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Graduação em

Direito

Direito Constitucional III

A Separação dos Poderes

Conceito de Poder

Evolução Histórica da Doutrina

Dos Freios e Contrapesos


UNIDADE IV: A Separação dos Poderes

a Doutrina da
Separação
dos Poderes
IV. A Separação dos Poderes

Significado de Separação
s.f. Ato ou efeito de separar; partição, divisão, desunião.

Sinônimos de separação
desagregação, desanexação,
desintegração, desmembração,
desmembramento, desunião,
divisão, fragmentação,
ramificação, secessão e subdivisão
IV. A Separação dos Poderes

A Doutrina da Separação dos Poderes (ou da Tripartição dos


Poderes do Estado) é a teoria de Ciência Política desenvolvida
por Montesquieu, no livro O Espírito das Leis (1748), que visou
limitar o Poder do Estado, dividindo-o em funções, e dando
competências a órgãos diferentes do Estado.
Cuidado com a
terminologia
IV. A Separação dos Poderes
IV. A Separação dos Poderes

Já na Antigüidade, o pensador Aristóteles em sua obra


"Politikón" dividiu as funções estatais em deliberativa, executiva
e judicial.
Maquiavel, no Século XVI, em sua obra "O Príncipe", também
participou da formação desta ideia, revelando uma França com
três poderes bastante distintos: Legislativo (representado pelo
Parlamento), Executivo (materializado na figura do Rei) e um
Judiciário autônomo.
No Século XVII, John Locke esboçou de alguma forma a
separação de funções no exercício do poder, ao propor a
classificação entre funções legislativa, executiva e federativa.
IV. A Separação dos Poderes

Todavia, só com Montesquieu se tem a Teoria da Separação de


Poderes tal qual se conhece hoje, trazendo a indicação dos
mesmos como sendo o Legislativo, o Executivo e o Judiciário,
bem como a ideia de que estes poderes são harmônicos e
independentes entre si.
Esta doutrina também defende a necessidade de que o exercício
de cada uma dessas funções seja atribuído a diferentes titulares.

John Locke já observava que a tentação de ascender ao poder é mais forte que a fragilidade
humana; logo, “não convém que as mesmas pessoas que detêm o poder de legislar
tenham também em suas mãos o poder de executar as leis, pois elas poderiam se
isentar da obediência às leis que fizeram, e adequar a lei à sua vontade”.
Montesquieu, já sob influência do Liberalismo, propôs a limitação da atuação do Estado,
como uma maneira de reduzir o poder deste. Neste sentido, esta foi a prescrição das
Constituições que pregariam a não separação de poderes implicaria na ausência de
democracia.
IV.1. Conceito de Poder

PODER
o
IV.1. Conceito de Poder

Poder representa o exercício de autoridade, de imposição, de


uma pessoa sobre outra, de uma instituição ou organização
sobre outra.
Sob o ponto de vista da ciência política o poder precisa ser
irresistível e seria exercido pelo Estado, dado que as relações
entre indivíduos em qualquer organização social somente são
possíveis se reconhecida a submissão de cada participante à
vontade da maioria ou do grupo, representada pela vontade
emanada do Estado.
A sociologia prefere um conceito de poder que sugere um
complexo de habilidades sobre alguém, independente de
eventual resistência.
IV.1. Conceito de Poder

Na sociedade, várias são as maneiras de o poder exteriorizar-se,


seja nos campos religioso, familiar, de trabalho, mas é no
âmbito do Estado que ele encontra sua força, concentrando-se
na figura do chefe ou minoria que o represente.
O poder é um fenômeno sócio-cultural. Quer isso dizer que é
fato da vida social.
Tal é o poder inerente ao grupo, que se pode definir como
energia capaz de coordenar e impor decisões visando à
realização de determinados fins.
IV.1. Conceito de Poder

O poder político é superior a todos os outros poderes sociais, e


visa ordenar as relações entre os grupos e os indivíduos entre si
reciprocamente, de maneira a manter um mínimo de ordem e
estimular um máximo de progresso à vista do bem comum.

A superioridade do poder político é o que caracteriza


a soberania, que implica a independência em
confronto com todos os poderes exteriores a
sociedade estatal (soberania externa) e
supremacia sobre todos os poderes sociais interiores
a mesma sociedade estatal (soberania interna).

