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Psicologia da

Sexualidade

Graduação em Psicologia
Psicologia da sexualidade
Profª Rebecca Maciel
Rebecca.maciel@faa.edu.br
Objetivos de Aprendizagem do dia

• Pensar história da sexualidade em sociedades originárias


• Trabalhar o desenvolvimento da sexualidade no Ocidente
até o séc. XVII

a Educação que transforma! 2


A sexualidade na Roma antiga

a Educação que transforma!


A sexualidade na Idade Média

a Educação que transforma!


Ao longo da história
• Idade Antiga(de 4.000a.C. a 476d.C.):os hebreus e os judeus tratavam a sexualidade de modo conservador,
condenando a homossexualidade, ao passo que civilizações como Grécia e Roma Antigas tinham uma visão
mais aberta, considerando o sexo inerente à atividade humana e a homossexualidade, natural.
• Idade Média(de 476 a 1453): caracterizou se pela subordinação da vida cotidiana aos princípios propostos
pela Igreja Cristã Primitiva.
• Idade Moderna (Renascimento, Reforma, Contrarreforma e Iluminismo – de 1453 a 1789): o Renascimento
trouxe a ideia do sexo mais tangível e realizável, porém com moral rígida para as mulheres. A Reforma
inovou ao aceitar a existência do impulso sexual, e a posição da esposa foi valorizada. A Contrarreforma
marcou um forte momento de repressão sexual. No Iluminismo, o sexo começou a fazer parte do domínio
privado.
• Idade Contemporânea(Revolução Francesa, Vitorianismo, séculos20 e 21 – de1789 até a atualidade):a
Revolução Francesa trouxe ideais conservadores; o casamento deveria ser o resultado do amor romântico.
No Vitorianismo, alcançou-se o auge da repressão sexual, com fortes tabus e duplo padrão moral. No século
20, as mulheres zeram reivindicações que acarretaram discussões sobre os papéis sexuais e o duplo padrão
moral. O século 21 trouxe a valorização do prazer no sexo. Surgem novas configurações familiares e o amor
romântico é questionado.

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Tradição judaica
• Viviam em uma sociedade
patriarcal. A mulher ocupava lugar
secundário, e o homem tinha o
poder de mando sobre ela. A
função feminina era cuidar da
família e jamais permanecer
desocupada. A fidelidade era
valorizada, mas só no que dizia
respeito às mulheres. A
contracepção cabia à mulher, caso
precisasse ser controlado o
tamanho da família.

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Grécia Antiga
• Segundo Araújo , duas razões levaram os gregos a considerarem o sexo inerente à atividade humana:
atribuíam uma grande importância à beleza e à harmonia, o que os levou à idealização do corpo nu e à sua
exaltação nas artes, e seus deuses eram sexuados. Na mitologia grega, o tema sexual era presença
constante. Os papéis dos homens e das mulheres eram bastante delimitados. O homem livre era o cidadão
por direito; dominava as mulheres, as crianças e os escravos. Os gregos exaltavam o “amor” de um homem
adulto por um jovem do sexo masculino que já tivesse passado pela puberdade, mas que não tivesse ainda
chegado à maturidade, e esse fenômeno era denominado pederastia.
• O masculino era valorizado, no que diz respeito ao físico harmônico, à educação e aos conhecimentos
filosóficos. Mestres, estudiosos e filósofos eram responsáveis pelo desenvolvimento moral e intelectual dos
jovens, tratando ­os com delicadeza, compreensão e afeição. Era motivo de orgulho para uma família que seu
filho homem pudesse conseguir um mestre de prestígio e ascender socialmente. Com frequência, o
relacionamento tornava-­se amoroso e sexual.
• A mulher tinha como função ser casta, sensata, competente em fiar, tecer e costurar, capaz de distribuir
tarefas adequadas aos empregados, ser econômica com o dinheiro e gerar filhos. Não recebia educação
formal, sendo educada para a vida familiar. Seu objetivo era ser portadora de filhos (em grego, gyne). Na
época, a visão que os homens tinham sobre a mulher grega legitimava a pederastia e as relações entre
homens.

