ROSA, N. In: SOBRAL, João J. V. A tradução dos bambas. Revista Língua Portuguesa. Ano 4, nº 54. São Paulo: Segmento, abr. 2010
(fragmento).
As canções de Noel Rosa, compositor brasileiro de Vila Isabel, apesar
de revelarem uma aguçada preocupação do artista com seu tempo e
com as mudanças político-culturais no Brasil, no início dos anos 1920,
ainda são modernas. Nesse fragmento do samba Não tem tradução,
por meio do recurso da metalinguagem, o poeta propõe
a) incorporar novos costumes de origem francesa e americana,
juntamente com vocábulos estrangeiros.
b) respeitar e preservar o português padrão como forma de
fortalecimento do idioma do Brasil.
c) valorizar a fala popular brasileira como patrimônio linguístico e
forma legítima de identidade nacional.
d) mudar os valores sociais vigentes à época, com o advento do novo
e quente ritmo da música popular brasileira.
e) ironizar a malandragem carioca, aculturada pela invasão de valores
étnicos de sociedades mais desenvolvidas.
Comentário da questão
Alternativa “C”. A música de Noel Rosa combate as influências
francesas e inglesas, estas últimas com muito tempo de domínio
em nosso país, pela condição de serem consideradas símbolos
da cultura, da internacionalidade, da importância de saber mais
sobre as culturas, costumes e vocabulários dos dois idiomas.
Esta era a moda da época do Noel Rosa - a preocupação em se
saber mais sobre culturas externas e esquecimento de nossas
origens. Noel Rosa procurou satirizar aquelas interferências,
compondo música popular brasileira, com grande influência de
costumes cariocas, o povo, a fala deste povo, a moradia, a
felicidade acompanhada da simplicidade. Procurou ironizar
camadas sociais preocupadas em comunicar-se em francês e
inglês, considerando-se cultas para a época.
3) Enem 2013
Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem
a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil, para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
LIMA, Jorge. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento).
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por:
a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.
b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.
Comentário da questão:
Alternativa “ B”. Fica explícito, no poema de Jorge de
Lima, o engajamento social do escritor ao escolher um
tema que dialoga com a realidade dos negros no Brasil.
É possível observar grande preocupação com a
questão da discriminação racial, oriunda de um triste
episódio de nossa História: a escravidão e o tráfico
negreiro. Jorge defende em seu poema a preservação
da identidade cultural dos negros, sobretudo no verso
“não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!”,
que aponta para a ideia de resistência negra à apatia
cultural dos brancos.
4) Enem 2013
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra
molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da
pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas
sei que o universo jamais começou.
[...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a
escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de
acontecer? Se antes da pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois
juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi
palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual
– há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da
iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou
escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que
justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque
preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória
literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da
estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-
se essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante,
sendo indiferente aos fatos e às personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os
motivos que levaram aos eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e
sobre a construção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da
complexidade para escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica,
incomuns na narrativa de ficção.
Comentário da questão:
Alternativa “C”. O romance A hora da estrela apresenta um
narrador onisciente intruso, interferindo no destino da personagem
e funcionando como uma espécie de alter ego de Clarice Lispector.
A narrativa é construída em uma fragmentação ternária com as
histórias interligadas — a da personagem, a do narrador e a própria
história. No fragmento apresentado, o narrador promove uma
reflexão existencial que se debruça sobre o fazer artístico por meio
da metalinguagem do texto e trabalha a palavra como uma
tentativa de resposta às suas próprias perguntas. O narrador do
trecho, Rodrigo S.M., de A hora da estrela, não se limita a narrar os
fatos. Ele reflete sobre questões existenciais, como mostra o trecho
“Pensar é um ato. Sentir é um fato”, bem como sobre a própria
escrita, como evidencia”. Enquanto eu tiver perguntas e não houver
resposta continuarei a escrever.”
5) Enem 2011
TEXTO I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a vossas senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1994 (fragmento)
TEXTO II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que,
como o Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do
personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define,
menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros
homens. SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro, Topbooks, 1999 (fragmentos)
Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-
se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para
um problema social expresso literariamente pela pergunta: "Como então dizer quem fala/ ora
a vossas senhorias?". A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino com um homem resignado com a sua situação.
c) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham
sua condição.
d) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta em sua crise
existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel
Zacarias.
