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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

UNIDADE ACADÊMICA DE SERRA TALHADA


DISCIPLINA DE ICTIOLOGIA

Alimentação

Prof. Elton França


Introdução ao estudo...

Conceitos:

Alimentação: Refere-se ao processo de busca, captura


e ingestão de alimento por parte do organismo.

Alimento: Qualquer substância que introduzida no tubo


digestivo seja possível de ser assimilada.

Dieta: Conjunto de alimentos que o organismo ingere


habitual ou ocasionalmente em determinada proporção e
que lhe permite a manutenção e desenvolvimento de
suas funções vitais.
Introdução ao estudo...

ECOLOGIA TRÓFICA?

ALIMENTAÇÃO NATURAL?

• Refere-se ao conjunto de estudos relacionados à


anatomia do trato digestivo, passagem do alimento pelo
trato, dieta e comportamento do peixe para obter o
alimento.

NUTRIÇÃO NO INDIVÍDUO

F PREDADOR ALIMENTAÇÃO TRANSFERÊNCIA


A P DE ENERGIA
R NATURAL
U E
N S
A
A ECOLOGIA
NO ECOSSITEMA
TRÓFICA
Introdução ao estudo...

Anatomia dos órgãos envolvidos com


alimentação

Indica o tipo de alimento preferido;

Orienta estudos sobre sua alimentação.


Introdução ao estudo...

Aparelho Digestivo: Divisão

 Baseado em critérios anatômicos e histológicos

 Classificação segundo BÉRTIN (1958) :

- Intestino cefálico  cavidade buco-faringeana


(boca e seus anexos + faringe) ;
- Intestino anterior  esôfago e estômago;
- Intestino médio  intestino propriamente dito;
- Intestino posterior  reto
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Aparelho Digestivo
Conceitos:
- Trato digestivo  órgãos compreendidos entre a boca e o
intestino (reto)
- Tubo digestivo  órgãos do esôfago até o reto
Introdução ao estudo...

O que define é a associação entre sua anatomia com a seleção e captura dos
alimentos e a sua preparação pré-digestiva

CAVIDADE ORO-BRANQUIAL
 

 Boca
Normalmente observa-se:
Peixes carnívoros  boca terminal
Peixes iliófagos  boca ventral
   Lábios
Carnívoros  delgados e aderidos a maxila e presença de
corpúsculos gustativos (localização, seleção e captura)
Iliófagos  protácteis
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 Dentes

Em geral numerosos
- exceções: a carpa, a quimera e ausência total

A localização se faz em qualquer osso da cavidade bucal ou


faríngica
 maxilares, lábios, ossos palatinos, vômeres, faringe
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Tipos de dentes quanto à localização na cavidade


bucofaringeana:
 

a) Orais
- Finalidade de trituração ou mastigação do alimento ingerido

consonância com adaptações anatômicas presentes em


outros segmentos do ap. digestivo

- Podem ser ainda:


         mandibulares  presentes no maxilar e pré-maxilar
         bucais  presentes no palatino e assoalho da boca
 
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b) Faringianos

- Encontram-se entre o 3º, 4º e 5º arcos branquiais sup.


inf.

- Estão relacionados:
em espécies carnívoras, a apreensão do alimentos
em herbívoros, a função de triturar /rasgar o alimento
em onívoros, na maceração de organismos de corpo mole
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Classificação dos dentes quanto à forma:


 
1. Vista frontal da boca, mostrando uma única série de dentes
tricuspidados no pré-maxilar e no dentário, e uma série de dentes no
palato

2. Dentes caninos alternados com cônicos

3. cuspidados Multicuspidados

Além desses: viliformes, truncados, molariformes


 
Introdução ao estudo...

Relação com os diferentes hábitos alimentares:

- Carnívoros apresentam em geral orais viliformes pontiagudos


ou caninos

- Herbívoros apresentam dentes pequenos (mordiscar)

- Onívoros apresentam dentes cônicos combinados com granulares


 
 

 
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Introdução ao estudo...
Introdução ao estudo...

