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PSICOTERAPIA

BREVE
JULIA GARCIA DURAND
8L
A psicoterapia Breve: uma introdução
(Enéas, 1999)
■ O grande impulso para o desenvolvimento das psicoterapias breves foi o fim da segunda guerra
mundial, período no qual enfrentou-se a exigência de um atendimento mais pronto a um maior
número de pessoas.
■ Neste momento, as tentativas de Ferenczi e Rank, de abreviar e intensificar o tempo das
psicoterapias que seguiam o modelo clássico da psicanálise, ganharam uma nova perspectiva e um
novo alento.
■ Em 1946, Alexander e French publicaram o que viria a ser considerado, posteriormente, o “marco
inicial” da psicoterapia breve psicodinâmica, fruto de anos de pesquisa no Instituto de Psicanálise
de Chicago.
■ Este trabalho proporcionou o surgimento de muitas propostas de técnicas psicoterápicas de tempo
mais breve que visavam, neste primeiro momento, objetivos tidos como ambiciosos, pois
pretendiam a resolução do que era chamado o “conflito nuclear” (Malan, 1976).
■ Inicialmente nos EUA, e depois na Inglaterra, Canadá, Suiça, Noruega e mais
tardiamente no Brasil houve o desenvolvimento de programas de pesquisa buscando
a comprovação da eficácia de diversas formas de tratamento psicoterápico, as formas
mais abreviadas de psicoterapia psicodinâmica e a especificação da população que
melhor poderia beneficiar-se desses métodos. Tratava-se do aperfeiçoamento dos
critérios de seleção (Bergin, 1971).

■ Desta forma, o movimento das psicoterapias breves foi crescendo desde seu início, tanto
pelo aumento de seus adeptos e praticantes, quanto pela ampliação de suas
possibilidades de atendimento.
■ O desenvolvimento destas propostas levou a uma diminuição da ênfase sobre os
critérios de indicação e a uma preocupação maior com a participação do terapeuta
no processo e com a capacidade do paciente em estabelecer um bom
relacionamento terapêutico (Messer e Warren, 1995).
■ Ampliação das possibilidades de atendimento das técnicas breves. Modificando a
pretensão inicial de resolver os conflitos nucleares de pacientes neuróticos, esta nova
perspectiva permitiu o atendimento de qualquer indivíduo que pudesse estabelecer uma
boa aliança de trabalho com o terapeuta, procurando solucionar mesmo aspectos
limitados de sua problemática.
■ No bojo deste processo surgiram propostas diversas quanto à duração, estruturas, táticas,
objetivos e mesmo focos diferentes e múltiplos.

■ Contudo, seus aspectos específicos e definidores permanecem sendo “um conjunto de fatores
técnicos que incluem a limitação de objetivos, a manutenção do foco e o uso terapêutico do
tempo” (Koss, Butcher & Strupp, 1986:60).

■ Uma terapia que tenha curta duração não será necessariamente breve, a menos que
circunscreva o problema a ser trabalhado, visando à obtenção de um objetivo específico e
que empregue os recursos técnicos e a duração temporal de forma articulada, a fim de dar
um sentido coerente ao processo terapêutico.
Sobre o pagamento

■ Com relação ao envolvimento do paciente no trabalho terapêutico, é sabido da


importância de uma participação financeira.

■ O custo de um tratamento abreviado mostra-se mais acessível a um número maior de


pessoas.
■ Em tratamentos financiados por agências governamentais ou convênios de saúde, a
brevidade pode ser mais exequível e, consequentemente, levar a uma ampliação da
população atendida, significando uma economia de dinheiro público e um ganho social.
O objetivo específico do tratamento em
PB
■ Muitas pessoas têm problemas de ordem emocional, mas nem todos apresentam as condições
que costumam ser exigidas para um tratamento psicoterápico tradicional:
habilidade para lidar com conceitos abstratos,
capacidade de introspecção,
desejo de fazer mudanças significativas em sua maneira de viver.(Simon, 1981).

