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Science and the Social Order

Robert K. Merton
Philosophy of Science, Vol. 5, N. 3 (Jul 1938): 321-337
Science and the Social Order

• 43 anos antes, Max Weber observou que a crença no valor da


verdade científica não é derivada da natureza, mas é um produto de
culturas definidas.

• O artigo faz um adendo: e esta crença é prontamente transformada


em dúvida ou descrença.

• O desenvolvimento persistente da ciência ocorrem em sociedades


que:
• Possuem uma certa ordem;
• Estão sujeitas a complexas pressuposições tácitas; e
• Estão sujeitas a restrições institucionais.
Science and the Social Order

• A continuidade da ciência exige uma participação ativa de pessoas


interessadas e capazes de realizar investigações científicas.

• É importante examinar os controles que:


• Motivam as carreiras científicas;
• Selecionam e dão prestígio para certas disciplinas; e
• Rejeitam outras disciplinas.

• Será evidente que mudanças na estrutura institucional podem privar,


modificar ou impedir investigações científicas.
Hostilidade

• A hostilidade em relação à ciência podem surgir em dois conjuntos de


condições: Lógicas e não-lógicas. Embora ambas sejam baseadas em
sistemas de valores concretos: Humanitários, Econômicos, Políticos e
Religiosos.

• Se questiona a incompatibilidade entre os sentimentos incorporados na


ética científica e aqueles encontrados em outras instituições.

• Os dois conjuntos de condições formam a base das revoltas contra a ciência


(observada naquela época).

• A posição concreta da ciência no mundo moderno deve ser analisada com o


resultado de dois conjuntos de forças contrárias, apoiando e contrariando
como uma atividade social de larga escala.
Hostilidade

• A análise do artigo é restrita a alguns casos notáveis da reavaliação atual


do papel da ciência. No entanto, o disposto no artigo pode ser aplicado em
outros países.

• A situação na Alemanha em 1933 ilustra as formas pelas quais os


processos lógicos e não-lógicos convergem para modificar ou impedir a
atividade científica.

• Em parte, as dificuldades impostas à ciência são um subproduto


indesejado das mudanças na estrutura política e na crença nacional.

• Nazismo / Raça Pura / Sub-raças eram expurgadas das Universidades e


Institutos científicos. Resultado: Enfraquecimento da Ciência na Alemanha.
Hostilidade

• Pesquisadores Arianos que colaboravam ou até mesmo aceitavam


teorias propostas por não-Arianos eram restritos ou banidos.

• Uma nova categoria racial-política foi introduzida para incluir esses


arianos incorrigíveis: os “Judeus Brancos”. O membro mais
proeminente dessa nova raça é o físico Prêmio Nobel, Werner
Heisenberg, que persistiu em sua declaração de que a teoria da
relatividade de Einstein constitui uma "base óbvia para outras
pesquisas".

• O nacionalismo e a ideologia de raça pura prevaleceu sobre a


racionalidade / utilidade. Resultando em grandes perdas para as
ciências naturais e médicas.
Ciência e Poder

• Thomas Hobbes - Ciência é Poder.

• Para finalidades Militares, Econômicas e Políticas: Ciência Teórica não podem


ser descartada (de forma segura). O mesmo pode se dizer da Tecnologia.

• A experiência mostra que até as pesquisas mais esotéricas encontram


aplicação.

• “Como as práticas de hoje se baseia na ciência de ontem, as pesquisas de


hoje serão as práticas de amanhã”.

• A ênfase na utilidade conduziu o uso da ciência com interesses dos Estado e


da Indústria. (Hittler – Química/Incentivos)
Ciência e Poder

• Da mesma forma a ênfase na utilidade resulta na limitação da


pesquisa na ciência pura. (Estado Nazista)

• No estado totalitário a Ciência é colocada em um contexto social


onde aparece questionar sua lealdade ao Estado (cooperação
Arianos/Não-Areanos).

• No modelo liberal a limitação da ciência não ocorre desta maneira. As


instituições não-políticas desfrutam de autonomia.

• No estado totalitário existe um conflito entre ética científica e a


política.
Autonomia da Ciência

• O conflito é uma fase da dinâmica institucional da ciência.

• Quando a ciência atinge um grau considerável de autonomia ela


desenvolve uma instituição complexa e que envolve a fidelidade dos
cientistas. A partir deste ponto passa a ter sua Autonomia Tradicional
e suas Regras (ética) questionadas por autoridades externas.