Dentes – vários tipos de acordo com o hábito alimentar.

A forma dos dentes não é só conseqüência do tipo de


alimento, podendo depender também das características do
substrato.
Introdução ao estudo...

Língua = espessamento do assoalho bucal


- possue células mucosas, botões gustativos e até dentículos
 Aparelho branquial
  -Rastros branquiais  prevenir o refluxo dos alimentos através da
filtragem e auxílio na deglutição
- Filtro branquial  intercalação entre os rastros de um arco e outro

 
 

 
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Relação com o hábito alimentar :


-  carnívoros  desenv. pontiagudos e recobertos com dentículos
-  onívoros  + curtos
-  iliófago  filtração
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Esôfago

- geralmente é um tubo curto, de parede espessa, de grande capacidade de


distensão e de difícil identificação.
- em alguns casos ele se apresenta longo
- mucosa esofágica sob a forma de pregas longitudinais
- epitélio estratificado e isento de glândulas (aglandular)
  - Funções: transporte, lubrificação e deglutição do alimento
 
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 Estômago

- é o órgão que sofre as mais pronunciadas adaptações trópicas


e correlações com a sua forma segundo a natureza da dieta
 
Observa-se que:

Em carnívoros: apresenta-se normalmente reto e longo


Em onívoros: apresenta-se em forma de Y ou J
Em iliófagos: apresenta uma estrutura conhecida como moela
 

 
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 Estômago

É dividido em 3 regiões:

         - cárdica
         - cecal: forma sacular
- pilórica: limítrofe entre o estômago e o intestino médio

 
Introdução ao estudo...
Introdução ao estudo...

Inicia-se na válvula pilórica ou região dos cecos pilóricos e corresponde ao


intestino verdadeiro

Onde ocorrem os processos químicos da digestão


e absorção de alimentos

O comprimento do intestino varia conforme o hábito alimentar dos peixes:

+ curto  geralmente carnívoros e ictiófagos


+ longo geralmente herbívoros e iliófagos
intermediário  geralmente onívoros
 
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Cecos Pilóricos
 São evaginações digiformes da parede intestinal
 Apresentam-se sob vários nº e formas nas diferentes espécies
 Funções:
- secreção de muco para hidrólise de componentes protéicos
     - aumento da superfície de absorção de nutrientes
    - armazenar alimento
  - aumentar o pH do bolo alimentar para torná-lo alcalino e assim deixá-lo pronto
para ser rapidamente aproveitado desde a porção inicial do intestino
Introdução ao estudo...

Glândulas Anexas
 Fígado, Pâncreas e Vesícula biliar
Os peixes não possuem glândulas salivares, mas em compensação têm glândulas
de muco na cavidade oro-branquial

Fígado: preparar as substâncias nutritivas, provenientes da absorção intestinal,


para serem aproveitadas pelo organismo e estocagem de gordura;
As vias biliares presentes no fígado convergem para o ducto biliar que leva a bile
até a vesícula biliar.
vesícula biliar
Órgão sacular próximo ao intestino médio
Função de concentração e armazenagem da bile sintetizada
no fígado
Pâncreas é geralmente difuso no cecos pilóricos
Introdução ao estudo...
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INGESTÃO

Corresponde ao processo da tomada de alimentos e sua


localização no tubo digestivo em condições de iniciar a
digestão.

Disponibilidade de alimento

comportamento
Competição Predação
alimentar

Experiência
Introdução ao estudo...

Apetite – estímulo determinado pela necessidade de obter


alimento:
Situações estressantes: deficiência de oxigênio, variações
extremas de temperatura, excesso de catabolitos e outros
tóxicos, podem diminuir e até anular o apetite.

Procura – é orientada pelos órgãos dos sentidos (visão,


linha lateral, ouvido, barbelas ou raios).

Localização e captura:
Ausência de luz: tato, olfato, percepção elétrica e percepção
das ondas de pressão;
Presença de luz: visão
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• Manipulação oro-branquial – ajuda de dentes ou


rastros;

• Saciação - é a diminuição ou completa perda do


apetite após ingerir alimento de forma satisfatória.

