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CRONOGRAMA DE HISTÓRIA DE

SURDOS
Sumário:
• Conceito
• História dos surdos
• Cultura Surda
• Inclusão nas escolas
• Os cincos parâmetros
• Sinais
IDADE ANTIGA (Escrita a 476 D.C.)

Registros na Bíblia:
Em Marcos capítulo 7, versículos de 31 a 37 – onde
relata o milagre de Jesus que “Tudo faz bem: faz ouvir
os surdos e falar os mudos”.
IDADE ANTIGA (Escrita a 476 D.C.)
Em Roma:
Os surdos eram consideradas pessoas castigadas ou
enfeitiçadas, costumavam jogar os surdos no rio Tibre.
Só se salvavam aqueles que do rio conseguiam
sobreviver ou aqueles cujos pais os escondiam.
Também faziam os surdos de escravos obrigando-os
a passar toda a vida trabalhando no moinho de trigo.
IDADE ANTIGA (Escrita a 476 D.C.)

Aristóteles:
acreditava que por não falarem os
surdos não possuíam linguagem e
tampouco pensamento, dizia que:
“de todas as sensações, é a audição que
contribuiu mais para a inteligência e o
conhecimento..., portanto, os nascidos surdo-
mudo se tornam insensatos e naturalmente
incapazes de razão”.
IDADE MÉDIA (476 – 1453)

Não tinham tratamento digno;


Eram colocados na fogueira;
IDADE MÉDIA (476 – 1453)

As leis proibiam os surdos de receberem


heranças, e pudessem votar;
Em 530 os monges beneditinos, na Itália,
empregavam uma forma de sinais para
comunicar entre eles, a fim de não violar o
rígido voto de silêncio.
IDADE MODERNA (1453 – 1789)
 
Girolamo Cardano era um médico filósofo que
reconhecia a habilidade do surdo para a razão,
afirmava que
“a surdez e mudez não é o impedimento para
desenvolver a aprendizagem e o meio melhor dos
surdos de aprender é através da escrita... e que era um
crime não instruir um surdo-mudo.”
Ele utilizava a língua de sinais e escrita com os
surdos.
IDADE MODERNA (1453 – 1789)
 

Monge beneditino Pedro Ponce de Leon, na


Espanha, estabeleceu a primeira escola para
surdos em um monastério de Valladolid
Usava como metodologia a dactilologia,
escrita e oralização. Mais tarde ele criou escola
para professores de surdos.
Nesta época, só os surdos que conseguiam
falar tinham direito à herança.
IDADE MODERNA (1453 – 1789)
 
O abade Charles Michel de L’Epée conheceu
duas irmãs gêmeas surdas que se comunicavam
através de gestos, iniciou e manteve contato
com os surdos carentes e humildes que
perambulavam pela cidade de Paris, procurando
aprender seu meio de comunicação e levar a
efeito os primeiros estudos sérios sobre a língua
de sinais.
IDADE MODERNA
 
L’Epée procurou
instruir os surdos em
sua própria casa, com
as combinações de
língua de sinais e
gramática francesa
sinalizada denominado
de “Sinais métodicos”.
IDADE MODERNA (1453 – 1789)
 
Ele recebeu muita crítica pelo seu trabalho,
principalmente dos educadores oralistas, entre
eles, o Samuel Heinicke.
Todo o seu trabalho com os surdos dependia
dos recursos financeiros das famílias dos surdos
e de caridades da sociedade.
IDADE MODERNA (1453 – 1789)
 
L’Epée fundou a primeira escola pública para
os surdos “Instituto para Jovens Surdos e Mudos
de Paris” e treinou inúmeros professores para
surdos.
IDADE MODERNA (1453 – 1789)
 
