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Da Organização do

Estado
Profa. Luciana Ramos
1. Formação Constitucional do Brasil

• É possível afirmar que um dos primeiros textos brasileiros de feição


constitucional foi o projeto elaborado por ANTONIO CARLOS DE
ANDRADA, que pode ser considerado o “fundador”. do Direito
Constitucional no Brasil, erguendo as bases para um Direito
Constitucional brasileiro. Esse projeto foi criado, em 1817, para os
revolucionários de Pernambuco, assentando as Bases do Governo
Provisório de Pernambuco. Foi, esta, como se sabe, uma manifestação
violenta do constitucionalismo no Brasil.
1. Formação Constitucional do Brasil

• O constitucionalismo brasileiro, inicialmente, esteve intrinsecamente ligado ao


constitucionalismo português e à Constituição vintista (de 1822) de Portugal. E esta,
como nota BONAVIDES, inspirou-se nos valores liberais da Revolução Francesa.
• Não é de estranhar a imbricação entre os constitucionalismos do Brasil e de
Portugal, diante da peculiaridade da História da independência brasileira. Esta foi
precedida pela formação de um Reino Unido entre os dois países, com a
transferência da Corte de Dom João VI ao Brasil; tendo sido a independência, ainda,
declarada por um príncipe do Reino português, que optou por construir um governo
autônomo na ex-colônia. Por outro lado, ímpetos liberais palpitavam em ambos os
países, um visando a emancipar-se do regime colonial e o outro, a superar o regime
monárquico absolutista
1. Formação Constitucional do Brasil: Constituição
Imperial

• A Assembleia Constituinte foi convocada por Dom Pedro I, antes mesmo


da proclamação da independência, e veio a instalar-se em 3 de maio de
1823. Nascida por iniciativa do Imperador, já surgiu com a soberania
sufocada:
• As intenções liberais de alguns dos integrantes da Constituinte desde logo
desagradaram o Imperador. No projeto, composto por 272 artigos,
dividiam-se as funções do Estado em três poderes, e o Imperador não
recebeu bem as limitações impostas ao Executivo171
1. Formação Constitucional do Brasil: Constituição
Imperial

• ANTONIO CARLOS, que havia sido indicado para a Comissão especial


que deveria redigir o projeto de Constituição da Assembleia Constituinte,
tinha posição consciente do momento de transição que se passava,
declarando, ter encontrado a base das atribuições constitucionais do
Imperador “na necessidade de um poder vigilante e moderador nos
governos representativos (...) como atalaia da liberdade e direito dos
povos”. Vale registrar, ainda, que ANTONIO CARLOS, esse
verdadeiro pai do constitucionalismo no Brasil, acabou sendo o autor
do Projeto apresentado pela Comissão àAssembleia Nacional.
1. Formação Constitucional do Brasil: Constituição
Imperial
• Contudo, o confronto entre os poderes da Assembleia e do Imperador culminou,
em 12 de novembro de 1823, na dissolução daquela por um verdadeiro golpe
nos caminhos constitucionais e democráticos recém-adotados no Brasil:
• “(...) convocada aquela Assembleia, uma enorme contradição de titularidade de
soberania logo se instalou: o poder constituinte do Imperador, de que ele em
momento algum abdicou e o poder constituinte da Nação; este soberano na
forma, na doutrina e na aparência, mas na realidade de feição delegada, obrigado
a ferir com o primeiro uma batalha verbal de hegemonia, prenúncio da que
arrastaria o corpo constituinte à dissolução de 12 de Novembro de 1823”
1. FormaçãoConstitucional do Brasil:
Constituição Imperial

