias disponíveis são por fim
falsificadas, ou seja, a ciência progride por conjecturas e refutações.

 O método científico compreende três passos: problemas, teorias, críticas.


Objeções à perspetiva falsificacionista de Popper

A história da ciência – uma história de confiança nas teorias e de perseverança

 os cientistas procuram salvar as teorias quando elas enfrentam uma refutação empírica.

 o progresso da ciência deve-se também à perseverança dos cientistas, que os leva a prosseguirem a
investigação e a desenvolverem a teoria, apesar das dificuldades que encontram, nomeadamente,
insucessos na obtenção dos resultados empíricos pretendidos.

Falsificações inconclusivas

 as teorias científicas são conjuntos articulados de proposições universais.

 um insucesso empírico pode ser atribuído quer ao teste, quer a uma das proposições acessórias da
teoria e, por isso, nenhuma teoria científica pode ser conclusivamente falsificada por uma única
observação ou por uma única experiência.

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