Em 1760 Thomas Braidwood abre a primeira
escola para surdos na Inglaterra, ele ensinava
aos surdos os significados das palavras e sua
pronúncia, valorizando a leitura orofacial.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1789 Abade Charles Michel de L’Epée
morre. Na ocasião de sua morte, ele já tinha
fundado 21 escolas para surdos na França e na
Europa.
O americano Thomas Hopkins Gallaudet parte
à Europa para buscar métodos de ensino aos
surdos.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Thomas Gallaudet volta à América trazendo o
professor surdo Laurent Clerc, melhor aluno do
“Instituto Nacional para Surdos Mudos”, de
Paris. Durante a travessia de 52 dias na viagem
de volta ao Estados Unidos, Clerc ensinou a
língua de sinais para Gallaudet que por sua vez
lhe ensinou o inglês.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Gallaudet, junto com Clerc fundou em
Hartford, 15 de abril, a primeira escola
permanente para surdos nos Estados Unidos,
“Asilo de Connecticut para Educação e Ensino de
pessoas Surdas e Mudas”. Com o sucesso
imediato da escola levou à abertura de outras
escolas de surdos pelos Estados Unidos.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1855 Eduardo Huet, professor surdo com
experiência de mestrado e cursos em Paris,
chega ao Brasil a convite do imperador D. Pedro
II, com a intenção de abrir uma escola para
pessoas surdas.
Em 1857 foi fundada a primeira escola para
surdos no Rio de Janeiro, o “Imperial Instituto
dos Surdos-Mudos”, hoje, “Instituto Nacional de
Educação de Surdos”– INES, criada no dia 26 de
setembro.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Foi no INES que surgiu, da mistura da língua
de sinais francesa com os sistemas já usados
pelos surdos de várias regiões do Brasil, a
LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1864 foi fundado a primeira universidade
nacional para surdos “Universidade Gallaudet”
em Washington – Estados Unidos, um sonho de
Thomas Hopkins Gallaudet realizado por seu
filho Edward Miner Gallaudet.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1867 Alexander Grahan Bell, nos
Estados Unidos, dedicou-se aos estudos
sobre acústica e fonética.
Em 1875 um ex-aluno do INES, Flausino José
da Gama, aos 18 anos, publicou “Iconografia dos
Signaes dos Surdos-Mudos”, o primeiro
dicionário de língua de sinais no Brasil.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1880 realizou-se Congresso Internacional
de Surdo-Mudez, em Milão – Itália, onde o
método oral foi votado o mais adequado a ser
adotado pelas escolas de surdos e a língua de
sinais foi proibida oficialmente alegando que a
mesma destruía a capacidade da fala dos
surdos, argumentando que os surdos são
“preguiçosos” para falar, preferindo a usar a
língua de sinais.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1957 por decreto imperial, Lei nº 3.198, de
6 de julho, o “Imperial Instituto dos Surdos-
Mudos” passou a chamar-se “Instituto Nacional
de Educação dos Surdos” – INES.
Nesta época a Ana Rímola de Faria Daoria
assumiu a direção do INES com a assessoria da
professora Alpia Couto , proibiram a língua de
sinais oficialmente nas salas de aula, mesmo
com a proibição os alunos surdos continuaram
usar a língua de sinais nos corredores e nos
pátios da escola.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1969 a Universidade Gallaudet adotou a
Comunicação Total.
O padre americano Eugênio Oates publicou no
Brasil “Linguagem das Mãos”, que contém 1258
sinais fotografados.
Em 1977 foi criada a FENEIDA (Federação
Nacional de Educação e Integração dos
Deficientes Auditivos) composta apenas por
pessoas ouvintes envolvidas com a problemática
da surdez.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1986 estreou o filme “Filhos do Silêncio”,
na qual pela primeira vez uma atriz surda, a
Marlee Matlin, conquistou o Oscar de melhor
atriz em Estados Unidos.
Em 1987 foi fundada a FENEIS– Federação
Nacional de Educação e Integração dos Surdos,
no Rio de Janeiro.
Em 1994 foi fundada a CBDS, Confederação
Brasileira de desportos de Surdos, em São
Paulo.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até os nossos dias)
 
Em 1997 Closed Caption (acesso à exibição de
legenda na televisão) foi iniciado pela primeira
vez no Brasil.
Em 1999 foi lançada a primeira revista da
FENEIS, com capa ilustrativa do desenhista
surdo Silas Queirós.
Em 2002 ocorreu a formação de agentes
multiplicadores Libras em Contexto em
MEC/Feneis.
Em 2006 iniciou Letras/Libras com 9 pólos.
Cultura

