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Técnico integrado ao Ensino Médio- IFSP-CJO

Curso: TÉCNICO INTEGRADO AO ENSINO MÉDIO (Câmpus Campos do


Jordão)

Componente curricular: HISTÓRIA - Médio

Ano/Período Letivo: 2022/1


sobrevivemos e nos curamos nos
abraçando, cuidando bem de nós,
tomando a palavra, reconstruindo
livros, documentando nossa história,
falando, fazendo filmes…
Memórias da Plantação é uma compilação de
episódios cotidianos de racismo, escritos sob a
forma de pequenas histórias psicanalíticas. Das
políticas de espaço e exclusão às políticas do corpo
e do cabelo, passando pelos insultos raciais, Grada
Kilomba desmonta, de modo incisivo, a normalidade
do racismo, expondo a violência e o trauma de se
ser colocada/o como Outra/o. Publicado
originalmente em inglês, em 2008, Memórias da
Plantação tornou-se uma importante contribuição
para o discurso acadêmico internacional. Obra
interdisciplinar, que combina teoria pós-colonial,
estudos da branquitude, psicanálise, estudos de
gênero, feminismo negro e narrativa poética, esta é
uma reflexão essencial e inovadora para as práticas
descoloniais.
Exemplo
Qual a nossa cor? Sim, a do brasileiro?
O que é branco?
O que é negro?
O que é pardo?
O que é índio?
O termo “índio” em si já carrega uma generalização criada no
passado para rotular os habitantes das “Índias” – onde os
“descobridores” europeus pensaram estar chegando quando
chegaram à América.

Porém, visto que a categoria genérica de “índio” tem sido


apropriada pelos próprios indígenas brasileiros enquanto
instrumento de lutas, usamos o termo
índio ou indígena neste trabalho para nos referir aos
indivíduos dos vários grupos étnicos “nativos” brasileiros.

Ou seja, tem haver com identidade


Nosso olhar para as cores é
colonizado?

O que isso significa?


Desejo de ser um par no
‘mundo branco’

• “Imbuído do ideal de construir nos trópicos uma Nação civilizada, que


pudesse apresentar-se dignamente no concerto das ditas nações
civilizadas, era preciso mostrar e comprovar a justeza do desejo
“brasileiro” de ser reconhecido como um par desse mundo branco.
Projeto perverso de negar a diversidade cultural do gigantesco
território brasileiro e de fazer representar-se através de uma idealizada
homogeneidade”.
(Oliveira, 2000: 29-30)
Brocos, Modesto 
A Redenção de Cam ,
1895 
óleo sobre tela, c.i.d. 
199 x 166 cm 
Museu Nacional de
Belas Artes (Rio de
Janeiro, RJ) 
Reprodução
fotográfica César
Barreto
A Redenção de Cam é uma pintura a óleo sobre tela realizada pelo pintor espanhol Modesto
Brocos em 1895. A obra aborda as teorias raciais do fim do século XIX e o fenômeno da busca do
"embranquecimento" gradual das gerações de uma mesma família por meio da miscigenação. A
obra encontra-se conservada no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Na obra de Modesto Brocos, em frente a uma pobre habitação, três gerações de uma mesma família são retratadas. A avó,
negra, a mãe, mulata, e a criança, fenotipicamente branca. A matriarca, com semblante emocionado, ergue as mãos aos céus,
em gesto de agradecimento pela "redenção": o nascimento do neto branco, que será poupado das agruras e das memórias do
passado escravocrata. A cena foi assim definida por Olavo Bilac: "Vede a aurora-criança, como sorri e fulgura, no colo
da mulata - aurora filha do dilúvio, neta da noite. Cam está redimido! Está gorada a praga de Noé!".
O quadro de Brocos y Gómez sintetiza a tese de branqueamento desenvolvida por João
Baptista de Lacerda que foi apresentada em Londres com o título “Sobre os mestiços no
Brasil”. Nela, há uma reprodução da pintura acompanhada da seguinte legenda: “o
negro passando ao branco, na terceira geração, por efeito do cruzamento de raças”.
cenário do final do século XIX. Interlocução com intelectuais
da época
A TEORIA DO BRANQUEAMENTO

