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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO


Profa. Ms. Vivian Galvão Milani

2020

AULA 02.
INFRAÇÕES
ADMINISTRATIVAS
AMBIENTAIS

1
PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA INTERVENÇÃO
DO PODER PÚBLICO

A intervenção OBRIGATÓRIA do Poder Público na


defesa do meio ambiente é norma instituída pelo
caput do art. 225 da Constituição Federal.

“Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações.”

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Os mecanismos capazes de afastar/reparar
os danos ambientais foram proclamados no
§ 3º do art. 225:

“As condutas e atividades


consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.”

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DANOSIDADE AMBIENTAL

Gera repercussão jurídica TRIPLA


(responsabilizando-se o poluidor, por um mesmo ato, alternativa ou
cumulativamente)

 na esfera PENAL (com possibilidade de detenção e


multa)

 na esfera CIVIL (pagamento de indenização ou


cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer)

 na esfera ADMINISTRATIVA (multa, interdição e


outros)

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FUNDAMENTOS DA TUTELA
ADMINISTRATIVA DO
AMBIENTE:

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 Administração Pública:

Tem suporte legal e estabelecimento de limites


no contexto dos direitos e deveres
concernentes ao bem comum da sociedade,
assim, Direito e Administração não se excluem
e não se esgotam: complementam-se.

 Meio ambiente:

Bem essencialmente difuso (de natureza


indivisível),
De caráter transcendente a interesses
particulares e localizados, NECESSITA DE UMA
TUTELA DO ESTADO, referencial de direitos e
deveres.

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PRERROGATIVA DO PODER PÚBLICO –
PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

A noção de poder de polícia é uniforme


segundo a maioria dos doutrinadores
brasileiros e estrangeiros, assim entendido:

Exercício legítimo do Poder de Polícia

 pelo órgão competente


 nos limites da lei aplicável
 com observância do processo legal
 sem abuso ou desvio de poder

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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA
AMBIENTAL

A tutela administrativa do meio ambiente usa


instrumentos:

a) PREVENTIVOS

 limitações administrativas;
 desapropriação;
 estudos de impacto ambiental;
 licença ambiental;
 tombamento;
 inquérito civil.

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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA
AMBIENTAL

b) REPRESSIVOS:

 multas;

 interdição temporária ou definitiva de


atividade nociva ao meio ambiente;

 perda ou restrição de incentivos e benefícios


fiscais concedidos pelo Poder Público;

 perda ou suspensão de participação em linhas


de financiamento oficiais de crédito.

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Ao contrário das sanções civis e
penais, só aplicáveis pelo Poder
Judiciário, as penalidades
administrativas são impostas pelos
próprios órgãos da Administração direta
ou indireta da União, do Distrito Federal,
dos Estados e dos Municípios.

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INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA
Art. 70, Lei 9605/98

“Toda AÇÃO ou OMISSÃO que viole AS


REGRAS jurídicas de uso, gozo, promoção,
proteção e recuperação do meio ambiente,
conforme disposição legal.”

 Segundo o Aurélio INFRAÇÃO é todo ato ou


efeito de descumprir, desobedecer uma
REGRA.

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CONSEQÜÊNCIAS DA ADOÇÃO DA TEORIA DO
SISTEMA HÍBRIDO DA RESPONSABILIDADE
ADMINISTRATIVA AMBIENTAL

1. Desnecessidade de investigação da
culpa
A Lei 9.605/98, não exigiu a
configuração de culpa, senão em
casos excepcionais tal como
previsto no §3º do art. 72, tocante à
multa simples que faz menção à
negligência ou dolo.

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2. Inversão do ônus da prova – o
processo de apuração de uma conduta
infracional é instaurado a partir da
prática de um ato administrativo: a
lavratura do auto de infração.

Na qualidade de ato emanado da


autoridade competente, goza do
atributo da presunção de legitimidade,
cabendo desta forma ao suposto infrator
o ônus da prova de demonstrar estarem
ausentes os pressupostos jurídicos da
responsabilidade administrativa.

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3.Incidência das excludentes da responsabilidade
(caso fortuito, força maior e fato de terceiro)

FORÇA MAIOR – se prende ao fato da natureza,


superior às forças humanas.

CASO FORTUITO – diz respeito à obra do acaso.

Regra geral, a responsabilidade administrativa pode


ser afastada quando se configurar uma hipótese de
força maior, caso fortuito ou fato de terceiro,
todavia, incumbe ao administrado demonstrar,
perante a Administração Pública, que o seu
comportamento não contribuiu para a ocorrência da
infração.

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Como?

a) Demonstrando que de forma diligente e objetiva, havia


tomado todas as medidas disponíveis e exigíveis para evitar
e prevenir o dano, não tendo cometido assim, NA ESFERA
ADMINISTRATIVA, qualquer ilicitude;

b) Que não concorreu, tampouco se beneficiou da infração


cometida por terceiro - AUTORIA DA CONDUTA;

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SANÇÕES
ADMINISTRATIVAS EM
ESPÉCIE
(previstas no art. 72 e seguintes da Lei 9.605/98)

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1. Advertência (de índole essencialmente pedagógica e
preventiva)
Þnão precisa necessariamente preceder a aplicação
das penalidades mais graves;

Þpor sua natureza, cabe nas infrações mais leves ou


nas cometidas por infratores primários;

2. Multa simples
ÞSerá aplicada sempre que o agente, por negligência ou
dolo (exceção à regra objetiva - §3º do art. 72, da Lei
9.605/98), não sanar as irregularidades no prazo
consignado na advertência ou opuser embaraço à
fiscalização, mas não só neste caso, apreciadas às
peculiaridades do caso concreto.

