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Profª Camila Pasqual

ENEM —Dicas de Literatura: Texto Poético, Texto Literário, Estilos de


Época, Poesia, Modernismo.
Literatura é arte da palavra, sendo, portanto, um instrumento de
comunicação e de interação, por isso, faz parte da prova de
Linguagens e Códigos do ENEM. Sua abordagem segue o estilo da
prova, ou seja, é contextualizada e exige bastante interpretação.
O ENEM privilegia alguns verbos e dentre eles está o relacionar. É
importante que essa ação seja praticada nessa prova, logo, não
estude a Literatura de forma fragmentada, contextualize-a,
relacione o contexto histórico com a escola literária e com as
manifestações artísticas da época. Não se esquecendo de estudar os
autores que são considerados ícones dentro daquela escola.
A Literatura desde os primórdios é influenciada pelo momento
histórico, pois está veiculada à sociedade, logo se torna difícil
entender uma sem ter conhecimento do outro.
Outro aspecto relevante para a prova de Literatura do ENEM é o conhecimento da
cronologia da Literatura Brasileira, ou seja, a ordem em que as escolas literárias
aparecem e como se dá sua classificação, pelo estilo e época (correntes literárias).
Em 2014, o Modernismo configura-se como uma forte tendência para a prova do
ENEM, uma vez que, entre outros fatores, um dos ícones da poesia de 1930, Vinícius
de Moraes, estaria completando 100 anos. Como é comum ao ENEM aproveitar as
datas comemorativas para abordá-las em sua prova, é interessante ficar atento a
isso.
Vinícius de Moraes fez muito sucesso com suas composições que falavam de amor,
mas alcançou igual destaque para as de cunho social.  Como uma das temáticas que
se destacam no ENEM é essa, não deixe de estudar as características da poesia de
1930 e da obra de Vinícius de Moraes, atentando para o poema “Operário em
construção”, que possui figuras de linguagem, intertextualidades, além de outros
elementos.
Por último, nos estudos para a prova de Literatura, não se esqueça de relacionar as
manifestações artísticas que ocorreram no passado com as que ocorrem hoje. Por
exemplo, era característica do Classicismo a busca pela perfeição da forma e a
exaltação dos ideais da beleza. Será que isso só acontecia naquela época? E nos
nossos dias, será que esses ideais não estão presentes? Então, sempre que você for
estudar, procure relacionar as manifestações artísticas.
OBS. O Modernismo é o movimento literário mais representado no Enem.
 
QUESTÕES DE PROVAS DO ENEM
 
1) Enem 2011
TEXTO I
Onde está a honestidade?
 
Você tem palacete reluzente
Tem joias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança ou parente
Só anda de automóvel na cidade...
 
E o povo pergunta com maldade:
Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?
 
O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e felicidade...
 
Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
Em nome de qualquer defunto ausente....
ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.
TEXTO II
 
Um vulto da história da música popular, reconhecido nacionalmente, é Noel
Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria
completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima de
tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimônio cultural
brasileiro. Muitas de suas letras representam a sociedade
contemporânea, como se tivessem sido escritas no século XXI.
Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.

Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na


medida em que ele se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da
canção Onde está a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por meio:
a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns.
b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança.
c) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade.
d) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade.
e) da inexistência em promover eventos beneficentes.
Comentário da questão
Alternativa A. O título da poesia musicada de Noel Rosa já adverte
para uma situação irregular de procedimentos de vida que uma tal
pessoa consegue benefícios e bens de forma duvidosa e, de forma
maldosa, quem a conhece pergunta: "Onde está a honestidade?" É
por esta forma jocosa, irônica, que Noel procura fazer com que as
pessoas reflitam para a conquista de patrimônio e de sucesso, apenas,
de forma honesta, decente e objetiva, sem precisar do uso de artifícios
duvidosos para tanto.
Vale lembrar também que, na canção de Noel Rosa, o eu lírico
contrapõe a riqueza de um sujeito (“Você tem palacete reluzente/tem
joias e criados à vontade”) à origem obscura dos bens, revelando
ironia ao afirmar, por exemplo, que “o seu dinheiro nasce de repente”.
A denúncia do enriquecimento ilícito garante a atualidade do texto.
 
2)Enem 2010
 
Não tem tradução
[...] Lá no morro, se eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
[...] Essa gente hoje em dia que tem mania de exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês.
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone.

ROSA, N. In: SOBRAL, João J. V. A tradução dos bambas. Revista Língua Portuguesa. Ano 4, nº 54. São Paulo: Segmento, abr. 2010
(fragmento).
As canções de Noel Rosa, compositor brasileiro de Vila Isabel, apesar
de revelarem uma aguçada  preocupação do artista com seu tempo e
com as mudanças político-culturais no Brasil, no início dos anos 1920,
ainda  são modernas. Nesse fragmento do samba Não tem tradução,
por meio do recurso da  metalinguagem, o poeta propõe
a) incorporar novos costumes de origem francesa e americana,
juntamente com vocábulos estrangeiros.
b) respeitar e preservar o português padrão como forma de
fortalecimento do idioma do Brasil.
c) valorizar a fala popular brasileira como patrimônio linguístico e
forma legítima de identidade nacional.
d) mudar os valores sociais vigentes à época, com o advento do novo
e quente ritmo da música popular brasileira.
e) ironizar a malandragem carioca, aculturada pela invasão de valores
étnicos de sociedades mais desenvolvidas.
Comentário da questão
Alternativa “C”. A música de Noel Rosa combate as influências
francesas e inglesas, estas últimas com muito tempo de domínio
em nosso país, pela condição de serem consideradas símbolos
da cultura, da internacionalidade, da importância de saber mais
sobre as culturas, costumes e vocabulários dos dois idiomas.
Esta era a moda da época do Noel Rosa - a preocupação em se
saber mais sobre culturas externas e esquecimento de nossas
origens. Noel Rosa procurou satirizar aquelas interferências,
compondo música popular brasileira, com grande influência de
costumes cariocas, o povo, a fala deste povo, a moradia, a
felicidade acompanhada da simplicidade. Procurou ironizar
camadas sociais preocupadas em comunicar-se em francês e
inglês, considerando-se cultas para a época.
3) Enem 2013
Olá! Negro 
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem
a tua tatuagem execranda, 
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro! 
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi, 
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba, 
negro que foste para o algodão de USA 
para os canaviais do Brasil, para o tronco, para o colar de ferro, para a canga 
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues 
nesta hora triste da raça branca, negro! 
Olá, Negro! Olá, Negro! 
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro! 
LIMA, Jorge. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento).   

