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FORMALISM

O RUSSO
Profa. Ma. Jeniffer Yara
FORMAL 1ª - Chklovski
(substancialista)
ISMO 2ª - Jakobson
RUSSO (funcionalista)

2
fundamental do
Formalismo, é
responsável por uma
das teorias mais A arte como
difundidas no Ocidente: procedimento,
a ideia de que a função Vítor Chklovski (1917):
poética da linguagem seu ensaio foi o primeiro a
consiste na sistematizar a ideia de
ambiguidade da língua poética como um
mensagem mediante o desvio da língua cotidiana.
adensamento do
significante, princípio
3
Vítor Chklovski
Introduz a noção de que o valor artístico de uma obra
decorre não apenas de sua estrutura verbal, mas
também da maneira como é lida.
Chklovski define a arte como a singularização de
momentos importantes. Em rigor, os momentos tornam-
se importantes somente depois de submetidos ao
processo de singularização artística, porque, na vida
prática, as coisas se tornam imperceptíveis em sua
totalidade.

4
AUTOMATIZAÇÃO X SINGULARIZAÇÃO

O próprio conceito Assim, a principal função da arte seria


restaurar a intensidade do conhecimento,
de aprendizado pressupõe o uso
promovendo a virgindade dos contatos e o
automático das noções e dos encanto da descoberta. Nesse sentido, o
movimentos. O simples fato de artista deve criar situações inéditas e
imprevistas, em busca da restauração do
uma ação se tornar habitual ato de conhecer. Numa palavra, a
basta finalidade da arte é gerar a
para desencadear a desautomatização, mediante o
estranhamento ou a singularização da
inconsciência
estrutura que o artista oferece à
em quem a executa. contemplação.
5
Convívio com a arte
Ao contrário do convívio cotidiano figura de retórica que consiste
com as coisas, o convívio com a no uso de uma palavra fora
arte deve ser particularizado,
dificultoso e lento.
do seu contexto semântico
Tomando o texto poético como normal, por ter uma
metonímia de arte, o morfologista significação que tenha
russo entende que a
particularização do texto pressupõe
relação objetiva, de
um mínimo de vivência com o contiguidade, material ou
conceito de literatura enquanto conceitual, com o conteúdo
organização de signos.
ou o referente
ocasionalmente pensado.6
Imagens e estranhamento
Segundo a teoria de
Chklovski, as imagens são
um dos dispositivos pelos
Transcendendo os limites das
quais o poeta singulariza o figuras e dos tropos, a
texto, mediante a produção concepção de procedimento
do estranhamento, artístico de Chklovski pode
responsável pela
consistir em qualquer agudeza
dificuldade que atribui
densidade à percepção favorável ao estranhamento da
estética. disposição e da elocução da
matéria: qualquer escolha e 7
estranhamentos
E agora prepare-se o leitor para o
Na literatura brasileira talvez
mesmo assombro em que ficou a vila
o exemplo mais evidente de ao saber um dia que os loucos da Casa
Verde iam todos ser postos na rua.
procedimento artístico bem-
– Todos?
sucedido se encontra nas
– Todos.
Memórias póstumas de Brás – É impossível; alguns sim, mas todos...
Cubas, em que a perspectiva – Todos. Assim o disse ele no ofício que
de um defunto é responsável mandou hoje de manhã à câmara.

