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LEI PROCESSUAL PENAL

1. FONTES
2. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO
3. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
FONTES
Fonte é o início, a origem de algo. É o lugar de onde provem alguma coisa.
São meios de revelação da ordem jurídica, meios ou mecanismos de onde se
tem a construção ou adaptação do direito. É onde o direito nasce.
No caso do Direito Processual Penal, a fonte da lei processual penal
corresponde à origem de onde esta provém e o seu próprio fundamento
jurídico.
Registre-se que a fonte máxima do ordenamento jurídico e, portanto, o
fundamento de validade de todas as normas, é a Constituição, como bem
explica Kelsen na sua teoria do escalonamento jurídico.
FONTE MATERIAL OU DE PRODUÇÃO
É a fonte de produção da norma processual, responsável pelo seu processo de elaboração. Estão
presentes na fase pré-jurídica, fase esta que antecede a existência da norma jurídica. Ou seja, tudo que acontece
em determinado contexto e que serve como válvula motivadora para construir determinado direito será
considerado fonte material. É aquela que cria impulso e fornece matéria suficiente para criação da norma que
não existia anteriormente.
Nesse ponto, importante lembrar que compete privativamente à União legislar sobre direito
processual, conforme estabelece o art. 22, I, da CF/88, não obstante o parágrafo único do mencionado
dispositivo admita que os Estados-membros possam legislar sobre a matéria processual penal em questões
específicas de direito local.
Por outro lado, é de competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal legislar sobre
direito penitenciário e procedimentos, nos termos do art. 24, I e XI, da CF/88.
Ressalta-se que, segundo o art. 84, XII, da CF/88, o Presidente da República pode legislar por meio de
decreto sobre indulto. No entanto, é vedado editar medida provisória sobre direito penal e direito processual,
com fulcro no art. 62, I, “b”, da CF/88.
FONTE FORMAL OU DE COGNIÇÃO
É a fonte de cognição da norma processual, responsável por revelar a norma. São fontes essenciais para o
processamento de adaptação do direito. Na construção da norma, temos as fontes materiais. As formais são
identificadas em um dado contexto jurídico, onde a norma já existe. É a partir da forma jurídica já existente que
passamos para o processo de adaptação. Subdivide-se em:
 Imediata ou direta: são as leis e os tratados. É a norma propriamente dita e posta a ser interpretada e
aplicada. É o próprio documento legal nacional ou internacional.

Exemplo: os tratados de direitos humanos que são equiparados a emendas constitucionais quando
aprovados por meio do procedimento do art. 5°, § 3°, da CF/88. Caso rejeitados, ainda assim são incorporados
como norma supralegal (inferior à CF, mas superior aos demais documentos legais presentes no ordenamento):
Art. 5º(...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.
Mediatas, indiretas ou supletivas: correspondem aos costumes e aos princípios gerais
de direito. São aplicáveis quando há lacuna, ausência de regulamentação por uma norma
imediata.
Alguns se encontram positivados, também podendo ser classificados como fonte formal
imediata, a exemplo dos princípios do devido processo legal e da ampla defesa (art. 5°, LIV, da
CF). Outros são revelados apenas por via adversa, como o costume ou princípios consagrados
na jurisprudência pátria. Exemplo clássico desse último caso é o do princípio da boa-fé objetiva
em não lesar outrem.
Considera-se costume a prática reiterada, constante e uniforme, praticada de modo
geral e desde que haja um liame subjetivo entre os praticantes, que percebem a
obrigatoriedade de realização do ato. O que diferencia o costume do mero hábito é o
sentimento de obrigatoriedade de se realizar o ato. Nesse sentido, dispõe o art. 4º da Lei de
Introdução ao Direito Brasileiro:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
A doutrina classifica o costume da seguinte maneira:
a) ecundum legem ou segundo a lei: o costume foi positivado na lei, de forma
que, na realidade, não haverá integração, mas sim subsunção, pois é a própria
lei que será aplicada;
b) Praeter legem ou na falta de lei: suplementa a legislação, quando esta for
omissa;
c) Contra legem ou contra a lei: o costume comanda o exato oposto do que
prevê o dispositivo normativo. Não é aceito no ordenamento jurídico
brasileiro.