 
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por:
a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos. 
b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados. 
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza. 
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.
Comentário da questão: 
Alternativa “ B”. Fica explícito, no poema de Jorge de
Lima, o engajamento social do escritor ao escolher um
tema que dialoga com a realidade dos negros no Brasil.
É possível observar grande preocupação com a
questão da discriminação racial, oriunda de um triste
episódio de nossa História: a escravidão e o tráfico
negreiro. Jorge defende em seu poema a preservação
da identidade cultural dos negros, sobretudo no verso
“não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!”,
que aponta para a ideia de resistência negra à apatia
cultural dos brancos.
 
4) Enem 2013
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra
molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da
pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas
sei que o universo jamais começou.
[...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a
escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de
acontecer? Se antes da pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois
juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi
palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual
– há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da
iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou
escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que
justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque
preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro:  Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória
literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da
estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-
se essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante,
sendo indiferente aos fatos e às personagens. 
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os
motivos que levaram aos eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e
sobre a construção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da
complexidade para escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica,
incomuns na narrativa de ficção.
 
Comentário da questão:
Alternativa “C”. O romance A hora da estrela apresenta um
narrador onisciente intruso, interferindo no destino da personagem
e funcionando como uma espécie de alter ego de Clarice Lispector.
A narrativa é construída em uma fragmentação ternária com as
histórias interligadas — a da personagem, a do narrador e a própria
história. No fragmento apresentado, o narrador promove uma
reflexão existencial que se debruça sobre o fazer artístico por meio
da metalinguagem do texto e trabalha a palavra como uma
tentativa de resposta às suas próprias perguntas. O narrador do
trecho, Rodrigo S.M., de A hora da estrela, não se limita a narrar os
fatos. Ele reflete sobre questões existenciais, como mostra o trecho
“Pensar é um ato. Sentir é um fato”, bem como sobre a própria
escrita, como evidencia”. Enquanto eu tiver perguntas e não houver
resposta continuarei a escrever.”
 
5) Enem 2011
 
TEXTO I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a vossas senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1994 (fragmento)

 
TEXTO II
 
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que,
como o Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do
personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define,
menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros
homens. SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro, Topbooks, 1999 (fragmentos)
 
Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-
se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para
um problema social expresso literariamente pela pergunta: "Como então dizer quem fala/ ora
a vossas senhorias?". A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino com um homem resignado com a sua situação.
c) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham
sua condição.
d) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta em sua crise
existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel
Zacarias.
Comentário da questão
Alternativa C. Por mais que quisesse identificar-se e caracterizar-se, mais distante de sua
identidade ficava Severino, o retirante, protagonista do poema e da encenação em "Morte e
Vida Severina". Conhecido o poema, na sua totalidade e pelo próprio título, deduz-se mais um
entre muitos ''Severinos'', sem rumo e conhecedor de seu infortúnio e de seu destino, incapaz
de ser reconhecido como um particular ser, pois muitos e tantos outros tinham o mesmo
destino que ele: a miséria, o sertão e a falta de oportunidades. Finaliza, então, com um
questionamento: como querer e poder identificar-se se há tantos outros com a mesma sina? Se
todos a quem se apresenta também são outros severinos? Sofredores, conformados pela falta
de recursos, de condições de trabalho e infelizes com uma sobrevivência miserável.
Letra A errada. No trecho há referência apenas ao processo de nomeação, que aponta para a
generalização e não para a minúcia.
Letra B errada. Ao questionar a maneira de se apresentar, Severino mostra consciência de sua
condição social, estendida a tantos outros, sugerindo certo incômodo e não resignação.
Letra C certa. No texto selecionado, a personagem Severino se apresenta a partir de traços que
são comuns a outras pessoas que partilham sua condição social; possui um nome comum a sua
identificação, relacionada aos pais, cujos nomes também são comuns a muitos nordestinos.
Letra D errada. Nada no texto permite afirmar que o personagem-narrador é uma projeção do
poeta, nem identificar no discurso uma “crise” existêncial”. O questionamento tem base na
questão social.
Letra E errada. Severino não descende do coronel Zacarias; seu pai recebeu esse nome em
homenagem a um antigo senhor da sesmaria.
6) Enem 2011
Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos
gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas.  O senhor vê: o
Zé-Zim o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso.
Pergunto: - Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-
d'angola, como todo mundo faz? - Quero criar nada não... -
me deu resposta: - Eu gosto  muito de mudar... [...] Belo um
dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu
dou  proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe,
quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra.  [...]
Gente melhor do lugar eram todos dessa família
Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos  trouxeram
junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio
da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São
Francisco, o senhor sabe. ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José
Olympio (fragmento).
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma
desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela
concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados
e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-
narrador
 
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca
disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa
condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de
agregado — em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que
pouco se envolvem no trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela
sua dupla condição de homem  livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social,
de proprietário de terras.
Comentário da questão
Alernativa D
Pela condição de pobreza, de extrema miséria, os sertanejos tornam-se
errantes, em busca de melhores condições e não se apegam à sua terra, são
conformados por demais e não veem oportunidades; para muitos faltam-lhes
iniciativas, pela mesmice de vida. Embora livres para ir e vir, mantêm-se
dependentes para decidir por algo a melhorar, arranjam ‘’servicim’’ aqui,
‘’servicim’’ ali e aceitam o que lhes é dado. Caso típico de Riobaldo,
protagonista de "Grande Sertão: Veredas". Através da fala do narrador,
percebe-se a relação paternalista (“Eu dou proteção”) e exploradora na
relação proprietários e trabalhadores das áreas rurais brasileiras. Zé-Zim é
“meeiro”, trabalhador de terra alheia que reparte o rendimento com o dono
da terra, o que o coloca numa relação de servilismo e dependência,
semelhante ao do agregado que deve atender às exigências do seu protetor
para poder sobreviver. Assim, a sua condição de vida é dificultada pelo duplo
estado de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente, como se afirma em
“D”.
 