Comentário da questão
Alternativa C. Por mais que quisesse identificar-se e caracterizar-se, mais distante de sua
identidade ficava Severino, o retirante, protagonista do poema e da encenação em "Morte e
Vida Severina". Conhecido o poema, na sua totalidade e pelo próprio título, deduz-se mais um
entre muitos ''Severinos'', sem rumo e conhecedor de seu infortúnio e de seu destino, incapaz
de ser reconhecido como um particular ser, pois muitos e tantos outros tinham o mesmo
destino que ele: a miséria, o sertão e a falta de oportunidades. Finaliza, então, com um
questionamento: como querer e poder identificar-se se há tantos outros com a mesma sina? Se
todos a quem se apresenta também são outros severinos? Sofredores, conformados pela falta
de recursos, de condições de trabalho e infelizes com uma sobrevivência miserável.
Letra A errada. No trecho há referência apenas ao processo de nomeação, que aponta para a
generalização e não para a minúcia.
Letra B errada. Ao questionar a maneira de se apresentar, Severino mostra consciência de sua
condição social, estendida a tantos outros, sugerindo certo incômodo e não resignação.
Letra C certa. No texto selecionado, a personagem Severino se apresenta a partir de traços que
são comuns a outras pessoas que partilham sua condição social; possui um nome comum a sua
identificação, relacionada aos pais, cujos nomes também são comuns a muitos nordestinos.
Letra D errada. Nada no texto permite afirmar que o personagem-narrador é uma projeção do
poeta, nem identificar no discurso uma “crise” existêncial”. O questionamento tem base na
questão social.
Letra E errada. Severino não descende do coronel Zacarias; seu pai recebeu esse nome em
homenagem a um antigo senhor da sesmaria.
6) Enem 2011
Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos
gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o
Zé-Zim o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso.
Pergunto: - Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-
d'angola, como todo mundo faz? - Quero criar nada não... -
me deu resposta: - Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um
dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu
dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe,
quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...]
Gente melhor do lugar eram todos dessa família
Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram
junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio
da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São
Francisco, o senhor sabe. ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José
Olympio (fragmento).
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma
desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela
concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados
e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-
narrador
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca
disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa
condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de
agregado — em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que
pouco se envolvem no trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela
sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social,
de proprietário de terras.
Comentário da questão
Alernativa D
Pela condição de pobreza, de extrema miséria, os sertanejos tornam-se
errantes, em busca de melhores condições e não se apegam à sua terra, são
conformados por demais e não veem oportunidades; para muitos faltam-lhes
iniciativas, pela mesmice de vida. Embora livres para ir e vir, mantêm-se
dependentes para decidir por algo a melhorar, arranjam ‘’servicim’’ aqui,
‘’servicim’’ ali e aceitam o que lhes é dado. Caso típico de Riobaldo,
protagonista de "Grande Sertão: Veredas". Através da fala do narrador,
percebe-se a relação paternalista (“Eu dou proteção”) e exploradora na
relação proprietários e trabalhadores das áreas rurais brasileiras. Zé-Zim é
“meeiro”, trabalhador de terra alheia que reparte o rendimento com o dono
da terra, o que o coloca numa relação de servilismo e dependência,
semelhante ao do agregado que deve atender às exigências do seu protetor
para poder sobreviver. Assim, a sua condição de vida é dificultada pelo duplo
estado de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente, como se afirma em
“D”.
7) Enem 2012
Miguilim
“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa.
Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de
óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
— Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?
— Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum
outro.
Redizia:
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda...Mas que é que há, Miguilim? Miguilim
queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava. — Por que
você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua
casa?
— É Mãe, e os meninos…
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos.
O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor
perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo:— ‘Miguilim,
espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim.9ªed.Rio de Janeiro:Nova Fronteira,1984.
Esta história, com narrador observador em
terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da
perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de
vista do narrador ter Miguilim como referência,
inclusive espacial, fica explicitado em:
a)“O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”
b)“Ele era de óculos ,corado, alto (…)”
c)“O homem esbarrava o avanço do cavalo,(…)”
d)“Miguilim queria ver se o homem estava
mesmo sorrindo para ele,(…)”
e)“Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”
Comentário da questão
Alernativa A. A explicitação de que o ponto de vista do narrador da
novela “Campo Geral”,de Guimarães Rosa, tem o protagonista Miguilim
por “referência, inclusive espacial” está na expressão “cá bem junto”,
em que o advérbio “cá”, marcador de espaço próximo de quem fala,
mostra que o narrador está posicionado próximo a Miguilim. É preciso
fazer um reparo à afirmação de que a novela “Campo Geral” apresenta
um “narrador observador em terceira pessoa”. De fato, o narrador
conta a história em terceira pessoa: seu âmbito de visão descortina os
movimentos de todas as personagens, com capacidade de revelar
detalhes miúdos e aparentemente insignificantes. O foco aguça-se
mais, no entanto, em relação ao protagonista, Miguilim; nesse caso, o
narrador comporta-se de modo onisciente, desvelando os sentimentos
mais íntimos do menino, suas fantasias secretas e sonhos. Trata-se,
pois, do recurso chamado, com propriedade, onisciência seletiva.
