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Perfilagem – SP

Potencial Espontâneo

Universidade Federal Fluminense

Prof. Alfredo M. V. Carrasco


O PERFIL DE POTENCIAL
ESPONTÂNEO - SP

O perfil do Potencial Espontâneo é o


registro de pequenas diferenças de
potencial (milivolt) que se desenvolvem
nos contatos entre:
- o filtrado do fluido de perfuração,
- os folhelhos ou argilas e
- as águas das formações permeáveis.

A força eletromotriz que gera o SP


provém de dois tipos de fenômenos:
- eletrocinético e eletroquímico.
 

(Schlumberger, 1989)
O potencial eletrocinético é o menos importante quantitativamente.

Este potencial se desenvolve quando um eletrólito se movimenta através de um


meio permeável.

Este fenômeno ocorre quando o filtrado da lama penetra nas formações.

O potencial eletroquímico, é a mais importante fonte de Potencial


Espontâneo, o, é produzido pela junção de diferentes soluções dentro de um
poço.

O potencial eletroquímico está formado por dois potenciais:


- O potencial de junção liquida (Lama  Água de Formação ) e
- o potencial de membrana (junção Água de Formação  Folhelho )
Potencial Eletrocinético (Ek)

(Schlumberger, 1989)
Potencial de Junção Líquida (Ej):

Este potencial ocorre quando dois líquidos de diferentes salinidades entram em


contato (como no contato Filtrado  Água de Formação).

No contato entre duas soluções de distintas concentrações de sais os íons fluem


da solução mais salina para a menos salina, criando uma diferença de potencial
contínua até que o equilíbrio salino seja estabelecido.

Observa-se que a movimentação iônica é sempre da solução concentrada para


a diluída e que o ânion Cloro (Cl-), na água, se desloca mais velozmente que o
cátion Sódio (Na+).

O potencial de junção líquida (Ej), quantitativamente, não é muito significativo.


Seu valor não ultrapassa milésimos de 1 volt (milivolts).
Potencial de Junção Líquida (Ej):

(Schlumberger, 1989)
Potencial de Membrana (Em)

Caso exista uma membrana de folhelho, separando soluções de diferentes


salinidades, observa-se a ocorrência de um potencial muito mais alto.

Experiências tem demonstrado que Em  5 Ej.

Os argilominerais são compostos de tetraedros de sílica (SiO4) e alumina (Al2O3)


formando extensas lâminas.

O tetraedro de silício é constituído de


um pequeno átomo de silício
tetravalente, positivo, circundado por
quatro grandes átomos de oxigênio
bivalente, negativo. Assim, ocorrerá
sempre um excesso de carga
negativa na periferia da mesma.

(Schlumberger, 1989)
Potencial de Membrana (Em):
(Schlumberger, 1989)

A argila ou folhelho proporcionará uma repulsão do cloro negativo e uma maior


facilidade de locomoção para o sódio positivo, promovendo uma inversão na
movimentação ou polarização dos eletrodos. Assim, uma areia limpa terá um
desenvolvimento maior do SP do que uma areia argilosa.
O PERFIL DE POTENCIAL ESPONTÂNEO - SP
O potencial eletroquímico se processa segundo o seguinte elo:
Lama  Filtrado  Água de Formação  Folhelho  Lama
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO DA CURVA DO SP

Uma maior diferença de salinidade entre o filtrado da lama e a água formação


(Rmf/Rw) gera uma corrente mais intensa na camada permoporosa
A circulação da corrente do SP através de uma camada permeável, com
água mais salgada que o filtrado da lama, e intercalada por folhelhos:
O SP máximo ou estático (SSP) que pode ser registrado defronte a uma camada
permoporosa de grande tamanho, será:

SSP = Em + Ej = i (rm + rxo + rt + rs)

Em uma camada, o valor registrado no perfil SP é, na realidade, uma fração do


fenômeno total (SSP), ou seja, registra-se a diferença de potencial ocorrida
apenas na coluna de lama:
SP = i . rm
Ou,

SP i . rm SSP
  SP 
SSP i rm  rxo  rt  rs   rxo rt rs 
1    
 rm rm rm 
(Schlumberger, 1989)
Quando a água da formação é mais salgada que o
filtrado da lama (Rmf > Rw), as correntes entram na
lama do poço vindas dos folhelhos e penetram no
arenito.
 
O eletrodo ao se movimentar no sentido ascendente,
vindo de uma camada de folhelho, detecta um
aumento do potencial (em módulo) nas proximidades
do contato arenito/folhelho devido ao aumento da
densidade das linhas de corrente. Nesse ponto a
curva de SP mostra apresenta uma inflexão.

A proporção que o eletrodo se aproxima do meio da


camada permeável, a densidade de corrente atinge o
seu valor máximo.

O eletrodo ao se afastar do centro da camada, ainda


em movimento ascendente, registra o inverso da
situação anterior.
APRESENTAÇÃO E LEITURA DA CURVA
DO SP

A curva do SP é registrada sempre na


primeira faixa.

