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Vou começar por falar um pouco sobre

David Mourão Ferreira


• Viveu na segunda metade do séc. 20
• Considerado poeta do amor e sensualidade, que para além de escrever também
foi professor e se dedicara a traduzir obras de outros autores europeus
• Diziam que tinha “o ofício de escreviver“, pois precisava de viver para
escrever e de escrever para viver.
• Visto que David era conhecido por abordar temas mais românticos decidi
escolher poemas que não estão, pelo menos diretamente, associados a esses
mesmos assuntos
• Por isso escolhi o poema chamado Escada sem corrimão e o poema intitulado
de Talvez
• Acerca do poema escada sem corrimão, Em vez de começar por ler o poema
na integra, para a minha análise não ser influenciada pelos dois últimos
versos, vão perceber o motivo para dizer isto, vou analisar cada uma das
estrofes após a leitura das mesmas
É uma escada sem caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do sol
mas nunca passa do chão
• Ao pensar na descrição feita acerca desta escada penso em perigo, em falta de
segurança
• E ao ser dito que vai em direção ao sol apesar de não passar do chão, leva-me
a crer que existe um destino objetivo que por alguma razão não é possível
alcançar
Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos nem sobressaltos
servem sequer de lição.
• À medida que se vão afastando do chão os degraus vão ficando mais
estragados ou seja mais difíceis de subir
• Nem sustos nem sobressaltos, ou seja nada do que possa aparecer no caminho
de quem escolhe subir as escadas serve de lição, nada fará com que se pondere
recuar ou abrandar.
Quem tem medo não a sobe.
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
o lastro do coração.
• Parece irónico dizer quem nem quem tem medo nem quem tem sonhos sobe estas
escadas visto serem quase sensações opostas
• Ao dizer que há quem deite fora o lastro do coração, isto quer dizer, a base, o que
suporta o coração está-nos a ser dito que quem realmente deseja subir as escadas a
todo o custo, não tem medos, nem sonhos e por vezes nem as emoções mais
genuínas que vêm diretamente do coração
Sobe-se numa corrida.
Correm-se p’rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.
• Ao dizer que é subida numa corrida e que se correm perigos desnecessários
creio que é o mesmo que dizer que é subida à pressa e sem prestar atenção ao
que está a acontecer
• Por fim o poeta diz-nos que o que descrevera era a vida
Olhando agora para o poema, depois de sabermos que a escada é na verdade a
vida penso que para além de fazer mais sentido também nos leva a refletir sobre
a forma como a vivemos.
Falando por mim fiquei até intrigada pela verdade refletida pelo poeta, que
muitas vezes, lá está, como subimos estas escadas pouco seguras numa correria
nem sequer nos apercebemos
O segundo poema que escolhi chama-se talvez
Não gostei particularmente do poema mas não impede que não o tenha achado
bastante interessante
Ler poema
Sendo sincera o que mais me intriga neste poema, que, digamos é estranho foi o
final, mas já lá vou
Talvez os galos rujam os leões cacarejem
mas a nossos ouvidos nos pareça o contrário
Estes 2 versos são simples de perceber, é como se toda a nossa vida nos tivessem
dito que 2 +2 é 5, como se simplesmente estejamos a ver a realidade de uma
perspetiva manipulada que nos foi incutida
talvez leões e galos se riam em segredo
por saberem que andamos desde sempre enganados

Lá está, como apenas vemos o que nos mostram, no sentido, em que tomamos
como verdade absoluta por exemplo que os leões rugem eles se riam da nossa
ignorância
Talvez bebamos fogo quando ouvimos silêncio
talvez sejam serpentes o que chamamos água

Aqui o poeta decide envolver outro tipo de sensações e sentidos para além da visão e da
audição para os mais céticos serem também levados a começar a duvidar.
Em vez de ouvir, na verdade estamos a beber e em vez de silêncio é nos falado em fogo,
como é que é possível beber fogo? E ouvir o silêncio? Tendo em conta a perspetiva que o
poeta nos quer apresentar aquilo a que chamamos fogo pode ser silêncio e vice-versa e o
que dizemos que bebemos estamos na verdade a ouvir. Acho bastante caricato pensar
desta forma, porque na verdade, alguém teve de dar nomes a tudo. Apesar disso é nos
dito que ouvimos o silêncio e esquecendo a abordagem que acabei de ter relativamente
ao uso das palavras, acho que ele nos quis dizer um pouco mais com a capacidade de
ouvir o silêncio, porque este, é sim, audível e por vezes dentro de nós, fala ainda mais
alto que palavras.
Talvez o tempo tenha tanto a ver com o Tempo
como têm cem corvos a ver com uma cigarra

Tive algumas duvidas a que tempo David Mourão Ferreira se referia, se no sentido
meteorológico, se no sentido temporal, se a uma época específica, e penso ainda existirem
muitas mais possibilidades.
Mas supus que fosse ao estado da atmosfera e aos períodos de duração de algo.
Sendo assim é nos mostrado que talvez a mesma palavra, o tempo e o tempo, que têm tanto
como tão pouco a ver um com o outro tenham em comum como cem corvos têm a ver com
apenas uma cigarra, tanto a nível de quantidades, como de tamanho e de meio em que se
encontra
ou talvez estes versos sejam só o enredo
de 10 rios 2 astros a névoa de uma casa
Mas é nestes dois versos que o meu cérebro dá um verdadeiro nó se é que esta expressão
significa realmente o que sempre acreditei que significasse.
O que têm em comum 10 rios 2 astros e a névoa de uma casa? Bem, sabemos que existem,
mas para além disso é difícil encontrar mais semelhanças, pelo menos para mim.
Para além disso, é-nos dito que todos os versos que acabámos de ver podem ser apenas o
enredo da névoa, dos rios e dos astros.
Posso estar completamente errada, mas creio que o poeta queria deixar-nos precisamente
como eu fiquei a ler estes versos, na dúvida e sem entender realmente, pois é isso mesmo que
ele nos descreve ao longo de todo o poema
Para além disso a insistência em utilizar a palavra talvez, suscita-nos duvida
acerca de tudo o que estamos a ler, pois no fundo o poeta diz-nos que é uma
possibilidade mas não passa disso
Conclusão
Como quis abordar os poemas de uma forma mais pessoal e alongada penso que
não irei falar de mais nenhum, mas gostava de recomendar a leitura atenta de
outros dois poemas que penso serem bastante enriquecedores, chama-se Estrada,
de noite e equinócio.
Isto foi apenas um aparte, mas voltando aos poemas que selecionei gostaria de
dizer que adorei a forma como o poeta brinca com as palavras, quase como se
lhes desse ideias e voz própria.
Apesar de David Mourão Ferreira ser considerado como já referi o poeta do
amor e sensualidade os poemas que mais gostei dele são precisamente os que
não estão, pelo menos diretamente, relacionados com esses temas.
Conclusão
Para concluir queria apenas dizer que se me perguntarem que poema gostei mais
a resposta é fácil, o primeiro, mas se me questionarem qual o que achei mais
interessante e relevante sinceramente, mesmo que queira dar uma resposta não
consigo, pois apesar de em quase 400 poemas pelos quais passei os olhos muito
poucos me tenham cativado os que o fizeram foi de forma muito própria e
profunda e adorei fazer este trabalho pois me permitiu conhecer um escritor que
de qualquer outra forma nunca iria suscitar curiosidade em mim. Obrigada.

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