Atenção! O ordenamento jurídico brasileiro não admite o costume revogador,


ou seja, aquele contrário a lei, que é capaz de considerá-la revogada.
Já os princípios gerais do direito, na definição de Nestor Távora e Rosmar Rodrigues
Alencar (p. 58), “são premissas éticas extraídas da legislação e do ordenamento jurídico em
geral. São estabelecidos de acordo com a consciência ética do povo”. Veja-se o que dispõe o
art. 3º do Código de Processo Penal:
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO
O Código de Processo Penal adota o princípio da territorialidade ou da lex fori, tendo em vista que a
atividade jurisdicional consiste em uma manifestação da soberania nacional, não podendo ser exercida além das
fronteiras do Estado. Isso é possível verificar pela redação do caput do art. 1º:
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: [...]

Dessa forma, aplica-se a lei processual penal brasileira a todos os processos em trâmite no território
pátrio. A doutrina aponta, porém, algumas situações nas quais a lei processual penal de um Estado pode ser
aplicada fora de seus limites territoriais:
 Território nullius: expressão que significa “terra de ninguém”, em referência a lugares em que não há soberania
de nenhum país, não havendo jurisdição estrangeira;
 Existência de autorização do Estado no qual vai ser praticado o ato processual de se aplicar a lei processual penal
de outro: como o Estado estrangeiro exerce jurisdição sobre seu próprio território, pode também afastá-la se assim
julgar conveniente.
 Em caso de guerra, em território ocupado.
Entretanto, nos incisos do art. 1º do CPP estão expressas hipóteses
de exceções, pelas quais o CPP não será aplicado, ainda que em território
brasileiro. Vamos estudar cada uma delas:
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código,
ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

Nesses casos, as disposições dos tratados, convenções e regras de


direito internacional afastam o CPP. É com fundamento nisso porque não
há ilegalidade em se utilizar informações compartilhadas por força de
acordo de cooperação internacional em matéria penal.
Outro exemplo dessa situação seria a imunidade diplomática de autoridades estrangeiras, tratada na
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, a qual consiste na prerrogativa de responder no seu país de
origem pelo delito praticado no Brasil, impossibilitando, pois, a aplicação da lei processual penal aos crimes
praticados por tais agentes. Ressalta-se, no entanto, que é possível que o Estado estrangeiro renuncie à
imunidade diplomática de seu agente e permita que ele seja julgado no Estado acreditado.
Atenção! O cônsul também goza de imunidade diplomática, porém esta é restrita aos crimes funcionais, nos
termos da Convenção de Viena de 1963 sobre Relações Consulares.

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos
com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de
responsabilidade (Constituição5, arts. 86, 89, § 2º, e 100);

Os crimes de responsabilidade não são, na realidade, infrações penais, mas sim infração político-
administrativas, passíveis de sanções político-administrativas aplicadas por órgãos políticos. A competência para
julgar o Presidente da República, os ministros de Estado e os ministros do STF em crimes de responsabilidade é
do Senado Federal, nos termos do art. 52, I e II, da CF/88.
Atente-se que se trata dos crimes de responsabilidade em
sentido estrito, que se diferenciam dos crimes de
responsabilidade em sentido amplo, nos quais a qualidade de
funcionário público do art. 327 do CP consiste em elementar do
tipo e configuram crimes comuns, tratando-se de crimes
praticados por funcionários públicos contra a Administração
Pública (arts. 312 a 326 do CP).
A competência da Justiça Militar é tratada nos arts. 124 e 125, § 4º, da CF/88. Nesses casos, aplicam-se as disposições do
Código de Processo Penal Militar. Entretanto, o art. 3º desse mesmo diploma prevê a possibilidade de os casos omissos serem
supridos pela legislação processual penal comum quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal
militar.

