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Aula 3

Princípios do Processo
Administrativo – Parte I

Prof. Manoel Peixinho


Introdução

 Esta aula, subdividida em três partes, será destinada ao estudo dos

princípios regem o direito processual administrativo, os quais sã o

indispensáveis para orientaçã o hermenêutica da lei nº 9784/1999. Para

tanto, apresentaremos cada princípios sob a ó tica doutriná ria e, em

seguida, a forma pela qual sã o utilizados pelos Tribunais Superiores

através de suas sú mulas e decisõ es.


Regras e princípios: premissas do processo
administrativo
Com fulcro no artigo 18 da Constituiçã o Federal, cada ente

federativo goza de autonomia para legislar sobre as regras

procedimentais a serem adotadas em matéria processual

administrativa. Inexiste, assim, uma codificaçã o nacional,

ou regras gerais para o processo administrativo.

Nã o obstante, toda a legislaçã o processual administrativa

encontra-se adstrita e delimitada pelos princípios

constitucionais, valores estes recepcionados como

garantias fundamentais da cidadania e da civilizaçã o pela

Constituiçã o Federal.
Regras e princípios: a integridade no processo
administrativo
Embora a regra tenha uma natureza está tica e seja refém de seu texto,
ela existe para concretizar o princípio, razã o pela qual a
interpretaçã o de sua semâ ntica deve ser dinâ mica, de forma a melhor
corresponder aos mandamentos constitucionais.

Logo, percebe-se que esse conjunto, aparentemente desmembrado de


procedimentos administrativos, corresponde a um verdadeiro
conjunto orgâ nico, sem contradiçõ es aparentes e cuja interpretaçã o
encontra-se em constante mutaçã o.
Porém, não se pode transformar os princípios em panaceia ( remédio
que pode curar todos os males) para não se cair em insegurança jurídica.

Observação: Segundo o art. 20 da LINDB, “nas esferas administrativa,


controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da
decisão”.
Princípio da constitucionalidade

Princípio da legalidade

Princípio da finalidade

Princípio da motivaçã o

Princípios
Princípio da moralidade
norteadores do
Princípio da publicidade
Processo
Princípios da eficiência e da devida duraçã o do
Administrativo
processo

Princípio da proporcionalidade

Princípio da segurança jurídica

Princípio da indisponibilidade do interesse pú blico


Princípio da Constitucionalidade
 É importante destacar que, antes de abordar o princípio da legalidade –
primeiro princípio explícito – é imprescindível abordar o da
constitucionalidade, que o antecede.

 Arts. 1°, 2º e 3° e 5° CF/88

 O intérprete deve submeter o direito administrativo ao crivo dos


fundamentos e dos objetivos republicanos, bem como dos direitos
fundamentais.

 Segundo Jean Rivero e Jean Waline, “a Constituição é a fonte direta ou


indireta, de todas as competências que são exercidas na ordem administrativa.
Legalidade
O princípio da legalidade vincula a atuaçã o da Administraçã o Pú blica ao ordenamento jurídico, mais

especificamente à Constituiçã o. A fonte do principio da legalidade é a Constituiçã o, já que a Administraçã o Pú blica

é a funçã o de governo vinculada ao Poder Executivo (art. 84, II, da CF/88).

Este princípio, em sentido formal, identifica-se com a primazia da lei e com reserva de lei, pois o legislador é

legitimado, democraticamente, por um mandato recebido diretamente do povo, através do supremo mandamento

constitucional de que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,

nos termos desta Constituição (art.1º, p.u., CF/88).

Nã o se pode pensar que o principio da legalidade é a ú nica fonte de produçã o legiferante. A ideia de que a lei é a

fonte da legalidade nã o afasta a possibilidade de que outros atos normativos concorrem para com mesmo status.

Há que se interpretar o princípio da legalidade no sentido de que as leis, em sentido formal, nã o podem abranger

todas as hipó teses previstas no mundo fá tico, porque as diversas manifestaçõ es sociais, econô micas e políticas

nã o podem ser abrangidas, exclusivamente, pelas leis emanadas do Poder Legislativo.


Legalidade e Juridicidade
A doutrina atual tem abordado a noçã o de juridicidade e há quem
entenda que o Princípio da Legalidade estaria inserido num
princípio maior: o Princípio da Juridicidade.

Segundo Emerson Garcia (2003):

Com a constitucionalização dos princípios, a concepção de


legalidade cedeu lugar à noção de juridicidade, segundo a qual
a atuação do Estado deve estar em harmonia com o Direito,
afastando a noção de legalidade estrita - com contornos
superpostos à regra - passando a compreender regras e
princípios.
Princípio da Legalidade - Jurisprudência

(...)A moderna concepção do princípio da legalidade, em sua


acepção principiológica ou formal axiológica, chancela a
atribuição de poderes normativos ao Poder Executivo, desde
que pautada por princípios inteligíveis (intelligible
principles) capazes de permitir o controle legislativo e
judicial sobre os atos da Administração”.(ADI 4923-DF, Rel. Min.
Luiz Fux, Plená rio, DJe de 8/7/2017).
Finalidade
 A Administraçã o Pú blica nã o se encontra vinculada, apenas, à letra da lei. É indispensável que seus atos tenham, sempre, por

finalidade o resguardo dos interesse pú blicos. Estes, em apertada síntese, podem ser compreendidos como a vontade democrá tica

e soberana da sociedade, bem como a incondicional observâ ncia da legalidade e da constituiçã o; o que nã o se confunde com o

interesse institucional da Administraçã o.