Há um descompasso entre a expectativa do paciente quanto ao problema que espera ser mudado e o
treinamento do terapeuta para “promover o desenvolvimento total” do indivíduo.
Em tais casos parece mais condizente oferecer um tratamento sério que contemple as necessidades
do indivíduo de forma satisfatória para ambos (Enéas, 1993).
■ As pesquisas proporcionaram o desenvolvimento de uma teoria da técnica psicoterápica
de tempo limitado, permitindo articular recursos terapêuticos de forma a conduzir
eficazmente o tratamento, visando desde alívio de sintomas até melhoras mais
duradouras de padrões relacionais, anteriormente, desadaptados, ampliando as
indicações das psicoterapias de tempo limitado.
■ Em consequência disto, tornou-se viável atender diversos tipos de problemas, desde
situações críticas circunstanciais, previsíveis ou não, desencadeadas por fatores
externos, até problemas emocionais menos atuais, para os quais, anteriormente, apenas
eram recomendados tratamentos de longa duração.
Instrumentos de avaliação da
personalidade
■ Partindo de uma avaliação inicial do funcionamento da personalidade do indivíduo e
das circunstâncias de seu meio, os instrumentos possibilitam um planejamento de
intervenções que possam trabalhar um aspecto específico do problema
diagnosticado, visando um objetivo limitado, quando comparado a um tratamento
sem prazo determinado.

■ Conhecer os conflitos do indivíduo e suas relações com o contexto de sua existência,


viabiliza o diagnóstico do que seria a “situação problema” (Simon, 1983) que está
vivenciando.
■ permite ao terapeuta hierarquizar as intervenções necessárias, de forma a favorecer o
estabelecimento de objetivos limitados.

■ Em comparação ao método psicoterápico mais tradicional é a maior participação do


terapeuta, tanto ao investigar o problema, quanto na intervenção e na manutenção do
foco da atenção de ambos os participantes sobre o aspecto a ser trabalhado.
A necessidade de desenvolver métodos terapêuticos que sejam aplicáveis à grandes
proporções da população deve ser reconhecida (Malan, 1980)

O desenvolvimento de tais métodos terapêuticos traria vantagens de ordem prática, de


melhor verificação científica e, a mais importante, humanitária. (Malan, 1980).
■ As psicoterapias breves psicodinâmicas têm se consolidado como uma alternativa válida
e eficaz no tratamento psicológico em diversos contextos.
■ “A psicoterapia breve não deve ser entendida como uma alternativa de ‘segunda linha’,
nem uma panacéia aplicável a todas as situações” (Yoshida, 1993:32)
■ Sendo bem aplicada, a PB pode representar uma oportunidade de atendimento eficaz
para casos atualmente desatendidos ou que aguardam desnecessariamente uma terapia
de longa duração.
■ Este tipo de ajuda, cientificamente fundamentado, responde mais prontamente à
expectativa do paciente.
PANORAMA
EVOLUTIVO
Panorama evolutivo das psicoterapias
breves psicodinâmicas
3 Estágios:

1. Estágio psicanalítico Freud, Ferenczi, Rank


2. Estágio intermediário Alexander e French

3. Estágio psicodinâmico breve Lindemann, Balint e Malan, Osimo, Davanloo,


Gillièron, Sifneos, Mann, Knobel, Simon e Lemgruber

De acordo com Yoshida, os autores do terceiro estágio correspondem mais propriamente ao que se
pode chamar de primeira geração de Psicoterapia Breve Psicodinâmica, apesar de terem recebido
forte influência dos autores que os precederam.
Primeiro estágio: Ferenczi

■ As modificações introduzidas por Ferenczi (1926) foram principalmente técnicas,


e se referiam ao que ele denominou “técnica ativa”; foram tentativas de
intensificar o processo transferencial apressando a emergência das experiências
passadas e dando um novo impulso ao tratamento, especialmente quando este
chegava a momentos de impasse.
■ Ele levava o paciente a enfrentar situações ansiógenas, proibia certos
comportamentos propiciadores de gratificações que se constituíam em obstáculos
para a seqüência do trabalho e encorajava o fantasiar.
■ O próprio Ferenczi (1926), no entanto, acabou por fazer uma crítica a seu método,
admitindo que sua aplicabilidade era mais restrita do que supusera a princípio, e
que a técnica ativa, em alguns casos, podia aumentar as resistências do paciente.
Primeiro estágio: Rank