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Grécia Antiga
• Os casamentos eram arranjados mediante alianças políticas. O casamento se fazia pela necessidade de herdeiros. O
homem casava-­se aproximadamente aos 30 anos de idade, e a mulher muito jovem. O grego era monogâmico;
porém, ao homem, e somente a ele, era permitido ter envolvimentos extraconjugais com rapazes, o que era até
mesmo valorizado, e também com concubinas e prostitutas.
• A esposa não acompanhava o marido em viagens ou reuniões sociais, vivia em aposentos separados, exclusivos para
mulheres, raramente fazia refeições com ele (principalmente se o marido tinha convidados), saía de casa em raras
oportunidades e apenas acompanhada. A satisfação sexual não era um objetivo para a esposa. Apesar das
dificuldades, algumas conseguiam consolar­-se com outras atividades: tornavam-se alcoviteiras. A masturbação
feminina era uma espécie de “válvula de segurança”. O casal deveria fazer sexo pelo menos três vezes ao mês, até
que houvesse um herdeiro. Em relação à separação, o marido poderia deixar a mulher por qualquer motivo, o
denominado repúdio; porém, a mulher só poderia abandonar o homem por motivos extremos, que não incluíam o
adultério nem a pederastia.
• Os métodos contraceptivos eram pouco conhecidos. Após o sexo, as mulheres costumavam pular para deixar sair o
esperma. Acredita­-se que as pornai recorriam ao aborto e ao infanticídio. As relações homoeróticas eram comuns na
civilização grega. Existia a pederastia entre os homens, já mencionada, e a homossexualidade feminina tomava
espaço na Ilha de Lesbos, onde a poetisa Safo era diretora de uma academia para mulheres jovens. Esse lugar
oferecia uma educação feminina mais avançada do que aquela de Atenas. O termo lesbianismo surgiu como
referência a Lesbos. Safo escrevia poemas sensuais dirigidos às mulheres, encantava-­se por elas e se relacionava com
as jovens.
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Roma Antiga
• A civilização romana tinha uma moralidade objetiva. O sexo era tratado de forma natural. Um dos motivos
para tal era que havia uma estreita ligação entre sexo e religião.
• O casamento era uma das principais instituições e seu principal objetivo era gerar filhos legítimos, que
herdariam a propriedade e o estatuto dos pais, por isso era importante que as mulheres fossem virgens. Os
romanos cultuavam a deusa Vesta; as virgens vestais que a serviam eram consideradas capazes de lidar com
os deuses e acreditava-se que tinham poderes extraordinários. Nas classes privilegiadas, o casamento visava
também a selar alianças políticas ou econômicas. Para a validade do casamento, não era necessária
cerimônia legal ou religiosa; bastava a coabitação durante 1 ano, e o homem e a mulher eram considerados
casados.
• Nota­-se que havia uma dupla moral sexual: os homens poderiam ter relações extraconjugais desde que não
fossem fixas, ao passo que as mulheres deveriam ser fiéis. Para o povo romano, havia o divórcio. Os ritos do
casamento romano deixaram legados ao mundo ocidental contemporâneo: anel de noivado, véu de noiva,
união da mão direita dos noivos, levar a noiva no colo para dentro da casa. Sexualmente, a mulher estava a
serviço do homem. Esperava o desejo dele e, se pudesse, tinha o seu próprio prazer, sendo este, muitas
vezes, moralmente criticado. Apenas as mulheres consideradas vulgares partilhavam o dormitório com o
marido.

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Roma Antiga
• Havia a homossexualidade em Roma, mas não com o valor cultural dos gregos. Os homens podiam manter
relações sexuais, conforme a norma, com a esposa, com uma amante ou com um escravo (homem ou
mulher). Era malvisto caso penetrado por seu escravo, pois indicava que era desprezado por ele. “O
importante era ser o penetrador independentemente do sexo da vítima.”
• As condutas não eram classificadas de acordo com o gênero, mas em atividade e passividade: ser ativo era
ser másculo, seja qual fosse o sexo do parceiro, chamado passivo. A pretensa repressão legal da
homossexualidade visava, na verdade, a impedir que um cidadão fosse penetrado por um escravo. Era
importante também respeitar as mulheres casadas, as virgens e os adolescentes livres por nascimento. No
que se refere à pornografia, em Pompeia, havia pinturas eróticas nas paredes de bordéis e figuras fálicas e
testículos nas calçadas, que apontavam o caminho para o prostíbulo. Os bacanais, famosos na história de
Roma, eram festas religiosas celebradas em dada época, em homenagem a Baco, o deus do vinho, da
ebriedade, dos excessos (especialmente sexuais) e da natureza. As festas não eram uma imoralidade, mas
um ato de comunhão com a divindade.

