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Cultura

ELEMENTOS DA CULTURA, SOCIALIZAÇÃO E


RELATIVIDADE CULTURAL
Introdução

Cada um dos indivíduos da nossa espécie é dotado


de uma rede neural complexa que o predispõe para
processos mentais e comportamentos superiores.
Contudo, esta disposição inata não é, à partida, mais
do que uma esperança de tornar-se humano.
Nascer Homem não é condição única e suficiente
para o desenvolvimento das capacidades superiores e
especificamente humanas. A humanização só é possível
na e pela cultura e esta, por sua vez, na e pela
linguagem.
O que é a Cultura?

A cultura é o conjunto de informações e de


conhecimentos adquiridos por aprendizagem social.

Embora se trate de uma definição, a


caracterização de cultura apresentada contém
vários elementos importantes que importa
explicitar:
O que é a Cultura?

 A cultura não é algo de inato, mas algo que se


aprende;

 A aquisição de cultura significa que alguém foi


instruído e educado;

 Ser culto não significa ter dominado, apenas, a área


das artes e das letras.
O que é a Cultura?

Cultura

Conteúdo espiritual Conteúdo material


Conteúdo espiritual

Este elemento é constituído por várias componentes como,


por exemplo, as instituições (o direito, a moral, os
costumes, as tradições, os ritos simbólicos, as cerimónias,
as modas); normas (desde as normas de etiqueta às normas
jurídicas e morais); pelas crenças (expressas em «livros
sagrados», em mitos e lendas, etc.); pelos conhecimentos e
ideias (teorias científicas, concepções filosóficas) e pelas
produções literárias e artísticas.
Conteúdo material

Este factor é constituído pelas coisas e objectos


produzidos e pela tecnologia (conjunto de técnicas) para
produzir objectos e instrumentos, para adquirir
produtos (agricultura, pesca, caça, etc.), para os
transportar, etc.
Transmissão Cultural

A cultura transforma-nos de indivíduos biológicos


em seres humanos. Isolados do contacto com os outros
não nos tornamos seres humanos.

Sem um meio cultural humano a que pertençamos


desde o início da vida, não desenvolveremos as
capacidades e características que fazem de nós seres
humanos.
Transmissão Cultural – Crianças Selvagens

As crianças selvagens são crianças que cresceram com contacto humano mínimo,

ou mesmo nulo. Podem ter sido criadas por animais ou, de alguma maneira terem

sobrevivido sozinhas. Normalmente, são perdidas, roubadas ou abandonadas na

infância e, depois, anos mais tarde, descobertas, capturadas e recolhidas entre os

humanos.

Os casos que se conhecem de crianças selvagens revestem-se de grande interesse

cientifico. Elas constituem uma espécie de grau zero do desenvolvimento humano,

ensinam-nos o que seríamos sem os outros, mostram de forma abrupta a

fragilidade da nossa animalidade, revelam a raiz precária da nossa vida humana.


Crianças Selvagens - Comportamentos

• Em termos de comportamento, as crianças selvagens exibem


o comportamento social das suas “famílias adoptivas”.

• Não gostam em geral de usar roupa e alimentam-se, bebem


e comem tal como um animal o faria.

• A maioria das crianças selvagens não gostam da companhia


humana e percorrem longas distâncias para a evitar.

• Algumas crianças selvagens não mostram interesse algum


noutras crianças da sua idade nem nos jogos que estas jogam.
Crianças Selvagens - Comportamentos

• Procuram a companhia dos animais, particularmente dos


animais semelhantes à espécie dos seus “pais adoptivos”.

• As crianças selvagens não se riem ou choram, apesar de


eventualmente poderem desenvolver alguma ligação afectiva.

• Manifestam pouco ou nenhum controlo emocional e, muitas


vezes, têm ataques de raiva podendo então exibir uma força
particular e um comportamento claramente selvagem.

• Algumas crianças têm ataques de ferocidade ocasionais,


mordendo ou arranhando outros ou até eles mesmo.
Crianças Selvagens - Factores

O fenómeno das crianças selvagens é explicado pelos


seguintes factores:

- O homem é um animal social: só se pode desenvolver


plenamente se estiver inserido numa sociedade humana;

- O homem é um ser cultural: nasce desprovido de


meios para poder adaptar-se, por si só, ao meio e para
conseguir garantir a sua sobrevivência;
Crianças Selvagens - Factores

- É através da socialização que o homem se integra


numa sociedade e adquire as capacidades
especificamente humanas: a capacidade de falar (de usar
uma linguagem simbólica) ; capacidade de pensar e de
fazer escolhas racionais (que só é possível graças à
liberdade); a capacidade de atribuir valores à realidade e
às suas acções, de forma a poder orientar a sua vida em
função de normas e de escolhas pessoais.
Socialização
A socialização é um processo que, decorrendo no interior de uma dada
cultura sob a influência de diversos agentes socializadores (família,
creches, escola, grupos de pares, meios de comunicação social,
instituições sociais, políticas, religiosas, militares), tem como objectivo
que o indivíduo aprenda e interiorize padrões culturais, competências e
conhecimentos que facilitem a sua integração social, assim como a
construção e o desenvolvimento da sua personalidade própria (da sua
identidade pessoal e social).