 
7) Enem 2012
Miguilim
“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa.
Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de
óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
— Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?
— Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum
outro.
Redizia:
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda...Mas que é que há, Miguilim? Miguilim
queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava. — Por que
você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua
casa?
— É Mãe, e os meninos…
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos.
O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor
perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo:— ‘Miguilim,
espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim.9ªed.Rio de Janeiro:Nova Fronteira,1984.
Esta história, com narrador observador em
terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da
perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de
vista do narrador ter Miguilim como referência,
inclusive espacial, fica explicitado em:
a)“O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”
b)“Ele era de óculos ,corado, alto (…)”
c)“O homem esbarrava o avanço do cavalo,(…)”
d)“Miguilim queria ver se o homem estava
mesmo sorrindo para ele,(…)”
e)“Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”
Comentário da questão
Alernativa A. A explicitação de que o ponto de vista do narrador da
novela “Campo Geral”,de Guimarães Rosa, tem o protagonista Miguilim
por “referência, inclusive espacial” está na expressão “cá bem junto”,
em que o advérbio “cá”, marcador de espaço próximo de quem fala,
mostra que o narrador está posicionado próximo a Miguilim. É preciso
fazer um reparo à afirmação de que a novela “Campo Geral” apresenta
um “narrador observador em terceira pessoa”. De fato, o narrador
conta a história em terceira pessoa: seu âmbito de visão descortina os
movimentos de todas as personagens, com capacidade de revelar
detalhes miúdos e aparentemente insignificantes. O foco aguça-se
mais, no entanto, em relação ao protagonista, Miguilim; nesse caso, o
narrador comporta-se de modo onisciente, desvelando os sentimentos
mais íntimos do menino, suas fantasias secretas e sonhos. Trata-se,
pois, do recurso chamado, com propriedade, onisciência seletiva.
 
8)Enem 2013
No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de
que no Brasil havia duas literaturas independentes dentro
da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões
segundo ele muito diferentes por formação histórica,
composição étnica, costumes, modismos linguísticos etc.
Por isso, deu aos romances regionais que publicou o título
geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritor
gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante
engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais
diversas, refletindo as características locais. CANDIDO, A. A nova
narrativa. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 2003.

Com relação à valorização, no romance regionalista


brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas
regiões nacionais, sabe-se que:
a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática essencialmente
urbana, colocando em relevo a formação do homem por meio da mescla de
características locais e dos aspectos culturais trazidos de fora pela imigração
europeia.
b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano, retrata a
temática da urbanização das cidades brasileiras e das relações conflituosas
entre as raças.
c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo no uso do
vocabulário, pelo temário local, expressando a vida do homem em face da
natureza agreste, e assume frequentemente o ponto de vista dos menos
favorecidos.
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é Machado de
Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, o sincretismo
religioso, as raízes africanas e indígenas que caracterizam o nosso povo.
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge Amado são
romancistas das décadas de 1930 e1940 do século XX, cuja obra retrata a
problemática do homem urbano em confronto com a modernização do país
promovida pelo Estado Novo.
Comentário da questão
 
Alternativa “C”.
O regionalismo aparece na literatura brasileira em diversos momentos, com várias propostas
estilísticas e temáticas. O romance nordestino se caracteriza pela exploração de regionalismos
linguísticos e pelo registro realista da luta do homem contra a natureza inóspita.
Letra A errada. O romance do sul do país não foca essencialmente o espaço urbano. Vários deles
retomam a história da formação da região, centrando-se no espaço rural.
Letra B errada. Os romances de José de Alencar são urbanos, regionais, indianistas e históricos.
Nos romances urbanos, o foco está na abordagem de comportamentos sociais, sobretudo da
elite. Não há abordagem de conflitos entre raças.
Letra C certa. O romance do Nordeste tem como foco as questões que afligem o homem comum,
principalmente os menos favorecidos, em sua relação com a natureza hostil do sertão. Os autores
denunciam as relações sociais e a ausência do Estado, em textos desprovidos de idealismo.
Letra D errada. A literatura de Machado de Assis, embora aponte para o contexto de época,
procura o universalismo. O autor enfatiza os comportamentos humanos, sem os atrelar a
discussões específicas sobre a formação cultural do brasileiro.
Letra E errada. Simões Lopes Neto é um autor da passagem do século XIX para o XX. Além disso,
o foco dos demais autores mencionados não é necessariamente ou predominantemente, o
homem urbano, mas sim o morador de áreas periféricas, que enfrenta dificuldades criadas pelas
desigualdades regionais.
 