Ideia desenvolvida pelas elites por


acreditar que a presença negra na
população dificultava o progresso. Para
isso promoveram a imigração européia
facilitando o acesso a terra e ao trabalho e
dificultaram a inserção da população
negra na sociedade pós-abolição.
cenário do final do século XIX. Interlocução com intelectuais
da época
DARWINISMO SOCIAL – teoria da evolução
social baseada na analogia com as ciências
biológicas, substituindo os organismos vivos
pelos grupos sociais em conflito. Seus
teóricos inspiraram-se na obra de Charles
Darwin – A Origem das Espécies (1859) que
pregava a sobrevivência dos mais capazes
como a base da evolução das plantas e
animais. H. Haeckel e George Lapouge foram
os seus principais divulgadores.
EVOLUCIONISMO SOCIAL – interpreta o
desenvolvimento sociocultural das sociedades
humanas com base no conceito de EVOLUÇÃO.
Defendia que as sociedades se desenvolvem em
ritmos desiguais e com diferentes formas de
organização ou estágios de evolução, variando das
mais simples para as mais complexas. O ponto
máximo do progresso humano seria a sociedade
europeia enquanto as outras estariam na fase
primitiva. Seus principais teóricos: Herbert Spencer
(a sobrevivência dos mais aptos) e Lewis Henry
Morgan idealizador dos estágios evolutivos:
selvageria, barbárie e civilização.
EUGENIA – Palavra originária do grego eu
(bom) e gênesis (geração). Propugnada
por Francis Galton e que defendia a
necessidade do Estado formular um plano
com o objetivo de selecionar jovens aptos
a procriarem os mais capazes gerando a
raça pura e defendia a esterilização de
doentes, judeus, criminosos, ciganos e
outros mestiços.
SÍLVIO ROMERO – (Intelectual e Escritor)
aponta como mestres Spencer, Darwin e
Gobineau. Previa que o processo de seleção
natural conduziria ao desaparecimento dos
negros e outras raças impuras.

NINA RODRIGUES – Professor de


Medicina Legal considerava os índios e
negros raças inferiores. Seguidor da
CRANIOLOGIA divulgada por LOMBROSO,
afirmava que os mestiços tinham mentalidade
infantil.
O Pensamento Científico do Século XIX
• Artur Gobineau(1870) - Trata-se de uma
população totalmente mulata, viciada no
sangue e no espírito e assustadoramente feia".
• Sívio Romero(1880) - “Classes
perigosas:negros, africanos, escravos, ex-
escravos”.
• Segunda metade Século XIX: Frenologia e
Craniometria; Antropologia Criminal Cesare
Lombroso e O Homem Delinquente: a
criminalidade como um fenômeno físico e
hereditário. No Brasil, seus principais
seguidores, destacando-se Nina Rodrigues,
cria na Bahi a Escola intelectual de
Antropologia Criminal.
FRANCISCO ADOLFO DE VARNHAGEN
(Historiador)– afirma que os índios e os negros não
progrediriam numa sociedade “civilizada” e que a
História brasileira deveria ocultar a fase
escravocrata pois os africanos e seus descendentes
(que deveriam retornar para a África) só nos
causaram mal, nos afastando do processo
evolutivo.

FRANCISCO OLIVEIRA VIANNA – adepto do


arianismo considerando-os destinados a dominarem
o mundo. Defensor do branqueamento da
população, considerava os negros “espantosos na
sua desordem moral e na instabilidade de instintos
e tratava os mestiços como ralé.
Quadros sinópticos, 1878, Brasil (Schwarcz, 1996: 158)
Mensuração de crânio para
identificação criminal. s/d,
Paris.
cenário do início do século XXI.
Como sobrevivemos e sobreviver a esse
processo doloroso da mestiçagem?
sobrevivemos e nos curamos nos
abraçando, cuidando bem de nós,
tomando a palavra, reconstruindo
livros, documentando nossa história,
falando, fazendo filmes…
Memórias da Plantação é uma compilação de
episódios cotidianos de racismo, escritos sob a
forma de pequenas histórias psicanalíticas. Das
políticas de espaço e exclusão às políticas do corpo
e do cabelo, passando pelos insultos raciais, Grada
Kilomba desmonta, de modo incisivo, a normalidade
do racismo, expondo a violência e o trauma de se
ser colocada/o como Outra/o. Publicado
originalmente em inglês, em 2008, Memórias da
Plantação tornou-se uma importante contribuição
para o discurso acadêmico internacional. Obra
interdisciplinar, que combina teoria pós-colonial,
estudos da branquitude, psicanálise, estudos de
gênero, feminismo negro e narrativa poética, esta é
uma reflexão essencial e inovadora para as práticas
descoloniais.
Etnocentrismo e Eurocentrismo

• ETNOCENTRISMO -  visão de mundo característica de quem considera o seu grupo


étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais.

