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LINGUAGEM E MÉTODO: uma

questão da análise de discurso


PROFA. DRA. BRAYNA CARDOSO
Linguagem e Método

 Para Saussure (1962), o método determina o objeto.

 Veyne (1971), diante de várias perspectivas metodológicas adotadas, não se


trata do mesmo objeto visto de várias perspectivas, mas de uma multiplicidade
de objetos diferentes.

 As diferentes perspectivas pelas quais se observa um fato, ou acontecimento,


dão origem a uma multidão de diferentes objetos de conhecimento, cada qual
com suas características e propriedades.
Linguagem e Método

 Na ciência da linguagem, portanto, não se pode deixar de distinguir o dado (empírico) e o


objeto (científico), que é construído. O que nos leva reconhecer a importância da relação
entre a metalinguagem e o objeto que ela constitui.

 A linguagem se mostra em sua ambiguidade


 Instauradora (imitadora de mundo): tendendo para arte;
 Desveladora de mundo: como ponta de lança do saber, tendendo para ciência.
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 A relação método e objeto aponta que partimos de um “dado” e, quando definimos


“objeto” através da metodologia, nos comprometemos ao mesmo tempo com uma
teoria e com um corpo de definições, de acordo com os quais produzimos as
correspondentes técnicas de análise.

 Domínio da análise do discurso, um objeto diferente daquele instaurado pela


linguística tradicional, porque procura tratar dos processos de constituição do
fenômeno linguístico e não meramente do seu produto.
Linguagem e Método

 Na perspectiva discursiva, coloca-se a linguagem como transformadora. Ação sobre a


natureza e ação concertada com o homem.

 Os objetivos da análise de discurso acessa o compromisso pragmático da linguagem


marcado pelo conceito de social e histórico.

 A linguagem é concebida como interação, faz-se necessária a relação entre homem e


realidade natural e social.
Linguagem e Método

 Não consideramos nem a linguagem como um dado nem a sociedade como um


produto, elas se constituem mutuamente.

 No discurso constatamos o modo social de produção da linguagem, ou seja, o discurso


é um objeto histórico-social, cuja especificidade está em sua materialidade, que é
linguística.

 Na análise do discurso tomar a palavra é um ato social com todas as suas implicações:
conflitos, reconhecimentos, relações de poder, constituição de identidades etc.
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 Os interlocutores, a situação, o contexto histórico-social, ideológico, ou seja, as


condições de produção (Pêcheux, 1969) constituem o sentido da sequência verbal
produzida.

 Todo falante e todo ouvinte ocupa um lugar na sociedade, e isso faz parte da
significação.

 Os mecanismos de qualquer formação social tem regras de projeção que estabelecem a


relação entre as situações concretas e as representações (posições) dessas situações no
interior do discurso, são as situações imaginárias.
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 O lugar assim compreendido, enquanto espaço de representações sociais, é


constitutivo das significações. Tecnicamente, é o que se chama relação de forças no
discurso.

 Há a relação de sentido (intertextualidade): todo discurso nasce em outro (sua matéria-


prima) e aponta para outro (seu futuro discursivo). Por isso, na realidade, não se trata
nunca de um discurso, mas de um continuum. Fala-se de um estado de processo
discursivo e esse estado deve ser compreendido como resultando de processos
discursivos sedimentados.
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 Compõe também a estratégia discursiva prever, situar-se no lugar do ouvinte a partir de


seu próprio lugar de locutor. Esse mecanismo regula a possibilidade de respostas e dirige
a argumentação: são as antecipações.

 As formações discursivas são formações componentes das formações ideológicas e


determinam o que pode e deve ser dito a partir de uma posição em uma conjuntura dadas.

 As palavras mudam de sentido ao passarem de uma formação discursiva para outra, pois
muda sua relação com a formação ideológica.
Linguagem e Método

 O sujeito que produz linguagem também está reproduzido nela, acreditando ser a fonte
exclusiva de seu discurso quando, na realidade, retoma sentidos preexistentes. A isso
chamamos “ilusão discursiva do sujeito” (Pêcheux; Fuchs, 1975).

 O conceito de discurso despossui o sujeito falante de seu papel central para integrá-lo no
funcionamento de enunciados, de textos, cujas condições de possibilidades são
sistematicamente articuladas sobre formações ideológicas (Maingueneau, 1976).

