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Equipa de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Unidade de Saúde Dr.

José
Domingos Barreiro
Psicóloga Clínica Doutora Maria João Fiuza e Estagiária de Psicologia Natércia Santos

Sobre o amor…
Introdução
O nascimento e o crescimento de
uma criança, com as implicações
e obrigações que acarretam,
ultrapassam muitas vezes a
disponibilidade dos pais, o que
pode resultar num sobre-esforço
pessoal/conjugal ou, ao
contrário, numa
despreocupação, desapego,
negligência e até hostilidade.
O (re) começo…
Um filho deverá ser o
resultado de um projeto
comum de ambos os pais.

Coimbra de Matos (2003), a


propósito do nascimento
refere: “um projeto (e não
há vida mental sem projeto,
antecipação, finalidade) é
de um e de outro, mas
também de ambos”.
A família é onde a criança aprende

A família… os valores da interrelação social, a


fornecedora dos padrões de
conduta que mais tarde a criança
reproduz na sociedade.

A qualidade da preocupação
parental e da satisfação das
necessidades educacionais,
alimentares, psicológicas e afetivas
da criança contribui para a
formação do seu caráter.
A família – Função parental
Se a criança tiver uma base segura
(âncora) e um porto de abrigo na
família, adquirirá estabilidade
emocional.

Para se desenvolverem e
integrarem enquanto seres
humanos sociáveis, as crianças
dependem do bom exercício das
Funções Parentais (maternas e
paternas).
O amor….
Mas o que entendemos por amor?

Talvez alguns Sim, tudo


respondam: isso é amor,
Beijar, com certeza.
abraçar, fazer Mas
carinhos… podemos ir
mais além...
Quando se fala em estimular a criança para que ela se
desenvolva melhor, muitas pessoas pensam que é preciso criar
situações desafiadoras o tempo todo, que aumente as
competências cognitivas (intelectuais) das crianças.

Pois a verdade é que outros


estímulos são tão ou mais
importantes que isso…
Quando um adulto deixa de lado o seu telemóvel ou tablet
para dedicar-se a brincar e interagir com a criança, isto
é amor!

Se ele levar a criança a passear no parque, conversar com ela durante essa
caminhada, mesmo que a criança não fale ainda, tenha alguns meses de
vida, é pura demonstração de amor!
O amor engloba a interação
positiva, regida pelo vínculo e pelo
afeto.
Nos primeiros anos de vida, o cérebro está em formação e de
forma acelerada…
• É nessa fase que acontecem as conexões
neuronais mais importantes, que marcam
a história do indivíduo para sempre.
• Se nesse período a pessoa vivenciou
vínculos de qualidade, ela poderá
desenvolver-se de forma muito mais
saudável do que a pessoa que presenciou
momentos complexos, e quase que
permanentes, de muita tensão e falta de
vínculo, como a violência e negligência.
• As consequências futuras são, muitas
vezes, a reprodução dessa violência e
negligência.
Por isso é tão urgente que nos primeiros anos de
vida a criança disponha desse amor entre os
adultos de referência!
São as rotinas que os pais impõem (com
limites), o diálogo, a liberdade de expressão, o
suporte afetivo e o elogio, que fazem com que
a criança saiba que tem um lugar diferenciado
naquela família e consequentemente um lugar
no mundo onde vive.