Observação: seguindo esse mesmo raciocínio do CPPM, o CPP também fica afastado no caso de leis especiais que tratam de
procedimentos específicos, aplicando-se apenas subsidiariamente, tais como:
 Crimes de competência originária dos Tribunais (Lei nº 8.038/90);
 Infrações de menor potencial ofensivo, às quais se aplicam as disposições da Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº
9.099/90), ainda que julgadas em outro órgão;
 Crimes falimentares (Lei nº 11.105/05);
 Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/06);
 Lei Maria da Penha (Lei nº 11.430/06);
 Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06).

Atente-se que esse rol é exemplificativo. Dessa forma, o CPP aplica-se subsidiariamente às legislações extravagantes que
tratem sobre procedimento.
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição6, art. 122, nº 17);
V - os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nºs. IV e V, quando as leis
especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

Esses dois incisos encontram-se tacitamente revogados, não havendo mais sua aplicabilidade. Explica-
se: na sistemática original do CPP, promulgado em 1942, existia o Tribunal de Segurança Nacional, o qual possuía
competência para julgar os crimes que atentassem contra a existência, segurança e integridade do Estado, a
guarda e o emprego da economia popular.
Porém, com a promulgação da Constituição de 1946, esse tribunal deixou de existir e, portanto, o
inciso IV do art. 1º do CPP não mais se aplica. Atualmente, os crimes contra a segurança nacional estão previstos
na Lei nº 7.170/83, sendo a Justiça Federal competente para seu julgamento, nos termos do art. 109, IV, da
CF/88.
Por sua vez, antes da Constituição de 1988, os crimes de imprensa eram previstos pela Lei nº
5.250/67. No entanto, no julgamento da ADPF 130, o STF declarou que esse diploma não foi recepcionado pela
CF/88. O inciso V do art. 1º do CPP, portanto, também não é mais aplicado.
LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

No Direito Penal, conforme disposição constitucional do art. 5º, XL, a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Logo, a regra é o princípio da irretroatividade, e a
exceção, a novatio legis in mellius. Esse cenário pode ser resumido da seguinte forma:
I. Quando a lei nova cria um novo tipo penal (novatio legis incriminadora): somente tem eficácia
para o futuro, jamais retroage. Desse modo, aplicar-se-á unicamente aos delitos que ocorreram
após a sua entrada em vigor;
II. Quando a lei nova é mais rígida que a lei revogada (lex gravior ou novatio legis in pejus): como
não beneficia a situação do réu, a lei será aplicada somente aos fatos posteriores à sua entrada
em vigor. A lei anterior possui ultratividade;
III. Quando a lei nova é mais benéfica que a lei revogada (lex mitior ou novatio legis in mellius): a
lei mais benéfica retroage automaticamente, dispensando cláusula expressa e atinge, inclusive, a
decisão transitada em julgado sempre para beneficiar o acusado, ainda que o delito tenha sido
cometido na vigência da lei anterior.

ATENÇÃO! A ultratividade se verifica quando a lei revogada continua produzindo efeitos após
sua revogação. É o que ocorre no caso de novatio legis in pejus. Por ser a lei nova mais rígida
que a lei revogada e considerando que o fato típico ocorreu na vigência da lei revogada, aplica-
se esta por ser mais benéfica ao acusado, haja vista a regra que a lei penal mais grave jamais
retroagirá.
A lei processual, no entanto, é regida pelo princípio tempus
regit actum ou princípio da aplicabilidade imediata. Ou seja,
superado o prazo de vacatio legis, nova lei processual é
imediatamente aplicada, conforme disposição do art. 2º do CPP:
Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

