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Lá está, como apenas vemos o que nos mostram, no sentido, em que tomamos
como verdade absoluta por exemplo que os leões rugem eles se riam da nossa
ignorância
Talvez bebamos fogo quando ouvimos silêncio
talvez sejam serpentes o que chamamos água
Aqui o poeta decide envolver outro tipo de sensações e sentidos para além da visão e da
audição para os mais céticos serem também levados a começar a duvidar.
Em vez de ouvir, na verdade estamos a beber e em vez de silêncio é nos falado em fogo,
como é que é possível beber fogo? E ouvir o silêncio? Tendo em conta a perspetiva que o
poeta nos quer apresentar aquilo a que chamamos fogo pode ser silêncio e vice-versa e o
que dizemos que bebemos estamos na verdade a ouvir. Acho bastante caricato pensar
desta forma, porque na verdade, alguém teve de dar nomes a tudo. Apesar disso é nos
dito que ouvimos o silêncio e esquecendo a abordagem que acabei de ter relativamente
ao uso das palavras, acho que ele nos quis dizer um pouco mais com a capacidade de
ouvir o silêncio, porque este, é sim, audível e por vezes dentro de nós, fala ainda mais
alto que palavras.
Talvez o tempo tenha tanto a ver com o Tempo
como têm cem corvos a ver com uma cigarra
Tive algumas duvidas a que tempo David Mourão Ferreira se referia, se no sentido
meteorológico, se no sentido temporal, se a uma época específica, e penso ainda existirem
muitas mais possibilidades.
Mas supus que fosse ao estado da atmosfera e aos períodos de duração de algo.
Sendo assim é nos mostrado que talvez a mesma palavra, o tempo e o tempo, que têm tanto
como tão pouco a ver um com o outro tenham em comum como cem corvos têm a ver com
apenas uma cigarra, tanto a nível de quantidades, como de tamanho e de meio em que se
encontra
ou talvez estes versos sejam só o enredo
de 10 rios 2 astros a névoa de uma casa
Mas é nestes dois versos que o meu cérebro dá um verdadeiro nó se é que esta expressão
significa realmente o que sempre acreditei que significasse.
O que têm em comum 10 rios 2 astros e a névoa de uma casa? Bem, sabemos que existem,
mas para além disso é difícil encontrar mais semelhanças, pelo menos para mim.
Para além disso, é-nos dito que todos os versos que acabámos de ver podem ser apenas o
enredo da névoa, dos rios e dos astros.
Posso estar completamente errada, mas creio que o poeta queria deixar-nos precisamente
como eu fiquei a ler estes versos, na dúvida e sem entender realmente, pois é isso mesmo que
ele nos descreve ao longo de todo o poema
Para além disso a insistência em utilizar a palavra talvez, suscita-nos duvida
acerca de tudo o que estamos a ler, pois no fundo o poeta diz-nos que é uma
possibilidade mas não passa disso
Conclusão
Como quis abordar os poemas de uma forma mais pessoal e alongada penso que
não irei falar de mais nenhum, mas gostava de recomendar a leitura atenta de
outros dois poemas que penso serem bastante enriquecedores, chama-se Estrada,
de noite e equinócio.
Isto foi apenas um aparte, mas voltando aos poemas que selecionei gostaria de
dizer que adorei a forma como o poeta brinca com as palavras, quase como se
lhes desse ideias e voz própria.
Apesar de David Mourão Ferreira ser considerado como já referi o poeta do
amor e sensualidade os poemas que mais gostei dele são precisamente os que
não estão, pelo menos diretamente, relacionados com esses temas.
Conclusão
Para concluir queria apenas dizer que se me perguntarem que poema gostei mais
a resposta é fácil, o primeiro, mas se me questionarem qual o que achei mais
interessante e relevante sinceramente, mesmo que queira dar uma resposta não
consigo, pois apesar de em quase 400 poemas pelos quais passei os olhos muito
poucos me tenham cativado os que o fizeram foi de forma muito própria e
profunda e adorei fazer este trabalho pois me permitiu conhecer um escritor que
de qualquer outra forma nunca iria suscitar curiosidade em mim. Obrigada.