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Idade Média (de 476 a 1453)
• Valores como o poder masculino, a
subordinação da mulher ao homem, a
superioridade das classes mais ricas, a
importância dada à Igreja, entre outros,
caracterizavam o modus vivendi da época.
• Em relação à subordinação da mulher ao
homem, os preceitos da Igreja corroboravam
tal ideia. “A literatura sobre os Estados, que
definia o papel dos vários grupos na
sociedade, declarava explicitamente: ‘as
mulheres não podem ter acesso a nenhum
cargo público. Devem se dedicar às suas
ocupações femininas e domésticas’”. A lei
eclesiástica justificava isso com base no
Pecado Original.

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Idade Média (de 476 a 1453)
• Apesar do rigor da Igreja contra o sexo, a atividade sexual masculina pré­ marital e extraconjugal era
socialmente tolerada. Assim, a prostituição era um meio de possibilitar que os jovens afirmassem sua
masculinidade e aliviassem suas necessidades sexuais, evitava que se aproximassem de esposas e filhas
respeitáveis e afastava ­os da prática do estupro e da homossexualidade.
• O rei Carlos VII da França autorizou a presença de um bordel em Castelnaudary, em 1445, e a idade mínima
para frequentá-­lo era 16 anos. Essa autorização deu­se porque os homens somente se casavam por volta dos
30 anos de idade e, antes disso, quando solteiros, precisavam satisfazer suas necessidades sexuais. Esse
bordel era frequentado também por sacerdotes, homens casados, judeus, leprosos e clérigos. É interessante
observar que, ainda que a prostituição fosse condenada por alguns membros da Igreja, outros a
reconheciam como um mal necessário, como Santo Agostinho. Este acreditava que a existência dos bordéis
possibilitava a manutenção de padrões sexuais e sociais estáveis para o resto da sociedade.
• Outro aspecto condenado pela Igreja era a masturbação. No início da Idade Média, era considerada um
pecado razoavelmente trivial; mais adiante, assumiu um caráter muito mais grave. Acredita-se que tal
mudança de valor, explicada pelo desperdício de sêmen, era, na realidade, uma preocupação quanto ao
declínio da população em decorrência da Peste Negra. Certamente, a Igreja era mais eficaz em seu
propósito, dando a conotação de pecado à masturbação, pois coibia a prática entre os homens cristãos.

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Reforma protestante
• Era a Reforma, Reforma Protestante ou Reforma Religiosa, em 1517 (século 16), motivada por
questões religiosas, políticas, socioeconômicas e ideológicas. Lutero não negava o impulso sexual
e pensava que aqueles que não pudessem viver em castidade deveriam se casar, sem afetar seus
deveres religiosos. O sexo extraconjugal, porém, era condenado. As funções do casamento eram
evitar a fornicação, aliviar e facilitar os cuidados e as tristezas das questões domésticas, agradar
um ao outro e concretizar o desejo por filhos. A posição da esposa foi valorizada, mas não a da
mulher. A esposa era considerada o anjo do lar e os filhos deveriam ser obedientes.
• A sexualidade, nesse contexto, não estava condicionada à afetividade nem mesmo a alguma
sensação de posse ou domínio do homem pela mulher. Em geral, a atitude da nobreza era que as
mulheres eram criaturas tão sexuais quanto os homens e que amor e sexo não eram assuntos
privados nem secretos.
• Em resposta à Reforma Protestante, a Igreja Católica promoveu a Contrarreforma, ou Reforma
Católica, no século 16. Foi realizado o Concílio de Trento, de 1545 a 1563, visando a reafirmar a
doutrina católica, principalmente no que dizia respeito ao sexo e ao casamento. Foi elaborado
um catecismo com toda a doutrina católica (Catecismo Romano), que mantinha as mesmas
posições em relação à sexualidade.

