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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO

GROSSO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO

DISCIPLINA:
MESTRANDOS: JANE AMORIM ATIVIDADES INTEGRADAS DE PESQUISA – 2022/1
JENILSON BIANO PROF. DRA LORIÉGE PESSOA BITENCOURT
JUCILEIDE RIBEIRO

PESQUISA PESQUISA
PARTICIPANTE AÇÃO
PESQUISA PARTICIPANTE E PESQUISA-AÇÃO
De acordo com ZART(2021):
 A pesquisa participante e a pesquisa-ação são duas

perspectivas de desenvolvimento científico que se


contrapõem às concepções positivistas;
 Constroem seus parâmetros a partir da historicidade

dos sujeitos sociais implicando-os em sua objetividade;


 Os sujeitos são compreendidos como seres que

possuem possuem valores, são políticos e são


orientados por desejos;
 O conhecimento científico é considerado como um

fundamento de verdade, não único;


 Há um processo dialógico e dialético entre os diversos

saberes e os conhecimentos científicos.


Nesse sentido, Demo (1984, p. 115 apud Gil, 2008, p.31)

salienta que a pesquisa participante e a pesquisa-ação

privilegia, o lado conflituoso da realidade social. Assim, o

relacionamento entre o pesquisador e pesquisado não se dá

como mera observação do primeiro pelo segundo, mas

ambos "acabam se identificando, sobretudo quando os

objetos são sujeitos sociais também, o que permite desfazer

a ideia de objeto que caberia somente em ciências naturais”.


PESQUISA PARTICIPANTE
Para Fals Borda (1983, p. 43 apud GIL, 2002), é a
pesquisa participante "... que responde especialmente às
necessidades de populações que compreendem operários,
camponeses, agricultores e índios - as classes mais
carentes nas estruturas sociais contemporâneas - levando
em conta suas aspirações e potencialidades de conhecer e
agir. É a metodologia que procura incentivar o
desenvolvimento autônomo (autoconfiante) a partir das
bases e uma relativa independência do exterior".
Demo (2004), mostra que existem interesses políticos contrários
à pesquisa participante, pois ela mexe com estruturas sociais
solidificadas, que, uma vez modificadas, as consequências
podem trazer mudanças que não são bem-vindas a alguns
setores sociais.

[...] os detentores do conhecimento não apreciam que outros


acessem ao mesmo conhecimento: quem sabe pensar nem
sempre tolera que outros saibam pensar. A PP tem este signo
forte: abrir oportunidades para os marginalizados de construir sua
emancipação, usando o melhor conhecimento possível (DEMO,
2004, p. 13)
“[...] o sistema não teme um pobre com fome, teme um
pobre que sabe pensar”, Demo (2004, p. 17)

Demo ressalta ainda a importância da pesquisa


participativa, no seu veio educativo, pois com ela, além
da gestação permanente de conhecimento cria-se um
processo educativo e de autoeducação que se firma nas
próprias relações cotidianas.
CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA PARTICIPANTE:
 Surge no seio da comunidade e atende aos seus interesses
coletivos;
 Apesar de o pesquisador ser o mediador, quem define os
objetivos, métodos e rumos da pesquisa são os participantes;
 Objetivo maior da pesquisa é o desenvolvimento da
comunidade, da região e a inclusão de populações
historicamente marginalizadas;
 O processo decisório é coletivo, todos participam;
 As informações produzidas são de acesso livre e igualitário,
com transparência na divulgação das informações.
MODELO DE PESQUISA PARTICIPANTE

 Montagem institucional e metodológica;


 Estudo preliminar e provisório da região e da
população pesquisadas;
 Análise crítica dos problemas;
 Programa-ação e aplicação de um plano de ação.
De acordo com RAUEN (2002) duas competências são
imprescindíveis para o pesquisador:
 Ter postura política voltada às transformações sociais;
 Estar capacitado a promovê-la, como observador e
como analista.
Segundo RAUEN (2002), a observação participante
pressupõe cinco fases:
 Aproximação do grupo;
 Processo de inserção;
 Observação;
 Análise crítica dos dados colhidos;
 Retorno para discussão e avaliação dos resultados.
PESQUISA AÇÃO
A pesquisa-ação pode ser definida segundo Thiollent,
(1986, p. 14) como :
“...um tipo de pesquisa social com base empírica que é
concebida e realizada em estreita associação com uma
ação ou com a resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores e os participantes representativos
da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo”.
Não se limita a uma forma de ação, o que se pretende é

aumentar o conhecimento de pesquisadores e o conhecimento

ou o "nível de consciência das pessoas e grupos

considerados. (THIOLLENT , 1986, p. 16).

