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Ewé ó! Ewé ásà!

O sistema iorubá de classificação de


plantas no Jardim Sensorial do IFRJ campus Pinheiral
Jéssyca Corrêa de Paula (Jovens Talentos/FAPERJ) *1, Dominicki de Oliveira Correa *2, Mayra de Oliveira Souza (PIBITI)2,
Frederick Gregorio Corrêa (PIBITI/CNPq) 2, Letícia Miguel Machado de Souza (PIBITI) 2, Ítalo Martins de Oliveira (PIBITI) 2,
Fábio da Silva Gouvêa Júnior 2, Patrícia Manuela de Souza 3
Orientadora: Vanessa Jacob Victorino 4
*
Apresentadoras
1
Discente do Curso Técnico em Agropecuária, IFRJ campus Pinheiral
2
Discentes da Licenciatura em Ciências Biológicas, IFRJ campus Pinheiral
3
Docente do IFRJ campus Pinheiral. Coordenadora do NEABI – Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena
4
Docente do IFRJ campus Pinheiral. Laboratório Espaço Ecológico Educativo - EEcoE

Introdução Resultados esperados


A proposta de identificação de plantas presentes no Jardim Sensorial do Esperamos que a presente proposta contribua com o movimento de
Instituto Federal do Rio de Janeiro campus Pinheiral (IFRJ CPIN) a partir do resistência teórico e prático à lógica da modernidade/ colonialidade, com a
sistema iorubá de classificação de plantas busca explorar e valorizar a disseminação dos etnossaberes das plantas do Jardim Sensorial, e com
interculturalidade na educação, com base na perspectiva de uma educação uma educação decolonial, ambiental e de preservação da biodiversidade
decolonial. O projeto fará uso de pressupostos teóricos de pensadores do da Mata Atlântica. “Ewé ó! Ewé ásà!” (Oh, as folhas! A folha é a tradição!).
Grupo Modernidade/ Colonialidade (GM/C), que ao pensar a geopolítica do
conhecimento mostram que a elaboração intelectual do processo de ‘’Todas estas plantas, estas folhas e estas ervas têm virtudes. Elas não podem
modernidade está ligada ao padrão colonial/ moderno, capitalista e ser destruidas. Esta folha, por exemplo, acalma as dores de dente; esta outra,
eurocentrado (ESCOBAR, 2003; BALLESTRIN, 2013; MUNSBERG, DA SILVA, protege contra os efeitos de trabalhos maléficos. Impossível, em verdade,
2018). arrancar plantas tão necessarias á saude e a felcidade!’’ (Ossain, o senhor das
folhas (VERGER, 1997, p.75).
Cabe ressaltar que a diáspora africana determinou uma necessidade de a)
reorganização do culto aos orixás, indices e voduns no Novo Mundo. A vida
no Atlântico, marcada pelas atrocidades e violências do cativeiro, fez com que Nomenclatura ioruba: EWÉ GBÚRE ÒSUN
muitas folhas, sementes, frutos e raízes fossem substituídos de acordo com as Elemento: água; Gênero: masculino;
especificidades da flora brasileira (JAGUN, 2011). Dessa forma, para além dos
Tipo: Kékéré; Propriedade: Èrò
aspectos geográficos e botânicos, nosso projeto se baseia na importância
histórica da região, levando em consideração o fato de que foi um dos Nome científico: Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.
principais lugares de chegada de pessoas escravizadas e, logo, de resistência. Nomes populares: Major-gomes, maria-gorda, maria-
Nesse sentido, compreendemos a resistência também como perpetuação e gomes, bredo, caruru, língua-de-vaca, joão-gomes
divulgação de saberes ancestrais e de manifestações culturais, tais quais os
b) c) d) e)
usos religiosos e medicinais das plantas.
Dessa forma, o presente projeto propõe a divulgação e valorização da
transmissão oral do conhecimento na tradição iorubá de acordo com critérios
ancestrais perpetuados a partir da oralidade e observados por Pierre Verger,
José Flávio Pessoa de Barros e Márcio de Jagun (VERGER, 1995; BARROS,
NAPOLEÃO, 2007; JAGUN, 2011), e pesquisar e compartilhar etnossaberes
acerca dos diversos usos das plantas que estarão presentes no Jardim Figura 1: (a) Nomenclatura ioruba, nome científico e nomes populares de uma espécie nativa do bioma Mata
Atlântica, presente no Jardim Sensorial. No projeto, serão trabalhados os diversos usos das plantas presentes no
Sensorial. Jardim Sensorial, bem como seus usos de (b) adorações às divindades iorubas, usos medicinais, ornamentais, (c)