 
9) Enem 2013
 

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set.2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prof. Gráfica. 2012.
(Foto: Reprodução)
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a
brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da
identidade nacional, as anotações em torno dos versos
constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de
dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de
leitura poética
e) Lembretes de palavras tipicamente brasileiras
substitutivas das originais
Comentário da questão
Alternativa A.
As anotações junto aos versos ao longo do poema possibilitam
direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados
histórico-culturais por parte dos leitores, como a que explica que
Brasil é o país do futebol, ou que Cette não é um número, mas sim
um time. Além disso, o todo do poema explicita a supremacia do
futebol como marca de brasilidade. O eu lírico associa os placares
de vitórias obtidas pelo time do Clube Paulistano em jogos contra
equipes estrangeiras como forma de imposição do Brasil sobre a
Europa. Deve-se reconhecer o tom jocoso que preside a
apresentação do Brasil como “país do Futebol”, o qual remete às
propostas de revisão crítica da identidade brasileira apresentadas
por Oswald de Andrade desde os primeiros tempos do
Modernismo.
10) Enem 2012
 

ARGAN, G. C. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. (Foto:
Reprodução/Enem)
O quadro Les Demoiselles d’Avignon (1907),
de Pablo Picasso, representa o rompimento
com a estética clássica e a revolução da arte
no início do século XX. Essa nova tendência se
caracteriza pela
a) pintura de modelos em planos irregulares.
b) Mulher como temática central da obra.
c) cena representada por vários modelos.
d) oposição entre tons claros e escuros.
e) nudez explorada como objeto de arte.
Comentário da questão
Alternativa A.
Observando o quadro de Pablo Picasso percebemos a
pintura de uma mesma figura em planos irregulares,
característicos do Cubismo. Essa inovação permitiu a
ruptura com o modelo clássico revolucionando a arte
no início do século XX. Para os artistas de vanguarda,
a representação do mundo passava a não ter
compromisso com a imitação do real. As demais
características mencionadas fazem parte da tradição
artística, não contendo aspectos estéticos
revolucionários.
 
11) Enem 2012
 
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice
de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que
fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis
do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não.
Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas...
Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à
loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e
ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu
patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a
doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a
via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma
decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio
de seu gabinete. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em:
8 nov. 2011.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi
publicado em 1911. No fragmento destacado, a reação do personagem
aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que
a)a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza
brasileira levou-o a estudar inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão
mais ampla do país.
b) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de
prosperidade e democracia que o personagem encontra no contexto
republicano.
c) a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a
cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz à
frustração ideológica.
d) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de
decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-
se em seu gabinete.
e) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional
faz parte de um projeto ideológico salvacionista, tal como foi difundido
na época do autor.
Comentário da questão
Alternativa C.
O personagem do romance Triste fim de Policarpo Quaresma ao pôr em prática
suas ações patrióticas torna claro que a construção de uma pátria a partir de
elementos míticos -  cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística,
conduz a uma frustração ideológica. O segundo parágrafo do fragmento confirma,
não só essa ideia como a opção C sendo a resposta certa.
Letra A errada: Policarpo próximo do final da vida, repensa sua trajetória e
percebe que seus estudos foram inúteis e que impossibilitaram uma visão real do
Brasil e de seu povo.
Letra B errada. A obra de Lima Barreto crítica o contexto republicano pela
ausência de democracia; Policarpo Quaresma conclui que a pátria que imaginara
se converteu em um “fantasma no silêncio do seu quarto”.
Letra D errada. Policarpo enfrentou as zombarias dos colegas quando se dispôs a
seguir a cultura indígena, mas isso não o levou a se resguardar em um gabinete.
Ao longo da vida, procurou efetivar outras ações para beneficiar o Brasil e, no final
dela, foi preso por ter sido considerado um traidor da pátria.
Letra E errada. O romance destaca a dificuldade em cultivar terras que não eram
“ferazes” (“férteis, “fecundas”).
 
12) Enem
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
 
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
 
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
 
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e
racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo
Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo
são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse
julgamento revela que
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a
agir de forma dissimulada.
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando
compartilhado por um grupo social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o
sentimento de inveja.
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se
do próximo.
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício
nocivo ao convívio social.
Comentário da questão
Alternativa A.
O poema de Raimundo Correia revela um olhar poético sobre a máscara
social do ser humano. Cada indivíduo cria uma fortaleza interior em uma
tentativa de ocultar suas fraquezas. O íntimo e a aparência formam uma
oposição semântica que percorre todo o texto em uma espécie de
metafísica Ser × Parecer.
Letra B errada. O eu lírico acusa os homens de dissimularem suas dores,
ocultando-as do grupo social, incapaz de se solidarizar com uma condição
individual de vulnerabilidade.
Letras C e D erradas. Segundo o poema, os indivíduos preocupam-se em
construir uma imagem de felicidade perante o grupo social, não
mostrando nenhuma disposição para um convívio mais verdadeiro ou
solidário.
Letra E errada. O texto não fala em “ transfiguração! (“transformação”),
mas em “dissimulação”. Esta tem sido colocada como regra que permite o
convívio social.
 
13) Enem
Cárcere das almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
 
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
 
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
 
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
 
CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto
cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das
almas, de Cruz e Sousa, são:
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta,
de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à
temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento
metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade
social expressa em imagens poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a
rima e a métrica tradicionais em favor de temas do
cotidiano
Comentário da questão
Alternativa C.
O texto de Cruz e Sousa explora um tema universal — o do sofrimento humano — de
forma abstrata e metafísica: apresenta a alma humana como encarcerada em
“prisões da Dor”.(A universalidade do tema é provada pela alusão ao desejo de
libertação do mundo material e ascensão ao plano dos espíritos) A forma poética
escolhida pelo autor também demonstra refinamento, já que o soneto é uma forma
consagrada pela literatura clássica. O caráter vago e o uso de maiúsculas sem
necessidade gramatical também apontam para aspectos típicos do Simbolismo,
estética a que o poema pode ser associado.
 