pelo estranhamento do texto. 8


Conceito funcional de literatura
Conforme essa visão, a Surge daí um conceito funcional
literatura nunca é sobre
coisas ou situações. Será
de literatura, entendida não
sempre o resultado da mais como um discurso ornado
adequação entre e ficcional que visa à
procedimento e matéria, imortalidade, mas como um
fenômeno que
automaticamente a insere
modo especial de articulação da
num código de referência linguagem, cuja ideia de valor é
literária. rigorosamente relativa, pois leva
em conta tanto a estrutura 9
FORMALISMO RUSSO
E A OBRA DE ARTE
LITERÁRIA: ENTRE A
ESSÊNCIA E A FUNÇÃO
João Paulo Afonso Neto
Chegando ao fim do século XIX, na Europa, a aceitação de qualquer
discurso deve passar pelo critério de cientificidade. Não menos, o discurso
acerca do que é relativo à literatura. Como o centro cultural e científico
passa pela Paris Belle Époque, seus critérios dispersam-se pelo mundo e
chegam até a Rússia czarista. Sua influência sobre a academia russa
resulta numa revisão das proposições sobre a natureza do poético e
possibilidades imanentes de sua investigação, concretizando um grupo de
estudos (Círculo Linguístico de Moscou – 1914/1915 - interesses de estudo:
poética e linguística) que ficou conhecido como Formalismo Russo.
Que está inseparavelmente
contido na natureza de um
11
ser ou de um objeto;
cientificidade da arte literária
O objetivo da pesquisa é a descrição do As definições da linguagem
funcionamento do sistema literário,
análise de seus elementos constitutivos
poética aparecerão em
e a evidenciação de suas leis, ou, num contraposição à definida
sentido mais estreito, a descrição linguagem prática, função
científica de um texto literário e, a partir
referencial, prosaica:
daí, o estabelecimento de relações
entre seus elementos. linguagem que tende à
automatização da
TODOROV percepção. Essa
automatização na verdade 12
SUBTANCIALISMO DE Chklovski
A consciência do fazer artístico, melhor, a crítica ao fazer poético,
marca da poesia moderna, fomenta outro desenvolvimento nas artes.
E isto ao extremo pode gerar um tipo de linguagem artística mais
para especialistas, distanciando a lógica discursiva da arte da lógica
discursiva do público mais amplo. Por isso Chklovski é criticado
como substancialista, por propor uma arte que se dê por si mesma,
sem os predicados externos, sociais. Contradição apontada desde o
início do Formalismo: arte desvinculada do social: conquista da
autonomia da palavra, mas não independente da língua.
13
UMA EXEMPLIFICAÇÃO
Com o objetivo de obter maior interesse do público leitor e dar à narrativa um efeito de
real mais intenso, isto é, a fim de conferir à narrativa uma fisionomia de realidade mais
“concreta”, Jorge amado muitas vezes lança mão de palavras chulas e linguagem
inculta e incorreta na fala das personagens. Ao compô-las com traços de caráter que
são próprios da pessoa social e culturalmente desfavorecida, ou ao trabalhar espaços
como o cais do porto, o prostíbulo, o beco, o boteco etc. no modo como são
apresentados, este escritor está singularizando não apenas cada um desses
componentes da obra, mas também toda a obra vai se constituindo nessa forma de
organização, de procedimento, de singularização. Fazem parte do procedimento todos
os recursos de linguagem utilizados pelo escritor ou poeta para obter um determinado
efeito. Boris Eikhenbaum (1973, p. 18) sintetiza dizendo que o procedimento “é uma
utilização específica do material”.
14
(...) Uma angústia apertou-lhe o
pequeno coração. Precisava vigiar
as cabras: àquela hora cheiros de
suçuarana deviam andar pelas
ribanceiras, rondar as moitas
Antropomorfismo em
afastadas. Felizmente os meninos
Vidas Secas
dormiam na esteira, por baixo do
caritó onde sinha Vitória guardava Estranhamento: uma
o cachimbo. cachorra com
(...) sentimentos, desejos,
Baleia queria dormir. Acordaria pensamentos.
feliz, num mundo cheio de preás.
E lamberia as mãos de Fabiano, 15
- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz
alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto,
com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E,
pensando bem, ele não era homem: era apenas um
Zoomorfismo em Vidas
cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Secas
Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba
e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra Estranhamento:
Vivia longe dos homens, só
alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se,
encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se
sehumanos
dava bem como
combichos.
animais.
cabra. Os seus pés duros
Olhou em torno, com receio de que, fora os quebravam espinhos e não
meninos, alguém tivesse percebido a frase sentiam a quentura da
imprudente. Corrigiu-a, murmurando: terra. Montado, confundia-
- Você é um bicho, Fabiano. se com o cavalo, grudava-
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um se a ele. E falava uma
16
bicho, capaz de vencer dificuldades. linguagem cantada,
JAKOBSON
“Como ele estava longe, já em 1919, das
afirmações extremadas de alguns de seus
companheiros do Formalismo Russo, no
sentido de que a arte e a literatura nada Jakobson
teriam a ver com a vida social! Pois, no
mesmo trabalho lemos: ‘O desenvolvimento perseguia um
da teoria da linguagem poética será possível método seguro,
somente quando a poesia for tratada como
um fato social, quando for criada uma
que desse conta
espécie de dialetologia poética’. E no de um objeto
mesmo ano escrevia: ‘A tarefa iminente é particular
superar o estático e por de lado o absoluto’.
“ (sincrônico) em 17
POÉTICA DE
JAKOBSON
A Poética é uma disciplina
dentro da Ciência da Linguagem,
ou seja, da Linguística; a
Linguística é uma ciência dentro da
Semiótica, dedicada aos sistemas
de signos em geral. A Poética é
uma disciplina dedicada ao
funcionamento poético do discurso,18
SINAL E SIGNO
SINAL: SIGNO

