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ANÁLISE TEXTUAL

Aula 1
Professora: Geórgia Maria Feitosa e Paiva
Alguns questionamentos...
Se já sabemos falar a língua portuguesa, se a usamos em casa com a família e
amigos, no trabalho, na universidade, se até sonhamos em nossa língua, por
que ainda devemos ir à escola para aprender a língua portuguesa?

• Por que, na universidade, ainda estudamos esta língua?

• Qual é o papel da universidade, quanto ao ensino da língua materna?

• Existiria mais de uma língua portuguesa?

• Se há mais de uma língua, que língua nós precisamos aprender?

• Qual é o espaço do ensino de língua portuguesa neste Curso?


Algumas respostas...
Com certeza, não falamos da mesma maneira independente do contexto
de produção, pois ele nos sugere refletir sobre com quem falamos, o que
falamos, quando e onde falamos. É, inclusive, o contexto de produção que
contribui para a opção pelo gênero e pela seleção dos elementos
gramaticais que dão a coesão verbal e nominal e que permitem a conexão
dos textos.

Ao produzir um texto, o autor precisa fazer


ponderar os conhecimentos que tem sobre a
língua e sobre o gênero que pretende
produzir. Esses conhecimentos também são
acionados pelo leitor ao compreender o texto.
Algumas respostas...
A consciência que temos do uso da língua nas diversas situações de comunicação leva-
nos a refletir sobre a necessidade que temos de ampliar as competências comunicativas
do falante.

É nesse espaço de conscientização que a escola resgata seu papel na sociedade e a


Linguística traz respostas para problemas que relacionam a linguagem à sociedade e vice
e versa.

Embora, desde o princípio do século XX, com o advento da lingüística, a língua seja
compreendida como um fato social, só nos últimos anos as relações entre língua e
sociedade passaram a ser caracterizadas com maior precisão.

A língua passou a ser percebida como um "mega-instrumento" de comunicação social,


maleável e diversificado em todos os seus aspectos; um meio de expressão de indivíduos
que vivem em sociedade também diversificada social, cultural e geograficamente.
Alguns conceitos importantes
• Locutor
• Interlocutor
Formal
• Fala
• Escrita

Informal
Atividade
Pode-se afirmar que:
I- O locutor emprega em todos os quadrinhos a norma padrão, formal.
II- O estranhamento do locutário nos dois primeiros quadrinhos
mostra que ele deve ter, provavelmente, pouca escolaridade e
dificuldade de compreensão da norma-padrão ou da variedade
urbana de prestígio.
III- Variamos o emprego da língua de acordo com a situação. Nesse
caso, a variedade linguística informal, sem a rigidez das regras da
norma-padrão, seria mais adequada.
IV- O último quadrinho é marcado pela variedade linguística sem
monitoramento, com expressões que demonstram intimidade com o
interlocutor.
Variações Linguísticas
Para tratar da relação língua e sociedade, a Sociolinguística estuda a língua
como fenômeno social e cultural. Para os sociolinguistas, a língua, por ser um
fato social, não possui um sistema lingüístico unitário, mas um conjunto de
sistemas linguísticos, pelos quais se interrelacionam diversos sistemas e
subsistemas. A variação da língua ocorre em todos os níveis: fonético,
fonológico, morfológico, sintático, semântico etc. Uma língua apresenta, pelo
menos, três tipos de diferenças internas:
Diastráticas: referem-se às diferentes camadas socioculturais. Ex. Variantes culta,
padrão e coloquial;

Diatópicas: relacionam-se ao local de origem do falante. Ex. Diferentes falares


regionais.

Diafásicas: tange sobre as diferentes modalidades da língua. Ex. Língua falada,


escrita, técnica, literária, língua dos homens e mulheres, etc..
Variações Linguísticas
Possenti (2006), ao tratar deste assunto, afirma que a variação linguística é
um reflexo da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma
diferença de status ou de papel entre os indivíduos ou grupos, estas diferenças
se refletem na língua.