O fundamento disso é que se presume que a lei processual


nova seja mais perfeita que a anterior, atende melhor aos
interesses da justiça, traz maior proteção aos interesses das
partes e mais garantias ao acusado.
Do princípio do tempus regit actum, decorrem duas
conclusões:
 Os atos processuais praticados na vigência da lei anterior são
considerados válidos;
 As normas processuais possuem aplicação imediata, regulando o
desenrolar restante do processo.
Assim, a lei processual penal nova alcança os processos já
em trâmite durante a sua entrada em vigor. Para resolver os
conflitos intertemporais que podem surgir, considera-se o
momento da prática do ato processual (tempus regit actum).
INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
Interpretar significa buscar o sentido da norma, seu significado, seu alcance. Atualmente, prevalece o entendimento de
que toda lei necessita de interpretação, por mais clara que seja, afinal, para se concluir que a lei é clara, já se faz necessária
a interpretação.
Nesse sentido, há métodos de interpretação que são classificados das diversas formas pela doutrina. Vamos estudar
algumas delas.
Quanto à sua origem, a interpretação pode ser:
I. Autêntica ou legislativa: realizada pelo próprio legislador, seja na elaboração de lei subsequente ou no
texto da própria lei que interpreta. É a realizada pela mesma autoridade que é responsável pela elaboração
da lei;
II. Judicial ou jurisprudencial: é a emanada pelos órgãos do Poder Judiciário ao analisarem os processos
que lhe são submetidos. Realizada pelos aplicadores do direito, em especial pelos tribunais, que
sedimentam a jurisprudência;
III. Doutrinária ou científica: realizada pelos estudiosos do direito (doutrinadores) na análise das normas
produzidas pelas autoridades competentes. Um exemplo consiste nas exposições de motivos dos códigos,
tendo em vista que não possui natureza de conteúdo legislativo.
Quanto ao modo ou meios empregados, pode ser:
I. Literal, gramatical ou sintática: decorre da literal observação da lei, levando em conta o
significado de cada palavra.
II. Teleológica: mais que a mera observação da literalidade da lei, observa também a sua
finalidade, diga-se, a vontade da lei. Analisa-se o sentido da norma através do entendimento da
finalidade de sua inserção no ordenamento jurídico.
III. Lógica: utiliza as regras de raciocínio lógico e conclusão para se compreender o sentido da
norma.
IV. Histórica: observa o contexto histórico do momento de elaboração da lei. Busca conhecer as
circunstâncias políticas, sociais, econômicas e culturais presentes no momento da edição da norma.
Confere-se importância à análise das exposições de motivos do projeto de lei, das discussões do
parlamento e da sociedade, bem como da evolução histórica do instituto disciplinador da norma.
V. Sistemática: considera a lei como parte de um sistema maior, o ordenamento jurídico, que deve
ser analisado como um todo único. Busca-se a harmonia e unicidade entre todo o ordenamento
jurídico. É a aplicação da teoria conhecida como diálogo das fontes, na qual o ordenamento
