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Mindfulness
Formadora: Joana Venâncio
Mindfulness
Unidade 1
Objetivos
No final os formando deverão ser capazes de:
Definir e compreender o mindfulness.
Compreender a contextualização histórica do mindfulness;
Distinguir as competências do mindfulness.
Distinguir o conceito de piloto automático e de atenção plena.
Introdução Histórica
A meditação tem vindo a ser praticada há, sensivelmente, três
mil anos.
Deste modo, o ser humano pode refletir, analisar, deslocar os processos de pensamento para
o passado ou para o futuro, bem como aprender com as experiências passadas e converter
este conhecimento numa vantagem futura. No entanto, por vezes, verifica-se discrepâncias
entre os resultados desejados e os resultados que efetivamente se tem/consegue.
Muito para além da nossa consciência, a nossa mente pensante está frequentemente
envolvida em julgar, monitorizar e a tentar resolver os mais variados aspetos da nossa
experiência interna e externa.
Modo de Ser
O modo de ser que é cultivado pelo Mindfulness é completamente oposto ao estado de
piloto automático, nomeadamente:
Em vez da mente ser apanhada pelo que lhe surja, existe uma intenção consciente
da direcionar a atenção para um objeto escolhido.
Em vez da atenção estar fundamentalmente envolvida em conceitos (pensamentos
organizadores de classes de eventos) está envolvida na experiência sensorial direta
num determinado momento.
Em vez de analisar e fazer julgamentos acerca da experiência, a atitude de
Mindfulness está aberta e aceita a experiência de cada momento.
Fundamentalmente, o treino em Mindfulness não envolve o tentar descartar dos
padrões problemáticos de funcionamento da mente – isto apenas serviria para os
fortalecer. Torna-se claro, agora, que tentar desfazer estes padrões de funcionamento
é algo que faz parte do modo de fazer.
que vos rodeia, ou seja, nos cheiros, nas sensações corporais, etc.
and Devins, G. (2004), Mindfulness: A Proposed Operational Definition. Clinical Psychology: Science and Practice, 11: 230–
241. doi:10.1093/clipsy.bph077
Kabat-Zinn, J. (1990). Full catastrophe living: Using the wisdom of your body and mind to face stress, pain and illness. New
York: Delacorte.
Shapiro, S. L., Carlson, L. E., Astin, J. A., & Freedman, B. (2006). Mechanisms of mindfulness. Journal of Clinical Psychology,
62(3), 373-386.
Estratégias e
Competências de
Mindfulness
Unidade 2
Objetivos
No final os formando deverão ser capazes de:
•Reconhecer as estratégias e as competências de mindfulness.
•Reconhecer a utilidade do mindfulness.
•Saber identificar as atitudes básicas à prática do mindfulness.
•Saber identificar os mitos sobre a meditação.
Em que pode ser útil?
O mindfulness tem sido incorporado no tratamento de várias perturbações psicológicas. Segundo
Baer (2003) os tratamentos baseados no mindfulness permitem uma profunda mudança da relação
da perspetiva pessoal do sujeito com os seus próprios processos internos, entre eles, um
“distanciamento cognitivo” no qual os pensamentos são objetivamente vistos apenas como
pensamentos e não significando necessariamente verdades absolutas ou a realidade do “self”. A
utilização do mindfulness tem-se estendido a diversas populações: clínicas, não clínicas com várias
patologias, tais como perturbações de ansiedade, perturbações alimentares, stress, entre outros.
Mindfulness: Intervenções
Nos dias de hoje, existem várias intervenções terapêuticas que demonstram os
benefícios do treino mindfulness na saúde mental e no funcionamento psicológico.
As intervenções baseadas em mindfulness são programas em que aprendemos a
cultivar a capacidade inata de prestar atenção às experiências quando estas
acontecem. Tais programas visam ajudar, de forma prática e pragmática, os
participantes a lidar melhor com as dificuldades da vida.
Há vários programas deste tipo, que são ensinados de forma inteiramente secular, sem
qualquer contexto religioso. A mindfulness é ensinada através de técnicas de
meditação, tais como prestar atenção à respiração, e ter consciência do corpo em
repouso ou em movimento.
Intervenções baseadas em Mindfulness
• Terapia Cognitiva Baseada no Mindfulness (MBCT), desenvolvida por Segal, Williams,
e Teasdale, (2002 cit. por cit. por, Vandenberghe & Assunção, 2009), e orientada para a
prevenção de recaída na depressão.
• Terapia de Redução de Stress Baseada no Mindfulness (MBSR) desenvolvido por
Kabat-Zinn (1982), como tratamento para a dor crónica e outros problemas.
