Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O elemento especificamente
cristão da experiência de Deus
Hans Urs von Balthasar
IV. CONCLUSÕES
Calmon I. O UNO E O OUTRO: DUAS FORMAS DE EXPERIÊNCIA
RELIGIOSA
(1) Diferença entre as formulações bíblica e grega da relação homem-Deus
Para o homem bíblico o axioma de todos os axiomas soa assim: “Eu não sou Deus”.
Os gregos começaram da mesma maneira com o seu : “Atenção! Tu não és um Deus”.
Para os seus filósofos, contudo, a sentença, inadvertidamente, transformou-se em seu oposto:
"Pensa na tua verdadeira essência, na tua procedência de Deus, no divino em ti".
Para o homem bíblico, no entanto, o axioma se manteve desde o primeiro até o último
momento do pensamento. Na linguagem dos Salmos esse primeiro momento (axioma) se
expressa assim:
- “Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos diante do Senhor que nos criou” (Sl 95,6);
- “Sabei que o Senhor é Deus: Ele nos fez, e a ele pertencemos” (Sl 100,3);
- Na linguagem de Agostinho: “Para Ti nos criastes...”; na linguagem de Inácio de Loyola:
“O homem é criado para louvar, reverenciar e servir, e assim alcançar sua salvação...” (EE
23).
(2) O ponto de partida das experiências de Deus, bíblica e não-bíblica. As duas
faces da experiência não-bíblica. O problema da integração
Para o homem não-bíblico a experiência fundamental, poderia ser traduzida assim: "Eu
não sou o Absoluto, não sou o Todo, não sou o Uno, não sou o Indistinto; e o que, nesse
sentido, sei de mim mesmo, o sei também de todos os seres do mundo".
Fazendo esta experiência elementar o homem não-bíblico podia, ao mesmo tempo, partindo
da limitação e da relatividade, fazer aquela (outra) experiência tão elementar quanto a
primeira de aspirar ao Uno, ao Absoluto, ao Indistinto.
Entre o Pai e o Filho está a Não se poderá dizer com isto que o mistério da
infinitude de Deus, e a mesma criação desapareça ou seja "explicado", mas se
infinitude se põe de novo no seu pode dizer que a dureza do paradoxo é abrandada
encontro "criativo", no Espírito com a consideração de que Deus, para poder ser
Santo, que é uma nova infinitude para nós o amor, deve sê-lo em primeiro lugar e
proveniente de ambos. necessariamente em si mesmo, e que só assim o
mundo obtém seu lugar no Filho
(19) Com isso, é aprofundada uma vez mais a teologia da eleição própria do Antigo Testamento.
O homem, longe de negar ou de dever extinguir seu "Eu" como aparência para então poder entrar
em comunicação com o infinito Eu, sabe agora que ele é querido, criado, assentido por Deus. E
esta consciência não o relega como um ser fora de Deus, uma vez que só se compreende no
âmbito e no íntimo da própria diferença divina.
Somente na diferença trinitária pode Deus ser em si mesmo a unidade do amor; e somente na
diferença trinitária pode o homem participar da unidade do amor absoluto no qual, agora, o amor
humano é acolhido e sustentado.
IV. CONCLUSÕES
(24) Assim, existe na experiência cristã de Deus uma analogia com aquilo que na
religiosidade não-bíblica era o grande movimento do relativo (contingente) para o
absoluto (necessário). Mas no cristianismo este movimento não é o resumo da atitude
religiosa, mas antes um lado da relação entre Deus e o Mundo. já que o homem não é
uma pessoa divina, mas criada, entre ele e Deus não há uma familiaridade como aquela
que existe entre a Parte e o Todo, mas somente adoração diante Daquele que não é Uno.
- O homem deve livremente deixar-se apreender por Deus e gratuitamente deixar
que Deus o presenteie com o dom da vida eterna.
Obrigado!!!