8)Enem 2013
No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de
que no Brasil havia duas literaturas independentes dentro
da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões
segundo ele muito diferentes por formação histórica,
composição étnica, costumes, modismos linguísticos etc.
Por isso, deu aos romances regionais que publicou o título
geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritor
gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante
engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais
diversas, refletindo as características locais. CANDIDO, A. A nova
narrativa. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 2003.
MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set.2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prof. Gráfica. 2012.
(Foto: Reprodução)
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a
brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da
identidade nacional, as anotações em torno dos versos
constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de
dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de
leitura poética
e) Lembretes de palavras tipicamente brasileiras
substitutivas das originais
Comentário da questão
Alternativa A.
As anotações junto aos versos ao longo do poema possibilitam
direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados
histórico-culturais por parte dos leitores, como a que explica que
Brasil é o país do futebol, ou que Cette não é um número, mas sim
um time. Além disso, o todo do poema explicita a supremacia do
futebol como marca de brasilidade. O eu lírico associa os placares
de vitórias obtidas pelo time do Clube Paulistano em jogos contra
equipes estrangeiras como forma de imposição do Brasil sobre a
Europa. Deve-se reconhecer o tom jocoso que preside a
apresentação do Brasil como “país do Futebol”, o qual remete às
propostas de revisão crítica da identidade brasileira apresentadas
por Oswald de Andrade desde os primeiros tempos do
Modernismo.
10) Enem 2012
ARGAN, G. C. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. (Foto:
Reprodução/Enem)
O quadro Les Demoiselles d’Avignon (1907),
de Pablo Picasso, representa o rompimento
com a estética clássica e a revolução da arte
no início do século XX. Essa nova tendência se
caracteriza pela
a) pintura de modelos em planos irregulares.
b) Mulher como temática central da obra.
c) cena representada por vários modelos.
d) oposição entre tons claros e escuros.
e) nudez explorada como objeto de arte.
Comentário da questão
Alternativa A.
Observando o quadro de Pablo Picasso percebemos a
pintura de uma mesma figura em planos irregulares,
característicos do Cubismo. Essa inovação permitiu a
ruptura com o modelo clássico revolucionando a arte
no início do século XX. Para os artistas de vanguarda,
a representação do mundo passava a não ter
compromisso com a imitação do real. As demais
características mencionadas fazem parte da tradição
artística, não contendo aspectos estéticos
revolucionários.
11) Enem 2012
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice
de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que
fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis
do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não.
Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas...
Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à
loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e
ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu
patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a
doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a
via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma
decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio
de seu gabinete. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em:
8 nov. 2011.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi
publicado em 1911. No fragmento destacado, a reação do personagem
aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que
a)a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza
brasileira levou-o a estudar inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão
mais ampla do país.
b) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de
prosperidade e democracia que o personagem encontra no contexto
republicano.
c) a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a
cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz à
frustração ideológica.
d) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de
decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-
se em seu gabinete.
e) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional
faz parte de um projeto ideológico salvacionista, tal como foi difundido
na época do autor.
Comentário da questão
Alternativa C.
O personagem do romance Triste fim de Policarpo Quaresma ao pôr em prática
suas ações patrióticas torna claro que a construção de uma pátria a partir de
elementos míticos - cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística,
conduz a uma frustração ideológica. O segundo parágrafo do fragmento confirma,
não só essa ideia como a opção C sendo a resposta certa.
Letra A errada: Policarpo próximo do final da vida, repensa sua trajetória e
percebe que seus estudos foram inúteis e que impossibilitaram uma visão real do
Brasil e de seu povo.
Letra B errada. A obra de Lima Barreto crítica o contexto republicano pela
ausência de democracia; Policarpo Quaresma conclui que a pátria que imaginara
se converteu em um “fantasma no silêncio do seu quarto”.
Letra D errada. Policarpo enfrentou as zombarias dos colegas quando se dispôs a
seguir a cultura indígena, mas isso não o levou a se resguardar em um gabinete.
Ao longo da vida, procurou efetivar outras ações para beneficiar o Brasil e, no final
dela, foi preso por ter sido considerado um traidor da pátria.
Letra E errada. O romance destaca a dificuldade em cultivar terras que não eram
“ferazes” (“férteis, “fecundas”).
12) Enem
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e
racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo
Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo
são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse
julgamento revela que
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a
agir de forma dissimulada.