■ As modificações introduzidas por Rank estavam ligadas não só a questões técnicas, mas a uma
diferente concepção etiológica da neurose, que foi refutada por Freud. Dava importância central ao
“trauma do nascimento”, gerador da “ansiedade primordial”, considerando-o como hipótese
picodinâmica subjacente a toda neurose.
■ O próprio Rank , de acordo com Marmor (1979), com o passar dos anos, deixou de lado a idéia de
trauma de nascimento como a questão central, substituindo-a pelas questões ligadas, segundo ele,
aos polos entre os quais o ser humano se move: o da ligação emocional e dependência, por um
lado, e o da separação e independência, por outro.
■ Esta concepção viria mais tarde a ser considerada essencial por James Mann (1973) em sua
proposta de psicoterapia de tempo limitado.
■ Apesar das inúmeras críticas que recebeu, Rank deixou contribuições significativas para a PB,
como o estabelecimento prévio de uma data para o término da análise e o conceito de
“willtherapy”, que, segundo Marmor (1979), é um precursor do conceito de “motivação para
mudança”, considerado atualmente como um dos importantes critérios de indicação para
tratamentos breves.
Segundo estágio: Alexander e
French
■ Alexander e French (1946), alguns anos mais tarde, retomaram as tentativas de
abreviar o processo analítico, e seu trabalho é considerado por diversos autores
como o verdadeiro marco inicial da psicoterapia breve. Enfatizaram, como
Ferenczi, a experiência emocional mais do que a rememoração, e viam a cura
como uma experiência em que a atitude do analista, diferente da dos pais, permite
uma correção da relação infantil.

■ Foi criado, assim, o conceito de experiência emocional corretiva e o “princípio


da flexibilidade” do terapeuta. Abreviar o processo terapêutico, para eles, não era
primordialmente uma questão social ou econômica, mas sim técnica: uma forma
de frustrar a dependência e levar o paciente a abandonar as posições infantis
em benefício de uma adaptação adulta.
Segundo estágio: Alexander e
French
■ Esses autores deixaram contribuições importantes, que têm influência até hoje:
não só foram os primeiros a propor aspectos essenciais de todas as formas atuais
de PB, como o estabelecimento de objetivos e de um planejamento do tratamento,
como anteciparam a mudança da ênfase no intra-psíquico para a psicologia
interpessoal e relacional, desenvolvida por Balint, Fairbairn , Winnicott e Bowlby
na Inglaterra, e por Sullivan, Thompson, Fromm e Fromm-Reichmann nos
Estados Unidos.
■ Além disso, influenciaram a psicoterapia breve relacional de Strupp e Binder
(1984), através da ênfase na importância da experiência real do paciente na
relação terapêutica, e as PB ecléticas, defendendo a idéia da terapia como uma
experiência de aprendizagem a serviço da adaptação.
Terceiro estágio: psicoterapia
breve psicodinâmica
Definição:
Modalidades de intervenção derivadas da psicanálise que, como ela, tinham por
objetivo levar o paciente a desenvolver insignts sobre os motivos inconscientes de
seus sintomas (Malan, 1979).
Constituíam alternativas para situações em que a psicanálise não podia, por razões
práticas, ser aplicada, como por exemplo, as existentes no ambiente institucional, em
que atendimentos de longa duração se mostravam inviáveis.

Psicoterapia breve é sinônimo de psicoterapia de orientação psicanalítica aplicada a


situações específicas (foco da terapia).
As três gerações de Psicoterapia
Breve
■ Geração 1: O modelo pulsional/estrutural
■ Geração 2: O modelo relacional
■ Geração 3: O modelo integrativo
■ Os primeiros trabalhos datam da década de 40
e se estendem até 80, mas as principais
contribuições apareceram na década de 60.
Primeira ■ Defendem maios atividade do terapeuta,
buscando o atendimento de pessoas em crise,
geração: ■
com foco em uma área de conflito.
Baseiam-se na crença de que é possível
Modelo respeitar os princípios psicanalíticos de
associação livre, neutralidade e reconstrução

pulsional/ genética do sintoma subjacente ao foco,


mesmo em trabalhos de curta duração.

estrutural ■ Autores: Malan, Sifneos, Gillliéron, Hartke,


Eizirik e Gauer, entre outros.
Primeira geração (1940-1980):
Modelo pulsional/ estrutural
■ Psicoterapia Breve - Malan (1963-1983)
■ Psicoterapia Breve provocadora de Ansiedade - Sifneos (1972-1989)
■ Psicoterapia Dinâmica Breve Intensiva

■ Modelo pulsional/estrutural
Pulsão
No ser humano o impulso não inclui apenas a resposta motora mas
inclui o estado de excitação mediada por uma mente diferenciada.