• EUROCENTRISMO - termo utilizado para designar a centralidade e superioridade da


visão europeia sobre as outras visões de mundo. 
Colonialismo e Colonialidade

• COLONIALISMO – relação política e econômica, na qual a soberania de um povo está no


poder de outro povo ou nação.

• COLONIALIDADE – se relaciona à forma como o conhecimento, a autoridade e as


relações intersubjetivas se articulam entre si através do mercado capitalista mundial e
da ideia de raça.

(Torres, 2007 apud Oliveira e Candau, 2010: 18)


Colonialidade
• Sobrevive após o término do colonialismo, pois mantém-se presente nas estruturas
subjetivas, nos imaginários e nas estruturas epistemológicas;

• Poder que reprime os modos de produção de conhecimento, os saberes, o mundo


simbólico, as imagens do colonizado e impõe novos.

(Oliveira e Candau, 2010)


Colonialidade
• DO PODER : inferiorização de grupos humanos não-europeus.

• DO SABER : reprime os modos outros de produção de conhecimentos, os saberes, o mundo


simbólico e impõe novos, ocidentais, eurocêntricos; fazendo com que esses novos tornem-
se também do conjunto daqueles educados sob sua hegemonia.

• DO SER : negação do estatuto humano para todos os outros; produção da não-existência


da outra pessoa.
(Oliveira e Candau, 2010)
Decolonização
• Luta contra a não-existência, a existência dominada e a desumanização;

• Visibilização das lutas contra a colonialidade a partir das pessoas, das suas práticas
sociais, epistêmicas e políticas;

• Estratégia que vai além da descolonização – meta de reconstrução radical do ser, do


poder e do saber.
(Oliveira e Candau, 2010: 24)
IDENTIDADE

• “A identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo se
supõe como fixo, coerente e estável e é deslocado pela experiência da dúvida e da
incerteza” (Kobena Mercer, 1990 apud Stuart Hall, 2006).

• Múltiplas identificações, múltiplas categorias (pessoal, profissional, gênero, étnica,


cultural, etc).
A identidade cultural na pós-modernidade, DP&A Editora,
1ª edição em 1992, Rio de Janeiro, 11ª edição em 2006
Stuart Hall
Identidades culturais na contemporaneidade

• aponta novas combinações espaço-tempo da


contemporaneidade, por alterar os
sistemas de representação
(formam-se novos sistemas
culturais).
A identidade em questão

• Discussão atual:
• As velhas identidades (um sujeito unificado) que estabilizavam o
mundo social estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e
fragmentando o indivíduo moderno
• Amplos processos de mudança abalam os quadros de referência e
estabilidade do mundo social.
Identidade e diferença

- O conceito de “tolerância” e de “diversidade” não são


suficientes;

- As diferenças tendem a ser essencializadas, naturalizadas e


cristalizadas;

- Discutir o processo de produção das diferenças e suas


implicações políticas;

- Identidade e diferença são uma criação lingüística.

- A identidade e diferença não podem ser compreendidas fora do


sistema de significação nos quais adquirem sentido.
Mas afinal, o que é identidade?
CONCEPÇÕES DE IDENTIDADE
(Stuart Hall)

•Sujeito do Iluminismo

•Sujeito Sociológico

•Sujeito pós-moderno
SUJEITO DO ILUMINISMO
(até final do século XIX)

• A ideia era de que o sujeito nascia e já tinha uma


maneira única e assim se desenvolvia;
• O idêntico era o valorizado e não se permitia o
diferente.
• Trata de um concepção individualista em que o sujeito
já era moldado antes mesmo de nascer.
Filósofos Iluministas reunidos no salão de madame Geoffrin. Óleo sobre tela de Anicet-
Charles Lemonnier, 1812. Museu Nacional do Castelo de Malmaison, Rueil-Malmaison
SUJEITO SOCIOLÓGICO
(Século XX)