Ativo, está para a Passivo, está para o


compreensão, reconhecimento,
implica não a vazio de sentido,
palavra, mas seu apenas funciona para
conteúdo ideológico identificação precisa
ou vivencial. de um objeto.
19
SIGNO
A arte literária tendo por matéria o signo, a partir dos
problemas elencados pelos formalistas em reação ao método
tradicional de investigação, indica, também, sua natureza
racional, no sentido de que a arte é uma forma de
pensamento, uma forma de conhecimento. Tem sua lógica
própria, assim como a ciência e a filosofia. Como bem
sinalizaram os formalistas, toda linguagem será caracterizada
por sua forma e atenderá a certas exigências comunicativas.
20
LITERARIEDADE: JAKOBSON
Para delinear a literariedade,
Jakobson distinguirá seis
fatores (funções da
linguagem) do processo
linguístico: destinador;
destinatário; referente;
contato; código; mensagem

21
O destinador envia uma
mensagem ao destinatário.
A mensagem tem um
referente, um objeto ou
situação ao qual ela se
refere, suscetível de ser
verbalizado, e que deverá
ser apreendido pelo
destinatário. Para tanto, é
preciso que destinador e
22
Código literário =
ficcionalidade
trabalho com a
linguagem
AU OB PÚBL
TO RA ICO
Destinado
R Mensage Destinatár
r m io