Pulsão é um constituinte psíquico, geneticamente determinado, que,


quando em ação, produz um estado de excitação psíquica (tensão),
que impele a pessoa para a atividade que leva à gratificação.

Tensão – atividade motora - gratificação


Uma parte das pulsões é constituída por uma energia psíquica com a qual se investe
os objetos (pessoas ou coisas).

CATEXIA

Catexia é a quantidade de energia psíquica que se liga à representação mental de


uma pessoa ou coisa.

Quanto maior a catexia mais importante é o objeto.


As duas pulsões:
Sexual
dá origem ao componente erótico das atividades mentais, cuja energia associada chama-se LIBIDO.

Agressivo
cuja energia associada chama-se agressividade.
Pulsão sexual
■ São forças instintivas já em atividade no bebê, influenciando seu
comportamento e buscando gratificação.
Base da produção dos desejos sexuais adultos

■ No curso do desenvolvimento normal se tornam parte do


comportamento sexual do adulto
Estímulos que impactam o aparelho psíquico

■ Estímulos externos ou exteriores – podem ser afastados mediante a


atividade muscular.

■ Estímulos internos ou interiores – pressão mais ou menos contínua sem


nenhuma possibilidade de afastá-los. Por meio da ação muscular
(Instinto/pulsão).

■ Diferença: possibilidade de fugir deles ou não.


PULSÃO
Freud utiliza a palavra TRIEB, mesmo sabendo - como
escreve em 1926 - que o termo tem muitas
peculiaridades.

■ “algo que é limite entre o somático e o psíquico” (1905).

 Força que impele a execução de descarga da excitação


num determinado alvo;

 Estes significados estão sempre correlacionados com a


ideia de algo que “propulsiona”, que “coloca em
movimento”.
Pulsão: 4 fatores

■ FONTE – SOMÁTICA - são as excitações corporais, ditadas pela necessidade de sobrevivência (fome).

■ FORÇA – aspecto quantitativo da energia pulsional.

■ FINALIDADE – SEMPRE A MESMA: descarga da excitação para que o psiquismo volte ao equilíbrio
(saciação).

■ OBJETO - VARIÁVEL mutável – capaz de satisfazer


( ex: peito/mamadeira).
TEORIA DAS
PULSÕES
Primeira etapa
1910
■ Pulsões de autoconservação ou Pulsões do Ego :Conservação do individuo
Principalmente no início da vida/Necessidades
Liga-se a um objeto específico
Requer objeto exterior concreto
Princípio da realidade
FOME

■ Pulsões sexuais: Conservação da Espécie


Se descarrega no próprio corpo/
Regidas pelo Princípio do Prazer.
Fantasia

(Pulsões sexuais se apoiam nas funções de autoconservação para sua descarga e extravasamento).
TEORIA DAS
PULSÕES
Segunda etapa
2ª. Etapa – se inicia com o narcisismo

■ (esquizofrenia, autismo,hipocondria, (recolhimento)

■ Volta-se para entender o Lugar para onde se dirige a libido (se para fora ou para dentro
do corpo)

■ Libido do objeto X Libido do Ego


“Quanto mais se esvazia o ego mais se carrega o objeto e vice-versa”
NARCISISMO

■ Narcisismo Primário –
Ego como reservatório de energia libidinal (objetos exteriores ainda não existem) total
indiferenciação entre id e ego.

■ Narcisismo Secundário – Na vida adulta o sujeito retorna a esse núcleo de


representações.

■ (melancolia)
TEORIA DAS
PULSÕES
Terceira Etapa
3ª. Etapa:
Pulsões de vida e pulsões de morte
Pulsões de morte

■ Compulsão à repetição/inercia.

■ Tendência a fazer o organismo vivo voltar ao estado


inorgânico.

■ Dirigida contra o próprio sujeito.