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando
compartilhado por um grupo social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o
sentimento de inveja.
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se
do próximo.
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício
nocivo ao convívio social.
Comentário da questão
Alternativa A.
O poema de Raimundo Correia revela um olhar poético sobre a máscara
social do ser humano. Cada indivíduo cria uma fortaleza interior em uma
tentativa de ocultar suas fraquezas. O íntimo e a aparência formam uma
oposição semântica que percorre todo o texto em uma espécie de
metafísica Ser × Parecer.
Letra B errada. O eu lírico acusa os homens de dissimularem suas dores,
ocultando-as do grupo social, incapaz de se solidarizar com uma condição
individual de vulnerabilidade.
Letras C e D erradas. Segundo o poema, os indivíduos preocupam-se em
construir uma imagem de felicidade perante o grupo social, não
mostrando nenhuma disposição para um convívio mais verdadeiro ou
solidário.
Letra E errada. O texto não fala em “ transfiguração! (“transformação”),
mas em “dissimulação”. Esta tem sido colocada como regra que permite o
convívio social.
13) Enem
Cárcere das almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto
cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das
almas, de Cruz e Sousa, são:
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta,
de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à
temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento
metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade
social expressa em imagens poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a
rima e a métrica tradicionais em favor de temas do
cotidiano
Comentário da questão
Alternativa C.
O texto de Cruz e Sousa explora um tema universal — o do sofrimento humano — de
forma abstrata e metafísica: apresenta a alma humana como encarcerada em
“prisões da Dor”.(A universalidade do tema é provada pela alusão ao desejo de
libertação do mundo material e ascensão ao plano dos espíritos) A forma poética
escolhida pelo autor também demonstra refinamento, já que o soneto é uma forma
consagrada pela literatura clássica. O caráter vago e o uso de maiúsculas sem
necessidade gramatical também apontam para aspectos típicos do Simbolismo,
estética a que o poema pode ser associado.
Letra A errada. Ao contrário do que afirma a alternativa, o poema vale-se de
linguagem sofisticada e ambígua, típica do Simbolismo.
Letra B errada. O tema do poema é a morte como possibilidade de libertação da
alma, e não o nacionalismo expresso em tom intimista.
Letra D errada. Não há qualquer referência à realidade social do período; o
incômodo do eu lírico a situações do contexto histórico em que se insere.
Letra E errada. O tema da morte com a espiritualização não pode ser considerado
cotidiano. Além disso, o poema organiza-se em forma fixa (soneto), com métrica
regular ( versos decassílabos) e rígido esquema de rimas.
14) Enem 2011
Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados,
iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo
em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro,
acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente
com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da
música crioula para que o sangue de toda aquela gente
despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com
urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez
mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos
que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em
torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta
incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor
música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia
de doer, fazendo estalar de gozo.
AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).
No romance O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, as
personagens são observadas como elementos coletivos
caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e
etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e
portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois
a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de
personagens portuguesas.
b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o
do português inexpressivo.
c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o
fado português.
d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza
dos portugueses.
e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com
instrumentos musicais.
Comentário da questão
Alternativa C.
No excerto de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, descreve-se a mudança de
postura do grupo que se reunia para ouvir o som melancólico do
cavaquinho de Porfiro e que, de repente, é surpreendido pelo ritmo
vibrante do violão de Firmo. A nostalgia do fado é substituída pelo som
envolvente e pleno de luxúria de um chorado baiano que contagia o
grupo.
Letra A errada. A referência aos dois músicos não é suficiente para revelar
o confronto entre os grupos.
Letra B errada. Não há referência aos cenários do Brasil e de Portugal.
Letra D errada. A tristeza dos portugueses tem como elemento de
contraposição a sensualidade brasileira e não o sentimentalismo.
Letra E errada. Não há referência ao uso dos instrumentos pelos
portugueses, logo não se pode identificar uma comparação.
15) (Enem 2011)
Lépida e leve
Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...
[...]
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à ideia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...
MACHADO. G. In: MORICONI, I. (org). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).
A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções
artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado
incorpora referências temáticas e formais modernistas, já
que, nele, a poeta:
a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e
abandona o cuidado formal.
b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e
questiona o poder da palavra.
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a
construção do verso livre.
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e
propõe a simplificação verbal.
e) explora a construção da essência feminina, a partir da
polissemia de “língua”, e inova o léxico.