 Atos administrativos que apenas formalmente adequam-se à legalidade, por visar a satisfaçã o de escuso interesse particular,

configuram abuso de autoridade ou desvio de finalidade, que sã o atos ilegítimos.

 A definiçã o de abuso de autoridade é, segundo §1º do art. 1º Lei nº 13.869/2019: “as condutas descritas nesta Lei constituem

crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou

beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal”.

 No campo do processo administrativo, deve a Administraçã o exercer legitimamente seus atos processuais em estrita observâ ncia

das formalidades essenciais à garantia dos administrados, nos termos do artigo 2º,p.u., III, VIII e XIII da Lei nº 9784/99.

 Segundo o art. 20 da LINDB, “nas esferas administrativa, controladora e judicial, nã o se decidirá com base em valores jurídicos

abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão”.

 Segundo o art. 21 da LINDB, “a decisã o que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidaçã o de ato,

contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e

administrativas”.
Princípio da Finalidade - Jurisprudência

Segundo entendimento pacífico desta Corte Superior, a vigência no


campo das nulidades do princípio pas de nullité sans grief impõ e a
manutenção do ato impugnado que, embora praticado em
desacordo com a formalidade legal, atinge a sua finalidade,
restando à parte demonstrar a ocorrência de efetivo prejuízo, o que
nã o ocorreu no caso.(HC 467056 /SP2018/0224330-4, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, Quinta Turma, Dje de 20/05/2019).
Indisponibilidade do Interesse Pú blico
 Se a administraçã o é vinculada imediatamente ao cumprimento da lei, e
mediatamente à satisfaçã o de sua finalidade, nã o pode o Poder Pú blico dispor do
interesse pú blico ao ponto de sacrificá -lo.

 Decorrem da indisponibilidade do interesse pú blico, ou supremacia do interesse


pú blico, os atributos do ato administrativo, as prerrogativas da Administraçã o em
matéria contratual ou judicial, e a fundamentaçã o para o exercício do poder de policia,
por exemplo.

 Como o processo administrativo visa a atender o interesse pú blico e a garantia dos


direitos fundamentais dos cidadã os, ele pró prio torna-se indisponível. Quem exerce o
poder sancionató rio ou disciplinador, portanto, nã o pode relativizar a forma do
procedimento e a finalidade de seus atos, nos termos do artigo 2º, p.u., II da Lei nº
9.784/1999.
Indisponibilidade do Interesse Pú blico

 Segundo p.u, inciso III do art. 2º da Lei nº 9.784/1999, “nos processos administrativos serã o observados, entre
outros, os critérios de: “III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoçã o pessoal de
agentes ou autoridades”.

 De acordo com o § 2º do art. 51 da Lei nº 9.784/1999, “a desistência ou renú ncia do interessado, conforme o caso,
nã o prejudica o prosseguimento do processo, se a Administraçã o considerar que o interesse pú blico assim o exige”.

 Ainda segundo o art. 55 da da Lei nº 9.784/1999, “em decisã o na qual se evidencie não acarretarem lesã o ao
interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderã o ser convalidados
pela pró pria Administração”.

 No art. Art. 26 da LINDB, “para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situaçã o contenciosa na aplicaçã o do
direito pú blico, inclusive no caso de expediçã o de licença, a autoridade administrativa poderá , apó s oitiva do ó rgã o
jurídico e, quando for o caso, apó s realizaçã o de consulta pú blica, e presentes razõ es de relevante interesse geral,
celebrar compromisso com os interessados, observada a legislaçã o aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de
sua publicaçã o oficial”.
Indisponibilidade do Interesse Pú blico -
Jurisprudência
O motivo do ato administrativo diz respeito à causa imediata que
autoriza a sua prá tica, ou seja, o pressuposto fá tico e normativo que
enseja a sua prática. Quando se trata de um ato discricionário, a lei
autoriza a prática do ato, à vista de determinado fato. A decisã o da
Administraçã o é tomada segundo os critérios de oportunidade e
conveniência, dentro dos limites da lei. A motivação é a declaração
escrita dos motivos que ensejaram a prática do ato e integra a
forma do ato administrativo, acarretando a sua ausência a
nulidade do ato, por vício de forma (STJ, RMS 55732/PE, Ministra
Assusete Magalhã es,Segunda Turma, DJe 30/05/2019)
Referências
Para explorar o tema de forma mais profunda, apresentamos
abaixo a bibliografia utilizada na elaboraçã o da aula, bem como
demais links para acesso a outros conteú dos relativos ao tema:

ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. Sã o Paulo: Malheiros.

MARRARA, Thiago. Princípios do Direito Administrativo. Sã o Paulo:GEN- Atlas.

ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica. Sã o Paulo: Malheiros.

MOREIRA, Egon Bockmann. PROCESSO ADMINISTRATIVO Princípios Constitucionais e a Lei


9.784/1999. 4ª ediçã o. Sã o Paulo: Malheiros.

GARCIA, Emerson. A moralidade administrativa e sua densificação. Disponível em:


https://jus.com.br/artigos/4283/a-moralidade-administrativa-e-sua-densificacao.

RIVERO, Jean et WALINE, Jean. 16.ª edition. Droit administratif. Paris: Dalloz, p.46).

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