Objetivo alimentícios, e nas coleções biológicas como na (d) laminoteca e (e) herbário.

Identificar as plantas do Jardim Sensorial do IFRJ CPIN de acordo com o Considerações finais
sistema iorubá de nomenclatura e classificação das folhas, valorizar e divulgar A proposta de identificação das plantas presentes no Jardim Sensorial a
etnossaberes das plantas e desenvolver ações de combate à intolerância partir do sistema iorubá de classificação de folhas é inovadora, visto que
religiosa e de educação ambiental. não há Jardins Sensoriais na região, e tem como perspectiva uma educação
decolonial, intercultural e antirracista. Buscamos valorizar tanto os saberes
Materiais e Métodos científicos, como os saberes locais e populares, e experiências vividas pela
comunidade. A proposta tem caráter interdisciplinar e está em consonância
1. Serão realizadas atividades de revisão de literatura e discussões com
com as leis 10.639/03 (Brasil, 2003) e 11.645/08 (Brasil, 2008), que
membros do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) do IFRJ
orientam a obrigatoriedade da temática de história e cultura Afro-brasileira
CPIN. e Indígena para o currículo da rede de ensino. Partindo do pressuposto de
2. Para inserção da nomenclatura iorubá serão utilizados critérios ancestrais que todos os conhecimentos devem ser valorizados (FREIRE, 1996),
perpetuados a partir da oralidade e descritos na literatura. acreditamos na educação que visibilize os conhecimentos dos povos
3. Para compartilhamento das informações das espécies serão produzidas nativos e de pessoas escravizadas que foram trazidas para a região do Vale
placas de identificação das plantas contendo nomes populares, nome do Café.
científico, nomenclatura iorubá de cada espécie e sistema Braille de leitura e
um QR-code que irá guiar para a cartilha com mais informações sobre a Referências bibliográficas
espécie. As visitas ao Jardim Sensorial irão ocorrer semanalmente após seis
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista brasileira de ciência política,
meses de início do projeto.
n. 11, p. 89-117, 2013.
4. Como ação de combate à intolerância religiosa e de educação ambiental,
BARROS, José Flávio Pessoa de; NAPOLEÃO, Eduardo. EWÉ ÒRÌSÀ. Uso litúrgico e terapêutico
serão trabalhados itans específicos que relatem a relação das plantas com os
dos vegetais nas casas de candomblé Jêje-Nagô. 3ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
seres humanos. As atividades desenvolvidas pela proposta serão divulgadas
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de Janeiro de 2003.
através das redes sociais, em eventos acadêmicos, através de materiais
impressos e digitais, e por resumos e artigos científicos. BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de Março de 2008.
ESCOBAR, Arturo. Mundos y conocimientos de outro mundo: el programa de investigácion
Agradecimentos de modernidade/ colonialidad latino-americano. Tabula Rasa, n.1, p.51 – 86, Ene. – Dic. 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à pratica educativa. 43 edição.
São Paulo: Paz e Terra, 2011.
JAGUN, Márcio de. Ewé: a chave do portal. Rio de Janeiro: Instituto Ori, 2011. 
MUNSBERG, João Alberto Steffen; DA SILVA, Gilberto Ferreira. Interculturalidade na
perspectiva da descolonialidade: possibilidades via educação. Revista Ibero-Americana de
Estudos em Educação, v. 13, n. 1, p. 140-154, 2018.
VERGER, Pierre F. Ewé: o uso das plantas na Sociedade Iorubá. Companhia das Letras. 1995.

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