Pulsões de Vida

■ Força construtiva que tende a organizar o organismo em conjuntos cada vez mais
complexos.
Teoria da Angústia
Primeira teoria da Angústia
Angústia real ou realidade de angústia
Susto, ansiedade e medo

Segunda Teoria da Angústia


Complexo de Édipo
Complexo de castração
Angústia sinal ou sinal de angústia
A psicoterapia breve a partir do
modelo pulsional
■ A explicação do terapeuta dos mecanismos de defesa, das
ansiendades e dos desejos, revividos na situação terapêutica pela ação
da transferência, cria as condições necessárias para o insignt, que
deve resultar no desaparecimento dos sintomas.
■ As interpretações visam a explicitação de dois triângulos:
■ 1. de conflitos (desejo, ansiedade e defesa)
■ 2. de pessoas (terapeuta, pessoas significativas do passado do
paciente, pessoas significativas de seu presente).
Malan

■ Malan (1976, 1979), partindo do trabalho de Balint, propõe que a


princípio seja estabelecida uma hipótese psicodinâmica de base, a partir
de um diagnóstico que inclui entrevistas e testes psicológicos.
■ A idéia é identificar o conflito primário, que é reeditado na problemática
atual do paciente. Sobre a hipótese psicodinâmica de base se planeja o
trabalho terapêutico, que é feito através da interpretação ativa e seletiva, e
tem tempo e objetivos delimitados. Dedicouse intensamente ao estudo de
casos clínicos, inclusive com acompanhamento aprofundado e
prolongado, visando um maior conhecimento do problema da seleção de
pacientes e dos resultados da psicoterapia (Malan, 1980a, 1980b).
Sifneos (1979)

■ Sifneos (1979, 1984) desenvolveu a Psicoterapia Breve Provocadora


de Ansiedade (Short-Term AnxietyProvoking-Psychotherapy –
STAPP), dirigida a pacientes criteriosamente selecionados, com
problemática fundamentalmente edipiana, e com forte motivação para
mudança.
■ A partir da formulação de uma hipótese psicodinâmica, o terapeuta
adota uma postura bastante ativa, que visa levar o paciente a se
defrontar com seus conflitos. O processo é focalizado e limitado entre
12 e 18 sessões.
Davanloo

■ Davanloo (1980) propôs uma técnica altamente ativa, de


confrontação e manutenção de foco, que se utiliza, desde o início, de
interpretações da transferência, das defesas, dos sonhos e das
fantasias, e da reconstrução genética.
■ Com a confrontação constante, que chega às vezes a ser desafiadora,
tende a provocar sentimentos de hostilidade no paciente, a utilização
desta técnica depende da existência de uma sólida aliança terapêutica.
Aplica-se não só a pacientes com focos edípicos, mas também a casos
mais graves, com os quais conseguiu resultados positivos. O número
de sessões não é fixado antecipadamente, mas é explicitado que o
trabalho será breve.
Contribuições da primeira geração de PB

■ Os três autores citados acima guardam semelhanças importantes em seus trabalhos, o


que faz com que se possa considerá-los como representantes do mesmo modelo de PB.
■ Além das bases nitidamente freudianas, suas preocupações se concentram especialmente
nos aspectos técnicos. Sua abordagem dá prioridade aos conflitos intra-psíquicos.
■ Malan e Davanloo trabalham, inclusive, com o triângulo de conflito: impulso, defesa e
ansiedade.
■ A herança freudiana fica clara também pela freqüência com que utilizam o conflito
edipiano como referencial.
■ As principais contribuições destes autores estão ligadas às discussões da técnica e das
mudanças advindas da delimitação do tempo. Além disso, seus estudos sistemáticos
permitiram ampliar significativamente o conhecimento de aspectos importantes da PB:
aplicabilidade e critérios de indicação, extensão e duração dos resultados.
Críticas

■ As pesquisas tinham baixo rigor metodológico: usavam delineamento naturalista e registros


escritos a posteriori das sessões.
■ A postura ativa do terapeuta resvala muitas vezes para uma atitude autoritária, especialmente
nas técnicas de Sifneos e Davanloo, que tende a submeter o paciente a um terapeuta
onipotente.
■ Segundo Messer & Warren (1995), esta característica advém das bases epistemológicas
deste modelo, que identificam como a escola filosófica idealista.
■ “É a interpretação da realidade do terapeuta que conta, ao invés de uma visão de realidade
compartilhada, que emerge da interação entre terapeuta e paciente. Para o terapeuta
estrutural tradicional, quando o paciente resolve a transferência, ele enxergará o mundo
como o terapeuta, sem distorção.” (Messer & Warren, 1995: 113, tradução da autora).
■ Período de grande popularização.
■ Flexibilização dos procedimentos adotados.