• Terapia Comportamental Dialética (DBT) desenvolvida por Lenehan (1987, cit. por,
Vandenberghe & Assunção, 2009), o cliente aprende a aceitar as vivências classificadas
como negativas para poder agir de forma a promover mudanças mais profundas.
• Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), desenvolvida por Hayes, Strosahl e Wilson
(1999), visa promover a flexibilidade psicológica, conseguida trabalhando a capacidade de
estar no momento presente vivendo-o em plenitude e valorizando-o tal como é.
Os programas principais são: Terapia de Redução de Stress Baseada no Mindfulness (MBSR;
Mindfulness-Based Stress Reduction) e Terapia Cognitiva Baseada no Mindfulness (MBCT; Mindfulness-
Based Cognitive Therapy).
A MBCT adotou a MBSR, integrando-a com a terapia cognitivo-comportamental. Foi desenvolvida, no
final do século XX, para ajudar pessoas com depressão, tendo sido demonstrada a sua eficácia em ensaios
clínicos. Os dois programas são muito semelhantes.
Recentemente, surgiu o programa de Auto Compaixão Consciente (MSC; Mindful Self-Compassion)
combina a consciência plena com a auto compaixão, proporcionando um aumento do bem-estar
emocional. Através do mindfulness, é possível reconhecer os pensamentos e sentimentos difíceis (como a
inadequação, tristeza, raiva, confusão), encarando-os com espírito de abertura e curiosidade. Com a auto
compaixão respondemos a estes pensamentos e sentimentos difíceis com bondade, simpatia e
compreensão, obtendo assim alívio e conforto em momentos de sofrimento psicológico.
Atualmente, desenham-se programas baseados em mindfulness otimizados para determinados
problemas ou condições de saúde, como, por exemplo, cancro, fibromialgia, disfunções sexuais.
Quais são as características da Terapia de
Redução de Stress Baseada no Mindfulness?
A Terapia de Redução de Stress Baseada no Mindfulness (MBSR) é um programa
em grupo desenvolvido por Jon Kabat-Zinn e colaboradores no Center for
Mindfulness (CFM) da Escola Médica da Universidade de Massachusetts. Destina-se
a pessoas com problemas de stresse, independentemente da causa. Mais de 19 mil
pessoas completaram os cursos do CFM, em ambiente hospitalar.
A MBSR atualmente faz parte do campo da medicina integrativa e dos cuidados de
saúde genéricos e tem sido aplicada em contextos diversos, como estabelecimentos
prisionais, zonas urbanas pobres e empresas.
O programa de MBSR retirou do contexto espiritual as antigas práticas de mindfulness,
adaptando-as de forma a torná-las acessíveis e relevantes para pessoas que padecem de uma
qualquer doença, física ou psicológica. Além da prática de exercícios para cultivar o mindfulness,
os participantes aprendem a lidar com o stresse, qualquer que seja a causa deste, e com as
dificuldades da vida em geral.
O programa de MBSR tem sido alvo de muitos estudos clínicos desde o fim da década de 1970,
que têm demonstrado efeitos significativos em participantes com dor crónica, fibromialgia,
esclerose múltipla, perturbações de ansiedade, cancro, bem como no autocuidado dos prestadores
de cuidados de saúde.
Os cursos de MBSR, geralmente, duram oito semanas e são realizados em grupo, em sessões
semanais de 2h/2:30horas. Nestas sessões, em que se usam elementos didáticos que ajudam a
compreender a origem e a natureza das dificuldades, os participantes aprendem os exercícios a ser
praticados diariamente durante a semana, havendo períodos em que interagem para discutir as
suas experiências.
Têm, ainda, sido usados formatos alternativos: sessões individuais, sessões em grupo concentradas
em menos semanas, práticas diárias mais ou menos curtas.
Assim, os estudos revelam sucesso na população adulta o que fez com que estes
modelos terapêuticos fossem alargados à população mais jovem, porém ainda é uma
área de estudo muito recente existindo poucas informações e investigações nesta etapa
do desenvolvimento.
Neste sentido, estudos com crianças e adolescentes revelam que o mindfulness, como
técnica que desenvolve a atenção focada no presente, pode modificar a forma como as
pessoas pensam, agem e sentem, reduzindo os sintomas de stress e depressão e
promovendo o bem-estar nas crianças em idade escolar (Kuyken et al., 2013).
Foi realizado um estudo através da aplicação de um programa de mindfulness nas
escolas, este tinha como objetivo fazer um teste de eficácia desse mesmo programa,
em termos do bem-estar e saúde mental, imediatamente após os alunos terem sido
confrontados com uma situação de stress, neste caso os exames de final de ano. O
Programa de Mindfulness foi implementado em 6 escolas Britânicas, com a duração
de 9 semanas desenhado especificamente para ser desenvolvido na sala de aula.
