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CONCEITO DE GÊNERO -

DESDOBRAMENTOS E
DIFERENTES CORRENTES
TEÓRICAS
TRANSFORMAÇÃO DAS
CATEGORIAS
- Feminismo de “primeira onda” – categoria mulher
Movimento que se desenvolveu no final do século XIX e início do
século XX, centrado na reivindicação dos direitos políticos, sociais e
econômicos, ou seja, as demandas eram por direito ao voto, trabalho
remunerado, direito ao estudo e propriedade privada. 
Categoria pensada em oposição a homem, que era vista como uma
categoria universal, que deveria incluir todos os seres humanos. Por
sentir que não estavam incluídas nessa categoria as mulheres se
reuniram em torno de uma identidade comum.
GÊNERO: PRIMEIRA LEITURA
SOBRE A DIFERENÇA SEXUAL
NO FEMINISMO DE “PRIMEIRA
ONDA”
- Margaret Mead (1930): pesquisa comparativa entre 3 sociedades tribais da Nova
Guiné, apresentadas no livro sexo e temperamento.
- Mead buscou derrubar uma crença da sociedade americana daquele período de que
haveria um temperamento inato, ligado ao sexo. Havia um pressuposto de que as
mulheres eram mais dóceis e afetivas por decorrência da maternidade, e que os
homens eram naturalmente mais agressivos e dominadores. Essa diferença era vista
como natural, como se resultasse das diferenças dos corpos masculinos e femininos.
PAPÉIS SEXUAIS
- Mead conclui que toda sociedade de algum modo determina os papéis de homens e
mulheres, porém nem sempre em termos de contraste, dominação ou submissão.
- Ao trabalhar na perspectiva dos papéis sexuais, Margaret Mead destacou o caráter
de construção cultural da diferença sexual.
- A perspectiva dos papéis sexuais permite contestar pressupostos biológicos sobre
comportamentos de homens e mulheres. Entretanto, essa abordagem não prestava
atenção nas desigualdades e relações de poder.
- Produção que não demonstrava interesse em compreender os fatores que
contribuem para situar as mulheres em posições inferiores.
“O SEGUNDO SEXO”
Simone de Beauvoir: “O segundo sexo” (1949)
- Livro inovador que contestava o efeito das lutas para eliminar a dominação
masculina.
- Considerava que para eliminar a dominação era necessário muito mais do que
reformas nas leis. Era preciso enfrentar os aspectos sociais que colocavam a mulher
em posição inferior.
- Para isso seria necessário combater o conjunto de elementos que impediam que as
mulheres fossem autônomas.
- Apenas nos anos 60 essas reivindicações foram assimiladas por certas correntes do
pensamento feminista que privilegiava as reformas nas leis.
SIMONE DE BEAUVOIR
Beauvoir também considerava que a dominação não poderia ser explicada por
aspectos inerentes ao corpo feminino, nem à natureza. Para ela a resposta estaria na
compreensão do que a história e a cultura fizeram da "fêmea humana".

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.


Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define
a forma que a fêmea humana assume no seio da
sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse
produto. "
DOMINAÇÃO MASCULINA
- Considerava que o cerne da dominação masculina estava na educação que
preparava as mulheres para serem esposas e mães, no caráter opressivo do casamento
para as mulheres, na maternidade obrigatória (uma vez que não havia métodos
contraceptivos), na moralidade sexual diferenciada para homens e mulheres e na
falta de trabalho e profissões que permitissem as mulheres uma independência
econômica.

- “O segundo sexo” foi considerado um precursor do feminismo de “segunda onda”.


FEMINISMO DE “SEGUNDA
ONDA”
O feminismo de “segunda onda" surgiu após a 2° Guerra Mundial e buscou reivindicar igualdade no
exercício dos direitos, dando prioridade às lutas por direito ao corpo, prazer e contra a subordinação
da mulher.