Com base nisso, é possível dizer que a língua falada por uma determinada
classe social contribui para a construção do perfil do falante e
consequentemente contribui para o acesso (ou não) deste falante em
determinado grupo social. Também é justo dizer que não existe uma
variedade "certa", pois cada variedade tem seus domínios próprios. Então,
como conciliar isso?

É neste impasse que a escola se localiza e assegura o papel no ensino e


aprendizagem da língua materna, no ensino aprendizagem.
Gramática e Variação Linguística
Para a gramática normativa, a língua corresponde às for­mas de expressão
observadas produzidas por pessoas cultas, de prestígio. Nas sociedades
que têm língua escrita, é principalmente esta modalidade que funciona
como modelo, acabando por representar a própria língua.

Eventualmente, a restrição é ainda maior, tornando-se por representação


da língua a expressão escrita elaborada literariamente. É a essa variante
que se costuma chamar "norma culta" ou "variante padrão" ou "dialeto
padrão". Na verdade, em casos mais extremos, mas não raros, chega-se a
considerar que esta variante é a própria língua.
Gramática e Variação Linguística
A gramática normativa exclui de sua consideração todos os fatos que
divergem da variante padrão, considerando-os "erros", "vícios de linguagem"
ou "vulgarismos".

Nos compêndios gramaticais que circulam, há sessões desti­nadas a classificar


os "vícios" de linguagem. Certamente, a preocupação fundamental é com o
padrão linguístico, mas, de fato, nessa sessão misturam-se frequentemente
problemas diferentes.

Sabe-se hoje que a variação é condicionada tanto por fatores externos à


própria língua quanto por fatores internos (falou-se deste aspecto na primeira
parte, em "Não existem línguas uniformes"). São externos, entre outros, os
fatores geográficos, os de faixa etária, os de classe social, de sexo, de grau de
instrução, de profissão etc.
Gramática e Variação Linguística
Claramente, por exemplo, eles "puseram" é a forma preferida pelos
falantes das classes sociais mais elevadas, mais instruídas, quando se
expressam em situações formais. Dá-se o inverso com formas como
"pusero", utilizadas por pessoas de menor instrução e qualificação social
mais baixa, ou que se expressam em situações informais.

As formas "erradas" que as pessoas cultas começam a empregar perdem


sua conotação negativa e acabam por tornar-se "certas". Os
sociolinguistas em geral defendem a hipótese de que as regras são de
natureza variável, de forma que é muito difícil para qualquer pessoa falar
durante um certo tempo sem passar inconscientemente de uma variedade
a outra.
Gramática e Variação Linguística
Como o dialeto padrão é apenas uma das variedades de uma língua, as
gramáticas normativas dão conta apenas de um subconjunto dos fatos de
uma língua.

Não é surpresa que, em consequência dos privilégios que sempre recebeu


por parte de escritores e gramáticos, e por causa de sua veemente e cara
defesa, feita às vezes às custas da crítica a outras formas, essa variedade
nos pareça "melhor", mais versátil e menos rude; entretanto, essa
impressão não justifica a crença preconceituosa, infelizmente muito
difundida na nossa sociedade, de que outras variedades são
linguisticamente inferiores, erradas e incapazes de expressar o
pensamento.
A noção de ERRO
A noção mais corrente de erro é a que decorre da gramática normativa: é erro
tudo aquilo que foge à variedade que foi eleita como exemplo de boa
linguagem. É importante, neste ponto, fazer duas considerações.

A primeira é que "os exempIos de boa linguagem" são sempre em alguma


medida ideais e são sempre buscados num passado mais ou menos distante,
sendo, portanto, em boa parte arcaizantes, quando não já arcaicos.

A segunda observação é que, apesar dessa tendência arcaizante registrada


nas gramáticas — e mesmo nos manuais de redação de jornais —, há
mudanças de padrão através da história. Esta observação é crucial. Não só há
variação entre formas linguísticas padrões e populares ou regionais, mas há
variação também no interior do padrão. Em primeiro lugar, variação histórica.
A noção de ERRO
Além disso, vale a pena observar que o padrão, mesmo o escrito, varia também na mesma
época. Revistas para o grande público, revistas técnicas, crônias, reportagem etc. não são
escritas exatamente segundo as mesmas regras. Uma observação razoável confirmará essa
afirmação.