A família permite que a criança conheça os seus


limites, até onde deve ir e o porquê dessas
“balizas” para que tudo faça sentido.
O primeiro espelho da criatura
humana é o rosto da Mãe: A sua
expressão, o seu olhar, a sua voz. É
como se o bebé pensasse: Olho e
sou visto, logo, existo! - Winnicott
Holding: O Suporte Materno
Quando nascemos somos frágeis e
desprotegidos, é necessário que num
primeiro momento ou numa fase da vida
possamos contar com um organismo que
sirva de apoio à sobrevivência.
Esse corpo-auxiliar é o corpo da figura
materna, que não só fornece o aparato
físico (nutrição, higiene, aquecimento), mas
também fornece a experiência simbólica
dos sentimentos de amor, proteção, e os
cuidados que uma mãe dispensa
normalmente a um filho.
“o olhar cuidadoso e que despende cuidados à
criança ficará marcado no ego infantil como um
símbolo de importância e confiança no outro”
Este olhar afetuoso e cheio de
significados trará à criança quando
adulta a possibilidade de observar o
mundo de forma mais integrada e
criativa, e firmará a capacidade de
procurar novos interesses, mesmo
porque sabe que o “olhar materno”
observa e cuida, mas não sufoca as
possibilidades de experimentar algo
novo.
A mãe oferece a função de conter as identificações
projetadas pela criança, acolhendo os medos, as
ansiedades, as angústias e transformando isso em
amor e numa sensação de desintoxicação.
• É importante destacar que não só a figura da mãe estabelece
o holding, mas a figura parental paterna e o ambiente facilitador
são decisivos nesse constructo.
• A figura paterna provocará reações de desligamentos da dupla mãe-
bebé impedindo assim a dependência excessiva de ambos.
• Um ambiente facilitador
proporciona o desenvolver de
uma personalidade saudável na
criança, esse ambiente deverá ser
composto de qualidades físicas
que ofereçam apoio ao sujeito e
promova possibilidades de criar,
explorar e procurar experiências
emocionais boas.
• Para Winnicott o ambiente é um
conjunto de qualidades físicas
espaciais e as figuras parentais
atuantes, principalmente no que
diz respeito à figura materna.
Muitas vezes os pais preocupam-se com brinquedos caros,
mas a conexão que ele constrói com o filho é o que irá fazer
maior diferença!
A carência afetiva é a privação do
amor, carinho, e cuidado dos pais,
mas especialmente da mãe para os
filhos. Manifesta-se por vários
fatores que podem ser desde a
ausência física dos pais por maltrato,
negligência, rejeição ou abandono,
por desintegração da família,
ausências inesperadas ou até mesmo
morte dos pais ou por situações
ondes os pais ficam ausentes por
longos períodos de tempo, por
exemplo a hospitalização da mãe.
O amor é importante tanto como a alimentação e a educação
para o desenvolvimento físico, mental e emocional da
criança!
• Quem na sua infância tenha carecido do calor
do lar e do amor infinito dos pais ou que tenha
percebido que mesmo estando com eles, que
não foi amado o suficiente, pode desenvolver
padrões de relacionamento pouco saudáveis
ou inclusive ser mais propensos a ter um
comportamento autodestrutivo.
• A privação de amor por um longo período de
tempo por parte dos pais pode desencadear a
carência afetiva definida como a privação
do relacionamento.
• Esta falta de estimulação afetiva atrapalha a
maturidade cognitiva, física, emocional e social
da criança e causa distúrbios tanto
comportamentais como sociais.
As consequências da carência afetiva na
infância
Como evitar a carência afetiva na infância
• É importante que os pais se envolvam
em relacionamentos saudáveis com os
seus filhos. 
• Deve-se manter uma boa comunicação.
• Seja um bom ouvinte e atenda às
necessidades do seu filho, veja as suas
expressões e valorize as suas opiniões.
• Passe tempo de qualidade com seu filho,
brinque!
• Não economize nas demonstrações de
amor e de carinho.
• Faça com que o seu filho se sinta seguro
e amado.
Amor é….Ser desejado por ambos os pais
• O desejo de um bebé é uma