- em termos políticos, consideram que as mulheres ocupam lugares sociais subordinados em relação
aos homens (subordinação feminina é pensada como universal, o que significa que as mulheres são
sempre atingidas por uma subordinação, o que as coloca em situações de desigualdade).
- Para essa abordagem a subordinação não é natural, mas decorrente das maneiras como a mulher é
construída socialmente. Se a subordinação é construída, significa que pode ser modificada. Por esse
motivo, o pensamento feminista de segunda onda colocou reivindicações voltadas para a igualdade
no exercício dos direitos, questionando, ao mesmo tempo, as raízes culturais dessas desigualdades.
- Para tanto, criaram um sujeito político coletivo, as mulheres, buscando acabar com a
subordinação. Ao mesmo tempo procuraram ferramentas teóricas para explicar as causas da
subordinação, utilizando categorias como de mulher, opressão e patriarcado.
PATRIARCADO
- Patriarcado refere-se à hierarquia baseada na estrutura familiar e no poder paterno.
- Em linhas gerais diz respeito à capacidade masculina de controlar o corpo da mulher, para
fins reprodutivos ou sexuais.
- A acumulação de informação levaram à contestação de alguns conceitos e categorias
utilizadas pelo pensamento feminista. A primeira a ser questionada foi a categoria de
patriarcado, que colocava problemas no que diz respeito às particularidades da condição
feminina em diferentes lugares e épocas.
- O patriarcado dava ao feminismo uma ideia de origem (da desigualdade), e se ele teve um
início, poderia ter um fim.
- No entanto, no decorrer de seu desenvolvimento o patriarcado passou a ser um conceito
quase vazio de conteúdo, nomeando algo vago que se tornou sinônimo de dominação
masculina, um sistema opressivo tratado as vezes como se tivesse uma natureza imutável.
- Virou alvo de críticas por tratar de maneira universal formas de poder que se alteram em
diferentes contextos, lugares e tempos.
GÊNERO
- Conceito de gênero surgiu justamente na efervescência de se buscar ferramentas
conceituais mais apropriadas para que a opressão perdesse o caráter de algo natural e
imutável.
- O conceito de gênero foi elaborado no âmbito da segunda onda do feminismo,
procurando desenvolver análises que pensasse a realidade das mulheres em relação à
totalidade da cultura e da sociedade, e não como algo recortado e separado.
- Assim como no paradigma da identidade der gênero, Institui-se uma distinção entre
sexo como algo alocado na natureza e pensado como fixo e gênero alocado na
cultura e, portanto, variável. Há, entretanto, uma ênfase no caráter político das
relações entre os sexos.
TRAJETÓRIA DO CONCEITO
- Segundo a historiadora da ciência e bióloga Donna Haraway o conceito de gênero
foi utilizado pela primeira vez em 1963 pelo psicanalista americano Robert Stoller.
- Ele utilizou o termo identidade de gênero para distinguir entre natureza e cultura.
Desse modo, sexo estaria vinculado à biologia (hormônios, genes, sistema nervoso e
morfologia) e gênero estaria relacionado à cultura (incluindo todo o aprendizado
vivido desde o nascimento).
- A não correspondência entre sexo e gênero é possível porque a "identidade de
gênero" está no plano da cultura, dos hábitos e aprendizados, não deriva dos genitais,
que pertencem à natureza.
- Stoller utilizou o termo gênero como o sexo social-cultural, diferentemente de
alguns teóricos posteriores, que o tomam como constituído por relações (Scott).
POSSIBILIDADES DO CONCEITO
DE GÊNERO
Gênero remete a um conceito elaborado por pensadoras feministas para desmontar o
duplo processo de naturalização, ou seja, o fato de as diferenças atribuídas a homens
e mulheres serem consideradas inatas, e as desigualdades entre homens e mulheres
serem percebidas como resultado dessas diferenças.
Gênero é utilizado para se referir ao caráter cultural das distinções entre homens e
mulheres, entre ideias sobre feminilidade e masculinidade, uma vez que sexo remete
a distinções inatas, biológicas.
Questão proposta por Adriana Piscitelli, que sintetiza a proposta feminista da
utilização do conceito de gênero é: como noções de feminilidade e masculinidade,
articuladas a outros aspectos, como classe social e raça, participam na produção de
desigualdades?
TRADUZINDO O DEBATE: O
USO DA CATEGORIA GÊNERO
NA PESQUISA HISTÓRICA
De acordo com Joana Maria Pedro gênero foi utilizado como sinônimo de mulher com intuito
de despolitizar e dar legitimidade institucional para os estudos feministas nos anos 1980.
Gênero parecia ter uma conotação mais objetiva e neutra do que mulheres.
Para a autora a categoria gênero foi utilizada de duas maneiras: descritiva e relacional
No aspecto descritivo gênero foi abordado como sinônimo de mulher. Porém essa abordagem
não tem força de analise suficiente para questionar os paradigmas históricos, pois continua
perpetuando a ideia de esferas separadas, mantendo apartado mundo publico e privado.
De maneira relacional gênero implica necessariamente na presença do outro e trata das
relações entre homens e mulheres, somente assim era possível afetar a “história oficial”.
O termo era uma tentativa de insistir na inadequação das teorias existentes para explicar as
desigualdades entre mulheres e homens.
SISTEMA SEXO/ GÊNERO