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Modernidade
• A Modernidade, sustentada nos dispositivos repressores da Biologia e da Medicina, constrói um
tipo de discurso a respeito do sujeito que coloca a sexualidade como um vetor decisivo na
produção de subjetividade. Neste mesmo cenário, a heterossexualidade é inventada e passa a
ocupar o lugar de norma – forma esperada de relação afetiva entre os sujeitos. Como destacam
Carvalho e Oliveira (2017), “na era vitoriana, a moral burguesa conduziria a sexualidade para o
seio da família conjugal heterossexual, legitimando-a por meio da função reprodutora, imposta
como modelo e discurso de verdade” (p. 102). Logo, qualquer outro processo de subjetivação
que não este – sustentado no saber médico, organizado pela lógica binária da cis
heteronormatividade – questiona não apenas o discurso dominante, senão também outras
estruturas fundamentais, tais como a família, por exemplo, por meio dos tensionamentos dos
regimes de conjugalidade, parentesco, filiação e reprodução.

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Modernidade
• De fato, Foucault (1984) denuncia a existência da íntima relação entre a repressão sexual e as relações de
poder. Afinal, a repressão sexual tornou-se necessária para garantir o exercício de poder desde os
parâmetros da ordem social burguesa. Assim, no Ocidente, “se formou uma ciência sexual que produz
discursos de verdade sobre a sexualidade. No saber médico, enuncia-se uma verdade acerca da sexualidade.
Há uma opressão do sexo e de práticas consideradas desviantes da norma por discursos que estabelecem
relações de poder/saber” (Carvalho, & Oliveira, 2017). Logo, sujeitos associados a práticas sexuais
consideradas desviantes são caracterizados pelos discursos da Medicina como casos patológicos ou
anomalias. A Psicanálise, sabe-se, é herdeira deste ideário moderno. Nesta direção, as construções acerca da
Sexualidade também se mostram – muitas vezes – associadas a esta concepção ideológica. Em Freud, há
uma compreensão binária e cis heteronormativa, a qual restringe a compreensão das produções subjetivas
sexuadas. A clínica pode tornar-se um dispositivo de violência quando se sustenta uma escuta calcada na
norma patriarcal e se trabalha, tentando encaixar um sujeito dentro de duas possibilidades de experiência
da sexualidade. A escuta psicanalítica vem reproduzindo este modelo de violência ao patologizar os arranjos
de sexualidade e de gênero que foram excluídos na Modernidade.

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Até o séc. XVII
• Foucault (1988) afirma que a sexualidade, até o início
do século XVII, era tida como prática integrada aos
hábitos sociais, gozando de visibilidade. Entretanto,
em meados da época vitoriana, o tema passou a ser
silenciado, tornando-se um grande segredo,
principalmente de adultos heterossexuais. Este
silenciamento distanciou a sexualidade do universo
dos prazeres, para submetê-la aos fins reprodutivos. A
sexualidade passa a ser compreendida como prática
privada, assim, os discursos sobre o sexo passam a ser
percebidos como atos pecaminosos, principalmente
quando mencionados sem prudência.

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Séc. XVII
• Diz-se que no início do século XVII ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas não
procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as coisas, sem
demasiado disfarce; tinha-se com o ilícito uma tolerante familiaridade. Eram frouxos os códigos
da grosseria, da obscenidade, da decência, se comparados com os do século XIX. Gestos diretos,
discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas,
crianças astutas vagando, sem incômodo nem escândalo, entre os risos dos adultos: os corpos
"pavoneavam".
• As prostitutas passaram a poder trabalhar em suas próprias casas. Havia prostíbulos, chamados
prostibula publica, pertencentes à comunidade. Algumas cidades construíram um prostibulum,
que era uma ampla residência. O bordel era arrendado à mulher que o dirigia, a abadessa, que
recrutava e vigiava as moças, fazia as regras serem respeitadas e relatava às autoridades as
conversas dos clientes desconhecidos, o que a tornava uma importante agente de informações.
Em 1494, houve uma epidemia de sífilis por contato sexual na Europa, o que foi considerado pela
Igreja um castigo de Deus para punir a promiscuidade. Em 1559, Fallopius inventou um tipo de
preservativo, com fins profiláticos, que só veio a ser usado com objetivo contraceptivo no século
18.