A Cultura Surda está no coração das comunidades Surdas em todo


o mundo. Cada comunidade Surda é um grupo cultural que partilha
uma língua de Sinais e uma herança comum.
Membros de comunidades Surdas em todo o mundo, portanto, se
identificam como membros de grupo cultural e linguístico. A
identificação com a comunidade Surda é uma escolha pessoal e
geralmente é feita independente do grau da surdez do indivíduo, e a
comunidade não é automaticamente composta por todas as pessoas
Surdas ou com deficiência auditiva.
A comunidade Surda também pode incluir membros da família de
Surdos, intérpretes de Língua de Sinais e pessoas que trabalham ou
socializam com pessoas Surdas que se identificam com a cultura Surda.
Uma pessoa é membro da comunidade Surda se ele ou ela
se identificarem como membro da comunidade Surda, e se
outros membros aceitarem esta pessoa.
Inclusão nas escolas

uma área de vida social assinalada por certo grau de coesão


social, com isso observa-se a importância de tais determinações
para o início da integração dos portadores de deficiência auditiva
nas escolas e na sociedade".       

    Tem sido um desafio a inclusão dos indivíduos portadores de


necessidades educativas especiais no Brasil neste grupo
enquadram-se os sujeitos surdos que usa a capacidade de
linguagem e a habilidade de adaptá-la. Discutir sobre a educação
dos surdos e como ela vem existindo aponta para a realidade das
suas necessidades que por muito tempo foi negligenciada.
Postos à margem das questões sociais, culturais, e
educacionais os surdos muitas vezes não são istos pela
sociedade por suas potencialidades, mas pelas limitações
impostas por sua condição. São definidos como deficientes e,
portanto incapaz, isso acontece por causa de um atraso na
aquisição da linguagem que os surdos têm no seu
desenvolvimento, já que, na maioria das vezes, o acesso a ela é
inexistente.
Sinais

Os sinais é formados a partir da combinação do movimento


das mãos com um determinado formato em um determinado
lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço
em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser
comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são
chamadas de parâmetros.

Nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes


parâmetros:
OS CINCO PARÂMETROS:

Configuração das Mãos


Pontos de Articulação
Orientação
Movimento
Expressão Facial e/ou corporal
- Configuração das Mãos
São formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto
manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita
para os destros), ou pelas duas mãos do emissor ou sinalizador. Os
sinais APRENDER, LARANJA e ADORAR têm a mesma configuração
de mão.

Configuração das Mãos (CM)


Pontos de Articulação (PA)
Movimento (M)
- Ponto de Articulação

É o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo


esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro
vertical (do meio do corpo até à cabeça) e horizontal (à frente do
emissor). Os sinais TRABALHAR, BRINCAR, CONSERTAR são feitos
no espaço neutro e os sinais ESQUECER, APRENDER e PENSAR são
feitos na testa.
- Movimento

Os sinais podem ter um movimento ou não. Os sinais citados acima


tem movimento, com exceção de PENSAR que, como os
sinais AJOELHAR, EM-PÉ, não tem movimento.
- Orientação

Os sinais podem ter uma direção e a inversão desta pode significar


idéia de oposição, contrário ou concordância número-pessoal, como os
sinais QUERER e QUERER-NÃO; IR e VIR.
- Expressão facial e/ou corporal

Muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados acima, em


sua configuração tem como traço diferenciador também a expressão
facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos
somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL.
Exemplo de parâmetro:
Leis que regulamentam a Libras
Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. (Lei da acessibilidade)
Art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais
intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes,
para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de
deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação.
Lei nº 10.436/2002 como a língua oficial das pessoas surdas.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS a
forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de
natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um
sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de
comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Decreto Nº 5.626, de 22 de Dezembro de 2005.
Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a
Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de
dezembro de 2000.
O que é Libras?

• Libras é a sigla de Língua Brasileira de Sinais,


um conjunto de “formas gestuais” utilizado por
deficientes auditivos para a comunicação entre
eles e outras pessoas, sejam elas surdas ou
ouvintes.