 O dizer não é apenas domínio do locutor, pois tem a ver com as condições em que se
produz e com outros dizeres. Em suma: o dizer tem a sua história.
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 O quadro epistemológico da análise do discurso se apresenta como a articulação de


três regiões do conhecimento científico:

 O materialismo histórico, como teoria das formações sociais e suas transformações;


 A linguística, como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação;
 A teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos processos semânticos.
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 Da observação da linguagem em seu contexto, a produção do discurso se faz na


articulação de dois grandes processos.

 O parafrástico: é o que permite a produção do mesmo sentido sob várias de suas formas (matriz da
linguagem).
 O polissêmico: é o responsável pelo fato de que são sempre possíveis sentidos diferentes, múltiplos
(fonte da linguagem).
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 Uma consequência dos dois processos: a diferença entre criatividade e produtividade.

 A produtividade se dá pela obtenção de elementos variados através de operações que são


sempre as mesmas, que incidem recorrentemente e que, dessa forma, procuram manter o
dizível no mesmo espaço do que já está instituído (o legítimo, a paráfrase).

 A criatividade instaura o diferente na linguagem na medida em que o uso pode romper


com o processo de produção dominante de sentidos e, na tensão da relação com o contexto
histórico-social, pode criar novas formas, novos sentidos. Pode realizar uma ruptura, um
deslocamento em relação ao dizível.
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 Uma vez que o contexto é constitutivo de sentido, abandona-se a posição que privilegia a
hipótese de sentido nuclear, mais importante hierarquicamente (literal) em relação aos
outros.

 Todos os sentidos são de direito sentidos possíveis e, em certas condições de produção, há de


fato dominância de um sentido sem por isso se perder a relação com os outros (implícitos).

 A significação se faz historicamente, produzindo a institucionalização do sentido dominante.


Dessa institucionalização decorre a legitimidade, e o sentido legitimado fixa-se então como
centro: o sentido oficial, literal.
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 A história dos sentidos cristalizados é a história do jogo de poder da/na linguagem.

 No processo de interlocução, o sentido se constitui a cada momento, de forma


múltipla e fragmentária. E é essa relação dinâmica, é esse movimento entre processo e
coisa produzida, que constitui a linguagem.

 A análise do discurso tem como unidade o texto. O texto é definido pragmaticamente


como a unidade complexa de significação, consideradas as condições de sua
produção. O texto se constitui, portanto, no processo de interação.
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 A noção de texto, enquanto unidade da análise do discurso, requer que se ultrapasse a noção
de informação, assim como coloca a necessidade de se ir além do nível segmental. O texto
não é a soma de frases e não é fechado em si mesmo.

 Vale ainda lembrar que esse todo em que se constitui o texto é de natureza incompleta. Indo
mais além, podemos afirmar que a condição de existência da linguagem é a incompletude.

 Outro aspecto a se considerar em relação à incompletude é que, uma vez que se constitui na
interação, o sentido do texto não se aloja em cada um dos interlocutores separadamente, mas
está no espaço discursivo criado pelo (nos) dois interlocutores.
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 A linguagem não é precisa, nem inteira, nem clara, nem distinta.

 A possibilidade de análise em análise do discurso deriva da consideração do discurso


como parte de um mecanismo em funcionamento, correspondendo a um certo lugar no
interior de uma formação social.

 Todo dizer necessariamente tem a sua configuração. Por isso é sempre possível se
reconhecer um tipo em qualquer instanciação da linguagem.
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 Cada tipo de discurso tem a sua tipologia. A tipologia tem sua aplicabilidade regulada
pelos objetivos da análise em sua relação com a natureza do texto.

 Não devem ser estabelecidas relações categóricas entre os tipos. É preferível falar em
tendências, há discursos que tendem para o tipo autoritário, cômico etc. Não tipos
puros, apenas no nível ideal.

 Quanto ao valor, depende das condições em que o discurso é produzido.


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 Cada tipologia apresenta marcas linguísticas e propriedades que caracterizam determinado


discurso. As marcas dizem respeito à organização do discurso e a propriedade tem a ver
com a consideração do discurso como um todo em relação a exterioridade, com a situação
(com as instituições, com o contexto sócio-histórico, com a cultura, com a ideologia).

 As marcas não são suficientes para caracterizar um funcionamento discursivo. Para tal é
preciso remetê-las à propriedade.

 É a ideia de movimento que me atrai. Todo discurso se produz em certas condições.


Referência:

ORLANDI, E. P. Discurso e leitura. 4 ed. Campinas:


Cortez; Universidade Estadual de Campinas: UNICAMP,
1999. p. 15-28.

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