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Séc. XVII
• Seria o início de uma época de repressão própria das sociedades chamadas burguesas, e da qual
talvez ainda não estivéssemos completamente liberados. Denominar o sexo seria, a partir desse
momento, mais difícil e custoso. Como se, para dominá-lo no plano real, tivesse sido necessário,
primeiro, reduzi-lo ao nível da linguagem, controlar sua livre circulação no discurso, bani-lo das
coisas ditas e extinguir as palavras que o tornam presente de maneira demasiado sensível. Dir-
se-ia mesmo que essas interdições temiam chamá-lo pelo nome. Sem mesmo ter que dizê-lo, o
pudor moderno obteria que não se falasse dele, exclusivamente por intermédio de proibições
que se completam mutuamente: mutismos que, de tanto calar-se, impõe o silêncio. Censura.
• Este projeto de uma "colocação do sexo em discurso" formara-se há muito tempo, numa tradição
ascética e monástica. O século XVII fez dele uma regra para todos. Dir-se-á que, de fato, só
poderia se aplicar a uma elite mínima; a massa dos fiéis que só frequentavam a confissão raras
vezes por ano escapava a prescrições tão complexas. Sem dúvida, o importante é que esta
obrigação era fixada, pelo menos como ponto ideal para todo bom cristão. Coloca-se um
imperativo: não somente confessar os atos contrários à lei, mas procurar fazer de seu desejo, de
todo o seu desejo, um discurso. Se for possível, nada deve escapar a tal formulação, mesmo que
as palavras empregadas devam ser cuidadosamente neutralizadas.

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Séc. XVII
• A mulher tinha uma imagem contraditória no
Renascimento. Ao mesmo tempo que a dama pura e
virtuosa era admirada, a mulher era considerada inimiga
da paz, fonte de provocação, causa de disputas e um ser
de quem o homem deveria se manter afastado a fim de
ter uma vida tranquila. A mulher deveria ser sexualmente
passiva e submissa. O homem era considerado um ser
superior, que tinha o discernimento da razão. Havia uma
moral rígida, principalmente para as mulheres. O
casamento, indissolúvel à época, servia para permitir a
procriação sem pecado e para manter o homem isento de
problemas sexuais, como a bestialidade (zoofilia) e a
homossexualidade. Os homens casavam­ se entre 24 e 25
anos de idade, e as mulheres, aproximadamente, aos 15
anos. Em razão de epidemias e da maior mortalidade
feminina, as rupturas de casais eram bastante frequentes
e, portanto, as segundas ou terceiras núpcias eram
numerosas.

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Até o séc. XVII
• Para a manutenção destes interditos, a sexualidade entra nas práticas discursivas, para, então, através das
palavras, controlar o agente sexual e seus comportamentos. A sexualidade, ao adentrar o campo discursivo,
possibilitou que o sexo fosse objeto de análises de locutores selecionados (médicos, pedagogos, atores
religiosos). No entanto, conforme afirma Foucault (1988), este aumento do discurso teve como efeito o
controle das práticas, ao selecionar o que dizer e para quem dizer. Deste modo, mesmo que se fale mais
sobre sexo, esta visibilidade não produziu reconhecimento das diversas maneiras de vivenciar a experiência
sexual, nem acolhimento dos modos singulares de experimentá-la pois, dentro das práticas discursivas já se
têm instalado o legítimo e o ilegítimo, ideais que foram construídos com base no padrão heteronormativo.
Em outras palavras, Foucault (1988) nos mostra como é necessário que desconfiemos do discurso de que
hoje vivemos, muito mais do que outrora, uma liberdade sexual. Para ele, vivemos sim um universo em que
se fala mais sobre sexo (vide os discursos midiáticos, por exemplo), mas que é, na verdade, uma falsa
democracia. Esse falar, de algum modo, serve muito mais para sermos controlados (o que fazemos com
nossos corpos, por onde andam nossos desejos) do que para sermos acolhidos em nosso modo singular de
viver a sexualidade. Mesmo porque, já existe socialmente a ideia do que é legítimo e do que é ilegítimo em
nossas práticas sexuais.