• Conversão alimentar – o peixe consome energia que


tem que ser compensada pela energia obtida pelo
alimento.

• Seletividade – é um comportamento que determina a


escolha do alimento mais apropriado às necessidades
do peixe.
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Pode ser:

 Por palatabilidade : se o objeto abocanhado deve ou


não ser ingerido, de acordo com o grau de
sensibilidade do paladar;
 Por tamanho: existe um tamanho máximo de presa
em relação ao tamanho da boca do predador;
 Por qualidade: consiste na procura do alimento mais
apropriado ao potencial digestivo e à conversão
alimentar do predador.
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Dieta Alimentar

De acordo com a diversidade dos alimentos, os peixes


são divididos em:

• Eurifágicos;

• Estenofágicos;

• Monofágicos.
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De acordo com a natureza do alimento,
as espécies são classificadas em:

1. Planctófagos
Segundo suas estratégias,
se classificam em:
 Seletores: selecionam suas presas individualmente;
 Filtradores passivos: abrem a boca e nadam, deixando que os
rastros concentrem as partículas;
 Filtradores ativos ou bombadores: o peixe fica parado ou
ligeiramente em movimento fazendo bombear água com
movimentos ativos da cavidade oro-branquial.
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1. Planctófagos

1.1 Fitoplânctófagos:

 Nível mais baixo da cadeia alimentar: fitoplâncton


 Rastros branquiais para filtragem e seleção das algas da água

1.2 Zooplântófagos:

 Zooplâncton  2º grau da cadeia alimentar


 tb possuem rastros desenvolvidos
 Os dentes estão ausentes ou são diminutos
 A boca é pequena e protátil (capaz de projetar-se)
Introdução ao estudo...

2. Predadores

Alimentam-se de organismos macroscópicos


Podem ser:

- Carnívoros (qualquer tipo de animal) ex. Piranhas


- Ictiófagos ou piscívoros (outros peixes) ex. Dourado
- Carcinófago (camarões)
- Malacófago (moluscos)
- Teutófago (cefalópodos)
- Insetívoro (insetos)

Dentes fortes (caninos, incisivos) dispostos até os arcos branquiais


Introdução ao estudo...

3. Herbívoros

Alimentam-se de vegetais superiores, macrófitas aquáticas ou


de frutos e sementes que caem na água

Quanto aos mecanismos digestivos usados para destruir a celulose da


célula vegetal, podem ser classificados em:

• Os que digerem o alimento em estômagos com alta acidez;


• Que trituram o alimento por meio de dentes faringeanos;
• Que trituram o alimento por meio de estômago muscular;
• Que mantêm microorg. fermentadores no intestino.
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3. Herbívoros

Boca desenvolvida com pequenos nº de dentes incisivos.

Na natureza, há peixes herbívoros que precisam complementar


suas dietas com proteína animal.

Hyporhamphus melanochir é herbívoro de dia e carnívoro de


noite.
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4. Detritívoros

Peixes que se alimentam de matéria orgânica de origem animal em


putrefação e/ou matéria vegetal em fermentação.

Alguns detritívoros, talvez todos, têm suas dietas complementadas com


algas e bactérias, como Mugil cephalus, Tilapia mossambica e Hutilus
rutilus.
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5. Iliófagos

Ingerem lodo*, pequenos moluscos, algas, insetos aquáticos, anelídeos


presentes no fundo dos ambientes aquáticos

Sentidos de olfação e gustação bastante apurados

* Principais alimentos incluídos no lodo:


- Org. microscópicos de superfície; detrito planctônico sedimentado; detrito de
macroflora; detrito de fauna nectônica e bentônica;detrito orgânico e inorgânico.
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5. Iliófagos

 Exemplos de peixes iliófagos:

Curimbatá (Prochilodus scrofa)  possuem moela capaz de “digerir” a


carapaça silicosa das diatomáceas

Saguirú (Curimatus sp)  peixe destituído de dentição

Cascudo (Plecostomus sp)  alimenta-se exclusivamente de algas


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6. Onívoros

Peixes que exploram alimento animal e vegetal vivo, em partes bastante


equilibradas.