• Os sentimentos incorporados pela Ética da Ciência conflitam com os


direcionamentos que o Estado impõe a pesquisa científica.
Ética da Ciência

• Honestidade Intelectual;

• Integridade;

• Ceticismo Organizada;

• Neutralidade (ausência de interesse);

• Impessoalidade.
Autonomia da Ciência / Pesquisador

• Existe uma percepção errônea de que o pesquisador é um profissional


sem paixão e é um indivíduo impessoal, quando na verdade existe um
grande investimento emocional em seu estilo de vida que é definido
pelas normas institucionais que regulam sua atividade.

• Estabilidade social é garantida através da prevenção de mudanças


impostas externamente.

• O processo de preservar a integridade institucional e resistir a novas


definições de estrutura social que podem interferir na autonomia da
ciência se apoia em um pressuposto básico da ciência moderna: de
que a proposições científicas “são invariáveis no que diz respeito ao
indivíduo” e ao grupo.
Autonomia da Ciência

• Totalitarismo conflita com a ciência moderna.

• Um sentimento que é assimilado pelo cientista, desde o início de sua


formação diz respeito à pureza da ciência.

• A ciência não pode ser ‘escrava’ da teologia, da economia ou do


estado, com a finalidade de preservar sua autonomia.

• Repúdio dos cientistas em aplicar normas de utilidade visa preservar


a autonomia, no entanto existe um paradoxo associado: “A pura
matemática pode não nunca ser inútil a todos!”
Ciência Pura

• Uma defesa contra:


• Invasão de normas;
• Limitação de direção;
• Limitação de potencial;
• Ameaça de estabilidade;
• Ameaça de continuidade;
• Desvalorização da pesquisa como atividade social.

• Perseguir pureza da ciência também ameaçam seu reconhecimento social.

• Os cientistas são incitados à consideram em suas pesquisas somente os


‘avanços do conhecimento’ (fronteira) como significado da sua pesquisa.
Nenhum foco em utilização.
Ciência Pura

• A aplicação dessa metodologia negligencia o resultado social desta


atitude.

• As consequências objetivas de esta atitude fornecem uma nova base de


revolta contra a ciência; uma revolta incipiente que é encontrada em
praticamente todas as sociedades onde a ciência atingiu um elevado
estágio de desenvolvimento. Uma vez que o cientista não faz ou não
pode controlar a direção em que suas descobertas são aplicadas, ele
torna-se o tema de censura e de reações mais violentas na medida em
que a aplicação da ciência é reprovada pelos agentes da autoridade ou
por grupos de pressão. (Uso militar da ciência)

• O rápido desenvolvimento da ciência e da tecnologia relacionada


levaram a um movimento implicitamente anti-ciência.
Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia

• Tecnologia altera as estruturas sociais e econômicas.

• Tecnologia vs Mão-de-Obra – Maquinismo / Capitalismo.

• Teorema sociológico W. I. Thomas '- "Se os homens definem situações como reais,
elas são reais em suas consequências“.

• Esta base para a reavaliação da ciência deriva "imediatismo imperioso do interesse.“

• Preocupação com o objetivo principal, o aprimoramento do conhecimento e a


negligência de suas consequências que estão fora da área de interesse imediato,
mas estes resultados sociais reagem de modo a interferir com as atividades
originais. As reações podem ser racionais (satisfação do interesse imediato) e
irracionais (alguns interesses não são prioritários naquele momento).
Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia

• A pesquisa científica não é realizada no ‘vácuo social’.

• Os seus efeitos se ramificam em outras esferas de valor e de interesse.

• Na medida em que esses efeitos são considerados socialmente


indesejáveis, a ciência é responsável.

• Os bens da ciência não são considerados uma ‘bênção incompetente’.

• Examinada a partir dessa perspectiva, o princípio da ciência pura e


neutralidade ajudou a preparar o seu próprio epitáfio.
Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia

• Pode a árvore boa das maus frutos? (de bem intencionado ...)

• Evitar maus frutos seria limitar a ciência?

• Os frutos maus seriam enxertados pelo Estado ou pela economia?

• Há uma tendência dos cientistas para assumir que os efeitos sociais da


ciência deve ser benéfico a longo prazo. Trata-se da confusão da verdade e
da utilidade social, que é caracteristicamente encontrados na penumbra
não-lógica da ciência.

