Você está na página 1de 25

Graduação em

Direito &
Relações Internacionais

Direito Internacional Público

Tratados Internacionais

A Convenção de Viena 1969


Processo de Elaboração de
um Tratado
Especificidades
VII.3. A prática das normas da CVDT

A PRÁTICA DOS
TRATADOS
INTERNACIONAIS
VII.3. A prática das normas da CVDT

Os tratados internacionais são atos solenes, cuja conclusão


requer a observância de uma série de formalidades
rigorosamente distintas e sucessivas.
São três as fases de produção de um tratado
(I) Negociações preliminares e assinatura
(II) Aprovação parlamentar (referendum)
(III) Ratificação ou adesão, com troca ou depósito dos instrumentos
À elas se inclui uma quarta, a da promulgação e publicação do
texto convencional na imprensa oficial do Estado. Ela é apenas
complementar às demais e visa dar aplicabilidade interna ao
compromisso internacionalmente firmado.
VII.3. A prática das normas da CVDT

São duas fases internacionais e duas fases internas no seu iter


procedimental.
Veja que se agregam as vontades do Poder Executivo (FASES 1,
3 e 4) e do Poder Legislativo (FASE 2) para perfeita formalização
do acordo, o que dá um viés seguramente mais democrático ao
processo de celebração dos tratados.

ATENÇÃO!
A participação do Executivo e do Legislativo
dá um viés democrático ao processo.
VII.3. A prática das normas da CVDT

Processo de formação dos tratados


VII.3. A prática das normas da CVDT

Nos tratados multilaterais, as propostas de negociações advêm


do convite de um Estado a outros Estados. Esses, mediante
decisão unilateral, se estiverem de acordo com o convite daquele
Estado, poderão formalizar o tratado. Se, no entanto, esse
tratado multilateral for ser elaborado no âmbito de uma
organização, a proposta de negociação será efetuada por um ou
vários Estados participantes da organização, cabendo depois ao
órgão colegiado a decisão por votação em plenário.
Já, se tratar-se de um tratado bilateral, as propostas serão
realizadas mediante contato entre a missão diplomática de um
país e a chancelaria do outro. Sendo que essas se reunirão ora no
território de um país, ora no do outro.
VII.3. A prática das normas da CVDT

É na fase das negociações preliminares que será elaborado e


discutido o texto do tratado.
Com a elaboração do texto final do tratado e sua respectiva
aprovação, acontece o que se chama adoção do texto do tratado.
A adoção antecede a assinatura.

Acontece que, antes de assinar, no caso brasileiro, o texto do tratado é


submetido à apreciação de dois órgãos do Itamaraty. São eles:
- a Consultoria Jurídica do Itamaraty (CJI), que analisa o aspecto jurídico do tratado, e -
a Divisão de Atos Internacionais (DAI), que analisa o aspecto processual do tratado.
Essa verificação merece um cuidado especial,
já que o tratado também estará sujeito ao controle de constitucionalidade.
VII.2. O Brasil e a CVDT

TRATADOS segundo a lógica do


VII.3. A prática das normas da CVDT

Desde a Primeira República, até os dias atuais, o sistema adotado


pelo Brasil consagra a participação do Poder Legislativo no
processo de conclusão de tratados, não tendo havido mudanças
profundas nessa sistemática.

 Art. 84. Compete privativamente ao PR:


[...] VIII – Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos
a referendo do Congresso Nacional.

 Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos
internacionais que acarretam encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional. [...]
VII.3. A prática das normas da CVDT

1º momento
Após a fase de negociação do tratado, o Presidente poderá:
-enviar ao Congresso para referendo;
-encomendar a realização de novos estudos;
-arquivar o texto, em caso de insatisfação;
Exceção: convenções internacionais do trabalho,
que deverão ser submetidas à aprovação Parlamentar.
(Tratado constitutivo da OIT, artigo 19, no5, letra b).
2º momento
Uma vez enviado o texto ao Congresso, este:
 Confirmação por meio da elaboração de um decreto legislativo.
 Rejeição do texto, apenas comunica ao Presidente.
VII.3. A prática das normas da CVDT

ATENÇÃO!
Segundo da Constituição da República de 1988 existe uma dupla
atuação do Congresso Nacional
(i) controle e fiscalização do Executivo;
(ii) atuação independente, representando a vontade nacional.

OBS.1: aprovação parlamentar não equivale à ratificação.