• Ela tem sua origem baseada na língua de sinais


francesa e é um dos conjuntos de sinais existentes
no mundo inteiro com o propósito de realizar a
comunicação entre pessoas com deficiência auditiva
(surdas).
Para se comunicar

a) Conhecer os sinais
b) Conhecer as estruturas gramaticais para combinar
as frases e estabelecer a comunicação de forma
correta e eficaz.

Articulação da linguagem, que acontece de forma visual-


espacial e não através da emissão de sons.

Obs. Cada país tem a sua própria estrutura de linguagem, que pode variar
inclusive de região para região, dependendo da cultura do local e das
expressões e regionalismos utilizados na linguagem comum.
Breve História da educação dos surdos
Surdos e a sociedade antiga

Fonte: gráfico do autor adaptado dos países do site http://vanessavidalcidadania.blogspot.com/2011/06/cronograma-de-historia-de


surdos.html
Desde 1960 o movimento de surdos
deixaram de ser a única resistência ao
oralismo. Pesquisadores começaram a dar
o respaldo teórico a sua principal bandeira
de lutas, mediantes estudos linguístico que
comprovaram o status da língua de sinais
como sendo verdadeiramente uma língua.

A Educação Bilíngue:
uma possível
compatibilidade com o
conceito
socioantropológico de
surdez
Dúvidas frequentes sobre Libras

Apesar da Libras ter sido regulamentada em 2005 pelo


decreto 5.626, ainda são muitos os enganos a seu respeito.
Vamos esclarecer algumas questões recorrentes.
Surdo ou surdo-mudo?
Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdos explica que a expressão “tem sua raiz na
historia”, num tempo muito antigo quando a pessoa
Surda estava condenada à mudez. Ser surdo
significava automaticamente ser mudo, e pior, ser
um abandonado, excluído, desacreditado!
Língua ou linguagem?
É uma
língua natural como
qualquer outra, com
estruturas
sintáticas, semânticas
, morfológicas, etc. A
diferença básica é
que ela também utiliza
a imagem para
expressar-se.
Linguagem
Língua
Linguagem é tudo que envolve
significação, que pode ser humano
(pintura, música, cinema), animal
É um conjunto de palavras, (abelhas, golfinhos, baleias) ou
sinais e expressões artificial (linguagem de computador,
organizados a partir de código Morse, código internacional de
regras, sendo utilizado por bandeiras). Ou seja, “sistema de
um povo para sua interação. comunicação natural ou artificial,
Sendo assim a língua seria humana ou não” (Fernandes,
uma forma de linguagem. 2002:16).
Linguagem verbal ...Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Linguagem verbal é uso da Mas que seja infinito enquanto dure.
(Até um dia meu anjo)"
escrita ou da fala como meio
de comunicação.
O Soneto de Fidelidade de Vinícius de Morais

Linguagem não verbal


Linguagem não-verbal é o uso
de imagens, figuras, desenhos,
símbolos, dança, tom de voz,
postura corporal, pintura,
música, mímica, escultura e
gestos como meio de
comunicação.
Os significados dos sinais são óbvios?
Não. Pelo menos não todos. Existem tantos sinais
icônicos1 (que fazem alusão a imagem do que
representam), quanto arbitrários 2 (que não mantêm
semelhança com o que representam).

2
Desculpar
Para determinar o seu significado, os sinais
possuem alguns parâmetros (regras) para a sua
formação, como por exemplo a localização das
mãos em relação ao corpo, a expressão facial, a
movimentação que se faz ou não na hora de
produzir o sinal, etc.
A PERCEPÇÃO
O que é a percepção? E o que é a sensação?
Como vemos ou percebemos as coisas?
Que factores influenciam a nossa percepção?
Como se constrói o modo como nos vemos a nós e aos outros?
Sensação e Percepção

1) SENSAÇÃO: resulta do primeiro contacto com a realidade,


captação pura e simples de um objecto sensorial. É um estado
bruto e imediato, cujo papel principal é proporcionar à percepção
os dados de que necessita. Realiza-se através dos sentidos.