Vale lembrar que o poder estatal é uno e indivisível


IV.2. Evolução histórica da doutrina

SEPARAÇÃO
IV.2. Evolução histórica da doutrina

"Toda Cidade tem três elementos, cabendo ao bom


legislador examinar o que é mais conveniente para cada
constituição. Quando essas partes forem bem ordenadas, a
constituição será bem ordenada, e conforme diferem umas
das outras, as constituições também diferem. A primeira
dessas partes concerne à deliberação sobre os assuntos
públicos; a segunda, às magistraturas: qual deve ser
instituída, qual deve ter sua autoridade específica e como
os magistrados devem ser escolhidos; por último,
relaciona-se a como deve ser o poder judiciário."
ARISTÓTELES. Política.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

A partir do conceito de soberania em Bodin (1576, Les six livres


de la Republique) e da doutrina de Hobbes, desenvolveram-se
as ideias absolutistas, que justificavam filosoficamente a
concentração dos poderes nas mãos de um soberano, limitado,
este último, apenas pelo direito natural, do ponto de vista
filosófico, mas, na prática, apenas pela sua razão ou vontade e
não pelo direito.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

O momento histórico que retrata a fundamentação para a


separação dos poderes é a passagem do Estado Absolutista
para o Estado Liberal, o que vem influenciar vários textos
constitucionais.
A proposta da separação dos poderes, além de buscar a
proteção da liberdade individual, tinha por base também
aumentar a eficiência do Estado, pois cada órgão do Governo
tornar-se-ia especializado em determinada função.
Efetivamente a doutrina da separação dos poderes encontrará
em Locke e Montesquieu seus grandes sistematizadores; o
inglês, pioneiro, através do Segundo Tratado Sobre o Governo
Civil e o francês no célebre Do Espírito das Leis.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

Locke, considerado o fundador do empirismo – doutrina segundo


a qual todo o conhecimento deriva da experiência – desenvolver
na obra a primeira e mais completa formulação do Estado Liberal,
que constitui a justificação ex post facto da Revolução Gloriosa na
Inglaterra, onde fundamenta a legitimidade da deposição do Rei
pelo parlamento com base na doutrina da resistência.
Ele restabelece a conexão entre a doutrina da separação dos
poderes e a rule of law, concebendo-a como pré-requisito desta
última: "para que a lei seja imparcialmente aplicada é necessário
que não sejam os mesmos homens que a fazem, a aplicá-la".
Sendo, em decorrência disso, necessária a separação entre
legislativo e executivo.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

O poder supremo para Locke é o legislativo, os demais poderes


dele derivam e a ele estão subordinados. Compete ao poder
executivo, cuja existência é perene, a aplicação das leis. Locke
ainda concebe um terceiro poder, que apesar de distinto, não pode
ser separado do executivo, ao qual denomina de federativo, ao
qual incumbe o relacionamento com os estrangeiros, a
administração da comunidade com outras comunidades,
compreendendo formação de alianças e decisões sobre a guerra e
a paz.
A despeito de não contemplar expressamente, em sua tripartição
dos poderes da sociedade (Legislativo, Executivo e Federativo), o
Poder Judiciário, e, ainda, de referir-se a este como atividade meio
do poder legislativo, vislumbramos em seus escritos uma vital
importância do poder judiciário em sua sistematização das
funções de Estado.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

Já o ambiente em que o Barão de Montesquieu escreveu sua obra,


meados do século XVIII, período pré-revolucionário na França
medieval de até então (modo feudal de produção e o conservador modelo
hierarquizado de relações sociais, onde o clero, a nobreza e o povo, eram governados
por uma monarquia absolutista em que a vontade do Rei era soberana e confundia-se
com a vontade do próprio Estado) pode-se considerar que a proposta de
separação de poderes, ainda que não original, foi, ao seu modo,
inovadora.
Mas se é possível estabelecer uma semelhança entre a proposta
de Aristóteles, formulada com base na análise de 158 constituições
do mundo helênico, de que os governos das Cidades melhor
estariam se organizassem o exercício do poder através de funções
separadas, e a de Montesquieu em “O espírito das leis”, na sua
interpretação mais difundida, uma distinção parece merecer
registro: a forma de relacionar ética e política.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

“Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de Magistratura, o


Poder Legislativo é reunido ao Executivo, não há liberdade. Porque pode
temer-se que o mesmo Monarca ou mesmo o Senado faça leis tirânicas
para executá-las tiranicamente.
Também não haverá liberdade se o Poder de Julgar não estiver separado
do Legislativo e do Executivo. Se estivesse junto com o Legislativo, o
poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário: pois o Juiz
seria o Legislador. Se estivesse junto com o Executivo, o Juiz poderia ter
a força de um opressor.
Estaria tudo perdido se um mesmo homem, ou um mesmo corpo de
principais ou nobres, ou do Povo, exercesse estes três poderes: o de
fazer as leis; o de executar as resoluções públicas; e o de julgar os crimes
ou as demandas dos particulares.”
MONTESQUIEU. O Espírito das Leis.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

É necessário registrar que, apesar de Montesquieu ter


conferido ao poder de julgar o status de um dos poderes do
Estado, inaugurando a tripartipação, é nítido o caráter
secundário atribuído por ele a esse poder.