Segunda ■

Redefinição dos objetivos a serem alcançados.
Este movimento ensejou a revisão de
geração: conceitos anteriormente estabelecidos e a
formulação de outros tantos conceitos que

modelo dessem conta da complexidade que os novos


quadros apresentavam.

relacional ■ Necessitava-se de evidências empíricas


demonstradas pela técnica, buscando-se
respostas específicas para os diferentes
(1970 e 1980) ■
quadros da patologia
Avaliar e comprar os resultados obtidos,
identificar os fatores do processo terapêutico
que facilitavam ou propiciavam a mudança.
■ Autores como Luborsky (1984), Horowitz (1988, 1991) e Strupp & Binder (1984)
podem ser considerados representantes desta forma de trabalho.

■ 1. A psicoterapia suportivo-expressiva- Luborsky (1984)


■ 2. A Psicoterapia Dinâmica de tempo limitado – Strupp e Binder (1984) (Capítulo 3.)
■ 3. A terapia dinâmica Breve para Síndrome de Resposta ao Stress – Horowitz (1984)
■ 4. Psicoterapia Psicodinâmcia de Grupo de Mount Zion - Curtis, Silberschatz, Sampson
e Weiss
■ “Nesta visão, a unidade básica de estudo não é o indivíduo como uma entidade
separada, cujos desejos se chocam com a realidade externa, mas um campo interacional
dentro do qual o indivíduo surge e luta para fazer contato e para se articular.” (Mitchell,
in Messer & Warren, 1995: 114-115).
■ Baseou-se principalmente nas relações objetais, a partir dos trabalhos de Melanie Klein,
Fairbairn e Winnicott.
Aspectos da técnica de Klein
■ Congruência entre a teoria e a técnica
■ Incluir o jogo infantil como maneira de facilitar, em seus pequenos pacientes, a expressão de
fantasias e conflitos inconscientes.
■ Método: explorar sistematicamente a transferência
■ No vínculo com o analista, o bebê revive suas fantasias, tanto agressivas quanto libidinais. Cabe ao
analista interpretar, sistematicamente, a transferência positiva e a negativa, para que o paciente
possa chegar perto da compreensão de sua realidade psíquica.
■ A interpretação, em profundidade, das angústias e defesas em suas relações de objeto, favorece a
integração, que é um dos principais objetivos terapêuticos. O analista precisa tolerar a transferência
negativa do paciente.
■ A Sessão é uma exteriorização da realidade psíquica, povoada de objetos internos.
■ Principal função do analista é se deixar envolver pelo clima emocional da sessão, receber todas as
projeções que o paciente fará sobre ele, ser muito sensível às manifestações transferenciais e
contra-transferenciais, para, de todo esse suceder, extrair a estrutura básica (angustia que prevalece
e mecanismo de defesa característicos da relação de objeto, nesse momento) que marca o ponto de
urgência.
Klein X Freud
■ Klein declara distanciar-se de Freud ao considerar que “as relações de objeto são
operantes desde o início da vida pós-natal” (KLEIN, 1952, p.74).
■ Opõe-se à descrição da pulsão como autoerótica e originalmente independente de
vinculação objetal, sugerindo, inicialmente, que sua hipótese a respeito das relações de
objeto “contradiz o conceito de Freud de que estágios autoeróticos e narcísicos excluem a
possibilidade de uma relação de objeto” (idem).
■ Klein salienta aqui um aspecto bastante característico de sua metapsicologia, a saber, a
compreensão de que o autoerotismo e o narcisismo são, desde o início da vida,
contemporâneos às primeiras relações com os objetos, sejam eles internos ou externos.
■ Melanie Klein nuança a posição freudiana, lembrando que as afirmações de Freud “a esse
respeito não são inequívocas”. Em vários contextos ele teria expresso, “explícita e
implicitamente, opiniões que sugeriam uma relação com um objeto, o seio da mãe,
precedendo o autoerotismo e o narcisismo” (idem). Nesse sentido, portanto, Freud teria
desenvolvido uma concepção mais próxima da perspectiva teórica explorada por Klein,
segundo a qual os objetos são tomados como determinantes originários da subjetividade
estando, desde o início, associados à vida pulsional do bebê.
Klein X Freud