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Até séc. XVII
• Tomas Lacquer (2001), por exemplo, recupera a
história da noção de corpo, mostrando como, no
pensamento ocidental a partir do século XVII, as
características físicas passaram a ser vistas como
a origem das distinções masculino/feminino,
culminando na noção contemporânea do corpo
bissexuado. A partir de então, as diferenças
anatômicas passaram a ser pensadas em termos
de descontinuidade e oposição e não mais como
continuidade e hierarquia, tal qual no modelo do
sexo único que pensava as diferenças como
sendo de grau (COSTA, 1996; NICHOLSON, 2000;
LACQUER, 2001). Essa operação que cunhou,
inclusive, nomes diferentes para os órgãos
sexuais, ou seja, linguisticamente os instituiu
como distintos, permitiu a ideia da “identidade
sexual” enraizada em um corpo diferenciado.

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Até sec. XVIII
• Tomo por base aqui as ideias de Michel Foucault, para quem a sexualidade foi inventada como
um “instrumento–efeito na expansão do biopoder” (DREYFUS & RABINOW, 1995, p. 185). Na
passagem do século XVIII para o século XIX, houve uma mudança de uma sexualidade como
aspecto indiferenciado da vida cotidiana e relativamente livre, para outra vigiada e controlada. O
dispositivo da sexualidade (entendido como estratégias de força que suportam tipos de saber e
vice-versa) permitiu ao biopoder estender suas redes ao sujeito individual. Com efeito, até o
século XVIII, os principais códigos legais ocidentais centravam-se no dispositivo da aliança que
articulava as obrigações religiosas ou legais do casamento com a transmissão da propriedade e
dos laços de sangue, constituindo o sistema social. O dispositivo da “sexualidade” tem sua
origem na separação do sexo do dispositivo da aliança.

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Séc. XVIII
• Mas, por volta do século XVIII nasce uma
incitação política, econômica, técnica, a falar do
sexo. E não tanto sob a forma de uma teoria
geral da sexualidade mas sob forma de análise,
de contabilidade, de classificação e de
especificação, através de pesquisas
quantitativas ou causais. Levar "em conta" o
sexo, formular sobre ele um discurso que não
seja unicamente o da moral, mas da
racionalidade, eis uma necessidade
suficientemente nova para, no início,
surpreender-se consigo mesma e procurar
desculpar-se.

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Séc. XVIII
• No século XVIII o sexo se torna questão de
"polícia". Mas no sentido pleno e forte
que se atribuía então a essa palavra —
não como repressão da desordem e sim
como majoração ordenada das forças
coletivas e individuais: "Fortalecer e
aumentar, pela sabedoria dos seus
regulamentos, a potência interior do
Estado e, como essa potência consiste não
somente na República em geral, e em
cada um dos membros que a compõem,
mas ainda nas faculdades e talentos de
todos aqueles que lhe pertencem, segue-
se que a polícia deve ocupar-se
inteiramente desses meios e fazê-los
servir à felicidade pública.

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Séc. XVIII
• Uma das grandes novidades nas técnicas
de poder, no século XVIII, foi o
surgimento da "população", como
problema econômico e político:
população-riqueza, população mão-de-
obra ou capacidade de trabalho,
população em equilíbrio entre seu
crescimento próprio e as fontes de que
dispõe. Os governos percebem que não
têm que lidar simplesmente com
sujeitos, nem mesmo com um "povo",
porém com uma "população", com seus
fenômenos específicos e suas variáveis
próprias: natalidade, morbidade,
esperança de vida, fecundidade, estado
de saúde, incidência das doenças, forma
de alimentação e de habitat.

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Séc. XVIII
• O sexo do colegial passa a ser, no
decorrer do século XVIII — e mais
particularmente do que o dos
adolescentes em geral — um
problema público. Os médicos se
dirigem aos diretores dos
estabelecimentos e aos professores,
também dão conselhos às famílias;
os pedagogos fazem projetos e os
submetem às autoridades; os
professores se voltam para os
alunos, fazem-lhes recomendações e
para eles redigem livros de
exortação, cheios de conselhos
médicos e de exemplos edificantes.