Função emotiva,
referencial, conativa, etc.
-Função poética -
23
FUNÇÃO POÉTICA
Jakobson leva em conta o dualismo linguagem prática e
linguagem poética. A linguagem prática é do domínio da
função referencial (denota coisas, refere-se ao mundo real, a
fatos, informações cotidianas, etc.); a função poética ou
estética é, de acordo com Wolf-Dieter Stempel sintetizando a
noção jakobsoniana, o “enunciado que se orienta para a
expressão”. A mensagem literária é autocentrada; apresenta
seus próprios meios de expressão, valendo-se das
potencialidades das línguas.
24
A "função poética" é um tipo de
funcionamento especial da linguagem, entre os
seis tipos possíveis (além do poético, o
emotivo, o conativo, o referencial, o fático e o
metalinguístico). Assim como cada tipo de
funcionamento da linguagem está centrado
num certo fator da comunicação verbal
(remetente, destinatário, referente, contato,
código), o funcionamento poético da
linguagem está centrado no fator
da mensagem. Por isso, a linguagem poética 25
Para Jakobson, o discurso poético é aquele em
que a função poética é predominante.
Necessariamente o discurso poético interage com
outros tipos de discurso, na medida em que os
diferentes fatores da comunicação se relacionam.
A função poética poderá estar relacionada à
função emotiva, por exemplo, o que distinguirá o
discurso como confissão (emotivo) ou arte
(poético) será a predominância de uma função
sobre a outra, se predominar a mensagem e o
trabalho estético da linguagem o discurso será 26
Voltou muito cansado. Os campos o levaram para longe. O
caroço de tucumã o levara também, aquele caroço que soubera
escolher entre muitos no tanque embaixo do chalé. Quando voltou A personificação é a figura
que atravessa o texto
já era bem tarde. A tarde sem chuva em Cachoeira lhe dá um paradigmaticamente,
desejo de se embrulhar na rede e ficar sossegado como quem esta sempre a atuar sobre os
elementos da natureza, a
feliz por esperar a morte. Os campos não voltaram com ele, nem começar pelo título deste
as nuvens nem os passarinhos e os desejos de Alfredo caíram pelo primeiro capítulo, “A noite
vem dos campos
campo como borboletas mortas. Mais para longe já eram os queimados” a conduzir
campos queimados, a terra preta do fogo e os gaviões caçavam no Alfredo em companhia
ainda dos campos, “os
ar os passarinhos tontos. E a tarde parecia inocente, diluída num campos o levaram para
sossego humilde e descia sobre os campos queimados como se os longe”, “o caroço de
tucumã o levara também”.
consolasse. Voltava donde começavam os campos escuros. As “nuvens” e os
Indagava por que os campos de Cachoeira não eram campos “passarinhos” “não
voltaram com ele”, “a tarde
cheios de flores, como aqueles campos de uma fotografia de parecia inocente”
revista que seu pai guardava. Ouvira Major Alberto dizer à D.
Amélia: campos da Holanda. Chama-se a isso prados.
27
FUNÇÕES DA LINGUAGEM E POÉTICA
Conforme dissemos, o estudo linguístico da função poética deve ultrapassar os limites da poesia, e, por outro
lado, o escrutínio linguístico da poesia não se pode limitar à função poética. As particularidades dos diversos
gêneros poéticos implicam uma participação, em ordem hierárquica variável, das outras funções verbais a par da
função poética dominante. A poesia épica, centrada na terceira pessoa, põe intensamente em destaque a função
referencial da linguagem; a lírica, orientada para a primeira pessoa, está intimamente vinculada à função emotiva;
a poesia da segunda pessoa está imbuída de função conativa e é ou súplice ou exortativa, dependendo de a
primeira pessoa estar subordinada à segunda ou esta à primeira. (pág. 129)
Em resumo, a análise do verso é inteiramente da competência da Poética, e esta pode ser definida como
aquela parte da Linguística que trata a função poética em sua relação com as demais função da linguagem. A
Poética, no sentido mais lato da palavra, se ocupa da função poética não apenas na poesia, onde tal função se
sobrepõe às outras função das linguagem, mas também fora da poesia, quando alguma função se sobreponha à
função poética. (pág. 132)
É preciso esclarecer, porém, que as seis funções não se excluem - dificilmente temos, em uma mensagem,
apenas uma dessas funções. Entretanto, é engano pensar que todas estejam presentes simultaneamente. O que
pode ocorrer é o domínio de uma das funções; assim, temos mensagens predominantemente referenciais,
predominantemente expressivas. 28
Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro.

Neste lance, por ser o derradeiro,


Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.

Mui grande é vosso amor, e meu delito,


Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar,


Que por mais que pequei, neste conflito GREGÓRIO DE MATOS – A CRISTO S. N.
Espero em vosso amor de me salvar. CRUCIFICADO, ESTANDO O POETA NA ÚLTIMA
HORA DE SUA VIDA 29
I (Manoel de Barros)

Poesia (Carlos Drummond de Andrade) Não tenho bens de acontecimentos.


O que não sei fazer desconto nas palavras.
Gastei uma hora pensando um verso Entesouro frases. Por exemplo:
que a pena não quer escrever. - Imagens são palavras que nos faltaram.
No entanto ele está cá dentro - Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
inquieto, vivo. - Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Ele está cá dentro
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
e não quer sair. Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Mas a poesia desse momento Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos,
inunda minha vida inteira. retratos.
Outras de palavras.
Possibilidade de exploração do próprio
discurso para encontrar, nas palavras, Poetas e tontos se compõem com palavras.
novos modos de comunicação.
a metalinguagem pode ser é uma tentativa de diálogo, e
não de isolamento, entre o criador e seus leitores. Esse
voltar-se “para o próprio umbigo” soa como uma tentativa
não só de mostrar os meios funcionais da poesia, mas
também o desejo do autor em refletir sobre sua condição
como manipulador das palavras.
30
TEORIA DO VERSO
Com Yuri Tynianov (1894-1943) temos o ritmo como base da teoria
do verso: sintaxe e semântica estavam sujeitas ao ritmo no verso; e
o valor inverso estaria para a prosa. Dessa confluência de
proposições acerca da orientação para expressão foram feitas
apenas indagações de sua possibilidade e aplicação à prosa (tarefa
levada ao Estruturalismo, e fundação de uma Narratologia). Fica
patente que a orientação para a expressão poética está delimitada e
determinada enquanto mais uma forma de criação artística, ou outra
forma de criar arte e crítica, imanentemente.
31
Literariedade:
aspectos históricos,
sociais e linguísticos