• É fruto do mundo moderno;


• Cresce a concepção de que o sujeito é acima de tudo um ser social;
• “formado na relação com outras pessoas importantes para ele, que mediavam para o sujeito
os valores, sentidos e símbolos – a cultura” (p. 11).
• A identidade passa a ser compreendida como sendo “formada na interação entre o eu e a
sociedade”
Modern Times (Tempos Modernos,) é um filme de Charles Chaplin, 1936
SUJEITO PÓS-MODERNO
(final do século XX e início XXI)
• O sujeito é “modificado num diálogo contínuo com os mundos
culturais exteriores e as identidades que esses mundos oferecem”;
• Deixa de ser visto com uma “identidade unificada e estável” ;
• Passa a ser compreendido com um ser fragmentado, composto por
várias identidades, algumas vezes “contraditórias ou não-resolvidas”
(p. 12).
A Persistência da Memória, pintura de 1931 de Salvador Dalí. Museu de Arte Moderna
(MoMA) de Nova Iorque.
Descentrando o sujeito
PRIMEIRA DESCENTRAÇÃO

O marxismo compreende o homem como um ser social histórico e que


possui a capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do
trabalho, o que diferencia os homens dos outros animais e possibilita o
progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que
proporciona o desenvolvimento das potencialidades humanas.

As potencialidades humanas se referem ao social e não a um único


homem e por isso que desloca da antiga noção de agência individual do
sujeito (sujeito tradicional).

TEMOS:

- O INDIVÍDUO NÃO É O AGENTE DE SUA PRÓPRIA


HISTÓRIA

- Influência cultural e material


Karl Marx e a História

Marx (1818-1883)
SEGUNDO DESCENTRAMENTO

- Descoberta do inconsciente por Freud. O “sujeito” era


concebido totalmente consciente e racional, e com a
descoberta do inconsciente esta suscetível a forças e
desejos desconhecidos que não são controlados pela
razão.

- A identidade é algo formado ao longo do tempo,


sempre em processo

- Identificação em vez de identidade


(1856 - 1939 )
TERCEIRO DESCENTRAMENTO

- Lingüista Saussure

- A língua é um sistema social e não um


sistema individual. Ela preexiste a nós.

- os significados das palavras não são fixos


( existem diferentes conotações para diferentes
áreas)
Para Saussure, a língua é um
sistema de signos
articulados e é nesta
articulação que reside a
função sígnica do signo.

Portanto, o signo só faz


sentido quando integrado
no sistema da língua, um
sistema social, finito e 1857 — 1913
homogéneo.
Significado e valor
• A significação de um signo não deve confundida com o seu significado.
• O significado é o conceito, a imagem mental que vem na esteira de um
significante; a significação é a união efectiva entre um certo significado
e um certo significante.
• Se quisermos, e por outras palavras, a questão do significado está no
domínio da língua, e a da significação no domínio da fala, é uma questão
individual, localizada no tempo e no espaço.
QUARTO DESCENTRAMENTO

- Foucault – produziu uma espécie de “genealogia do sujeito moderno”

- poder disciplinar: regulação da espécie humana


Michel Foucault (1926-1984

Devemos ainda nos admirar que a prisão se pareça com as fábricas, com
as escolas, com os quartéis, com os hospitais, e todos se pareçam com as
prisões?
Vigiar e punir
O que somos?

Corpos dóceis e úteis


QUINTO DESCENTRAMENTO

- Impacto do feminismo: na crítica teórica e como movimento


social

- forma cultural forte dos movimentos refletia o enfraquecimento


ou fim da classe política

- descentramento do sujeito cartesiano e sociológico

- influencia na formação das identidades sexuais e de gênero


Porque o problema do poder se tornou central
no século XX

Hanna Arendt:
A verdade em prática
leva ao totalitarismo
Estes descentramentos mostram como o “sujeito do iluminismo”, tendo
uma identidade fixa e estável foi descentrado, resultando nas identidades
abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas do sujeito pós-moderno.

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