• a presença da Psicologia da Saúde na AB pode se colocar com objetivos de ampliação da esfera da ética do cuidado de si na vida das pessoas • A ética pessoal é aqui resgatada também na linha de invenção de prá ticas de resistência à medicalização, à impessoalidade e burocracia, aquelas mesmas com longo processo de constituição histórica aqui indicada como referência para a reflexão da(o) psicóloga(o). • Ou seja, parte-se da premissa de que a ética se faz no ethos, ou no território das pessoas. • a(o) psicóloga(o), anteriormente aos • NASFs, poderia ser visto na AB, contudo, tal serviço ocorria a depender • de projetos muito pontuais, quase sempre tentando abarcar • projetos voltados a saúde mental no território. Mas, com os NASFs é • que se encontra assumida a busca metodológica de apoio ao trabalho • com fenômenos que não poderiam ser açambarcados apenas • com a lógica médica constituída até então. • Os NASFs, no plano legal, tornaram possível a profissão de • psicóloga(o) na Atenção Básica. • A partir do surgimento da PNAB • fez-se possível também a instalação de tecnologias assistenciais à • saúde com incorporação de metodologias de educação permanen • te, • matriciamento, clínica ampliada, projetos terapêuticos singulares • e de territórios, acolhimento entre outras. • Contribuiu para isso compreensões como as de tec • nologias • de trabalho em saúde feita por Merhy (2002), que o autor • denominou de trabalho vivo. O trabalho vivo envolve tecnologias • leves, leve-duras e duras, sendo a dura relativa a diagnósticos, por • exemplo, uma prescrição; a tecnologia leve-dura quando são reali • zadas • indicações de procedimentos de cuidado; e a tecnologia leve • é quando se escuta a pessoa, dimensionando-se suas possibilidades • de compreensão como sujeito em face de suas dificuldades, arti • culando • esse conhecimento à prática como um todo. Quando uma • prática não incorpora as diferentes tecnologias, ela não se relaciona • com a pessoa atendida, in totum, não alcançando transformações, • sendo considerado resultado dessa prática um trabalho morto. • O trabalho vivo é pautado na relação, produção de vínculo, • acolhimento e envolve todas as tecnologias, podendo ser fácil pen • sar • nos efeitos do trabalho procedimento-centrado para o alcance • dos fenômenos que se apresentam na AB. Nesse sentido, as práticas • de acolhimento e de clínica ampliada são emblemáticas. • O acolhimento se coloca na porta de entrada do serviço como • uma prática que, para além de considerar in totum o sujeito que pro • cura • o serviço, com suas condições de vida, requer também a pos • tura • inclusiva, com relação a outros tipos de sofrimento que possam • ser relativos a processos de marginalização, exclusão ou violências. • Relacionado a isto está que não poderá ser marginalizado como fe • nômeno • isolado condições inscritas em práticas divisórias no âmbi • to • de direitos, como relações sociais e que levam a sofrimento como • violência doméstica, racismo e diversidade sexual. • a clínica am • pliada • é considerada uma tecnologia de cuidado individual e coleti • vo, • ao mesmo tempo. De acordo com a PNAB, ela visa a “construir • vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, • centrada na pessoa, na perspectiva de ampliação dos graus de au • tonomia • dos indivíduos e grupos sociais”. Também fica posto com a • clínica ampliada o reconhecimento de que as variáveis que consti • tuem • o fenômeno que ali se apresentam são múltiplas, requerendo, • em primeiro plano, um tipo de encontro com o sujeito e suas de mandas. Tais demandas, ainda que possam estar articuladas a fenô • menos • que se relacionam ao corpo biológico, terá como condição • sine qua non o vínculo com o sujeito e as condições que se fizeram • presentes para tal condição no território, seja ele as condições con • cretas • dos espaços de vida, vínculos, relações e até projetos de vida • A interdisciplinaridade re • quer • integração que envolve: • Áreas técnicas, profissionais de diferentes forma • ções • e até mesmo outros níveis de atenção, bus • cando • incorporar práticas de vigilância, clínica am • pliada • e matriciamento ao processo de trabalho • cotidiano para essa integração (realização de con • sulta • compartilhada reservada aos profissionais de • nível superior, construção de Projeto Terapêutico • Singular, trabalho com grupos, entre outras estra • tégias, • em consonância com as necessidades e • demandas da população) (BRASIL, 2017). • a ética da Psicologia • deve ser construída no contexto da AB no cotidiano, que envolve • sim os princípios universais da profissão e do SUS e na ação inter • subjetiva, • quando se abre mão de um projeto individual para um • projeto coletivo. • O trabalho da(o) psicóloga(o) na AB envolve o sofrimento ético-político, tal qual desenvolveu Sawaia (2003), relativo às relações de exclusão de toda ordem, de gênero, de trabalho, de projeto etc. E nesse sentido, o trabalho da(o) psicóloga(o) na Atenção Básica parte do pressuposto de que aquelas pessoas que frequentam a unidade de saúde, tem uma situação sócio histórica que determina o seu processo de adoecer e de ter saúde, um ethos a ser transformado.