2) PERCEPÇÃO: A percepção é um processo psicofisiológico


através do qual o sujeito organiza e interpreta os estímulos do
meio que foram captados através dos orgãos dos sentidos
(sensação), permitindo-nos identificar os objectos e
acontecimentos significativos.
OBRIGADO!!
!
15 coisas que as pessoas surdas querem que você saiba
1 – TODOS OS SURDOS SÃO PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA MAS NEM
TODA PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA É SURDA
As pessoas acham que ser surdo é igual ser pessoa com deficiência
auditiva. E não é, pois o termo surdo está mais ligado a uma
identidade como ser bicha e existe todo um contexto social e cultural
por trás: a pessoa surda convive numa comunidade, com outros iguais
e fala numa língua própria, com gírias e hábitos individuais e sociais
únicos. E a “pessoa com deficiência auditiva” é um termo técnico da
área de medicina usado para falar de alguém que possui perda de
audição, seja completa ou parcial.

Qualquer indivíduo pode ter perda de audição, inclusive você, leitor. O


mais comum é a perda de audição súbita e a de por uso intenso de
fone de ouvido/headphone. Portanto todos os surdos possuem perda
de audição mas nem todas as PcDA – Pessoas com Deficiência
Auditiva – são surdas. Da mesma forma que existem os surdos
sinalizados (que dependem 100% de Libras) e os oralizados (que
dependem da oralização), os surdos que usam AASC (aparelho
auditivo), os que usam IC (o implante coclear) e os que não usam
nada, o que é o meu caso.
2 – NÓS PODEMOS CURTIR MÚSICAS

No carnaval deste ano em uma ação da Skol,


pessoas surdas foram no bloco da Anitta no RJ
com uma mochila que intensificava as vibrações
da música.

Muitos imaginam que por perdermos a audição


não podemos ouvir as músicas e acreditam que
para usufruir a música, você tem que ouvir. A
verdade é que não precisa ouvir para poder
apreciar a música, tem como explorar e curtir de
outras formas: a vibração corporal, o ritmo, a
batida, o toque, entre outras formas. E tem
também o senso comum de que ser surdo é não
ouvir completamente. Como eu falei
anteriormente, cada pessoa surda possui o nível
de perda de audição e se é em dois ouvidos ou
num lado só.
3 – SABEMOS OS PAJUBÁ E ARRASAMOS MUITO FALANDO EM LIBRAS

Sim, existe gírias LGBT em Libras e é bastante comum na comunidade surda LGBT e a
gente ARRASA E AMA usar! Mas, sim, tem os de heteros… Eis um video da Kitana
citando alguns pajubás:

https://youtu.be/pGBv9cDzpDY

4 – O ACESSO À INFORMAÇÃO CULTURAL E SOCIAL AINDA É LIMITADO

Símbolo oficial para indicar acessibilidade em Libras do conteúdo

Muitos surdos sofrem com a barreira quando se trata de acesso à informação na TV, na
internet e nos jornais por diversos fatores como a limitação de conhecimento na Língua
Portuguesa já que só uma parcela bem pequena consegue dominar bem o idioma para
compreender o que está sendo dito na imprensa, na novela, entre outras coisas e o
Closed Caption dos canais brasileiros é bem defeituoso (e requer melhorias). Tem a
questão da inclusão dos surdos nas escolas: a maioria das famílias prefere isolar o surdo
e não incentivar a leitura, o aprendizado e ensinar a criança a compreender. Poucos tem
esse hábito e é por isso que muitos escrevem erroneamente (pois seguem a sintaxe da
Língua Brasileira de Sinais).
5 – EXISTEM VÁRIAS LÍNGUAS DE SINAIS

Diferentemente do que a maioria pensa, a Libras não é uma língua universal e é só do