O CONGRESSO NACIONAL NÃO RATIFICA NENHUM TRATADO
OBS.2: o Congresso não pode fazer emendas, apenas aprovar ou
rejeitar o texto. Poderá, porém, apresentar reservas.
VII.3. A prática das normas da CVDT

3º momento
 Ratificação
Vale lembrar que não é propriamente a ratificação que dá efeito
ao tratado, mas sim a troca ou o depósito da carta ou dos
instrumentos de ratificação na OI ou no lugar indicado.
4º momento
Após o depósito de instrumentos, a prática brasileira (não está
previsto em lei ou na CR/1988) tem exigido que o Presidente da
República faça a expedição de decreto de execução,
promulgando e publicando no Diário Oficial da União o conteúdo
do tratado.
Representa a materialização do tratado em nível interno.
VII.2. O Brasil e a CVDT

outros comentários sobre a

CVDT
VII.3. A prática das normas da CVDT

Efeitos da internalização dos tratados na ordem jurídica nacional


(i) revoga todas as disposições em contrário
(legislação infraconstitucional, exceção dos tratados de direitos
humanos, que têm status de norma constitucional);
(ii) não pode ser alterado por disposição normativa posterior
(representa o descumprimento de uma norma internacional,
passível de responsabilização);
(iii) autorizar que os particulares reclamem, perante as instâncias
judiciais ordinárias, a satisfação dos direitos neles estabelecidos
e o cumprimento das obrigações decorrentes.
VII.3. A prática das normas da CVDT

As Reservas

Do próprio conceito das reservas previsto no artigo 2º, § 1º,


alínea d, da Convenção de Viena, percebe-se que as reservas
podem ser formuladas em diversos momentos
quando das negociações, momento em que o Estado procede à assinatura
ou mesmo na aprovação legislativa
ou no momento da ratificação
ou ainda na adesão

Ao aceitar um tratado internacional um Estado não


necessariamente precisa concordar com todas as disposições
nele previstas.
VII.3. A prática das normas da CVDT

As Reservas

Ao aceitar um tratado internacional um Estado não


necessariamente precisa concordar com todas as disposições
nele previstas.
Caso um Estado considere algum impeditivo contra algum
dispositivo no tratado, poderá efetuar reservas que só se aplicará
a ele, e só terá validade depois da concordância dos demais
Estados partes no tratado.
Vale lembrar que as Reservas só poderão acontecer se o próprio
texto do tratado assim prever. Vide Artigo 23.
VII.3. A prática das normas da CVDT

Emendas e Modificações
A regra geral é que todo tratado pode ser emendado desde que
haja acordo entre as partes.
Diferenciam-se os termos emenda e modificação.
As Emendas são alterações no texto do tratado com validade, a
princípio, para todos os Estados.
As modificações referem-se às alterações concluídas entre alguns
Estados-parte e válidas apenas entre eles.
A emenda pode constar em tratados multilaterais ou bilaterais,
enquanto que as modificações apenas nos multilaterais.
As emendas deverão ser obrigatoriamente notificadas aos Estados contratantes.
Caso um Estado se torne parte de um tratado posteriormente
a entrada em vigor da emenda, será ele considerado,
a não ser que manifeste intenção contrária, como aderente a ela.
VII.3. A prática das normas da CVDT

Descumprimento de um Tratado
São dois os princípios que direcionam a aplicação dos tratados:
pacta sunt servanda e boa-fé. Assim, após a efetiva constituição
de um tratado, as partes deverão respeitá-lo e cumpri-lo.
O descumprimento das obrigações constante nos tratados
constitui uma ilegalidade no Direito Internacional, gerando,
inclusive, responsabilidade internacional ao Estado que a
descumprir.
Existe, porém, na CVDT permissão para o descumprimento e,
conseqüentemente, a isenção de responsabilidades.
VII.3. A prática das normas da CVDT

Descumprimento de um Tratado
A força maior é um impedimento que impossibilita a execução da
obrigação pelo Estado devido a um fato externo imprevisto e que
não foi gerado por sua culpa.
Já a legítima defesa refere-se a: “um ato agressivo contra ato
ilegal de outra parte, a fim de proteger seu interesse ou de
terceiro, na situação urgente de esperar a intervenção do órgão
legítimo”.
Nessas hipóteses o Estado poderá ficar isento das responsabilidades
internacionais caso descumpra as obrigações de um tratado em que é parte.
O Estado, no entanto, não poderá invocar o direito interno
para justificar o descumprimento de um tratado.
VII.3. A prática das normas da CVDT

Tempo e Espaço
A CVDT dispõe em seu Artigo 28 sobre a aplicação temporal e no
Artigo 29 sobre a aplicação espacial.