Para Zart, 2012, a pesquisa-ação é um procedimento

epistemológico que articula a ação com a produção social do

conhecimento. É a ciência que se faz presença no seio do

povo e que aprende com os saberes populares, e por isso se

inova, e momentaneamente ensina novos conhecimentos para

aqueles que aprenderam a partir das experiências e das

práticas sociais cotidianas.


Franco, 2005, p.485, por sua vez diz que, se alguém opta
por trabalhar com pesquisa-ação, por certo tem a
convicção de que pesquisa e ação podem e devem
caminhar juntas quando se pretende a transformação da
prática.
Dimensões que constituem a Pesquisa Ação:
 Dimensão ontológica;
 Dimensão epistemológica;
 Dimensão metodológica.
Dimensão ontológica: o que se pretende conhecer quando
se utiliza a pesquisa-ação a partir dos pressupostos
atuais? De um modo bem abrangente, pode-se dizer que
se pretende conhecer a realidade social, foco da pesquisa,
de forma a transformá-la.

Dimensão epistemológica: como se estabelecem as


relações entre sujeito e conhecimento?
Pelas relações dialógicas e dialéticas de conhecimentos
das realidades históricas para a superação das estruturas
e práticas sociais.
Dimensão metodológica: Há a exigência de
procedimentos que articule a ontologia com a
epistemologia. Independente das técnicas a serem
utilizadas, há que se caminhar para uma metodologia
que instaure no grupo uma dinâmica de princípios e
práticas dialógicas, participativas e transformadoras.
Procedimentos Metodológicos da Pesquisa-Ação:
 Diagnóstico para identificar um problema na organização;
 Planejamento do estudo considerando as ações
alternativas para resolver o problema;
 Execução das ações planejadas com seleção de roteiros
e estratégias;
 Avaliação das consequências de cada ação;
 Aprendizagem específica e identificação dos
ensinamentos da experiência, como retorno ao ponto de
partida para evidenciar o conhecimento generalizável
adquirido sobre o problema.
[...] muitos outros célebres pesquisadores já
apresentavam algumas características da proposta da
pesquisa-ação, entre eles destaca-se Karl Marx que
“incitava os operários das fábricas a refletirem sobre
suas condições de vida. Na pesquisa ação, tanto o
pesquisador como o pesquisado tem um resultado a ser
apropriado através do estudo realizado. Se caso não há
possibilidade de resolver o problema pelo menos há a
intenção de esclarecê-las... (SANTOS, COSTA &
TREVISAN, 2004).
Toda pesquisa ação é participante, mas nem
toda pesquisa participante é pesquisa ação.
Prof. Dr. LAUDEMIR LUIZ ZART
Doutorado em Política Científica e Tecnológica - 2008 – 2012.
Universidade Estadual de Campinas.
Tese: Produção social do conhecimento na experiência do
Curso de Agronomia dos Movimentos Sociais do Campo
(CAMOSC): interação da UNEMAT e de Movimentos Sociais
do Campo.