Brasil, por tanto que a nomenclatura é uma abreviação de Língua Brasileira de Sinais.
Cada país possui a sua língua de sinais e por incrível que pareça, existem até arvore
genealógica quando se trata de línguas de sinais como as línguas anglos-saxônicas e
latinas. A LSF (Língua de Sinais Francesa) é a língua-mãe de várias línguas de sinais
existentes no mundo todo. Mas, sim, temos uma língua universal como o Esperanto
que é bastante usado em conferências internacionais onde surdos de vários países
participam.
6 – EXISTEM SURDOS INFLUENCIADORES E CELEBRIDADES
Existem muitos influenciadores surdos no Brasil e no exterior onde tem o seu prestígio e
admiração pela comunidade surda e é claro, temos pessoas surdas que são atores e
atuam nos filmes/seriados de Hollywood como o estadunidense Nyle DiMarco, a Katie
Leclerc e o brasileiro Harry Adams que atua na série Crisálida, uma série brasileira que
tem na Netflix.

Do elenco de “Switched at Birth”, Katie Leclerc e Marlee Matlin (vencedora do Oscar de


melhor atriz por “Filhos do Silêncio” em 1987) são surdas.
7 – A EXPRESSÃO FACIAL É IMPORTANTE NA HORA DE FALAR EM LIBRAS
Vocês já notaram ao ver algum interprete em algum vídeo/live fazendo muitas
expressões faciais, né? A expressão facial é um fator muito importante para a
compreensão da fala da mesma forma que pessoas ouvintes usam para dar uma
entoação na voz, sabe? É isso mesmo, a gente usa para acentuar algo como expressar
tristeza, raiva, felicidade ou para adjetivar, caracterizar (classificar tamanho, forma e
estado) e sentenciais (afirmações e interrogações).

A intérprete fazendo expressões faciais durante a live do presidente Jair Bolsonaro.

Lembrando que não é tolerável rir das expressões faciais pois rir disso é como tirar
sarro do sotaque de alguém e desmerece toda a importância disso para os surdos
entenderem o que está sendo dito.
8 – EXISTEM VÁRIOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

A artista surda Christine Sun Kim comunicando com o


público dela usando o celular.

É muito comum eu conhecer algum ouvinte no trabalho


ou na rua mesmo e ele ficar receoso por não saber se
comunicar em Libras. Não tem problema, mas também
é interessante pensar que existe uma grande variedade
de meios de comunicação e é possível utilizar várias
delas: a mais comum é a escrita no bloco de notas de
papel. Dá para conversar com um surdo desta forma e
eu já fiz várias vezes com os colegas de trabalho,
inclusive na Casa 1. E a outra forma é usar o WhatsApp
ou algum tipo de serviço de comunicação escrita para
conversar no celular. Ou a mímica. O importante é você
tentar!
9 – OS NOSSOS SENTIDOS SÃO AGUÇADOS

Cena da série “Crisálida”, a primeira série de ficção dramática bilíngue, em Libras e


português, realizada no Brasil

O ser humano tem cinco sentidos (o olfato, o paladar, o tato, a visão e a audição),
certo? Quando você perde um dos sentidos, a tendência é o corpo fazer com que os
outros sejam intensificados, ou seja, a falta de audição é compensada com uma visão
mais ampla, o tato que faz você sentir mais coisas que um sem perda de algum deles,
entre outros exemplos. No meu caso, o sentido mais intensificado é o tato. Eu sinto
muita vibração no corpo em relação ao som mas já estou habituado e consigo ignorar
automaticamente da mesma forma que o seu cérebro esconde o seu nariz do campo
de visão.
10 – EXISTE A POLARIZAÇÃO DENTRO DA COMUNIDADE SURDA.
O discurso da primeira-dama Michele Bolsonaro em Libras na posse do presidente Jair Bolsonaro.
Para a surpresa de muitos, rola muita polarização entre os surdos em vários temas como a política,
existem os bolsominions e os petistas e na área de saúde tem os que defendem o uso do IC (implante
coclear) logo ao identificar a surdez depois do bebé nascer e os que defendem a autonomia do pessoa
de escolher ao crescer. E também tem os que defendem que a criança tenha autonomia de escolher
aprender a falar ou usar Libras. Eu mesmo defendo que é interessante que a criança seja educada de
duas maneiras e com o tempo ela analise o que prefere.