Pode-se construir uma reta ligando valores


das deflexões entre as diversas camadas de
folhelhos e denominá-la de linha base dos
folhelhos. Essa linha é considerada como
sendo de zero milivolts.

Convenciona-se que as deflexões para a


esquerda da linha de base dos folhelhos são
negativas e aquelas para a direita são
positivas.
(Schlumberger, 1989)
Estudos de termodinâmica mostraram
que:
aw
Em  Ej  SSP   K log
amf
onde:
aw = atividade da água de formação
amf = atividade do filtrado da lama
K = 60 + 0,133 x temp. da formação
em °F

Atividade química é a maior ou menor


capacidade que tem uma solução em
movimentar seus íons. Ela é
diretamente proporcional ao teor de
sal contido
 
Para soluções de NaCl, a atividade do
Na é inversamente proporcional a
resistividade da solução.
Da fórmula
termodinâmica do SSP
receber uma
modificação de cunho
prático, em função do
relacionamento inverso
entre atividades e
resistividades.

Rmfe
SSP  K log
Rwe

(Schlumberger, 1989)
Rwe significa resistividade equivalente da solução. Esse passo (determinação de
Rwe) é uma primeira aproximação para o valor real de Rw.
Se o filtrado é mais diluído que a água da formação, o SP será negativo. Se o
filtrado é mais concentrado que a água da formação, o SP será positivo.
Interpretação qualitativa na
sequencia folhelhos – arenitos e
carbonatos

- Na parte superior do perfil é observada


que a linha base do perfil parte da linha
de folhelhos e é direcionada até o topo
na camada fina de arenito.

- Na parte inferior é observada uma


sequencia de arenitos intercalados com
carbonatos. Notar que o ferramenta não
responde a estas camadas, podendo
sugerir de modo errado, a existência de
uma camada grossa de arenitos.
Principais fatores que afetam a curva do SP

1. Espessura: Quando se compara duas rochas idênticas, uma com menor


espessura que a outra, a de maior espessura apresentará um SP mais
desenvolvido.

2. Diâmetro do Poço: O desmoronamento de um poço atua diretamente


sobre o volume e a resistência da lama. Portanto, quanto mais
desmoronado o poço, menor a amplitude do SP.

3. Diâmetro de invasão: O diâmetro de invasão de uma camada


permoporosa atua diretamente sobre a intensidade da corrente no poço.
Quanto mais profunda a invasão, menor a amplitude do SP.

4. Presença de Hidrocarboneto: Os hidrocarbonetos aumentam a resistência


das rochas. O aumento da saturação de HC diminui a amplitude do SP.

5. Argilosidade: A argilosidade dispersa em uma camada permoporosa atua


diretamente sobre a movimentação iônica, atrasando a passagem dos íons,
de modo que o aumento de VSH faz diminuir a amplitude do SP.
USOS DA CURVA DO SP

Em poços com lamas de baixa salinidade (geralmente < 35.000 mg/l de NaCl),
a curva do SP é extremamente útil para:

• Detectar camadas permoporosas, contudo sem fornecer valores quantitativos


da permeabilidade ou da porosidade das mesmas. Não há relação entre a
magnitude da deflexão do SP com aquelas duas características petrofísicas.

• Localizar limites do topo e base das camadas, permitindo correlação entre


poços vizinhos.

• Quantificar a resistividade da água intersticial das formações (Rw).

• Quantificar a argilosidade das camadas (VSHSP).


INTERPRETAÇÃO DO SP

As duas maiores utilizações da curva do SP estão na determinação de Rw e


na argilosidade das camadas (VSHSP).

Uma vez que a deflexão do SP funciona em relação a diferença de salinidade


ou resistividade, entre o filtrado e a água de formação, ao se medir Rmf se
torna fácil calcular Rw.

Isolando-se Rwe, na equação termodinâmica do SSP, tem-se:


  Rmfe Rmfe
SSP  K log Rwe  SSP K
Rwe 10
 
Convém lembrar que Rwe é a resistividade equivalente da água. Para a
obtenção de Rw, deve ser utilizada uma curva de correlações.
Cálculo da Argilosidade (VSH):
Dado o efeito de seleção
catiônica dos folhelhos, as
camadas argilosas tem seu valor
de SP diminuído a proporção em
que aumenta linearmente sua
quantidade de argila.