Você sabia que o Brasil já teve


4 Poderes?
1. Formação Constitucional do Brasil:
Constituição Imperial.
• A redação do novo projeto da Constituição do Império coube a um Conselho de
Estado, instituído pelo Imperador. Teve como fonte principal o antigo projeto,
que havia sido apresentado por ANTONIO CARLOS à Assembleia Constituinte,
mas acrescentou a figura que caracterizou a arquitetura do novo modelo: o
inovador e, ao mesmo tempo, centralizador (na feição acertada em 1824) Poder
Moderador.
• A Constituição outorgada em 1824 adotava a ideologia liberal inspirada pelas
Revoluções do século XVIII. Fruto de um movimento que quebrou a
dependência do Brasil em relação ao absolutismo monárquico português,
preocupava-se em garantir certos direitos individuais e dividir os poderes do
Estado.
• Entretanto, além dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, clássicos desde a
doutrina de Montesquieu, estabeleceu-se o Poder Moderador, com proeminência sobre
os demais. A ideia decorreu da obra de BENJAMIN CONSTANT 179., que defendia a
existência de um quarto poder, exercido pelo monarca, com o objetivo de resguardar o
equilíbrio entre os demais poderes.
• Centralizaram-se, assim, prerrogativas na pessoa do Monarca que permitiam
interferências no exercício de todas as funções do Estado. O poder pessoal do
Imperador era, dessa maneira, legitimado pela Constituição182.. Na opinião de
PAULO BONAVIDES e PAES DE ANDRADE, “O Poder Moderador da Carta do
Império é literalmente a constitucionalização do absolutismo, se isso fora
possível”183.
• Uma característica marcante e rara no constitucionalismo mundial era a circunstância
de a Constituição do Império, uma constituição escrita, ter caráter semirrígido (ou
rígido em relação apenas a parte das suas normas). Dispunha o art. 178: “É só
constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos Poderes
Políticos, e aos Direitos Políticos e individuais dos cidadãos; tudo o que não é
constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas pelas Legislaturas
ordinárias”.
1. Formação Constitucional do Brasil: Constituição
Imperial
• Nota-se que tal dispositivo diferencia, no texto da Constituição, as normas
materialmente constitucionais e aquelas que o eram apenas sob o aspecto
formal. Tratava-se, pois da possibilidade de que as normasformais poderiam ser
alteradas com a mesma facilidade da legislação ordinária. Foi essa “plasticidade
e adaptabilidade” da Constituição do Império que permitiu a implantação prática
de um regime parlamentarista, à revelia do que a Carta literalmente dispunha.
Na Constituição Imperial, não havia qualquer autorização para o
parlamentarismo; ao contrário, pelo art. 101, VI, podia o Imperador, no exercício
do poder moderador, nomear e demitir livremente os seus ministros
Outras alterações em matéria substancialmente constitucional se
deram por meio de legislação
ordinária. Entre as mais relevantes está o Decreto n. 3.029, de
9-1-1881 (Lei Saraiva), que
simultaneamente instituiu a eleição direta e proibiu o voto dos
analfabetos. A Constituição de 1824
havia estabelecido que a eleição se realizasse de forma indireta;
em uma primeira fase, os cidadãos
elegeriam os eleitores, em assembleias paroquiais; a estes
competiria a seleção dos deputados e
senadores (art. 90). A Carta conferia direitos políticos aos
homens maiores de vinte e cinco anos,
com renda mínima de cem mil réis (arts. 91 e 92), sem
estabelecer quaisquer restrições em relação
aos analfabetos. Instituindo a proibição de voto aos analfabetos,
a Lei Saraiva limitou
consideravelmente o número de votantes, tendo em vista que
apenas 15% da população, e 20% da
população masculina, era alfabetizada
Outra inovação, no plano infraconstitucional, foi a abolição da
escravatura. Não obstante o inciso
XIII do art. 179 da Carta Imperial dispusesse que “A Lei será
igual para todos, quer proteja, quer
castigue, e recompensará em proporção dos merecimentos de
cada um”, a escravidão subsistiu até 13
de maio de 1888, quando se promulgou a Lei n. 3.353196.. Isso
demonstra — mais do que uma
maleabilidade da Constituição — a sua falta de efetividade,
pois, se em um primeiro momento o
documento formal não foi capaz de provocar uma
transformação na realidade, em um segundo, a
transformação se deu deixando intacto o documento formal,
mas por meio de Lei
1. Formação Constitucional do Brasil: Constituição
Imperial
• “A Constituição do Império foi, em suma, uma Constituição de três dimensões: a
primeira, voltada para o passado, trazendo as graves sequelas do absolutismo; a
segunda, dirigida para o presente, efetivando, em parte e com êxito, no decurso
de sua aplicação, o programa do Estado liberal; e uma terceira, à primeira vista
desconhecida e encoberta, pressentindo já o futuro, conforme acabamos de
apontar” (BONAVIDES).
• A Constituição brasileira que mais tempo perdurou não o realizou às custas de
seus méritos, mas da distância entre suas disposições formais e o que se
praticava na realidade
Resumo Constituição de 1824: Constituição
Imperial
• A Constituição Política do Império do Brasil, comumente referida como Constituição de
1824, foi a primeira constituição do Brasil, outorgada em 25 de março de 1824 e revogada em
24 de fevereiro de 1891.
• Vigente durante o período do Brasil Império, ela foi uma constituição do tipo outorgada, isso
é, tornada lei pelo poder do imperador Pedro I, que a encomendara ao Conselho de Estado. D.
Pedro havia dissolvido a Assembleia Constituinte em 1823 e, por meio da Constituição de
1824, impôs o seu próprio projeto político ao País. O mesmo D. Pedro viria a outorgar,
em Portugal, a Carta Constitucional de 29 de abril de 1826, inspirada no modelo brasileiro.
• Ela permaneceu em vigor por 65 anos, até logo após a Proclamação da República do Brasil,
quando foi inteiramente revogada pela Constituição de 1891 e, assim, deixou de ser lei.

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