Pode-se distinguir em dois tipos de socialização: a socialização primária


e a socialização secundária.
Socialização Primária

A socialização primária realiza-se, essencialmente,


no seio da família, das escolas e dos grupos de pares,
durando desde os primeiros meses de vida até à
adolescência, e consiste na adaptação aos padrões
culturais fundamentais da sociedade em que nos
inserimos.
Socialização Secundária

A socialização secundária começa com a idade


adulta, pode durar o resto da vida e verifica-se sempre
que há mudanças significativas na nossa condição social:
o casamento, o nascimento de filhos, o primeiro
emprego (e também os seguintes), a reforma, etc., são
situações novas que implicam uma adaptação pautada
em grande parte por valores, normas e concepções da
cultura a que se pertence.
Diversidade Cultural

A diversidade cultural não é só aquilo que trazemos escrito no código genético, pois não é

suficiente para crescermos como humanos. Alguns dos nossos órgãos mais complexos e

poderosos, como Cérebro, dependem, do desenvolvimento de capacidades, de informação

que não está contida em si mesmo, têm que aprender, criar e compreender o seu

funcionamento. Sem a cultura, sem as possibilidades de desenvolvimento que nos

proporciona crescermos num contexto cultural particular, seríamos seres incompletos.

Nascemos, crescemos e vivemos em contextos socioculturais muito variados. É nestes que

se desenvolve, em interacções uns com os outros e com os diferentes ambientes e situações

de aprendizagem, a capacidade de criar e de transformar subjacente ao processo de

adaptação.
Diversidade Cultural

O homem recebe do meio, em primeiro lugar, a definição do bom e do


mau, do confortável e do desconfortável. Deste modo, os chineses
preferem os ovos podres e os oceanenses o peixe em decomposição. Os
americanos comem ostras, mas não caramujos. Os franceses comem
caramujos, mas não gafanhotos. Os zulus comem gafanhotos, mas não
peixe. Os judeus comem peixe, mas não porco. Os hindus comem porco,
mas não vaca. Os russos comem vaca, mas não cobra. Os chineses
comem cobra, mas não pessoas. Os jalés da Nova Guiné acham as
pessoas deliciosas.
Relatividade Cultural

A expressão «relatividade cultural» significa que o


comportamento humano não pode ser compreendido e
avaliado fora do seu contexto cultural, isto é, deve ser julgado
consoante o meio cultural que o condiciona e em que se
formou. Cada sociedade tem os seus próprios padrões de
cultura (normas, valores, concepções) e esses padrões ou
modelos permitem-nos compreender os comportamentos e as
atitudes dos elementos que a compõem. Não há, portanto,
aspectos culturais em si e por si bons ou maus.
Socialização e individuação:
a identidade pessoal

 Cada um de nós é ao mesmo tempo natureza, sociedade e cultura.


Somos aquilo que nos deram (o que herdamos por via genética),
somos o que fizeram de nós (mediante a transmissão social) e
somos o que fizemos e fazemos de nós (mediante as nossas
experiências e o modo como reagimos à influência dos outros).

 Em cada indivíduo convergem múltiplas influências de ordem


biológica, social e cultural. A nossa identidade pessoal (a que se
pode chamar personalidade) é a história do modo como vivemos,
interpretamos e interiorizamos as experiências que, sobre um fundo
biológico e sociocultural, marcam o nosso desenvolvimento.
 da a
Socialização e individuação:
a identidade pessoal

 A nossa identidade pessoal é um cruzamento de influências


hereditárias e ambientais que, em certa medida, são interpretadas
por nós, isto é, assimiladas (auto-organizadas) de acordo com o
significado que atribuímos às nossas experiências pessoais.

 A identidade pessoal designa um modo singular, único e


relativamente constante de agir, pensar e sentir, resultante da
integração e apropriação ao longo da vida de influências
hereditárias, ambientais e do significado que atribuímos às
experiências que vivemos.

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