11 – A COMUNIDADE POR MAIS QUE SEJA POLARIZADA É BEM UNIDA E LUTA


MUITO PELA VISIBILIDADE

O lambe-lambe usado nas ruas de São Paulo na época onde o


Corposinalizante fez uma manifestação política. Com o
Leonardo Castilho fazendo a sequência dos sinais.

Sim, por mais que exista a polarização, quando acontece algo


com a comunidade, a gente sempre busca se unir para defender
e lutar como o grupo Corposinalizante luta para que tenha
legenda na TV brasileira, sobretudo os filmes nacionais (aqui
você pode ver o vídeo Atrás do Mundo onde eles mostram a
luta) ou quando as organizações como as associações e as
escolas especializadas para surdos fizeram uma manifestação
de visibilidade para surdos.
12 – SER SURDO É UMA LUTA POLÍTICA

A manifestação contra o fechamento das


escolas especializadas para surdos ocorrida no dia 29 de setembro de 2009.
A gente tem que cobrar constantemente a acessibilidade em todos os ambientes sociais e lidamos
com o audismo (uma forma de discriminação direcionada a pessoas surdas, as ações que elas
fazem para ajudar na comunicação com os outros e a imposição da cultura ouvinte nos surdos) e o
capacitismo em todos os ambientes sociais. A gente tem essa sensação de que é preciso matar
um leão por dia para conseguir viver.
13 – PRECISAMOS QUEBRAR O SENSO COMUM DE QUE OS SURDOS SÃO
INOCENTES, DESPROVIDOS DE MALDADE E DE ÓDIO
Eu como surdo, observo que muita gente vê as pessoas com
deficiência como pessoas inocentes, que não teriam como fazer
alguma maldade justamente por terem uma deficiência. É uma visão
bem capacitista pois dá a entender que somos inferiores e que vêem
a “deficiência” como inferioridade intelectual. Usarei esse
acontecimento como um exemplo: Viralizou um vídeo de um rapaz
com deficiência física e vocal (mudez) assaltando uma joalheira e
repercutiu bastante. Qual foi o motivo da repercussão? O Usar o fato
dele possuir uma deficiência como se fosse algo chocante de
acontecer. E não só isso, a apresentadora do “Triturando”, um
programa do SBT, a Flor Fernandez usou isso para fazer chacota e
imitar o assaltante, o que é completamente desprezível E CRIME
pois descriminou o rapaz por ser PcD. Eis a publicação da
influenciadora com deficiência, a Mariana Torquato:
14 – OS SURDOS SE RELACIONAM AFETIVAMENTE E SEXUALMENTE DA MESMA
FORMA QUE OS OUVINTES
O ator surdo Nyle DiMarco em uma cena romântica na série “Station 19”

Como eu havia dito anteriormente, as pessoas tem o senso comum de ver as PcD como indivíduos
inferiores e incapazes de ser iguais aos que não possuem alguma deficiência e isso se estende em
todos os campos da vida, inclusive na vida afetiva. Os surdos possuem e sabem se relacionar
afetivamente e sexual com outros surdos ou ouvintes (pessoas que ouvem) e muitos fazem isso. É algo
completamente normal e funcional para nós, sabe? Mas os ouvintes tendem a ficar mais curiosos
quando se trata da vida sexual: ficam perguntando se a gente geme, se a gente faz de tudo, como lida
com os sons, essas coisas. A gente aprende da mesma forma que os ouvintes: os filmes pornôs,
escola, entre outros meios de leitura/visualização e reproduz. É algo que todo mundo faz. Em relação
aos gemidos, todos gemem. No mínimo fazem sons de ar ofegante, de “ai”, entre outros. Varia de
pessoa para pessoa.

Mas, sim, infelizmente rola muita fetichização por parte de ouvintes que veem a pessoa surda como
experimento social e sexual e nenhum surdo gosta (muito menos as pessoas com deficiência) pois o
que queremos é ser vistos como vocês e não algo diferente. Eu mesmo fico constrangido quando
alguém fala ‘poxa, nunca fiquei com um surdo. vai ser uma experiência interessante’.
15 – A GENTE SABE QUANDO ESTÃO FALANDO DE NÓS

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