A aplicação temporal sobre os tratados rege-se pelo princípio da


irretroatividade. Isso quer dizer que, em regra, o efeito do
tratado não retroage e só poderá ser aplicado a fatos ou atos
ocorrentes depois de sua entrada em vigor.

A aplicação espacial sobre os tratados rege-se pelo princípio da


territorialidade. Significa dizer que, via de regra, o tratado será
aplicado em todo o território dos Estados pactuantes.
VII.3. A prática das normas da CVDT

Interpretação
Segundo o Artigo 31 cabe aos próprios Estados-parte
interpretarem os tratados. A interpretação deverá ser de boa-fé
e à luz de seu objetivo e finalidade, levando em consideração o
seu texto, o preâmbulo e/ou os anexos. Apesar de os Estados
possuírem esse direito de interpretação, eles podem se socorrer
a uma corte internacional.
A CVDT permite ainda, no Artigo 32, que se recorra a meios
suplementares de interpretação, como, os trabalhos
preparatórios do tratado e às circunstâncias de sua conclusão.
.
Só pode recorrer a esses meios suplementares, caso o sentido
resultante da interpretação realizada pelos Estados seja:
ambíguo ou obscuro; ou conduza a um resultado
que é manifestamente absurdo e desarrazoado
VII.3. A prática das normas da CVDT

Morte de um Tratado
Um tratado que for declarado nulo não possuirá qualquer
eficácia jurídica segundo o Artigo 69 da CVDT.

Já o Artigo 70 prevê as consequencias da extinção de um


tratado. Extinção do tratado significa dizer que ele não imporá
mais direitos e obrigações às partes pactuantes.
VII.3. A prática das normas da CVDT

Morte de um Tratado
São causas que, segundo a convenção, determinam a extinção do tratado:
a) as previstas pelo próprio tratado ou quando as próprias partes unanimemente
assim convencionarem;
b) término do prazo de vigência do tratado.
c) redução do número das partes num tratado multilateral.
(Atenção à previsão do Artigo 55).
d) a denúncia ou retirada.
e) tratado posterior que regula o mesmo assunto de tratado anterior e
(I) com ele incompatível e (II) possua as mesmas partes.
(Artigo 59, 1, “a”, preve tanto se for expressa ou tácita)
f) a violação substancial do tratado.
g) a impossibilidade superveniente de cumprimento do tratado.
h) a mudança fundamental de circunstâncias, previsão do rebus sic stantibus;
i) a ruptura de relações diplomáticas ou consulares entre as partes contratantes,
(Atenção com a previsão do artigo 74).
j) a superveniência de uma norma de Direito Internacional Geral (jus cogens).
VII.3. A prática das normas da CVDT

Morte de um Tratado
José Francisco Rezek, que preferem classificar a extinção dos
tratados da seguinte forma:
1) “Por vontade das Partes ou ab-rogação”: exige a vontade comum de todas as Partes
Contratantes naquele momento vinculadas aos termos do tratado, a não ser que o
tratado contenha previsão de ab-rogação por maioria (REZEK, 2008, p. 46).
Ele afirma ainda que “a vontade comum ab-rogatória se exprime, as vezes, por
antecipação, no próprio texto convencional, ou seja, o texto disciplina o processo
extintivo”. Mesmo que o tratado nada disponha sobre sua extinção, ele não pode retirar
dos pactuantes a prerrogativa de ab-rogá-lo (REZEK, 2008, p 146).
2) “Por tratado superveniente sobre o mesmo assunto e que reúna todas as Partes do
tratado anterior” (REZEK, 2008, p. 143).
3) “Por superveniência de norma imperativa de direito internacional geral - jus
cogens”. Caso disciplinado na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados no seu
art. 64 (REZEK, 2008, 143).
4) “Por vontade unilateral” ou também chamada de “denúncia” (REZEK, 2008, p. 144).
VII.3. A prática das normas da CVDT

Denúncia

Ao apresentar uma denúncia, o país denunciante informa e torna


público que a partir de uma determinada data, aquele tratado
deixará de vigorar internamente, ou seja, que houve
rompimento do tratado.
A denúncia, a exemplo da ratificação, é um ato unilateral, mais
com efeito jurídico antagônico, inverso. Através dela, manifesta
o Estado sua vontade de deixar de ser parte no acordo
internacional.
O texto da CVDT contempla a regra supletiva sobre a denúncia
em Artigo 56.
As consequencias dessa medida estão reguladas pelas previsões
do Artigo 70.

Você também pode gostar