- Conceito de gênero se difundiu a partir do ensaio da antropóloga Gayle Rubin chamado "O
tráfico de mulheres: notas sobre a economia política do sexo", de 1975.
- Sexo/ gênero refere-se a um sistema que é um conjunto de arranjos através dos quais uma
sociedade transforma a sexualidade biológica em produtos da atividade humana.
- A autora localiza a passagem de fêmea à mulher domesticada no trânsito entre natureza e
cultura. Para ela, ao fundar-se a cultura funda-se a desigualdade e subordinação feminina.
Faz isso a partir de uma leitura crítica da teoria do parentesco enunciada por Levi-Strauss.
SISTEMA SEXO/ GÊNERO
- Sua grande contribuição é pensar em gênero articulado à sexualidade como uma dimensão
política.
- Para ela gênero é um sistema que não é apenas a identificação com um sexo, mas a
obrigatoriedade de que o desejo sexual seja orientado para o outro sexo.
- Ao longo dos anos de 1980 o sistema de sexo/gênero se disseminou, foi alvo de críticas e
reformulações.
- Nesse período a identidade política construída pelo feminismo foi intensamente contestada
por conceder pouca atenção as diferenças entre as mulheres.
- Feministas negras e do “terceiro mundo” criticavam o sistema sexo/gênero por considerar
que o foco singular no gênero fazia com que essa categoria obscurecesse ou subordinasse
todas as outras. Elas exigiam que o gênero fosse pensado como parte de um sistema de
diferenças, que se entrelaçam com distinções raciais, sexuais, de nacionalidade, classe e
idade.
DESCONSTRUÇÃO DO SEXO
- A partir do final dos anos 90 as feministas passam a questionar a anterioridade da
natureza e seu caráter fixo.
- Novas leituras sobre gênero considera que a distinção entre masculino e feminino
não esgota os sentidos do gênero.
- As/Os intersexos ilustram e problematizam essa fixidez da natureza.
- Intersexos, travestis e transexuais - Conjunto de pessoas que resistem a
classificações lineares como as de "homem" e "mulher".
- Diferentes categorias de pessoas aparecem como "dissonantes" em termos de
gênero porque embaralham as distinções entre masculino e feminino e também
confundem as normas da heterossexualidade.
ALÉM DAS MULHERES
- Para Butler essas pessoas questionam a coerência entre sexo (genitália), gênero
(aparência da pessoa como masculina ou feminina) e desejo (supostamente
heterossexual).
- Numa sociedade em que as pessoas são percebidas como seres humanos adequados
quando articulam uma coerência entre as modalidades de sexo, gênero e desejo,
essas pessoas são colocadas no lugar do abjeto, daquilo que quase não é humano.
- As pessoas que não mostram coerência entre sexo, gênero e desejo parecem
desordenar o pensamento hegemônico sobre o gênero.
CONCEITO FUNDAMENTAL
- Apesar das transformações o conceito de gênero mantém a percepção de Rubin de
que a produção de identidades de gênero que aparecem como estáveis e coerentes
responde aos interesses da heterossexualidade e da regulação da sexualidade dentro
do domínio reprodutivo.
- Essas reelaborações mostram que as normas de gênero ampliam a ideia de humano,
abrindo espaço para todos/as os/as diferentes em termos de gênero e sexualidade.
- Leituras que se esforçam para eliminar radicalmente qualquer naturalização na
noção da diferença sexual.

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