ÞO §4º do art. 72, da Lei 9.605/98, permite a


conversão da multa simples em serviços de
preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental.

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Lei 6514/08
Art. 140. São considerados serviços de
preservação, melhoria e recuperação da qualidade
do meio ambiente:
I - execução de obras ou atividades de
recuperação de danos decorrentes da própria
infração;
II - implementação de obras ou atividades de
recuperação de áreas degradadas, bem como de
preservação e melhoria da qualidade do meio
ambiente;
III - custeio ou execução de programas e de
projetos ambientais desenvolvidos por entidades
públicas de proteção e conservação do meio
ambiente.
IV - Revogado
18
• O autor deverá apresentar um pré-projeto
acompanhado do requerimento.
• Havendo uma decisão favorável ao
requerimento de conversão da multa , as
partes celebrarão um termo de compromisso,
cuja assinatura, implicará na renúncia do
direito de recorrer administrativamente.
• A celebração do termo de compromisso não
põe fim ao processo administrativo.

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O Descumprimento do Termo de
Compromisso implica:

I) Na esfera administrativa a imediata


inscrição do débito em dívida ativa para
cobrança da multa resultante do auto de
infração em seu valor integral;
II) Na Esfera Civil, a imediata execução
judicial das obrigações assumidas, tendo
em vista seu caráter de título executivo
extrajudicial.

A conversão da multa não poderá ser


concedida novamente ao mesmo infrator
durante o período de 5 anos.

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3. Multa diária

ÞSerá aplicada nos casos de infração


continuada, caracterizada pela permanência da
ação ou omissão, até a sua efetiva cessação ou
até a celebração, pelo infrator, de termo de
compromisso de reparação de dano com o órgão
ambiental competente, com vistas a sanar a
irregularidade encontrada.

Ex.: a operação de uma atividade sem a licença


ambiental exigível ou o funcionamento de uma
atividade não provida de meios adequados para
evitar a emissão de poluentes.
Continua..

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4. Apreensão de animais, produtos e
subprodutos da fauna e flora,
instrumentos, petrechos,
equipamentos ou veículos de
qualquer natureza utilizados na
infração.

A destinação dada está descrita no


art. 25 da Lei 9.605/98 (liberação de
animais, doação de produtos etc.).

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 Osanimais apreendidos serão libertados em
seu habitat, caso se encontrem em
condições de ser imediatamente liberados,
ou seja, sadios e que sua espécie ocorra no
local da apreensão.

 Caso contrário, poderão ser entregues a


jardins zoológicos, fundações, entidades de
caráter científico, centros de triagem,
criadouros regulares ou entidades
assemelhadas.

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 Tratando-se de produtos perecíveis ou
madeira, serão esses avaliados e doados a
instituições científicas, hospitalares,
penais e outras com fins beneficentes.

 Os produtos ou subprodutos da fauna e da


flora não perecíveis serão destruídos ou
doados a instituições científicas, culturais
ou educacionais. Ex: Pena, pluma, ossos,
chifre, etc.

 Os instrumentos utilizados na prática de


infração, serão vendidos, ou garantida sua
descaracterização por meio da reciclagem
quando o instrumento puder ser utilizado
na prática de novas infrações.
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. Destruição ou inutilização do produto
5

Há de se distinguir, necessariamente, se os produtos e


instrumentos são do infrator ou de terceiro e possibilitar a ampla
defesa e o contraditório, sob pena de macular o procedimento.

Os produtos, subprodutos e instrumentos utilizados na prática da


infração, poderão ser destruídos ou inutilizados quando:
I) A medida for necessária para evitar o seu uso e
aproveitamentos indevidos nas situações em que o transporte e a
guarda forem inviáveis em face das circunstâncias;
II) Possam expor o meio ambiente a riscos significativos ou
comprometer a segurança da população e dos agentes públicos
envolvidos na fiscalização

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 Em se tratando de apreensão de
substâncias ou produtos tóxicos, perigosos
ou nocivos a saúde humana, ou ao meio
ambiente, as medidas a serem adotadas,
inclusive a destruição, serão determinadas
pelo órgão competente e correrão as
expensas do infrator.

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6. Suspensão de venda e fabricação do
produto

ÞEssa penalidade é aplicada quando o


produto não estiver obedecendo às
prescrições legais ou regulamentares.

ÞLimitada a produtos que possam causar


danos ao meio ambiente.

ÞInterromper o uso contínuo de


matéria-prima e produtos de origem
ilegal

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7. Embargo ou interdição de obra ou
atividade

Þ No que tange às obras, o embargo impede o seu


prosseguimento e é geralmente imposto no caso de
edificação feita sem a devida licença.