construção complexa que se
inicia na infância dos pais e
permanece no inconsciente de
cada um deles até ao momento
da sua concretização.
• Desejado na conceção e
durante a gravidez, protegido
pelo bom meio afetivo, o bebé
pode crescer em harmonia.
Amor é….
Ter uma mãe disponível
• O que representa ser uma “mãe
suficientemente boa”, como nos diz
Winnicott?
• Ser uma mãe capaz de uma preocupação
primária, que se identifica intuitivamente
com as vivências do bebé, adivinhando-lhe
as tensões e intervindo para as resolver, que
sorri e brinca com o bebé, que lhe dá
atenção sem ser intrusiva nem abandónica.
• A mãe de boa qualidade é interiorizada
pelo bebé que sobre esse imago
(representação psíquica da mãe) vai
construir toda a sua vida mental.
Amor é…. Ter um pai presente
• O pai contribui para o equilibrio psíquico
da mãe
• O pai representa para a criança, do ponto
de vista do funcionamento mental, o
“Princípio da Realidade”
• A boa identificação paterna deve integrar
o que há mais evoluído no psiquismo
humano no sentido dos valores morais, da
socialização, das noções de distância na
relação com o outro, base de respeito
mútuo na relação humana, necessária ao
sucesso na integração escolar, social e
profissional
Amor é….
Ter direito a um espaço • O espaço privado da criança facilita a
construção de um “íntimo”, de uma
interiorização, de uma capacidade de
pensar, de viver experiências
emocionais, de sonhar, de ter pesadelos
e medos de fantasmas, mas também de
vencer esses mesmos medos.
• O acesso permanente ao quarto dos
pais implica da parte da família a
confusão de gerações, a má distância
pais/filhos, a perturbação das
identidades, a falha dos limites, das
censuras.
Amor é….
Ter direito a um espaço • Cabe aos pais a função frustrante de
limitar o desejo natural da criança de
invadir o quarto dos pais, de
satisfazer curiosidades, de provocar,
de exigir, organizando os espaços
criança/adultos porque prezam
também a sua própria privacidade e
a sua sexualidade adulta como casal.
• Mas, na maioria das nossas famílias
reina a confusão dos espaços, a
indiferenciação, o caos. Ficando a
criança confusa e com fantasias de
omnipotência.
Amor é….
Ter tempo para brincar e ser ativo
• Brincar aumenta:
• Capacidade de adaptação motora
• Coordenação motora
• Perceção espacial
• Segurança e risco no jogo
• Segurança no trafego (orientação
espacial)
• Gasto de energia
• Prazer de mobilidade
• Aprendizagem de novas experiências
• Perceção da autoestima
• Contato social
Amor é….
Correr riscos
• A existência humana é um risco
• O desenvolvimento humano é um
risco
• O risco não é só físico
• O risco é procura de:
• Segurança
• Autonomia
• Sobrevivência
• Confronto com adversidade
• Capacidade adaptativa
• Superação e limites
Amor também é….
Ter limites!
• Toda a criança passa por uma fase
de omnipotência.
• Mesmo depois de interiorizadas as
regras e limites tenta conhecer até
onde pode ir.
• Embora a resposta do adulto deva
ser a mesma deve compreender-se
que a criança precisa de
desenvolver a autonomia e não
aceitar tudo cegamente.
Uma criança que cresce
O sim e o não! sem regras e limites fica
escrava dos seus impulsos
(sexuais e agressivos) e com
a sensação que tudo pode
acontecer.

O “não” cria uma base de


segurança, ajuda a criança a
respeitar-se a si mesma e ao
outro.
É importante que os pais
estejam de acordo com os Perturbações no casal
limites que querem pôr e
respeitarem as decisões que
cada um venha a tomar.

Quando os pais estão


separados a criança deve ser
ajudada a aprender e
respeitar regras familiares
diferentes.
Falta de limites – Baixa tolerância à frustração

• Perceção distorcida das situações


vividas;
• Querermos controlar todos os
acontecimentos;
• Sermos incapazes de suportar o
desconforto que implica
enfrentar situações difíceis da vida;
• Não aprendermos com as experiências.
Dê raízes e depois asas…
Obrigada pela vossa atenção!

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