Letra A errada. Ao contrário do que afirma a alternativa, o poema vale-se de
linguagem sofisticada e ambígua, típica do Simbolismo.
Letra B errada. O tema do poema é a morte como possibilidade de libertação da
alma, e não o nacionalismo expresso em tom intimista.
Letra D errada. Não há qualquer referência à realidade social do período; o
incômodo do eu lírico a situações do contexto histórico em que se insere.
Letra E errada. O tema da morte com a espiritualização não pode ser considerado
cotidiano. Além disso, o poema organiza-se em forma fixa (soneto), com métrica
regular ( versos decassílabos) e rígido esquema de rimas.
14) Enem 2011
Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados,
iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo
em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro,
acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente
com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da
música crioula para que o sangue de toda aquela gente
despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com
urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez
mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos
que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em
torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta
incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor
música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia
de doer, fazendo estalar de gozo.
AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).
No romance O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, as
personagens são observadas como elementos coletivos
caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e
etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e
portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois
a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de
personagens portuguesas.
b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o
do português inexpressivo.
c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o
fado português.
d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza
dos portugueses.
e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com
instrumentos musicais.
Comentário da questão
Alternativa C.
No excerto de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, descreve-se a mudança de
postura do grupo que se reunia para ouvir o som melancólico do
cavaquinho de Porfiro e que, de repente, é surpreendido pelo ritmo
vibrante do violão de Firmo. A nostalgia do fado é substituída pelo som
envolvente e pleno de luxúria de um chorado baiano que contagia o
grupo.

Letra A errada. A referência aos dois músicos não é suficiente para revelar
o confronto entre os grupos.
Letra B errada. Não há referência aos cenários do Brasil e de Portugal.
Letra D errada. A tristeza dos portugueses tem como elemento de
contraposição a sensualidade brasileira e não o sentimentalismo.
Letra E errada. Não há referência ao uso dos instrumentos pelos
portugueses, logo não se pode identificar uma comparação.
 
 
15) (Enem 2011)
Lépida e leve
Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...
[...]
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à ideia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...
MACHADO. G. In: MORICONI, I. (org). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).
A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções
artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado
incorpora referências temáticas e formais modernistas, já
que, nele, a poeta:
a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e
abandona o cuidado formal.
b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e
questiona o poder da palavra.
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a
construção do verso livre.
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e
propõe a simplificação verbal.
e) explora a construção da essência feminina, a partir da
polissemia de “língua”, e inova o léxico.
Comentário da questão
Alternativa E
No poema “Lépida e Leve”, o eu lírico estabelece aproximações sugestivas entre o
exercício erótico e o fazer poético ("carícias supremas","formosos poemas"). Assim, o
elemento-imagem “língua” é explorado polissemicamente no sentido de fonte de prazer
e ideia, expressando o total envolvimento do criador com a obra criada (“Língua que me
cativas, que me enleias /os surtos de ave estranha, /em linhas longas de invisíveis
teias, /de que és, há tanto, habilidosa aranha...”). O eu lírico, feminino, projeta-se como
“frase” e une-se ao discurso de todas as mulheres (“amo-te como todas as mulheres”),
expressando o direito de desfrutar inteiramente do prazer.

Gilka Machado (1893-1980) – VOLUME


Século xix. Estado RJ. Atividade: ativista política e dos movimentos sociais. Poetisa,
sufragista e feminista carioca, pioneira na utilização do erotismo na poesia feminina
brasileira. Fez parte do grupo que fundou o Partido Republicano Feminino, em 1910.
Publicou vários livros de poesia, como Mulher Nua e Sublimação. Em 1979, recebeu o
prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras. A biografia
completa pode ser apreciada na obra Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a
atualidade (biográfico e ilustrado), de Schuma Schumaher e Érico Vital Brasil, Editora
Zahar, 2000.
 
 
16) (Enem 2011)
Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz
dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar 1967.
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de
significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No
poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e
cidade aponta para:
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros
urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela
observação da aparente inércia da vida rural.
c) opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de
meditação sobre a sua
juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera
insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da
morte.
Comentário da questão
Alternativa B
Os dois últimos versos do poema (“Que a vida passa!
que a vida passa! /E que a mocidade vai acabar“)
enfatizam a efemeridade da vida, o caráter transitório
do momento percebido na paisagem bucólica e propícia
à meditação em que o eu lírico está imerso (“E tudo tem
aquele caráter impressivo que faz meditar: /Enterro a pé
ou a carrocinha de leite puxada por um /bodezinho
manhoso”).
 
17) Enem 2013
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!

GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). Rio de Janeiro: Sony Music, 2001
(fragmento
As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem
ao texto
a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da
internet.
b) cunho apelativo, pela predominância de imagens
metafóricas.
c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias.
d) espontaneidade, pelo uso da linguagem
coloquial.
e) originalidade, pela concisão da linguagem.
 
Comentário da questão
Alternativa D
A letra A errada. Embora a letra apresente caráter atual, não
são identificados termos específicos da linguagem utilizada na
internet. A Letra B está incorreta porque, apesar de existirem
imagens metafóricas na letra, não são elas as responsáveis
pelo cunho apelativo (e sim o uso da interlocução). Já a letra C
está incorreta porque, apesar de termos um tom de diálogo
(também causado pela interlocução), não há tantas gírias.
Logo, a alternativa correta é a D, já que se trata de um rap,
escrito em linguagem informal. e/ou linguagem coloquial.
Letra E errada, O texto apresenta repetição de uma ideia
central, por isso, não se pode falar em concisão.
 
18) Capítulo III
 
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava
açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada.
Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de
bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim
se explica este par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um
Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, — primor de
argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era
espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de
Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus
crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo
Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos.
Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala,
como um pedaço da província, nem o pôde deixar na cozinha, onde
reinava um francês, Jean; foi degradado a outros serviços.
ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento).
Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No
fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua
abordagem reside:
a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência
sobre a essência.
b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela
dos imigrantes.
c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Rubião.
d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a
durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho.
e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de
xenofobia.