jurídico está inteiramente interligado, não podendo ser interpretado apenas em parte,
desconsiderando o todo.
 Quanto ao resultado, a interpretação será:
I. Declarativa: quando há correspondência entre o texto e a vontade da lei. É
quando o intérprete percebe que há coincidência entre o que o legislador quis
dizer e o que realmente ficou no texto legal.
II. Restritiva: quando a lei foi prolixa, ou seja, excedeu em sua vontade, cabendo
ao intérprete podar os excessos. Nesta, o legislador disse mais do que intentava,
sendo necessário restringir a sua aplicação.
III. Ampliativa: quando a lei foi sintética, isto é, deixou a desejar e não externou
de forma suficiente a sua vontade, exigindo do intérprete que amplie o seu
campo de incidência. É aquela que o intérprete percebe que o legislador disse
menos do que pretendia, ampliando o seu conteúdo através da interpretação.
IV. Progressiva: quando a lei não se coaduna com a realidade dos fatos, diga-se,
tornou-se obsoleta, cabendo ao intérprete adaptá-la ao contexto social atual.
Nesse diapasão, dispõe o art. 3º do CPP:
Art. 3º A lei processual penal admitirá
interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais
de direito.
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
Quanto ao resultado, a interpretação pode se classificar da seguinte maneira:
I. Interpretação declaratória: não amplia nem restringe o sentido da norma, porque este corresponde exatamente a sua literalidade.
Portanto, basta declarar a vontade da lei.
II. Interpretação restritiva: a norma disse mais do que pretendia, de forma que o intérprete tem que restringir seu alcance.
III. Interpretação extensiva: admitida pelo art. 3º do CPP acima transcrito, a lei disse menos do que efetivamente deveria dizer, havendo
a necessidade de o intérprete ampliar seu campo de incidência. Ex.: hipóteses de cabimento do RESE previstas no art. 581 do CPP.
É cabível recurso em sentido estrito para impugnar decisão que indefere produção antecipada de prova, nas
hipóteses do art. 366 do CPP.
As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito estão previstas no art. 581 do CPP, sendo esse um rol
taxativo (exaustivo). No entanto, apesar disso, é admitida a interpretação extensiva dessas hipóteses legais de
cabimento.
Se você observar as situações ali elencadas, verá que não existe a previsão de recurso em sentido estrito contra a
decisão que indefere o pedido de produção antecipada de provas.
Apesar disso, será possível a interposição de RESE contra essa decisão com base no inciso XVI do art. 581.
A decisão que indefere a produção antecipada de provas com base no art. 366 deve ser encarada, para fins de
recurso, como sendo uma decisão que “ordena a suspensão do processo” e, além disso, determina se haverá ou
não a produção das provas. Logo, enquadra-se no inciso XVI do art. 581 do CPP.
[STJ. 3ª Seção. EREsp 1630121-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/11/2018 (Info 640)]
As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito trazidas pelo art. 581 do CPP são:
exaustivas (taxativas); admitem interpretação extensiva; e não admitem interpretação analógica.