■ “O uso que Freud faz do termo ‘objeto’ é […] um tanto diferente do uso que faço, pois
ele está se referindo ao objeto de um alvo pulsional, ao passo que eu tenho em mente,
além disso, uma relação de objeto que envolve as emoções, fantasias, angústias e
defesas do bebê” (idem).
Klein
■ Sabe-se que amplitude conceitual e a importância teórica e clínica do objeto na
psicanálise kleiniana exerceram uma forte influência sobre autores de diferentes
correntes psicanalíticas.
■ Mesmo não sendo considerada, propriamente, uma autora da teoria das relações de
objeto, na medida em que nunca abandonou a forte referência à teoria pulsional –
sobretudo pela irrestrita adesão ao conceito de pulsão de morte –, serviu-se da noção de
objeto para descrever um campo que engloba experiências desde as mais primitivas, até
as subjetivamente mais complexas, como aquelas relacionadas aos processos de
sublimação e simbolização.
Fantasias Inconscientes e objetos internos

■ Segundo Klein, na medida em que os objetos são introjetados, “os acontecimentos, as


pessoas, as coisas e as situações – tudo aquilo que dá forma ao mundo interno em
construção – tornam-se inacessíveis à observação e juízo preciso da criança, não
podendo ser verificados pelos meios de percepção disponíveis em relação ao mundo
tangível dos objetos” (KLEIN, 1940, p. 389). Tal incapacidade ontológica de acessar a
qualidade “objetiva” ou “externa” dos objetos é função direta do papel fundamental
conferido às fantasias inconscientes.
A psicoterapia breve na 2 geração
■ O critério que esses autores utilizam para incluir determinada proposta neste modelo é a ênfase nas
relações objetais como clinicamente centrais.

■ Menores preocupações técnicas do que no modelo anterior, e menor interesse pelo estudo de aspectos
como limites estritos de tempo e critérios de seleção.

■ No estabelecimento do foco, estas PB apoiam-se menos num único constructo teórico, como as
anteriores se apoiaram no complexo de Édipo, e dão maior importância à experiência, a relação e ao
“aqui e agora”, o que resulta numa maior diversidade de focos clínicos.
■ Ao invés de propor abordagens técnicas específicas, como a confrontação sistemática das resistências e a
interpretação precoce da transferência, priorizam a relação terapêutica e os padrões de relacionamento
interpressoal que o indivíduo estabelece, e encaram o terapeuta como observador participante.
Críticas

■ As críticas que têm sido dirigidas a esse modelo se referem exatamente a essa menor
preocupação com a técnica e à dificuldade de se utilizar, dentro deste contexto, os
métodos tradicionais de pesquisa. Posteriormente, no entanto, foi desenvolvida uma
metodologia de pesquisa mais adequada a esta abordagem, que possibilitou uma
produção expressiva de trabalhos, especialmente nas décadas de 80 e 90.
■ Nos últimos anos tem-se observado uma
tendência a integrar técnicas e conceitos de
diferentes tradições terapêuticas, com o
objetivo de aumentar a eficiência e o espectro
de aplicação das psicoterapias.
■ As evidências de que não existe uma

Terceira abordagem que seja adequada para todos os


casos levaram alguns autores a considerar que
se deve adaptar a psicoterapia ao paciente, e
geração: não o contrário.

modelo
■ Mann (1973), um dos autores desta geração
baseou sua proposta nos quatro constructos
principais contidos nos modelos anteriores:

integrativo impulso, ego, objeto e self, considerando-os


não como mutuamente exclusivos, mas
complementares e reveladores de diferentes
maneiras de funcionamento mental.
■ Eles estariam presentes em todos os aspectos
significativos do funcionamento de uma
pessoa adulta, organizados numa hierarquia
diferente para cada indivíduo.
Mann