Þ Só deve haver embargo ou interdição de atividade, se a


degradação puder ser revertida e o empreendimento
puder ser licenciado. Caso contrário, a pena a ser
aplicada é de demolição de obra, suspensão total das
atividades ou restrição de direito.

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8. Demolição de obra

Toshio Mukai: “sendo a mais rigorosa sanção administrativa,


somente cabe sua aplicação, com bastante prudência, em casos
extremos, sendo imprescindível fazer a seguinte distinção:

EM SE TRATANDO DE OBRA LICENCIADA  A ordem de


demolição somente será expedida após processo regular, com
direito de defesa, na qual se desconstitua a licença (por anulação
ou cassação) e, não sendo efetuada a demolição pelo próprio
interessado, caberá a demolição compulsória.

EM SE TRATANDO DE OBRA CLANDESTINA  A demolição é


efetivada mediante ordem sumária da Administração. No que
tange às obras, o embargo impede o seu prosseguimento e é
geralmente imposto no caso de edificação feita sem a devida
licença.

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Precedente do TJ de São Paulo:

“É possível a concessão de liminar determinando


a demolição de residência edificada
clandestinamente em área de proteção ambiental,
quando o particular foi devidamente notificado e
teve a oportunidade de exercer a mais ampla
defesa administrativa.

A tolerância com edificações clandestinas em


áreas de preservação permanente fará com que,
estimulados pelo uso de meios retardatários da
execução da liminar demolitória, novas violências
contra o meio ambiente sejam perpetradas, sem
prejuízo de toda a comunidade”. (AI 96.001089-0, 3,
rel. Des. Eder Graf, j. 25.02.1997)

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9. Suspensão parcial ou total das atividades

ÞVisa impedir a continuidade de processos


produtivos em desacordo com a legislação
ambiental.

ÞA suspensão da atividade cabe


especialmente quando há perigo iminente para
a saúde pública ou grave risco de dano
ambiental. Cabe também, nos casos em que as
multas anteriormente impostas não tiverem
bastado para a correção do infrator.

ÞNão implica necessariamente o fechamento


do estabelecimento como um todo, mas pode
ser aplicada apenas em relação às máquinas ou
aos equipamentos poluidores, por exemplo,
podendo prosseguir o restante da atividade.
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10. Restritiva de direitos

a) Suspensão ou cancelamento de registro,


licença, permissão ou autorização  a
aplicação de tal pena deve ser
proporcional à lesão ao direito, decorrente
de procedimento de apuração das
infrações ambientais devidamente
instruído. Caso contrário, estar-se-á
diante de abuso de poder ou desvio de
finalidade, possibilitando-se a sua
reversão pelo Poder Judiciário.

Continua...
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b) Perda ou restrição de incentivos e benefícios
fiscais e financeiros  para que seja posta em
prática, é necessário que a Fazenda Pública ou
a entidade financeira seja comunicada,
necessário assim, uma organização para que a
autoridade concedente do favor ou crédito
tenha a informação, sem a qual será
impossível cancelar ou suspender o benefício.

c) Proibição de contratar com a Administração


Pública, pelo período de até três anos  Há
uma corrente que entende que os efeitos da
punição limitam-se apenas à Administração
que a declara (Édis Milaré) e outra que entende
que a proibição alcançaria toda a
Administração Pública - federal, estadual e
municipal – (Flávio Dino de Castro e Costa).

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A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL EM FACE DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Regime constitucional-democrático brasileiro:

a probidade é a conduta exigível à


Administração, em todos os seus
setores e nos seus mais diversos
campos de atuação.

 A Administração Pública Ambiental DEVERÁ


atuar em todas as frentes (educando, protegendo,
recuperando, divulgando informações) visando a
proteção do ambiente.

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A Administração tem o DEVER de:

 Anular seus próprios atos, quando


viciados por ilegalidade, porque deles
nenhum dever ou direito pode resultar e

 Ainda que sejam legais, pode revogá-los


com esteio na conveniência e oportunidade,
diante de superveniente interesse público
relevante, sem prejuízo de eventual direito
adquirido e de possível apreciação judicial.

 Arbitrariedades, omissões ou atos equivocados


na promoção da gestão ambiental não podem ser
tolerados.

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 Improbidade administrativa é o designativo
técnico para a chamada corrupção administrativa,
promovendo o desvirtuamento da Administração
Pública e afrontando os princípios nucleares da
ordem jurídica

Exemplos:

a) receber vantagem econômica em troca da


expedição de uma licença ambiental;

b) agir negligentemente na conservação de um


bem público tombado;

c) negar deliberadamente publicidade a uma


licença ambiental expedida, em prejuízo de
terceiros interessados.

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Conclusão: A improbidade administrativa é
pluriofensiva, podendo gerar conseqüências
jurídicas no âmbito interno da Administração:

a) Com a responsabilização funcional do agente,


ou ainda,
b) Ensejar reflexos na órbita penal, bastando que
haja correspondência com um dos tipos
criminais desenhados pelo legislador penal,
c) Além da responsabilidade civil analisada no
caso concreto.

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