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Concreto Armado I

Cisalhamento: Cálculo da
Armadura Transversal

Varginha, Junho de 2022


Introdução:
Até aqui foi estudada uma viga submetida à flexão
pura e, neste caso, tem-se o momento fletor
constante;
Atuam na seção transversal apenas tensões
normais que permitem equilibrar o momento fletor;
As tensões normais são resistidas pelo concreto
comprimido e pela armadura longitudinal tracionada
( e por uma armadura longitudinal comprimida nos
casos de armadura dupla);
Nota-se que no cálculo da armadura longitudinal,
feita anteriormente, bastou analisar as seções mais
solicitadas pelo momento fletor, sem qualquer
interferência da força cortante, valendo, portanto, a
consideração de que a viga estava sujeita à flexão
pura;
Na realidade, as vigas submetidas a um carregamento vertical qualquer, com ou
sem esforço normal, estão trabalhando em flexão simples ou composta e, nessa
situação, o momento fletor é variável e a força cortante passa a ser diferente de
zero, surgindo na seção transversal, além das tensões normais, as tensões
tangenciais que equilibram o esforço cortante;

Esforço Cortante Tensões atuantes na


Flexão Momento Fletor M
V = dM/dx seção

Pura Constante V=0  (normal)


 (normal) e
Não-Pura Variável V0
 (tangencial)
TENSÕES PRINCIPAIS

Trajetórias das tensões principais de tração σ1 e de compressão σ2


TIPOS DE RUPTURA
a) Ruptura por flexão:
Ocasionada por um dimensionamento insuficiente da armadura de flexão (longitudinal) levando
a peça a ruína em regime de sub-armação, que geralmente é avisada (ruptura dúctil). É
caracterizado por fissuras dispostas perpendicularmente à armadura de flexão, onde o esforço
é máximo, inclinando-se fora desta região.
b) Ruptura por tração diagonal:

Ocasionada pela ausência da armadura transversal (estribos) levando a peça a ruptura


brusca (frágil), portanto não avisada. As fissuras principais, inclinadas segundo as
trajetórias de compressão, conforme indicado abaixo, quando interceptam a armadura
longitudinal causam um desplacamento do concreto que envolve a mesma.
c) Ruptura por esmagamento do concreto e tração diagonal:

Ocasionada pela diminuição da zona comprimida devida a propagação das fissuras


inclinadas em direção ao topo da viga, ocasionando o esmagamento do concreto seguido
da ruptura por tração diagonal, conforme indicado na Figura, caracterizando uma ruptura
do tipo não avisada.
ANALOGIA DE TRELIÇA CLÁSSICA
MÖRSCH no início do século passado aproximou o comportamento de uma peça de
concreto armado ao de uma treliça de banzos paralelo. Hoje, os modelos de
BIELAS-TIRANTES, decorrentes desta idealização, são aplicados com muita
eficiência para outros tipos de peças ou regiões de descontinuidade.
A analogia de treliça clássica, ilustrada na Figura anterior, fundamenta-se nas seguintes hipóteses:

 um banzo inferior tracionado, correspondente a armadura longitudinal de flexão;

um banzo superior comprimido, representado pela zona de compressão situada acima
da linha neutra;

barras verticais tracionadas, constituídas pelas armaduras transversais (estribos


verticais);

barras diagonais comprimidas, caracterizando as bielas de concreto inclinadas à 45º.


Modelo de Ensaio
Vista da viga fissurada
Viga Sujeita à Flexão Pura
P P
0,85.fcd

h fcc z

fts
bw
L/3 L/3 L/3

+P 0
Esf. Cortante
-P
M.F.=Cte
Mom. Fletor
P.(L/3)
Idealização da Treliça de Mörsch
P P
0,85.fcd Rcc

h z
Rts
L/3 bw
L/3 L/3
Biela de Concreto
Mörsch idealizou a
partir desse ensaio, a
45o chamada “treliça
clássica”
A Tensão de Cisalhamento Máxima ocorre com inclinação de aproximadamente 45 o
Idealização da Treliça de Mörsch
P P
0,85.fcd
Rcc

h z
Rts
L/3 L/3 L/3 bw
s
z
45o 
z a s
Banzo Inferior :- Armadura Tracionada Diagonal Comprimida:- Biela de Conreto
Banzo Superior:- Concreto Comprimido Diagonal Tracionada :- Armadura Tracionada (estribo)
ANALOGIA DE TRELIÇA GENERALIZADA

