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A Psicologia da Libertação

Ignacio Martín-Baró

Fonte:
Martín-Baró, I. (2017). Crítica e Libertação na Psicologia: estudos
psicossociais. Petrópolis: Vozes. Capítulos 1, 3 e 5.
Capítulo 3 – A desideologização como
contribuição da Psicologia Social para
o desenvolvimento da democracia na
américa latina
Trabalho publicado originalmente em 1985
Obstáculos à Democracia* na América
Latina
- Condições objetivas:
• Diferenciação de poder social (o poder nas mãos de poucos - desigualdade)
• Controle hegemônico dos Estados Unidos (respaldado na política de segurança
nacional: antes ditadura capitalista à democracia socialista)
• Poder militar (mantido pela oligarquia econômica e pela hegemonia norte-americana)

- Condições subjetivas:
• Fatores subjetivos e intersubjetivos (Cultura e Consciência coletiva / Universo
simbólico / Sistema ideológico - relacionados às condições específicas de cada pais).
• “...possivelmente, as condições subjetivas constituem o obstáculo mais imediato, pois
limitam o universo de sentido das maiorias populares, alienando os seus marcos de
referência e inibindo possíveis movimentos de mudança” p. 55
*Democracia
Consiste “em um sistema de regulação da vida social no qual o poder e
a autoridade de governar residem nos próprios sujeitos governados”
Obstáculos à Democracia* na América
Latina
• As condições objetivas são os principais obstáculos para os regimes
democráticos nos países da América Central.
• As condições (inter)subjetivas são menos decisivas, mas não podem
ser desprezadas.
• “...é necessário evitar reducionismos psicologistas que colocam nas
pessoas causalidades que são próprias das estruturas sociais. Todavia,
não convém (...) negar o papel que a cultura desempenha na vida
humana ou a influência parcialmente autônoma que a consciência
coletiva pode ter sobre os processos históricos” p. 59
Ideologia
• Para Martín-Baró, a ideologia é produto da totalidade dos interesses
sociais e é constituída por meio do sentido e da ação pessoal. A
ideologia se manifesta em esquemas cognitivos, afetivos e
valorativos dos indivíduos, orientando tanto a interpretação como a
atuação na realidade.

• Na ideologia "as forças sociais se convertem em formas concretas de


viver, pensar e sentir das pessoas, isto é, a objetividade social se
converte em subjetividade individual e, ao atuar, a pessoa se realiza
como sujeito social“.

Fonte: Martins, K. O. & Lacerda Junior, F. (2018). Ideologização da violência no capitalismo: contribuições da psicologia da libertação de Martín-Baró.  Gerais: Revista
Interinstitucional de Psicologia, 11(2), 221-235.
Ideologia
• “Toda ordem social exige a elaboração de um universo simbólico que
cumpre várias funções críticas para sua sobrevivência e reprodução” p. 59
• FUNÇÕES QUE PODEM SER ATRIBUÍDAS À IDEOLOGIA:
a) Dar um sentido às grandes questões da existência humana;
b) Oferecer uma interpretação da realidade;
c) Justificar a ordem social existente;
d) Legitimar essa ordem como válida para todos;
e) Permitir a interiorização normativa da ordem social pelos grupos e
pessoas;
f) Exercer na prática a relação de domínio existente;
g) Reproduzir o sistema social estabelecido.
“... ao exercer estas funções, a ideologia operacionaliza e, ao
mesmo tempo, oculta os interesses das classes dominantes,
gerando falsa consciência, isto é, uma distorção na relação entre a
configuração da realidade e sua representação na consciência dos
grupos e das pessoas” p. 59
“A cultura dos povos latino-americanos não é a razão básica de
seu subdesenvolvimento, tal como afirmam certos enfoques
psicologistas (cf. DURÁN, 1978). Todavia, é correto afirmar que se
essa cultura consegue limitar o universo de sentido em que os
grupos e as pessoas se movem, distorcendo a percepção da
realidade, então ela consegue inibir processos de mudança.” p. 60
A Tarefa da Psicologia Social
Diante dos 3 grandes fatores objetivos não podemos fazer nada, mas
podemos fazer muito diante dos fatores subjetivos.
A Psicologia Social objetiva examinar o que há de ideológico no
comportamento humano, tanto das pessoas como dos grupos.
Considerando que toda ação humana é a tentativa de articular os
interesses sociais aos individuais, à Psicologia social cabe estudar o
momento em que o social se torna individual e o individual se torna
social.
Trata-se de analisar as influências sociais, intergrupais ou interpessoais
que emergem em uma histórica concreta, em uma circunstância e
situação específicas.
p. 60
A Tarefa da Psicologia Social
Desmascarar toda ideologia antipopular (que justifica e viabiliza a opressão e
exploração dos povos)
Desvelar o que há de alienador na vida cotidiana (que fundamentam a
passividade, a submissão e o fatalismo)
Promover um processo de desideologização.
• Desideologizar é o processo de desnaturalizar o senso comum e de efetivar
a denúncia de obstáculos objetivos à superação das desigualdades sociais.
• É uma tarefa que se relaciona com a conscientização, ou seja, o
desenvolvimento de uma consciência crítica com o fim de contribuir na
compreensão daquilo que é intolerável e desumano na normalidade
cotidiana imposta como natural (Martín-Baró, 1986).
Fonte: Martins, K. O. & Lacerda Junior, F. (2018). Ideologização da violência no capitalismo: contribuições da psicologia da libertação de Martín-Baró. Gerais: Revista
Interinstitucional de Psicologia, 11(2), 221-235.
• Um fazer desideologizante demanda que a Psicologia Social:

a) Assuma a perspectiva das maiorias oprimidas (perspectiva do povo);

b) Desenvolva pesquisas sistemáticas sobre os mecanismos que mantêm o


povo alienado diante da sua própria realidade (aprofundamento sobre o
conhecimento de sua realidade, conhecer suas potencialidades);

c) Utilize de forma dialética esse conhecimento, comprometendo-se com


os processos históricos de libertação popular (compromisso crítico com
um processo que dá ao povo o poder sobre sua própria existência e seu
destino) Exemplo: método alfabetizador de Freire com palavras
geradoras.
“Se o que queremos é contribuir verdadeiramente ao desenvolvimento
da democracia, isto é, ajudar para que o povo governe a si mesmo, a
primeira coisa que devemos fazer é assumir os seus interesses como
próprios. Somente então nossos olhos poderão descobrir não apenas os
véus que obscurecem a consciência popular e impedem que eles a
assumam as rédeas de seu próprio destino, mas também os véus que
cobrem nosso próprio conhecimento e não nos permitem contribuir
significativamente às lutas populares por justiça, paz e democracia.” p. 64

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