Na perspectiva da gramática descritiva, só seria erro a ocorrência de formas ou construções


que não fazem parte, de maneira sistemática, de nenhuma das variantes de uma língua.

Uma sequência como "os menino", cuja pronúncia sabemos ser variável (uzmininu, ozminino,
ozmenino etc.), que seria claramente um erro do ponto de vista da gramática normativa, por
desrespeitar a regra de concordância, nao é um erro do ponto de vista da gramática descritiva,
porque construções como essa ocorrem sistematicamente numa das variedades do português
(nessa variedade, a marca de pluralidade ocorre sistematicamente só no primeiro elemento da
sequência — compare-se com "esses menino", " dois menino" etc.).
A noção de ERRO
Seriam consideradas erros, ao contrário, sequências como "essas me­
ninos", "uma menino", "o meninos", "tu vou", que só por engano
ocorreriam com falantes nativos, ou então na fala de estrangeiros com
conhecimento extremamente rudimentar da língua portuguesa.

A adoção de um ponto de vista descritivo permite-nos traçar uma


diferença que nos parece fundamental: a distinção entre diferença
linguística e erro linguístico.

Diferenças linguísticas não são erros, são apenas construções ou formas


que diver­gem de um certo padrão. São erros aquelas construções que não
se enquadram em qualquer das variedades de uma língua.
Os Erro na Escola e na Universidade
Nas Instituições de Ensino, seguramente, os erros de ortografia ocupam uma
grande parte do tempo e das energias do professor. Há dois tipos de erros
ortográficos, ambos fortemente motivados: os que decorrern da falta de
correspondência entre sons e letras, mesmo para uma variante padrâo de uma
mesma região, e os que decorrem da pronúncia variável em regiões ou grupos
sociais diferentes.

Os dois tipos de erros podem ser exemplifícados por duas dificuldades distintas
na grafia da palavra "resolveu": a dificuldade de escolher entre s e z na segunda
sílaba decorre da falta de correspondência exata entre sons e letras no sistema
ortográfico vigente; s e z são, nessa palavra, duas grafias teoricamente possí­veis
para o mesmo som, e não é de admirar que sejam usadas uma pela outra.
O Erro na Escola e na Universidade
Por outro lado, a dificuldade de escolher entre l e u no final da mesma
sílaba tem a ver com variações geográficas ou sociais na pronúncia. Para a
grande maioria dos brasileiros, não há qualquer diferença entre o som que
se escreve com l no final da sílaba e o u de "pausa"; as palavras "alto" e
"auto" não diferem na pronúncia.

Nesses casos, a distância que o aluno precisa percorrer desde seus


conhecimentos linguís­ticos reais até a grafia da variante padrão é maior do
que o aprendizado de um código em que os sons se convertem em letras.
Acrescente-se a dificuldade de aprender expressões que podem ser tão
estranhas como as de uma língua estrangeira.
Identidade e Língua

O processo de avaliação do outro, seja em


ambientes formais ou informais de
interação, passa de um processo de
compreensão natural do indivíduo para um
instrumento de poder, que pode levar tanto
a supervalorização como a marginalização
de determinados grupos sociais.

Dentre os instrumentos de poder mais


importantes, destaca-se a língua, que ao
mesmo tempo em que diferencia seus
falantes, os integra pelo idioma. Os diversos
falares que estão presentes em uma nação
marcam o contraste do seu percurso
histórico, social e até mesmo identitário.
Identidade, Língua Portuguesa e Colonização
No caso do Brasil, o nome do próprio idioma (português) já marca a
presença do colonizador e a influência deste nos processos de
identificação dos indivíduos, desde a época da colonização até os dias
atuais.
Ao se impor a língua portuguesa
para os índios, está se impondo
também uma língua com uma
memória outra: a do português
cristão. O silenciamento das línguas
indígenas é o silenciamento da
memória de outros povos. Há,
dessa forma, um efeito
homogeneizador resultante desse
processo de colonização linguística
que repercute ainda hoje no modo
como se concebe a língua nacional
no Brasil. (MARIANI, 2008, p.6)
Identidade, Língua Portuguesa e Colonização