Mefistófeles :é o nome de uma entidade diabólica nascida durante a Era Medieval, e


apresentada como uma das manifestações do mal, companheiro de Lúcifer, seu assessor
na apreensão de almas aparentemente puras. Em muitas tradições culturais este ser é
associado ao próprio Diabo. Ao longo do período renascentista ele era chamado de
Mefistófeles. Na literatura esta personagem está presente nas várias interpretações do
mito de Fausto, principalmente na versão imortal do alemão Johann Wolfgang von Goethe .
Teso: tenso, rígido, duro etc.
Comentário da questão
Alternativa A
No trecho extraído de Quincas Borba, nota-se um jogo de
contrários construído sobre as qualidades dos objetos
domésticos (ouro e prata versos bronze, estatuetas artísticas
versos. utensílios) e dos criados (livre versos. escravo, negro
versos.. branco, estrangeiro versos. nacional). Tais antíteses
expressam as tensões entre aparência e essência que levam
Rubião, cioso de seu estado de novo rico, a preferir sempre a
primeira à segunda, como se nota na dileção pela prata (em
desprezo ao do bronze, figurado em temas universais da
literatura) e na opção pelo criado espanhol (em desfavor do
crioulo, por quem Rubião sentia afetividade).
 
19)Enem 2010
Quincas Borba mal podia encobrir a satisfação do triunfo. Tinha uma asa de
frango no prato, e trincava-a com filosófica serenidade. Eu fiz-lhe ainda algumas
objeções, mas tão frouxas, que ele não gastou muito tempo em destruí-las.
— Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer nunca
o princípio universal, repartido e resumido em cada homem. Olha: a guerra,
que parece uma calamidade, é uma operação conveniente, como se
disséssemos o estalar dos dedos de Humanitas; a fome (e ele chupava
filosoficamente a asa do frango), a fome é uma prova a que a Humanitas
submete a própria víscera. Mas eu não quero outro documento da sublimidade
do meu sistema, senão este mesmo frango. Nutriu-se de milho, que foi
plantado por um africano, suponhamos, importado de Angola. Nasceu esse
africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe, um navio construído de
madeira cortada no mato por dez ou doze homens, levado por velas, que oito
ou dez homens teceram, sem contar a cordoalha e outras partes do aparelho
náutico. Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o resultado de uma
multidão de esforços e lutas, executadas com o único fim de dar mate ao meu
apetite.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1975.
A filosofia de Quincas Borba — a Humanitas — contém princípios que,
conforme a explanação do personagem, consideram a cooperação entre
as pessoas uma forma de
a) lutar pelo bem da coletividade
b) atender a interesses pessoais
c) erradicar a desigualdade social
d) minimizar as diferenças individuais
e) estabelecer vínculos sociais profundos
 
Comentário da questão
Alternativa B. Para explicar a Brás Cubas a filosofia da Humanitas,
Quincas Borba valeu-se do frango, que pôde consumir graças a um
processo de produção que envolveu o esforço e mesmo o sofrimento
de inúmeras pessoas. Essa exposição evidencia que os princípios da
Humanitas mostram a cooperação como um processo que visa atender
a interesses pessoais.
Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas
feições, a escultura barroca no Brasil tem forte influência do
rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do
pátio do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas
(MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente
religiosa, sua obra revela:
a)liberdade, representando a vida de mineiros à procura da
salvação.
b)credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas
Gerais.
c)simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação
do divino.
d)personalidade, modelando uma imagem sacra com feições
populares.
e)singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras
divinas.
 
Comentário da questão
Alternativa D
As esculturas barrocas no Brasil têm forte influência
do rococó europeu. As obras sacras de Aleijadinho
distinguem-se das demais por apresentar
características particulares das esculturas inspiradas
nas pessoas do povo. Além disso, as obras de
Aleijadinho são marcadas por forte apelo religioso e
seguem a tradição da escultura sacra europeia,
contudo, o escultor apresentava como singularidade
as feições de suas esculturas, modeladas com base no
aspecto das pessoas do povo.
 
21) Enem 2013
TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez
deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-
me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou
quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam
arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças
ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam
todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes
com suas tinturas que muito agradavam.
CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun.

2013. (Foto: Reprodução


Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de
Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao
Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que:
a)a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras
manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e
preocupa-se apenas com a estética literária.
b)a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja
grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a
contestação de uma linguagem moderna.
c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do
colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro
plano, a inquietação dos nativos.
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e
não verbal –, cumprem a mesma função social e artística.
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos
diferentes, produzidas em um mesmo momentos histórico, retratando
a colonização.
Comentário da questão
Alternativa C
A carta de Caminha é um documento histórico e político, que
descreve, sob o olhar de cunho otimista do colonizador, os
nativos que aqui os receberam. Por outro lado, a pintura de
Portinari destaca esses nativos em primeiro plano,
transmitindo suas inquietações e espanto com as embarcações
portuguesas que se aproximam. Em outras palavras, A carta de
Caminha destaca a visão otimista do colonizador, evidenciada,
por exemplo, na informação de que trocaram suas armas por
outros objetos, revelando, portanto, a aceitação da chegada
dos portugueses; já a pintura de Portinari revela a inquietação
dos indígenas diante dos desconhecidos.
 
22) Enem 2012
 
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
 
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
 
Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:
 
Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido. CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008
SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio. Roma,
Galleria Borghese Disponível em: www.arquipelagos.pt. Acesso em: 29 fev. 2012
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens
artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e
cultural de produção pelo fato de ambos:
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio
presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na
variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do
poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e
vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como
base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos usados no
poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da
moça e pelos adjetivos do poema.
Comentário da questão
Alternativa C
Os versos de Camões criam uma imagem idealizada da figura feminina,
composta por expressões como “Leda serenidade”, “doce riso”, “presença
moderada e graciosa”, etc. Enquanto tela de Rafael Sanzio, destaca o equilíbrio
e a proporcionalidade, que se estendem da postura da moça para o espaço ao
fundo.
Letra A errada. Não se pode atribuir realismo à pintura de um animal
mitológico nem a uma descrição que supervaloriza a beleza da amada.
Letra B errada. Os enfeites mencionados devem ser entendidos
metaforicamente. Os rubis e as perlas(“pérolas”) remetem aos lábios e dentes,
e o ouro, aos cabelos que caem sobre a pele rosada.
Letra D errada. Mantém-se a idealização da mulher, embora a postura
assumida pelo eu lírico seja diversa. Substitui-se a coita de amor pelo discurso
contido de exaltação das virtudes.
Letra E errada. Tanto o poema quanto a expressão revelam serenidade e não
tumulto inferior.
 