O modelo original da treliça clássica permaneceu inalterado cerca de 60 anos, até que experiências
posteriores, realizadas por LEONHARDT, evidenciaram que:

 a inclinação das bielas de concreto variam de 30º a 45º, a medida que se aproxima dos
apoios;

 o banzo comprimido inclina-se nas regiões dos apoios;

 as tensões na armadura transversal são menores e as tensões nas bielas


comprimidas são um pouco maiores daquelas as obtidas a partir da analogia da treliça
clássica.
FORÇA CORTANTE RESISTIDA PELA ARMADURA
TRANSVERSAL
Vs é a força cortante solicitante na seção considerada
Vc é a parcela da força cortante absorvida pelos mecanismos internos do concreto
Asw.sw corresponde a força normal na armadura transversal obtida a partir da área da seção
transversal e tensão normal da mesma

Esforços internos ao longo de uma fissura inclinada


MECANISMOS INTERNOS RESISTENTES
A consideração do efeito do mecanismo interno resistente, refletida na parcela
VC, alivia a força cortante na armadura transversal permitindo um cálculo mais
econômico.
A estimativa da parcela da força cortante absorvida pelos mecanismos internos
resistentes de acordo com a Norma NBR-6118 (2014) é:
Modelo de Cálculo I – 17.4.2.2
No modelo de cálculo I, a resistência da peça é assegurada por:
a) verificação das bielas comprimidas de concreto (compressão diagonal do
concreto);

VRd 2  0,27.v. fcd.bw.d


Com coeficiente v, sendo fck em MPa, dado por:

 fck 
v  1  
 250 
b) Cálculo da armadura transversal;

Vsd ≤ VRd3 = Vc + Vsw


Vsd = Vc+ Vsw

A força cortante resistida pela armadura transversal em uma certa seção é dada por:

 Asw 
Vsw   .0,9.d . fyd.(sen   cos  )
 s 
bw – menor largura da seção, compreendida ao longo da altura útil d;
d – altura útil da seção, igual à distância da borda comprimida ao centro de gravidade
da armadura de tração;
s – espaçamento entre elementos da armadura transversal A sw, medido segundo o eixo
longitudinal da peça;
Para o valor de Vc, deve ser observado:

Vc = 0 nas peças tracionadas quando a linha neutra se situa fora da seção;

Vc = Vco na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção;


Modelo de Cálculo II – 17.4.2.3
No modelo de cálculo II, a resistência da peça é garantida por:
a) Verificação da compressão diagonal das bielas de concreto;

VRd 2  0,54.v 2. fcd.bw.d .sen 2 .cot   cot  


 fck 
 v  1   Obs: fck em MPa
 250 
b) Cálculo da armadura transversal:
Vsd ≤ VRd3 = Vc + Vsw
Vsd = Vc+ Vsw

A força cortante resistida pela armadura transversal em uma certa seção é dada por:

 Asw 
Vsw   .0,9.d . fywd.cot   cot  . sen 
 s 
Para o valor de Vc (parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares ao de
treliça), deve ser observado:
Vc = 0 em elementos estruturais tracionados quando a linha neutra se situa fora da seção;
Vc = Vc1 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção;

Tomando-se para Vc1 os seguintes valores:


Vc1 = Vco = 0,6.fctd.bw.d, quando VSd  Vco
Vc1 = 0, quando VSd = VRd2, interpolando-se linearmente para valores intermediários;
O valor da inclinação  da biela de concreto é bastante controverso e depende, entre
diversas variáveis, do tipo de carregamento aplicado, porém segundo a norma,
deve-se considerá-lo compreendido entre 300 e 450;
Exemplo 1
Obter a armadura de cisalhamento usando o modelo I
Dados:

fck= 35MPa
d=35cm CA -60
40cm Zona Urbana

As
Vk=60 kN Vsd=1,4.60 =84kN

15cm
Modelo de Cálculo I
a) verificação das bielas comprimidas de concreto (compressão diagonal do concreto);

Com coeficiente v, sendo fck em MPa, dado por:

Ok!
b) Cálculo da armadura transversal;

Vsd ≤ VRd3 = Vc + Vsw


Vsd = Vc+ Vsw

A força cortante resistida pela armadura transversal em uma certa seção é dada por:

 Asw 
Vsw   .0,9.d . fyd.(sen   cos  )
 s 

Vc = Vco
Vsd = Vc+ Vsw

84 = 50,56+ Vsw Vsw =33,44kN

 Asw 
Vsw   .0,9.d . fyd.(sen   cos  )
 s 
Exemplo 2
Obter a armadura de cisalhamento usando o modelo II
Dados:

fck= 35MPa
d=35cm CA -60
40cm Zona Urbana

As


15cm Vk=60 kN Vsd=1,4.60 =84kN


Modelo de Cálculo II
a) Verificação da compressão diagonal das bielas de concreto;

VRd 2  0,54.v 2. fcd.bw.d .sen 2 .cot   cot  


 fck 
v  1  
 250 

Ok!
b) Cálculo da armadura transversal:
 Asw 
Vsw   .0,9.d . fywd.cot   cot  . sen 
 s 
Armadura mínima
Para os exemplos 1 e 2 - a armadura mínima será:

Para os dois exemplos anteriores

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