Outras 6 escolas que pertenciam ao estudo não receberam o mesmo programa. O
resultado final demonstrou que os jovens que participaram no Programa de
Mindfulness revelaram menos sintomas depressivos, menor stress e maior bem-estar
do que os jovens do grupo de controlo (Kuyken, et al., 2013).
Em suma, os estudos revelaram a importância da abordagem baseada no Mindfulness
na melhoria do bem-estar das crianças e jovens. Se, se pensar nos sintomas
mencionados, estes podem diminuir o desempenho escolar do aluno, bem como
podem ser fatores de risco para o posterior desenvolvimento de sintomatologia
clínica.
Meditação e Respiração
O processo de meditação e respiração está totalmente interligado e, como tal, é
indissociável.
Uma boa meditação não se consegue sem uma respiração eficiente. A respiração,
algo tão comum e inerente ao ser humano, é também o ponto de partida para todo
esse processo.
Por exemplo, reserve alguns cinco minutos do seu dia para praticar essa atividade.
Tenha um período do dia, não precisa ser uma hora exata, mas um período ao
acordar, após o almoço ou antes de dormir.
Como respirar corretamente?
Para fazer uma boa Respiração e Meditação, primeiramente tem de se focar no
procedimento da respiração, isto é, seguindo pelo nariz, garganta, pulmões e
abdómen. Na expiração siga o mesmo percurso.
No entanto, é fundamental que esteja concentrado e não permita que o seu
pensamento se perca. Algo totalmente trivial, mas que precisa ser evitado.
Por isso, é necessário que, durante tal procedimento, procure estar totalmente focado.
Meditar não é algo difícil, mas exige muita concentração. E é muito comum, subir os
minutos de meditação gradativamente.
Meditação e respiração
A Meditação e Respiração são processos interligados. Assim, sem uma respiração
eficaz, cuidadosa e bem feita, a pessoa perde totalmente o foco da meditação.
No início, a pessoa pode ter dificuldade em iniciar este processo. No entanto, com
uma boa prática, terá a concentração necessário para desempenhar tal atividade.
“Os pensamentos são como nuvens no céu; vêm e vão com o tempo todo”.
A tentativa de controlar pensamentos envolve esforços e a chave para uma mente
relaxada é não se esforçar.
Na meditação deparamo-nos com todos os tipos de pensamentos, bons e maus, e
aprendemos a lidar com as sensações que surgem com esses pensamentos,
Mito 7: Meditação é uma maneira de
fugir dos problemas
A meditação não nos permite fugir dos problemas, mas sim capacita-nos para encará-
los de forma positiva, isto é, “com um sorriso no rosto”.
Na meditação são desenvolvidas habilidades para lidar com situações de uma forma
agradável e construtiva. Isto é, desenvolvemos a habilidade para aceitar as situações
como elas são e tomar ações conscientes, ao invés de remoer o passado ou de se
preocupar com o futuro.
A meditação alimenta a força interior e a autoestima.
Mito 8: Meditar horas a fio para
conseguir atingir a profundidade
Meditar não significa estar sentado horas a fio para ter uma experiência profunda em
meditação.
A conexão com a profunda essência do Ser pode acontecer em apenas um segundo,
tudo depende da concentração que depositamos na meditação.
Não precisamos de estar horas e horas, basta 20 minutos por dia para conseguirmos
atingir /alcançar a nossa viagem interior.
À medida que se pratica meditação diariamente, a qualidade da mesma vai
aumentando gradualmente.
Mito 9: Meditar em determinados
momentos
Qualquer hora é um bom momento para meditar, bem como todas as direções são
boas para a meditação.
Apesar de ser aconselhado praticar a meditação de manhã ou ao final do dia, para se
manter calmo e enérgico durante o dia.
Mitos sobre o Mindfulness
Mindfulness é para descansar da vida, acalmar a mente e reduzir o stresse.
As emoções só são desencadeadas após um processo mental de avaliação que é voluntário. A partir das
experiências pessoais, há um amplo espectro de estímulos e situações que se associam aos estímulos
inatamente selecionados para causar emoções. As reações a esse amplo espectro de estímulos e
situações podem ser filtradas por um processo de avaliação ponderada (Damásio, 1996).
As emoções e os Sentimentos
EMOÇÕES SENTIMENTOS
Tem origem numa causa, num objeto; Não são observáveis, são privados e
São reações corporais específicas, observáveis; relacionam-se com o interior
São públicas e voltadas para o exterior; Prolongam-se no tempo e são de
São automáticas e inconscientes; menor intensidade de expressão que
Polaridade: podem ser negativas ou positivas; as emoções;
São versáteis: variam em intensidade e são de Não se associam a nenhuma causa
breve duração; imediata;
Relacionam-se com o tempo: as emoções têm
princípio e fim. Surgem quando tomamos consciência
das nossas emoções
Como funcionam as emoções?