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Séc. XVIII
• Desde o século XVIII ela concentrou as formas do discurso neste tema; estabeleceu pontos de
implantação diferentes; codificou os conteúdos e qualificou os locutores. Falar do sexo das
crianças, fazer com que falem dele os educadores, os médicos, os administradores e os pais. Ou
então, falar de sexo com as crianças, fazer falarem elas mesmas, encerrá-las numa teia de
discurso que ora se dirigem a elas, ora falam delas, impondo-lhes conhecimentos canônicos ou
formando, a partir delas, um saber que lhes escapa — tudo isso permite vincular a intensificação
dos poderes à multiplicação do discurso. A partir do século XVIII, o sexo das crianças e dos
adolescentes passou a ser um importante foco em torno do qual se dispuseram inúmeros
dispositivos institucionais e estratégias discursivas. É possível que se tenha escamoteado, aos
próprios adultos e crianças, uma certa maneira de falar do sexo, desqualificada como sendo
direta, crua, grosseira. Mas, isso não passou da contrapartida e, talvez da condição para
funcionarem outros discursos, múltiplos, entrecruzados, sutilmente hierarquizados e todos
estreitamente articulados em torno de um feixe de relações de poder. Poder-se-iam citar outros
focos que, a partir do século XVIII ou do século XIX, entraram em atividade para suscitar os
discursos sobre o sexo.

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Séc. XVIII
• Desde o século XVIII o sexo não cessou de
provocar uma espécie de erotismo discursivo
generalizado. E tais discursos sobre o sexo
não se multiplicaram fora do poder ou
contra ele, porém lá onde ele se exercia e
como meio para seu exercício; criaram-se
em todo canto incitações a falar; em toda
parte, dispositivos para ouvir e registrar,
procedimentos para observar, interrogar e
formular.

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Séc. XVIII
• Até o final do século XVIII, três grandes
códigos explícitos — além das regularidades
devidas aos costumes e das pressões de
opinião — regiam as práticas sexuais: o
direito canônico, a pastoral cristã, e a lei
civil. Eles fixavam, cada qual à sua maneira,
a linha divisória entre o lícito e o ilícito.
• O século 18 é um grande marco na
mudança de atitude no que diz respeito ao
sexo. Os jovens começaram a ser educados
de modo a dirigir sua atenção para os
estudos como modo de canalizar a energia
sexual reprimida. Os colégios evitavam
situações de contato de natureza sexual
entre os jovens. A masturbação era
combatida. Esse período culminou no
Vitorianismo do século 19.

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Séc. XVIII
• Do final do século XVIII até o nosso, eles correm através dos interstícios da sociedade perseguidos pelas
leis, mas nem sempre, encerrados frequentemente nas prisões, talvez doentes, mas vítimas
escandalosas e perigosas presas de um estranho mal que traz também o nome de "vício" e, às, vezes de
"delito".
• No século 18, a masturbação era considerada moralmente perniciosa. O homossexual masculino
começou a ser condenado pelo povo. As ciências da anatomia e da fisiologia descreveram as diferenças
entre os homens e as mulheres, chegando à conclusão de que a mulher era mais fraca e seu organismo
predisposto à maternidade, por isso deveria ser protegida e dispensada do trabalho forçado e das
preocupações. Tudo isso era compensado pela beleza feminina, que passou a ser exaltada.
• Na Medicina, nos primórdios da Psiquiatria, surgiu a classificação da ninfomania em mulheres. A
menstruação deixou de ser considerada um sangue ruim. Acreditava ­se que, a partir da puberdade, a
natureza feminina exigia casamento. Caso contrário, as mulheres estariam sujeitas a crimes e doenças,
como a masturbação e a ninfomania. O esperma seria capaz de aquecer a mulher, estimular todas as
suas funções e melhorar sua saúde, modificando­ lhe até mesmo o cheiro de suor. A frigidez, para os
homens, era sinônimo de impotência e, para as mulheres, não tinha importância, pois a falta de desejo
e de participação feminina no sexo eram previstos. As mulheres com desejos sexuais chocavam os
médicos.

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Questão 1

Desde a Idade Média, pelo menos, as sociedades ocidentais colocaram tal


procedimento para controlar o sexo. Qual era?
a) A confissão
b) As aulas nas escolas
c) Fiscais nas ruas e praças
d) Entrega de medicamentos para a população

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Questão 2
Quais dessas tradições não influenciou diretamente a sexualidade no Ocidente.

A) judaísmo antigo

b) Grécia antiga

c) Roma Antiga

d) China antiga

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