Áreas de Atividades: Educação, Pesquisa e desenvolvimento


científico.
Através dos estudos de conceitos de vários autores, Zart
(2012) entende a pesquisa ação como:
Um método aberto e dialógico entre os sujeitos da
pesquisa, que se constitui numa atitude de relações pelas
quais as partes compartilham perspectivas, dúvidas,
parâmetros e responsabilidades na definição e execução
dos processos investigativos. Isto significa um processo
de democratização da ciência, pois, não se restringe à
comunidade científica, mas rompe fronteiras ao se
estender para a sociedade.
Por este viés reflexivo é possível afirmar que a pesquisa-
ação é uma concepção de ciência, uma epistemologia,
porque disputa o conceito, os pressupostos e os
conteúdos dos conhecimentos válidos e legitimados.
Neste sentido a proposição da pesquisa-ação vai além
das análises de interferência na ciência realizadas pelas
concepções mertonianas que reconhecem as influências
sociais na organização institucional da ciência, no
entanto, não no seu conteúdo. (ZART, 2012, p.54).
[...] a inserção da pesquisa no campo da ação é
constante, que ao propor determinadas respostas estas
serão de novo problematizadas e o movimento cognitivo
que se estabelece é gerador de envolvimentos que se
implicam e se inovam em dinâmicas de fluxos que se
retro-alimentam (ZART, 2012, p.54).
Assim, é possível apreender o sentido epistemológico
que afirma que a pesquisa-ação é uma nova forma de
criação do saber. Esta afirmação se encaixa na
dimensão cognitiva da práxis, isto é, da relação
interdependente da teoria e da prática, da pesquisa e da
ação. A práxis da pesquisa, no sentido gramsciano,
emerge e ocorre no campo, nas situações concretas de
vida e de investigação (ZART, 2012, p.55).
Zart (2012), questiona sobre a possibilidade de lançar
experiências científicas que não sejam uma repetição do
paradigma racional-positivista. Onde a pesquisa-ação é
analisada por ele, a partir dos seguintes
questionamentos:
a) Em que sentido é possível reinventar a própria ciência
para que ela tenha uma configuração cognitiva e social
comprometida com as diversidades educacionais,
culturais, econômicas, tecnológicas dos grupos sociais
populares?
b) Ao questionar sobre a ciência não universal e não
neutra, mas a ciência como produção sócio histórica e
por isso, comprometida com interesses de grupos sociais
populares, dentre os quais os camponeses, a pesquisa-
ação se constitui numa concepção e em práticas sociais
de ciência que traduz referenciais adequados para a
produção de conhecimentos comprometidos com a
perspectiva de transformação das realidades sociais que
correspondam à superação das relações sociais de
resignação?
c) Os pressupostos da pesquisa-ação são construções
sociais fortes para englobar as rebeldias de oposição ou
mesmo provocá-las para distinguir as expectativas dos
projetos das experiências vividas?
d) Como se compreende a ação social dos sujeitos e as
estruturas sociais envolvidas na ambiência da pesquisa-
ação geradoras de conhecimentos que sejam edificantes?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brandão, C. R. (1998). Participar-pesquisar. In: Brandão, Carlos

Rodrigues (org). Repensando a pesquisa participante. 3 ed. São

Paulo: Brasiliense.

DEMO, Pedro. Pesquisa participante: saber pensar e intervir.

Brasília: Líber Livro editora, 2004.

FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia da Pesquisa-Ação. São

Paulo: Educação e Pesquisa, V. 31, n.3 p. 483-502, set. /dez., 2005.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed.

São Paulo: Atlas, 2008.


GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa.
4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos da
Metodologia Científica. São Paulo: Editora Atlas, 2003.
RAUEN, C. Metodologia da Pesquisa Científica. São
Paulo: Cortez, 2002.
SANTOS, Luciana dos; COSTA, Reginaldo Rodrigues da;
TREVISAN, Tatiana Santini. Pesquisa ação e
participante: suas contribuições para o conhecimento
científico. Minas Gerais; ANPED, 2004. Disponível em:
https://docplayer.com.br/15137188-Pesquisa-acao-e-
participante-suas-contribuicoes-para-o-conhecimento-
cientifico.html Acesso em 09/06/2022.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São
Paulo: Cortez, 1986

ZART, Laudemir Luiz. Produção social do conhecimento na


experiência do Curso de Agronomia dos Movimentos Sociais
do Campo (CAMOSC): interação da UNEMAT e de
Movimentos Sociais do Campo. 2012, 421 fls. Tese
(doutorado) Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Geociências, Campinas-SP, 2012.

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