Comentário da questão
Alternativa E
No poema “Lépida e Leve”, o eu lírico estabelece aproximações sugestivas entre o
exercício erótico e o fazer poético ("carícias supremas","formosos poemas"). Assim, o
elemento-imagem “língua” é explorado polissemicamente no sentido de fonte de prazer
e ideia, expressando o total envolvimento do criador com a obra criada (“Língua que me
cativas, que me enleias /os surtos de ave estranha, /em linhas longas de invisíveis
teias, /de que és, há tanto, habilidosa aranha...”). O eu lírico, feminino, projeta-se como
“frase” e une-se ao discurso de todas as mulheres (“amo-te como todas as mulheres”),
expressando o direito de desfrutar inteiramente do prazer.
GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). Rio de Janeiro: Sony Music, 2001
(fragmento
As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem
ao texto
a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da
internet.
b) cunho apelativo, pela predominância de imagens
metafóricas.
c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias.
d) espontaneidade, pelo uso da linguagem
coloquial.
e) originalidade, pela concisão da linguagem.
Comentário da questão
Alternativa D
A letra A errada. Embora a letra apresente caráter atual, não
são identificados termos específicos da linguagem utilizada na
internet. A Letra B está incorreta porque, apesar de existirem
imagens metafóricas na letra, não são elas as responsáveis
pelo cunho apelativo (e sim o uso da interlocução). Já a letra C
está incorreta porque, apesar de termos um tom de diálogo
(também causado pela interlocução), não há tantas gírias.
Logo, a alternativa correta é a D, já que se trata de um rap,
escrito em linguagem informal. e/ou linguagem coloquial.
Letra E errada, O texto apresenta repetição de uma ideia
central, por isso, não se pode falar em concisão.
18) Capítulo III
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava
açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada.
Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de
bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim
se explica este par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um
Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, — primor de
argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era
espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de
Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus
crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo
Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos.
Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala,
como um pedaço da província, nem o pôde deixar na cozinha, onde
reinava um francês, Jean; foi degradado a outros serviços.
ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento).
Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No
fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua
abordagem reside:
a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência
sobre a essência.
b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela
dos imigrantes.
c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Rubião.
d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a
durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho.
e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de
xenofobia.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra! (ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994 )
A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição
designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática
presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como:
A) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas, o
vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos
vigentes no Modernismo.
B) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em
metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “Influência má dos
signos do zodíaco”.
C) a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em “carbono e
amoníaco”, “epigênesis da infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a visão
naturalista do homem.
D) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo
e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética e o
desconcerto existencial.
E) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo
tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde
renovados pelos modernistas.
Gabarito oficial: D
Competência:
Competência de área 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das
linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de
produção e recepção.
Habilidades:
H15 – Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,
situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de
construção do texto literário.
Comentário:
Augusto dos Anjos é, como já está afirmado pelo enunciado da questão, um
poeta de transição. Sua obra caracteriza-se pela influência dos movimentos
literários anteriores. Do Parnasianismo, o poema Psicologia de um vencido
mantém a métrica rigorosa dos sonetos e as rimas opostas (A-B-B-A); do
Simbolismo, aproveita a espiritualidade expressa no trecho “A influência má dos
signos do zodíaco”. Embora a questão não considere a influência do
Naturalismo, podemos observar uma aproximação com esse período por meio
do vocabulário científico.
28) Enem 2014
O negócio
Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abasteçam de pão e
banana:
– Como é o negócio?
De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa:
– Deus me livre, não! Hoje não…
Abílio interpelou a velha:
– Como é o negócio?
Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim.
Ele se chegou:
– Como é o negócio?
Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal
combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal, cuidadosa de não acordar os
filhos. Ele trazia a capa da viagem, estendida na grama orvalhada.
O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas
pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não era de dia do Abílio. Desconfiada, a moça
chegou à janela e o vizinho repetiu:
– Como é o negócio?
Diante da recusa, ele ameaçou:
– Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!
(TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979 (fragmento)).
Quanto à abordagem do tema e aos recursos
expressivos, essa crônica tem um caráter
A) filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas
pelos vizinhos.
B) lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento
da vizinhança.
C) irônico, pois apresenta com malícia a
convivência entre vizinhos.
D) crítico, pois deprecia o que acontece nas
relações de vizinhança.
E) didático, pois expõe uma conduta ser evitada na
relação entre vizinhos.
Gabarito oficial: C
Competência:
Competência de área 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos
expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos,
mediante a natureza, função, organização, estrutura das
manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
Habilidade:
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e
procedimentos de construção do texto literário.
Comentário: O estudante deve observar que o conteúdo cobrado
pela questão são as figuras de linguagem (recursos expressivos).
O fragmento utilizado pela banca é construído com base na
ironia, o que se observa por meio da frase recorrente “Como é
o negócio?”.