■ Sua visão da psicopatologia leva em conta quatro aspectos: a hipótese estrutural; a teoria do
narcisismo e o desenvolvimento da auto-estima; a teoria das relações objetais; a perspectiva do
desenvolvimento.
■ Além disso, coloca como questões centrais o tempo e a separação, priorizando o conflito humano
entre infinito e tempo real. O conflito neurótico, para ele, resulta do desejo de se unir a um objeto,
recriando a ligação mãe bebê, ao lado do desejo de se tornar uma pessoa separada e independente.
■ A questão do tempo, central nesta abordagem, fez com que ele estabelecesse um limite estrito de 12
horas de tratamento, divididas de acordo com a necessidade do paciente, em relação à duração e
freqüência das sessões.
■ A idéia é que os conflitos e ansiedades relacionados com separação e perda, que representam
para ele um tema central, sejam ativados e trabalhados. A atitude do terapeuta é empática, não
confrontativa, e ele se utiliza das interpretações transferenciais, análise da resistência e reconstrução
genética.
crítica

■ As principais críticas feitas a Mann se referem ao fato dele ter generalizado para todas
as neuroses um tipo de conflito básico, universal. Além
■ disso, sua técnica, de acordo com Malan (1976), está entre as mais radicais. A tentativa
de integração, a nível teórico, acabou não resultando numa técnica mais flexível e de
aplicação mais ampla.
■ Nos anos mais recentes, a integração de diferentes abordagens tem sido buscada de três maneiras
principais:
■ 1. Na procura dos fatores comuns aos diversos modelos, que poderiam ser os responsáveis pelo
sucesso de diferentes tipos de psicoterapia. A pesquisa sobre que características da relação e da
situação terapêutica favorecem a melhora do paciente, apesar das diferenças teóricas e técnicas,
levou alguns autores, como Garfield (1989), a propor um modelo de PB que priorize estas
características.
■ 2. No ecletismo técnico (aqui é preciso um certo cuidado com a conotação muito negativa que em
geral se atribui ao termo “eclético”, no sentido de uma mistura indiscriminada e sem critério de
técnicas diversas, muito diferente do sentido original, derivado do grego, que significa “seletivo”):
uma maior flexibilidade, que permite ao terapeuta lançar mão de diferentes recursos, adaptados às
necessidades de cada caso. Esta é uma postura mais pragmática e mais baseada na prática clínica,
que dá menor importância à teoria e prioriza as necessidades de cada paciente. As PB propostas
por Wolberg (1980) e Bellak (1992) podem ser consideradas como representantes desta tendência.
■ 3. Nos esforços de integração teórica. O que diferencia este tipo de terapia integrativa é que há
uma teoria que liga o uso de diferentes técnicas e que procura embasá-lo, como na proposta de
Prochaska (1995).
Prochaska
■ Sua abordagem, que ele denominou “terapia transteórica” (transtheoretical therapy), e
que considera eclética e integrativa, iniciou-se com uma análise comparativa dos
maiores sistemas de psicoterapias, na busca do que cada sistema tinha de melhor a
oferecer.
■ Essa busca foi orientada pelo objetivo de procurar contribuições para construir um
modelo de terapia e uma teoria do processo de mudança, de bases empíricas. Seu
objetivo não é a simples combinação ou mistura de abordagens, mas a busca de uma
teoria que seja mais do que a soma de suas partes, e que leve a novas direções na
pesquisa e na prática.
■ A terapia que propõe é adaptada a cada paciente, de acordo com o estágio do processo
de mudança em que este se encontra, e com o tipo e profundidade de problemas que
apresenta. Esta adaptação se refere tanto à estrutura do trabalho (número e freqüência de
sessões, por exemplo), quanto às estratégias utilizadas e aos objetivos estabelecidos.
Críticas
■ Estas tentativas de integração, que são o objetivo do modelo eclético de PB, encerram
enormes dificuldades e estão sujeitas a muitas críticas.
■ É sempre um risco utilizar um conceito ou mesmo uma técnica fora de seu contexto,
pois isto necessariamente modifica seu significado. Além disso, estas propostas exigem
de quem vai utilizá-las um conhecimento mais amplo e complexo de diferentes
abordagens, para que não se transformem numa mistura indiscriminada.
■ Elas têm tido o mérito, no entanto, de suavizar o dogmatismo presente em muitos
referenciais tradicionais e de priorizar a preocupação com a melhora do paciente, e não
com uma ilusória busca da verdade.
Referências

■ Yoshica, E.M.P. e Enéas, M. L. E. Psicoterapias Psicodinâmicas Breves: Propostas


atuais. Campinas, SP: Alínea Editora, 2013.

■ Yoshida, E. M. P. Psicoterapia breve psicodinâmica: critérios de indicação.

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