Texto literário e não-literário


Ficção
Função estética Informativo ou
Não compromisso com persuasivo
a realidade Compromisso com a
Polissemia realidade
Sentidos em aberto Sentido literal
Tom subjetivo/Pessoal Linguagem objetiva e
direta

32
Linguagem
literária:
gêneros

33
ESTRUTURALISMO
A afirmação da ambiguidade da obra literária
introduz na teoria estruturalista da literatura
O estruturalismo propõe o
vários pares conceptuais que procedem da abandono do exame
linguística geral e que constituem pontos de particular das obras,
partida para a formação de uma poética
estruturalista: conotação/denotação,
tomando-as como
significação/sentido, forma/conteúdo, manifestação de outra coisa
estrutura/forma, sintaxe/semântica, para além delas próprias: a
enunciado/enunciação, etc. O objetivo é
alcançar uma formulação de carácter estrutura do discurso
científico, demonstrável por provas literário, formado pelo
irrefutáveis, para a configuração do texto conjunto abstrato de34
literário.
PRECEITOS:
A estrutura é um sistema de relações que dá identidade ao conjunto geral e ao
mesmo tempo mostra a oposição que existe entre as partes. O estruturalismo não é
um método. É um modo como o investigador se coloca diante de um objeto do
conhecimento para analisá-lo. O estruturalismo não se aplica apenas à literatura,
mas também à língua, à sociologia, aos estudos culturais, aos mitos entre outros. O
estruturalismo parte da ideia de sistema e daí constrói esquemas de análise que
revelam estruturas presentes na obra. Os esquemas de análise ou modelos
elaborados dentro do estruturalismo não são únicos para todos os estudos, pois
cada ramo do saber pede modelos adequados a ele. O pensamento estruturalista foi
alvo do interesse de estudiosos como Roland Barthes, Tzevetan Todorov, Júlia
Kristeva, Émile Benveniste, LéviStrauss, Jacques Locan, Foucault, Jacques Derrida,
A. J. Greimas, entre muitos outros.
35
saussure
O princípio essencial da noção de estrutura do
discurso literário decorre da distinção entre langue
e parole
Langue formulada
é o sistema pelo de
abstrato linguista
normassuíço Ferdinand
segundo o qual se
manifesta a parole, quede Saussure.
é uma espécie de projeção concreta
daquela estrutura ideal, formada pelo conjunto hipotético de
todas as paroles do homem.

Assim, qualquer obra literária deve ser entendida como uma


36
UNIDADES NARRATIVAS
Assim como o usuário A natureza presente no Romantismo; Realismo
e Naturalismo
da língua se apropria
-
de estruturas que
A mulher enquanto objeto amado em obras
antecedem sua fala, o românticas, realistas e naturalistas
romancista lança mão
de unidades narrativas Logo, a verdadeira preocupação de
preexistentes a seu uma história literária de feição
romance. estrutural deveria se caracterizar
pelo exame da evolução das 37
À mesma dona Ângela Lira IV
Marília, teus olhos
Anjo no nome, Angélica na cara! São réus, e culpados, Furtiva: Que se realiza ou
Que sofra, e que beije acontece disfarçadamente; às
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Os ferros pesados escondidas.
Ser Angélica flor, e Anjo florente, De injusto Senhor.
Em quem, senão em vós, se uniformara: Marília, escuta
A vista furtiva,
Um triste Pastor.
O riso imperfeito,
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
Fizeram a chaga,
De verde pé, da rama fluorescente; Mal vi o teu rosto,
Que abriste no peito,
E quem um Anjo vira tão luzente, O sangue gelou-se,
Mais funda, e maior.
Que por seu Deus o não idolatrara? A língua prendeu-se,
Marília, escuta
Tremi, e mudou-se
Um triste Pastor.
Das faces a cor.
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Marília, escuta
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda, Dispus-me a servir-te;
Um triste Pastor.
Livrara eu de diabólicos azares. Levava o teu gado
À fonte mais clara,
À vargem, e prado
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
De relva melhor.
Posto que os Anjos nunca dão pesares, Marília, escuta
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. Um triste Pastor.
38
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios
de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O
favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que
vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta.
Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia
silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de
chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da
mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto
dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha
matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a
renda, e as tintas de que matiza o algodão.