“Dos três poderes de que falamos, é o Poder de Julgar, de certo modo,


nulo. Sobram dois. E, como estes têm necessidade de um poder
regulador para temperá-los, a parte do corpo legislativo composta por
nobres é muito apropriada para produzir esse efeito.”
MONTESQUIEU. O Espírito das Leis.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

Foi o temor dos americanos à tirania do legislativo (presente em


Locke e Montesquieu), manifestado nos artigos federalistas de
Madison e Hamilton –na verdade, justificativa ex post facto da
Constituição que ajudaram a elaborar – que inspirou um modelo
de separação que mitigasse a supremacia do Poder Legislativo,
conferindo maior equilíbrio à relação entre os poderes, através do
fortalecimento do Poder Executivo.
Eles reconheciam como desgraça que nos governos republicanos
o Poder Legislativo predomina necessariamente. Em razão disso,
é que serão propostos mecanismos para “equilibrar” e deferir
maiores poderes ao Executivo.
Estas forças, balancear o peso dos poderes já existiam, por
exemplo, na Inglaterra entre a Câmaras dos Lordes e dos Comuns.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

“Mas a desgraça é que, como nos governos republicanos o Poder Legislativo há de


necessariamente predominar, não é possível dar a cada um dos outros meios
suficientes para a sua própria defesa. O único recurso consiste em dividir a
legislatura em muitas frações e em desligá-las umas das outras, já pela diferente
maneira de elegê-las, já pela diversidade dos seus princípios de ação, tanto quanto o
permite a natureza das suas funções comuns e a dependência comum em que elas
se acham da sociedade. Mas este mesmo meio ainda não basta para evitar todo o
perigo das usurpações.
Se o excesso da influência do corpo legislativo exige que ele seja assim dividido, a
fraqueza do Poder Executivo, pela sua parte, pede que seja fortificado. O veto
absoluto é, à primeira vista, a arma mais natural que pode dar-se ao Poder Executivo
para que se defenda: mas o uso que ele pode fazer dela pode ser perigoso e mesmo
insuficiente. [...]
Para manter a separação dos poderes, que todos assentam ser essencial à
manutenção da liberdade, é de toda necessidade que cada um deles tenha uma
vontade própria; e, por conseqüência, que seja organizado de tal modo que aqueles
que o exercitam tenham a menor influência possível na nomeação dos depositários
dos outros poderes.”
HAMILTON, Alexander; JAY, John; MADISON, James. O Federalista.
IV.2. Evolução histórica da doutrina

Além disso foi também nos Estados Unidos da América que se


situou o Poder Judiciário no mesmo nível político dos outros
dois ramos do governo, configurando sua moderna função no
mundo.
Foi através da célebre decisão de John Marshall, Chief-Justice
da Suprema Corte norte-americana, no caso MARBURY versus
MADISON (1803), que inaugurou o poder da judicial review
(revisão judicial), segundo o qual compete ao Poder Judiciário
dizer o que é lei, considerada lei aquele ato legislativo em
conformidade com a Constituição, ato legislativo contrário à
Constituição não é lei.
Afirmou-se, assim, o poder daquela corte para a declaração de
inconstitucionalidade de um ato legislativo, principiando o
sistema de controle da constitucionalidade (difuso).
IV.2. Evolução histórica da doutrina

Em 1787, os Estados Unidos da América positivaram em sua


Constituição a divisão funcional dos poderes, conferindo o
papel de cada um dos poderes – legislativo (art. 1º), executivo
(art. 2º) e judiciário (art. 3º) – na conformação das funções
político-constitucionais básicas.
Da mesma forma que a divisão de Montesquieu torna-se
princípio fundamental da organização política liberal, e
transformada em dogma pela Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, de 1789.
“Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não está
assegurada, nem a separação de poderes estabelecida não
tem constituição.”
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. art. 16
IV.3. Dos Freios e Contrapesos

CHECKS
and

BALANCES
IV.3. Dos Freios e Contrapesos

Através desse sistema, cada um dos Poderes do Estado


(Executivo, Legislativo e Judiciário) está apto a conter os
abusos do outro, de forma que se equilibrem.
IV.3. Dos Freios e Contrapesos
IV.3. Dos Freios e Contrapesos

O "balance" (contrapesos, equilíbrio) surge na Inglaterra, a


partir da ação da Câmara dos Lordes (nobreza e clero)
equilibrando (balanceando) os projetos de leis oriundos da
Câmara dos Comuns (originados do povo), a fim de evitar que
leis demagogas, ou formuladas pelo impulso momentâneo de
pressões populares, fossem aprovadas. Na verdade, o objetivo
implícito era conter o povo, principalmente contra as ameaças
aos privilégios da nobreza.
Como vimos o “check” surgiu quando o Justice Marshal
declarou sua opinion que o Poder Judiciário tinha a missão
constitucional de declarar a inconstitucionalidade – e, portanto
tornar nulos – dos atos do Congresso, quando, a seu exclusivo
juízo, tais lei não guardassem harmonia com a Carta Política.

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