A decisão do juiz que revoga a medida cautelar diversa da prisão de comparecimento periódico em juízo
(art. 319, I, do CPP) pode ser impugnada por meio de RESE? SIM, com base na intepretação extensiva do art.
581, V.
O inciso V expressamente permite RESE contra a decisão do juiz que revogar prisão preventiva. Esta
decisão é similar ao ato de revogar medida cautelar diversa da prisão. Logo, permite-se a interpretação
extensiva neste caso.
Em suma: é cabível recurso em sentido estrito contra decisão que revoga medida cautelar diversa da
prisão. STJ, 6ª Turma. REsp 1628262/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/12/2016 (Info 596).
ANALOGIA
A analogia é uma forma de integração da norma, consistindo na aplicação a hipóteses não
previstas em lei a disposições legais relativas a um caso semelhante. Portanto, diferentemente
da interpretação extensiva, a analogia não consiste em método de interpretação, mas sim de
integração.
Somente é possível quando observada semelhança entre fatos e causas. É modo de
autointegração da lei, pois, aplicando a analogia, preenche-se uma situação lacunosa a partir
de um dispositivo legal que regula matéria semelhante ou análoga. São espécies de analogia:
 Analogia legis: há uma lacuna na lei, de forma que se aplica a norma que rege situação semelhante.
Estende-se aos casos não expressamente previstos a mesma disposição estabelecida por uma norma que
prevê um caso similar. Segundo Norberto Bobbio, é a analogia propriamente dita.
 Analogia juris: aplicam-se os princípios jurídicos diante da omissão da lei. A partir dos princípios gerais do
direito, o intérprete forma uma regra geral para aplicá-la a um caso concreto que não contém norma
expressa nem semelhante. No processo penal, o princípio do favor rei permite essa criação de normas
gerais.
No Direito Penal, existe vedação à analogia in malam partem,
isto é, em desfavor do réu ou acusado. Já no Direito Processual,
não existe tal proibição. Inobstante, deve-se atentar para a
razoabilidade quando da aplicação de dispositivo análogo, haja
vista a possível restrição ao direito de liberdade do acusado.
Um exemplo de analogia na norma processual penal consiste
na ampliação do rol de sucessores constante no art. 31 do CPP
para abranger o companheiro, por analogia ao cônjuge, tendo
em vista a previsão constitucional sobre a equiparação entre
união estável e casamento.
ANALOGIA X INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA X INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
Analogia é um método de autointegração do direito, em que uma situação X não possui regra que a discipline, mas há situação
semelhante com regra disciplinadora. Nessa situação, usa-se da analogia para aplicar a regra do caso semelhante.
A analogia pode ser legis, em que se utiliza norma análoga, ou pode ser juris, que se dá por método de interpretação indutivo de
princípios de direito não expressos em norma posta.
A analogia em direito processual penal é plenamente viável, pois não se trata de vedação in malam partem. Tal proibição
somente encontra respaldo no direito penal material.
Existem outros dois institutos próximos da analogia, mas que se diferenciam em seu significado, quais sejam, a interpretação
analógica e a interpretação extensiva.
A interpretação analógica consiste em método de interpretação da norma. Diferente da analogia em si, a própria norma
permite expressamente a ampliação de seu alcance. O legislador estabeleceu fórmulas casuísticas e também uma fórmula genérica,
permitindo que tudo aquilo que for semelhante seja abrangido pela norma. Assim, há regra disciplinadora para o caso concreto. Não
se utiliza da norma de caso análogo, mas da própria norma.
Já na interpretação extensiva, que também é método de interpretação, faz-se uso da norma aplicável ao caso concreto, mas que
o legislador deixou a desejar no seu conteúdo. A norma é mais restrita do que seu real significado.
Assim, resumindo, na analogia, não há norma regulamentadora do caso concreto, fazendo-se uso de norma aplicável a caso
semelhante. Na interpretação analógica, há a norma, mas essa é expressa de forma genérica, permitindo a abrangência de tudo que
lhe for semelhante. Na interpretação extensiva, a norma está em meio termo, ou seja, ela existe, e disciplina o caso, mas o legislador
não pensou além na redação da norma, devendo se estender o significado de seus termos legais para que se alcancem os resultados
esperados.
APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC/2015 AO DIREITO
PROCESSUAL PENAL
O art. 15 do CPC/15 dispõe que na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos,
as suas disposições lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
Interpretar literalmente esse dispositivo pode levar à conclusão que ele não pode ser aplicado ao processo penal, afinal,
não é hipótese prevista nele. Entretanto, não é bem assim. Não há razão lógica para não se permitir a aplicação do CPC/15 ao
processo penal, o que é, inclusive, prática recorrente na vigência do código anterior.
No entanto, deve-se ter cautela. A aplicação do novo CPC ao processo penal somente pode ocorrer de maneira
subsidiária, ou seja, aplica-o analogicamente no caso de inexistência de disposição específica, apenas quando a lei for omissa.
Por exemplo, não se aplica o art. 219 do CPC/15, o qual determina a contagem dos prazos em dias úteis, considerando que
existe regra específica no art. 798 do CPP determinando que todos os prazos serão contínuos, não se interrompendo por férias,
domingo ou dia feriado (Infos 939 e 895 do STF).
Por outro lado, é cabível a aplicação analógica do art. 229 do CPC/15 ao processo penal, permitindo-se que litisconsortes
de procuradores diferentes, de escritórios de advocacia distintos, tenham prazos contados em dobro para todas as suas
manifestações, desde que o processo seja físico (Infos 829, 797 e 702 do STF).
Atividade III
 1) Disserte sobre o Inquérito Policial, apresentando
suas características e prazos.
 2) O Delegado de policia poderá arquivar um
inquérito policial tendo em vista considerar que o
investigado não praticou o crime? Justifique.

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