As investigações indicam que cada emoção prepara o corpo para um tipo de resposta
muito diferente:
Ira - sangue flui para as mãos, tornando mais fácil pegar numa arma ou bater num
inimigo – a adrenalina gera uma onda de energia;
Amor – provoca uma excitação que gera um estado geral de calma e
contentamento, facilitando a cooperação;
Tristeza - ajuda a adaptarmo-nos a uma perda significativa, como a morte de
alguém querido ou um grande desapontamento, causa uma grande quebra de
energia e do entusiasmo pela vida, aproxima a depressão e baixa o metabolismo do
corpo;
As componentes das emoções
Componente cognitiva - Ocorre quando tomamos conhecimento do facto: se não
houver conhecimento deste, não se experimenta qualquer emoção;
Componente avaliativa - Fazemos uma avaliação, agradável ou desagradável, da
situação;
Componente fisiológica - Manifestações orgânicas, corporais face à emoção;
Componente expressiva - Expressões corporais que permitem mostrar ao outro as
nossas emoções;
Componente comportamental - Comportamento que o sujeito poderá ter face ao
outro, é o estado emocional que desencadeia determinado conjunto de
comportamentos;
Componente subjetiva - Relaciona-se com o que o indivíduo sente a nível emocional
e que só ele tem acesso, ou seja, é o estado afetivo associado à emoção.
Quando aparece perante nós um perigo, antes de qualquer outra coisa, mesmo da
consciência, existe a emoção, o medo, embora nos primeiros segundos nem o
próprio individuo perceba o que está a ocorrer. Posteriormente surge o juízo “
tenho medo”, ”estou assustado” e isso é que são sentimentos.
Exemplos de emoções e sentimentos
Como SENTIMENTOS podemos citar o Amor, a Alegria a Paz…
Como EMOÇÕES temos o medo, a raiva, a tristeza, a mágoa, a ira, o ódio, a inveja, o ciúme, a
paixão…
Uma pessoa emotiva geralmente quer se livrar logo do que está a sentir, ao contrário da pessoa
sentimental que procura ficar o maior tempo possível em contato com o que está a sentir.
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Distração
Atitude atenção
Autocrítica Processo Cognitivo
Gentil Ruminação
Curiosa Preocupação
Fantasiar
Meditação de Um Minuto
•Sente-se direito numa cadeira. Afaste um pouco as nádegas da parte de trás da cadeira, de forma a que
a sua coluna se suporte a si mesma. Os pés deverão assentar bem no chão. Feche os olhos ou baixe o
olhar.
•Concentre a atenção na sua respiração, na maneira como o ar entra e sai do seu corpo. Fique atento às
diferentes sensações de cada inspiração e de cada expiração. Observe a respiração sem ficar à espera
de que aconteça algo de especial. Não há necessidade de alterar a sua respiração.
•Ao fim de algum tempo, vai perceber que a mente começa a divagar. Quando se aperceber disso,
traga gentilmente a sua atenção para a respiração, sem se esforçar muito – conseguir aperceber-se de
que a sua mente divagou e trazer a sua atenção de volta, sem se criticar, é fundamental para a prática
da Meditação da Atenção Plena.
•A sua mente poderá atingir um estado de quietude, como uma lagoa tranquila – ou não. Mesmo que
tenha uma sensação de calma absoluta, poderá ser apenas passageira. Se se sentir zangado ou
desesperado, também esta sensação poderá ser apenas passageira. Seja como for, deixe acontecer.
•Passado um minuto, deixe que os olhos se abram e tome consciência de onde está.
Como se sente? É diferente do normal? O chocolate soube melhor do que se o tivesse comido a um ritmo
acelerado?
Mindfulness Diário
Prática Informal
Começar o Dia
•Um começo de dia mindful pode ajudá-lo a preparar-se para o dia ocupado que terá. De
manhã permita-se ter um pouco mais de tempo para se preparar.
• Debaixo do chuveiro deixe sentir a água no seu corpo. Deixe que a água quente acorde os
seus músculos e imagine as suas preocupações a escoarem-se com a água. Cheire o gel de
banho e deixe que a fragância o revigore.
• Quando terminar o banho aprecie a sensação da toalha seca a tocar na pele molhada.
Esteja consistente do quão refrescado se sente.
• Tome o seu pequeno-almoço calmamente, sem televisão, rádio ou e-mail. Nem que seja
apenas fruta ou uma tosta, saboreie pelo menos uma parte. Sinta a textura e o sabor na sua
boca.
• Verifique que tem tudo o que precisa antes de sair de casa. Tente não se apressar. Sorria
para si mesmo. Saia em direção ao trabalho, pronto para enfrentar um novo dia.