ALENCAR, José. Iracema, 1865.

39
“E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela
mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela
era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma
quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira
virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar
gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era castanha do caju, que abre feridas com o seu
azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que
esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-
lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir
dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de
gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita
Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.”
 
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 8ª edição. SP Martim Claret, 2012.

40
POÉTICA ESTRUTURAL E VALOR
LITERÁRIO
Conforme Todorov, as condições essenciais
para que uma poética seja estrutural são:
recusa da descrição concreta das obras,
Diante da
eleição de organizações abstratas anteriores impossibilidade do
à sua manifestação em textos individuais, a estabelecimento de
correta noção de sistema, a condução da
análise até as unidades elementares do qualquer parâmetro
discurso e, por fim, a escolha explícita dos absoluto (de valor
processos. Considere-se em particular a
noção de que a poética deve se empenhar na
literário), Todorov
decomposição do discurso literário até suas entende os juízos
menores unidades. estéticos como simples
proposições de um 41
Formalismo x estruturalismo
Para os formalistas, têm grande O estruturalismo também segue
importância os conceitos de sistema e a ideia de sistema e daí
função. Por sistema eles compreendem
concebe a construção de
o conjunto de elementos que vivem
numa relação de dependência uns dos modelos organizados pelo
outros formando um todo organizado e crítico afim de revelar as
apresentando uma finalidade específica. estruturas constituintes da obra.
Nesse sentido, todos os elementos têm
uma função, que é a capacidade de
Não são modelos fechados que
cada um relacionar-se com os outros e serviriam para qualquer o objeto
com isso cada um relacionar-se com o de estudo, porém modelos que
todo.
levam em consideração a
natureza dos objetos 42
NARRATOLOGIA
A narratologia examina o que as narrativas têm de comum entre si e aquilo que as
distingue enquanto narrativas. Para tal, a narratologia procura descrever o sistema
específico narrativo, buscando as regras que presidem à produção e processamento
dos textos narrativos. A narratologia incorpora a tendência do estruturalismo por
considerar os textos narrativos como meios, regidos por regras, pelos quais os seres
humanos re(criam) o seu universo. É também exemplo do objetivo do estruturalismo
isolar os componentes necessários e opcionais dos vários tipos de textos e de
descrever os modos como estes se articulam entre si. Competirá à narratologia
distinguir os textos narrativos dos restantes textos e descrever as suas características.
Dentro de estas, os formalistas russos distinguem a fábula, a história, o agente
narrativo, os atores, o acontecimento, o tempo e o lugar.
43
3/9/20XX Título da Apresentação 44
referências
AQUINO, André Luis Valadares de et al. " Um passeio nos campos seria uma viagem pelo
mundo”: linguagem e experiência em Dalcídio Durandir. 2013.
JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 2005.
SILVA, Ananias Agostinho da. Antropomorfismo e zoomorfismo em Vidas secas. O Guari, 2015.
SOARES, Jéssica Thais Loiola. O discurso persuasivo do diabo na poesia de Gregório de Matos
e de Tomás Antônio Gonzaga. 2013.
TEIXEIRA, Ivan. Anatomia do crítico. Revista Cult (junho de 1998), v. 38, 1998.
TEIXEIRA, Ivan. O formalismo russo. Revista Cult, v. 3, n. 13, p. 36-39, 1998.
Neto, João Paulo Afonso. Formalismo russo e a obra de arte literária: entre a essência e a
função. Revista Lampejo. Fortaleza – CE

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