A forma violenta como o processo de aculturação foi desenvolvido pelo


povo português em relação aos povos indígenas do Brasil também
fundamenta as crenças que até hoje pairam sobre os diversos contextos
sociais, crenças que mostram a negação ou a repugnação pelo que é
diferente do padrão apreciado.

histórico. Avaliar o outro ou a si mesmo como


falando certo ou errado é mais que
algo natural da própria estrutura
social, é também um reflexo das
crenças que estão imersas na
cultura, que fundamentam toda uma
estratificação social, ao passo em
que evidenciam onde está o poder
naquele momento.
Preconceito Linguístico
O preconceito lingüístico, que nada mais é que um preconceito social, o
qual distingue e separa classes sociais, estigmatizando ou prestigiando
falantes da língua portuguesa brasileira, ou seja, sua língua materna.

É nítida a influência que a língua, um fator social, tem na vida de nós seres
humanos. O modo de falar e escrever diz, ou pode dizer até mesmo de
onde o falante se origina e em qual classe está inserido. Assim como o
modo de se vestir, o modo de andar, a cor do cabelo, a cor da pele
designam o nível social do falante.

A fala e a escrita fazem parte de nosso cotidiano, e não devem ser


confundidas como sendo a mesma coisa, porque a fala é inerente à
pessoa, enquanto a escrita pode ou não ser aprendida.
Preconceito Linguístico
O preconceito lingüístico é um tema freqüentemente abordado por alguns
lingüistas com a intenção (dentre outras) de valorizar e conscientizar a
existência das variedades “dialetais” brasileiras, pois a língua portuguesa como
qualquer outra língua é heterogênea e mutável.

Tais mudanças não são bem aceitas por alguns membros da sociedade, uma
minoria pertencente a classes privilegiadas, a partir do momento em que
essas variedades passam a ser utilizadas por falantes oriundos da zona rural
ou dos subúrbios dos centros urbanos, o que se encontra também nas escolas,
as quais desrespeitam seus alunos tentando impor uma unidade lingüística
existente apenas na imaginação, ou seja, apesar da enorme diversidade e
variabilidade apresentada pela língua, no uso cotidiano, falada no Brasil as
pessoas tendem a transformar o idioleto(Pretti: 2000: 23) do outro em “erro”.
Preconceito Linguístico
Sabe-se que o Brasil historicamente foi uma colônia de Portugal, adquirindo
sua língua e até mesmo alguns hábitos, contudo é clara a existência de
diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal.

Na maioria das sociedades, as pessoas com poder político e aquisitivo acham


que tem uma língua mais correta, porém os brasileiros letrados discriminam
a si mesmos e aos seus compatriotas pobres (analfabetos ou semi-
analfabetos) achando que não falam bem o português, pois acreditam que
apenas os portugueses conhecem a língua, isto é, devido à constituição da
identidade do povo brasileiro, ter sido historicamente cercada de repressão,
há uma falsa visão na qual o português de Portugal se torna algo distante,
quando na verdade sabe-se que apenas evoluiu de maneira diferente.
Preconceito Linguístico
Da mesma forma alguns puristas da língua receiam que o amplo uso de
variedades estigmatizadas em detrimento de normas e padrões
estabelecidos pela gramática, propiciará a decadência da língua
portuguesa.

Essa crença deve-se ao fato de que essa variedade, em geral, é


apresentada com maior proximidade as crianças, seja ela de qualquer
classe social, porém está não aceitação por parte de um grupo é
corroborada por uma idéia preconcebida que pretende disfarçar o
“politicamente incorreto”, passando a uma análise distanciada das
verdadeiras razões para debochar e rir de uma maneira diferente da
“padrão”, principalmente quando esta é utilizada por alguém que não
pertença ao mesmo grupo.
Referências
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas:
Mercado de Letras, 1996.
BAGNO, MARCOS. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 34ª ed. São
Paulo: Loyola, 2004.

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