Basta lembrar que:


- o SP é o valor lido em uma
camada que se suspeita que
tenha alguma argilosidade e
- o SSP é o valor lido em uma
areia limpa (não argilosa) e com
água (devido o efeito de redução
da amplitude da curva pela
presença do óleo).
UTILIZAÇÃO DO SP

• Detecção de camadas permo-porosas


• Correlação entre poços vizinhos
• Argilosidade (VSHSP = 1 - SP/SSP)
• Resistividade da água das Formações (Rw)

PROBLEMAS DO SP

• Camadas Argilosas
• Poços com lama a base de óleo
• Poços desmoronados
• Camadas com óleo (Sw < 1)
• Lamas com alta salinidade (> 35.000 ppm de NaC1)
• Camadas finas
Problema: Encontrar a
resistividade da água de
formação (Rw) na seção de
interesse. Encontrar
também a argilosidade a
uma profundidade de 4250’

O primeiro passo consiste


em avaliar quais são as
zonas de interesse, para
isso são traçadas as linhas
de arenito (vermelho) e de
folhelho (azul).
Seguinte passo:
identificar as zonas de
interesse (verde)

(Schlumberger, 1989)
Na zona de interesse podemos
observar no perfil elétrico que
as baixas resistividades (menor
que 1 ohm-m) correspondem à
presença da água. As três
curvas correspondem a três
profundidades de investigação.

As resistividade da água (Rw)


depende da temperatura da
formação localizada a 4200’.

Para encontrar a temperatura


nesta profundidade tomamos
como referência os dados da Na profundidade total (total depth) de
temperatura na máxima 15962’ corresponde a temperatura
profundidade informada. máxima (BHT) de 197°F. Para encontrar
a temperatura a 4200’ usamos o gradiente
de temperatura ou gráfico.
Gráfico do grad. Temp.
- Localizamos a temp.
máxima na máxima
profundidade.
- No ponto indicado é
traçada a linha do
gradiente (azul claro)
com base nas
gradientes próximas.
- Para a profundidade
de 4200’ (aprox.) é
traçada uma linha
horizontal cortando o
gradiente (azul claro).
- A temperatura é
encontrada traçando
uma linha vertical,
resultando em 97°F (Schlumberger, 1989)
Foi encontrada a temperatura da formação
como 97°F. O passo a seguir é calcular o
SP máximo (SSP) como a diferença entre
as linhas de arenito e folhelho, traçadas
inicialmente, com base na escala de 20 mV.
Portanto o SSP é -60 mV

Para encontrar a Rw é usada a seguinte


fórmula: Rmfe
SSP   K C log 1
Rwe

K C  61  0,133  T ( F )  61  0,133  97  73,9

Na equação (1) são conhecidos o SSP e o


Kc (função da temp.). O valor Rmfe não
é conhecido mas pode ser encontrado
graficamente, para finalmente achar Rwe,
(Schlumberger, 1989)
e consequentemente o Rw.
Rmfe pode ser encontrado
graficamente usando Rmf
da tabela do perfil

Primeiro calculamos
Rmf na temperatura da
formação (97°F)
usando (T  6,77)
R2  R1 1
(T2  6,77)

(87  6,77)
R2  1,34  1,21
(97  6,77)

Então Rmf a 97F é 1,21


ohm-m. Com este valor
entramos na horizontal e é
traçada uma linha vertical
até 97F aprox.
Finalmente é encontrado
(Schlumberger, 1989) Rmfe = 0,63 ohm-m
Para encontrar o Rw
usamos a equação (1)
transformando para obter
o valor de Rwe
Rmfe
SSP   K C log
Rwe

Rmfe
Rwe 
10 SSP KC 
Substituindo os valores
encontrados:
0,63
Rwe   0,097ohm  m
1060 73,9 

Finalmente encontramos o
Rw usando novamente o
gráfico, sendo 0,12 ohm-m
aproximadamente.
Para encontrar a salinidade da água de formação em ppm usamos o
seguinte gráfico. Entramos com a resistividade de 0,12 ohm-m para a
temperatura de formação de 97°F , resultando em 50000 ppm.

(Schlumberger, 1989)
Encontrar também a argilosidade
a uma profundidade de 4250’

Tomando como base a escala


de 20mV do SP é feita a
medição na profundidade de
4250’

Posteriormente aplicamos
a fórmula com os valores
obtidos:

SP  40
VSH  1   1  33%
SSP  60
Simular as respostas do perfil SP.
As deflexões acontecem na presença
de arenitos, segundo a diferença de
salinidades.
1. Traçar a linha de referencia de
folhelhos (linha vermelha)

2. Na segunda camada a salinidade


do poço é maior que na formação,
por isso as deflexões são positivas.
3. Quando não existe diferença
entre as salinidades, não existe
deflexões.
4. Quando a salinidade na
formação é maior que dentro do
poço, as deflexões são negativas.
Referencias Bibliográficas

- Ellis, D. V. & Singer, J. M. Well logging for Earth Scientists.


Springer-Verlag., 2007.
-Rider, M. H., The Geological Interpretation of Well logs. Gulf
Publishing, 1996.
- Schlumberger, Anne. The Schlumberger Adventure. 1982
- Schlumberger. Log Interpretation. Principles/Applications. 1989
- Serra, O., Well logging Handbook., TECHNIP, 2008.
- Tittmam, J. Geophysical Well logging. Academic Press Inc., 1986.

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