23) Enem 2009
 
Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre
si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer
dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à
apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O
texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo
teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença
de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à
ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos
dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à
unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito,
complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o
conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a
ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor,
ou sua interpretação real por meio da representação.
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um
espetáculo teatral, conclui-se que:
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de
ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva.
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído
pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e
do trabalho interpretativo dos atores.
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais,
como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e
fragmentos textuais, entre outros.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação
teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da
comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do
processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata
de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena
teatral.
Comentário da questão
Alternativa C
A construção de um texto teatral proposta pelo crítico pode se desenvolver a
partir das mais variadas fontes, tanto uma lenda folclórica como uma notícia de
jornal. A definição do gênero dramático refere-se à forma utilizada para se
contar uma história — diálogo entre as personagens sem a intermediação de
um narrador —, e não ao seu conteúdo. Vale lembrar que o texto teatral pode
ter como base produções de outros gêneros.
Letra A errada. Nada no texto permite concluir que o espetáculo dramático
resulta de uma ação individual. Ele envolve diversos profissionais, como
autor(autores), atores, cenógrafos, diretores, iluminadores ,etc.
Letras B e E erradas. Em um esptéculo teatral, o cenário, bem como os
recursos de iluminação e som, são fundamentais para criar a realidade a ser
instaurada diante do público, por isso, devem dialogar intimamente entre si,
com o tema da peça e com as ações interpretadas pelos atores.
Letra D errada. Nem texto nem o conhecimento sobre o teatro permitem
afirmar que a expressão verbal suplanta a expressão do corpo do ator.
 
24) Enem 2010
A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha
tou podre. Outro dia a gente vamos
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
TEATRO! E os cacos voaram sem nenhum aplauso.
Perfeita. PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.

Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas reconhecidas pelo


leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em
que ele é produzido. Assim, o texto A diva
a)narra um fato real vivido por Maria José.
b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético.
c)relata uma experiência teatral profissional.
d)descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.
e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral
Comentário da questão
Alternativa B
O texto “A diva” é um poema narrativo, de modo que o leitor se deixa levar pela
cena descrita, imaginando-a em uma experiência teatral, pelo diálogo nela
existente. No entanto, como aponta a alternativa B, ao chegar ao final do poema,
a função poética surpreende o leitor, ao transformar a simples Maria José em
uma diva, por sua atuação dramática de ordem espontânea (ao que parece).
“A diva” é um poema narrativo em que uma mulher comum imagina-se no lugar
de uma artista de teatro (diva), imitando sua atuação dramática. Os recursos
empregados na composição do texto buscam a estranhamento pela
contraposição entre um universo familiar, marcado pela linguagem popular (“ou
podre”) e pelas ações cotidianas, e o universo grandioso do teatro, indicado pela
impostação da voz e pelos gestos grandiloquentes. Com tais recursos, o poema
constrói uma realidade psicológica intensa, surpreendendo o leitor por seu efeito
poético.
 
25)Enem 2009
Querô
DELEGADO — Então desce ele. Vê o que arrancam desse sacana.
SARARÁ — Só que tem um porém. Ele é menor.
DELEGADO — Então vai com jeito. Depois a gente entrega pro juiz.
(Luz apaga no delegado e acende no repórter, que se dirige ao público.)
REPÓRTER — E o Querô foi espremido, empilhado, esmagado de corpo e alma num
cubículo imundo, com outros meninos. Meninos todos espremidos, empilhados,
esmagados de corpo e alma, alucinados pelos seus desesperos, cegados por muitas
aflições. Muitos meninos, com seus desesperos e seus ódios, empilhados,
espremidos, esmagados de corpo e alma no imundo cubículo do reformatório. E foi lá
que o Querô cresceu.
MARCOS, P. Melhor teatro. São Paulo: Global, 2003 (fragmento).

No discurso do repórter, a repetição causa um efeito de sentido de intensificação,


construindo a ideia de
a) opressão física e moral, que gera rancor nos meninos.
b) repressão policial e social, que gera apatia nos meninos.
c) polêmica judicial e midiática, que gera confusão entre os meninos.
d) concepção educacional e carcerária, que gera comoção nos meninos.
e) informação crítica e jornalística, que gera indignação entre os meninos.
Comentário da questão
Alternativa A
O trecho da peça Querô, de Plínio Marcos, volta sua
atenção à violência da polícia e da sociedade no
tratamento dos meninos aprisionados. Ao repetir palavras
e expressões, a fala do repórter intensifica a condição de
humilhação dos garotos (“com seus desesperos e seus
ódios”), sugerindo ser a geradora do rancor que
ostentam. A expressão “de corpo e alma”, que se repete
associada aos adjetivos “espremido”, “empilhado” e
“esmagado”, só pode sugerir que a opressão em questão
é de natureza física (“corpo”) e moral (“alma”).
 