Onívoras com tendência à carnívora ou à herbívora

Características:
- boca de tamanho mediano
- dentes molariformes (triturar e roer)
- na falta de org. sólidos podem filtrar e ingerir org. planctônicos (tambaqui
e tilápia)
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Herbívoros

Iliófagos

Detritívoros
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Carnívoros

Especialistas – lepidófagos,
limpadores
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Onívoro
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Mudanças na dieta

• Mudanças na dieta dos peixes são geralmente de


origem
 Ontogenética;
 Espacial e/ou;
 Estacional.
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METODOLOGIAS

Retirada e conservação do conteúdo


• Melhores informações são obtidas interrompendo o
processo digestivo imediatamente após a captura;
• Imersão do estômago em formalina ou sua injeção
dentro do estômago ou na cavidade celomática;
• Congelamento do estômago.
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• Identificação do conteúdo:

 Identificação dos itens até o menor nível taxonômico possível;


 As dificuldades de identificação aumentam de acordo com o grau de digestão.

Graus de digestão (Zavala-Camin,1996)


Grau Característica
1 Exemplar não digerido
2 Partes externas parcialmente
digeridas
3 Partes externas e massa
muscular parcialmente digeridas

4 Somente resta o esqueleto axial


e parte da massa muscular

5 Somente restam fragmentos do


esqueleto axial
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Graus de repleção estomacal (Gomes e Verani,2003)

Grau Característica
0 Estômago vazio
1 Estômago parcialmente
vazio (< 50%)
2 Estômago parcialmente
cheio (> 50%)

3 Estômago cheio
(> 80%)
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Parauchenipterus galeatus
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Acestrorhyncus lacustris

Tetragonopterus chalceus
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Índice de repleção gástrica (Zavala-Camin,1996)

Refere-se à intensidade na tomada de alimento.

We
IR  .100
Wp

Onde:

We: massa do estômago em gramas,


Wp: massa do peixe em gramas.
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Quociente intestinal (Barbieri et al., 1994)

Representa a relação entre o comprimento do


intestino e o comprimento padrão do peixe.

CI
QI 
Cp
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Métodos Clássicos

•Método qualitativo: freqüência de ocorrência (FO);


•Método quantitativo: freqüência númerica,
volumétrico (peso ou gravimétrico).

Freqüência de ocorrência (FO %),


Zavala-Camin (1996)

Assinala a presença e conseqüentemente a ausência, de


espécies ou itens encontrados nos estômagos,
permitindo informações qualitativas sobre a dieta do
predador. Corresponde ao número de estômagos onde
ocorre determinado item alimentar em relação ao
número de estômagos com alimento.
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Freqüência númerica, Zavala-Camin (1996)

Conta os indivíduos ou itens, permitindo estimativas


sobre seletividade ou disponibilidade das espécies
usadas como presas.

Volumétrico ( Kawakami e Vazzoler, 1980)


Considera o volume de dado item alimentar em
relação ao volume de todos os itens alimentares nos
estômagos.
 Peso;
 Gravimétrico.
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Método de Pontos (Zavala-Camin,1996)

Consiste em estimativas subjetivas de volumes de


conteúdo estomacal, os quais são agrupados e cada
grupo recebe um valor mais simples (ponto).

Porcentagem 25 50 75 100%
estimada

Diâmetro do 1 2 3 4 cm
estômago

Volume 0,5 4 14 33 cm3


aproximado
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Índice de importância alimentar (IAi)


(Kawakami & Vazzoler, 1980),

Fi.Vi
IAi  n

 ( Fi.Vi )
i 1

Onde:
IAi = índice alimentar do item i
i = 1,2,...n = itens alimentares
Fi = freqüência de ocorrência (%) de cada item
Vi = volume (%) atribuído a cada item
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