“Esperar que a vida lhe trate bem porque você é uma boa pessoa, é como
esperar que um tigre não te ataque porque você é vegetariano.” – Bruce Lee
Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia

• Com a crescente complexidade da pesquisa científica, um longo programa


de treinamento rigoroso é necessário testar ou mesmo para entender as
novas descobertas científicas.

• O cientista moderno tem necessariamente inscrito em um culto de


complexidade (“não-inteligibilidade”).

• Afastamento entre Cientistas e Leigos. Os leigos não tem como contestar ou


verificar a validade científica...

• Os mitos dos teóricos totalitários parecem mais plausível e são certamente


mais compreensível para o público em geral do que as teorias científicas
acreditadas, uma vez que eles estão mais próximos à experiência do senso
comum e viés cultural.
Ciência e a Ordem Social

• A população aceita mais facilmente alguns misticismos vestidos de jargões


aparentemente científicos.

• O Estado se ‘apodera’ da autoridade da ciência e a transforma em um


símbolo de prestígio poderoso para doutrinas não-científicas.

• Símbolos e valores institucionalizados exigem atitudes de lealdade,


fidelidade e respeito. A ciência questiona fatos sobre cada fase da natureza e
da sociedade envolvendo psicológica, não-lógica e conflitos com outras
atitudes envolvendo os mesmos dados que foram cristalizadas e
frequentemente ritualizada por outras instituições.

• A maioria das instituições exigem fé incondicional (“não-qualificada”), mas a


instituição da ciência faz do ceticismo uma virtude.
Ciência e a Ordem Social

• A instituição da própria ciência envolve a adesão emocional a determinados


valores.

• O cientista não preserva a distinção entre o ‘sagrado’ e o ‘profano’, entre o


que exige respeito acrítico e aquilo que pode ser objetivamente analisados.

• Por esse motivo existe uma revolta contra a intrusão da ciência em outras
esferas. (Religião).

• Esta oposição pode existir independentemente da introdução de algumas


descobertas científicas que parecem invalidar dogmas particulares da
igreja, da economia e do Estado. (desafiar as bases da estabilidade
institucional / ceticismo ameaça o status quo)
Ciência e a Ordem Social

• Na sociedade totalitária, a centralização do controle institucional é


uma fonte de oposição à ciência, em outras estruturas, a extensão da
investigação científica é de maior importância.

• Represálias contra a ciência pode mais facilmente encontrar


expressão no Estado Nazista do que nos Estados Unidos, onde os
interesses não são tão organizados como para impor limitações na
ciência, quando estas forem consideradas necessárias.

• Em estruturas liberais a ausência de tal centralização permite que o


grau de isolamento necessário, garantindo a cada esfera de direitos
restritos de autonomia.
Conclusão

• Existe uma hostilidade latente e ativa em relação à ciência, em muitas


sociedades, embora a extensão desse antagonismo ainda não pode ser
estabelecida.
• O prestígio que a ciência adquiriu nos últimos três séculos é tão grande
que as ações de cercear o seu alcance ou repudiá-la, em parte, são
geralmente associada com a afirmação da integridade imperturbável da
ciência ou "o renascimento da verdadeira ciência.“
• Pró-ciência: estão frequentemente em desacordo com o
comportamento daqueles que lhes pagam.
• Anti-ciência: deriva do conflito entre a ética da ciência e de outras
instituições sociais.
• Um corolário dessa proposição é que as revoltas contra a ciência
contemporânea são formalmente semelhante ao revoltas anteriores,
embora as fontes concretas são diferentes.
Conclusão

• Surge o conflito, quando os efeitos sociais da aplicação de conhecimentos


científicos são considerados indesejáveis:
• Quando o ceticismo do cientista é direcionado para os valores básicos de outras
instituições;
• Quando a expansão da autoridade política ou religiosa ou econômica limita a autonomia
do cientista;
• Quando o anti-intelectualismo questiona o valor e a integridade da ciência; e
• Quando os critérios não científicos de elegibilidade para a pesquisa científica são
introduzidos.

• Este artigo não tem a intenção de apresentar um programa de ação, a fim de


suportar as ameaças atuais para o desenvolvimento e autonomia da ciência.
• Pode-se sugerir, no entanto, que, enquanto o locus do poder social reside em
qualquer uma instituição que não seja a ciência e contanto que os próprios
cientistas estão incertos da sua lealdade fundamental, a sua posição torna-se
frágil e incerta.

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