26) Enem
 
Própria dos festejos juninos, a quadrilha nasceu como dança
aristocrática. oriunda dos salões franceses, depois difundida
por toda a Europa. No Brasil, foi introduzida como dança de
salão e, por sua vez, apropriada e adaptada pelo gosto
popular. Para sua ocorrência, é importante a presença de um
mestre “marcante” ou “marcador”, pois é quem determina
as figurações diversas que os dançadores desenvolvem.
Observa-se a constância das seguintes marcações: “Tour”,
“En avant”, “Chez des dames”, “Chez des cheveliê”, “Cestinha
de flor”, “Balancê”, “Caminho da roça”, “Olha a chuva”,
“Garranchê”, “Passeio”, “Coroa de flores”, “Coroa de
espinhos” etc
No Rio de Janeiro, em contexto urbano, apresenta transformações: surgem
novas figurações, o francês aportuguesado inexiste, o uso de gravações
substitui a música ao vivo, além do aspecto de competição, que sustenta os
festivais de quadrilha, promovidos por órgãos de turismo. CASCUDO. L.C. Dicionário do
folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Melhoramentos. 1976
.
As diversas formas de dança são demonstrações da diversidade cultural do
nosso país. Entre elas, a quadrilha é considerada uma dança folclórica por
a) possuir como característica principal os atributos divinos e religiosos e,
por isso, identificar uma nação ou região.
b) abordar as tradições e costumes de determinados povo ou regiões
distintas de uma mesma nação.
c) apresentar cunho artístico e técnicas apuradas, sendo também,
considerada dança-espetáculo.
d) necessitar de vestuário específico para a sua prática, o qual define seu
país de origem.
e) acontecer em salões e festas e ser influenciada por diversos gêneros
musicais.
Comentário da questão
Alternativa B
A quadrilha pode ser considerada uma dança
folclórica porque ela carrega tradições e costumes
de determinados povos ou regiões. Segundo o
texto, a dança quadrilha teve origem nos salões
franceses, sendo posteriormente difundida por
toda a Europa e chegando também ao Brasil. Aqui,
porém, perdeu-se o caráter aristocrático e a
quadrilha ganhou popularidade, sofrendo
adaptações regionais.
 
27) Enem 2014

Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
 
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
 
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
 
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra! (ANJOS, A. Obra completa. Rio de  Janeiro: Nova Aguilar, 1994 )
A poesia de  Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de  transição
designada como pré-modernista. Com relação à poética e  à abordagem temática
presentes no soneto, identificam-se  marcas dessa literatura de  transição,  como:
A) a forma do  soneto,  os  versos  metrificados, a  presença de  rimas, o
vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos
vigentes no Modernismo.
B) o  empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em 
metáforas como “Monstro de  escuridão e rutilância” e “Influência má  dos 
signos do zodíaco”.
C) a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se  lê em  “carbono e
amoníaco”, “epigênesis da infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a visão
naturalista do homem.
D) a manutenção de elementos  formais vinculados à  estética do  Parnasianismo
e do Simbolismo, dimensionada pela inovação  na expressividade poética e o
desconcerto existencial.
E) a ênfase no  processo de  construção de  uma poesia descritiva e ao mesmo 
tempo filosófica, que incorpora  valores  morais e científicos mais tarde
renovados pelos modernistas.
 
Gabarito oficial: D
Competência:
Competência de área 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das
linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de
produção e recepção.
Habilidades:
H15 – Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,
situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de
construção do texto literário.
Comentário:
 Augusto dos  Anjos é,  como  já está afirmado pelo enunciado da questão, um
poeta de  transição. Sua obra  caracteriza-se pela   influência dos  movimentos 
literários anteriores. Do Parnasianismo, o  poema Psicologia de  um vencido
mantém a métrica rigorosa dos  sonetos  e as  rimas  opostas (A-B-B-A);  do
Simbolismo, aproveita  a  espiritualidade expressa no  trecho  “A influência má dos
signos do zodíaco”. Embora  a  questão não considere  a  influência do
Naturalismo, podemos observar  uma  aproximação com esse  período por  meio
do vocabulário científico.
28) Enem 2014

O negócio

Grande  sorriso do canino de ouro, o  velho Abílio propõe  às  donas  que se  abasteçam de  pão e
banana:
– Como  é o negócio?
De  cada  três  dá certo com  uma. Ela sorri, não responde ou  é  uma  promessa a recusa:
– Deus  me  livre, não! Hoje   não…
Abílio interpelou a velha:
– Como  é  o negócio?
Ela  concordou e, o  que  foi  melhor, a filha  também  aceitou o trato. Com a  dona  Julietinha  foi assim.
Ele se  chegou:
–  Como  é  o negócio?
Ela  sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa  partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal
combinado, duas batidas  na  porta da cozinha. A  dona saiu para  o quintal, cuidadosa de não acordar os
filhos. Ele  trazia a capa da viagem, estendida na grama orvalhada.
O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas 
pancadas  fortes  na  porta. O  marido em viagem, mas não  era de dia do Abílio. Desconfiada, a  moça 
chegou à janela e o vizinho repetiu:
– Como  é  o negócio?
Diante da recusa, ele ameaçou:
– Então você  quer o  velho e  não  quer o moço? Olhe  que  eu  conto!
(TREVISAN, D. Mistérios de  Curitiba. Rio de  Janeiro: Record, 1979 (fragmento)).
Quanto à abordagem do tema e aos recursos
expressivos, essa crônica  tem  um caráter
A) filosófico, pois reflete  sobre as  mazelas sofridas
pelos vizinhos.
B) lírico, pois relata com  nostalgia o relacionamento
da vizinhança.
C) irônico,  pois apresenta com malícia a 
convivência entre  vizinhos.
D) crítico, pois  deprecia o  que  acontece nas 
relações de  vizinhança.
E) didático, pois expõe uma conduta  ser  evitada na 
relação entre vizinhos.
Gabarito oficial: C
Competência:
Competência de área 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos
expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos,
mediante a natureza, função, organização, estrutura das
manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
Habilidade:
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e
procedimentos de construção do texto literário.
Comentário: O estudante deve  observar que o conteúdo cobrado
pela  questão  são as  figuras  de  linguagem (recursos  expressivos).
O  fragmento utilizado pela banca  é   construído com   base na 
ironia, o  que  se  observa  por  meio da   frase  recorrente “Como  é 
o negócio?”.
 

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