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TEORIA DO DESESENVOLVIMENTO

COGNITIVO DE JEAN PIAGET

Uma abordagem interacionista do conhecimento


humano
DADOS BIOGRÁFICOS
1896 – 1980 (Suíça)

1907 => publicação do primeiro artigo (11 anos)

1918 => doutorado em biologia

1919 => padronização de testes de inteligência (Binet) ;


início do interesse pelos processos de raciocínio infantil
 
1921 => direção do Instituto de Pesquisas Psicológicas e
Educacionais J. J. Rousseau (Genebra)
 
1955 => Fundação do Centro Internacional de
Epistemologia Genética (pesquisas interdisciplinares)
Questões básicas:
Como o ser humano adquire conhecimento?
Como se passa de um nível mais elementar de conhecimento a outro
mais elaborado?

Interesses:

Epistemologia Genética
Estudo da gênese (formação; origem e desenvolvimento) do
conhecimento => sujeito epistêmico.
Construtivismo
O conhecimento é construído pelo sujeito a partir de sua
Interação com o “objeto” (mundo físico e social)
Desenvolvimento intelectual
Construção de estruturas cognitivas que vão se aperfeiçoando até
atingir um estado de equilíbrio superior, na adolescência.
Algumas obras importantes:
•A linguagem e o pensamento na criança (1923) Análise das respostas
verbais das crianças
• A representação do mundo na criança (1926) a questões colocadas
• O julgamento moral na criança (1932) verbalmente (méodo
clínico)
•O nascimento da inteligência na criança (1936)
Observação de bebês
• A construção do real na criança (1937) de 0 a 2 anos
• A formação do símbolo na criança (1946)
•Da lógica da criança à lógica do adolescente
(c/ B. Inhelder - 1955) Provas operatórias
(respostas verbais +
•A gênese das estruturas lógicas elementares: Manipulação de objetos)

a classificação e a seriação (1956)


•Seis estudos de Psicologia (1964)
“livros-síntese” da teoria
•Psicologia da criança (c/ B. Inhelder – 1966)
•Epistemologia genética (1970)
•Psicologia e pedagogia (1969)
• Para onde vai a educação (1971) Obras sobre educação
ORGANIZAÇÃO
(aspecto interno,
ESTRUTURAL)

INTELIGÊNCIA
ADAPTAÇÃO
(aspecto externo,
FUNCIONAL)

ASSIMILAÇÃO
ACOMODAÇÃO
(incorporação de elementos do meio (modificação das estruturas do
às estruturas do organismo)
sujeito para poder assimilar os
Implica numa “transformação” do elementos/objetos do meio)
objeto em função das estruturas do
sujeito

EX. BIOLÓGICO DE ADAPTAÇÃO => ALIMENTAÇÃO


ESTRUTURAS E ESQUEMAS
 estruturas biológicas: têm existência concreta. Ex: estômago,
pulmão, etc.
 estruturas cognitivas: são formas de organização da atividade
mental. Não têm existência concreta. Podem apenas ser inferidas (são
constructos hipotéticos)

Ex. psicológico de adaptação

Adaptar-se intelectualmente à
realidade é assimilar (interpretar)
aspectos dessa realidade de acordo
com alguma organização ou
estrutura cognitiva pré-existente

Esquemas: são as unidades estruturais através das quais os


indivíduos intelectualmente organizam sua experiência e se adaptam ao
meio.
ESQUEMAS
Piaget propõe dois tipos de esquemas cognitivos
esquemas de ação (ou sensório-motores)
esquemas mentais (ou representativos)

Os esquemas de ação começam a ser construídos a partir do


nascimento. Se originam dos reflexos (sucção, preensão, etc),
consolidando-se e diferenciando-se a partir da repetição, em função dos
objetos aos quais se aplicam.

esquema de ação => o que há de comum nas várias repetições da


mesma ação. Ex: esquema de sugar, agarrar, balançar, etc.

Os esquemas de ação dão origem aos esquemas representativos


(pensamento), pela interiorização da ação.
Os esquemas representativos são
semelhantes aos conceitos. São estruturas
mentais que organizam os objetos e
eventos percebidos pelo organismo,
possibilitando que os mesmos sejam
classificados em grupos, de acordo com
suas características comuns.

esquemas ou estruturas cognitivas =>


referem-se à organização interna que
possibilita o conhecimento e orienta a ação
ASSIMILAÇÃO => o objeto (vaca) é assimilado ao
esquema mental do sujeito (cachorro)

Wadsworth, B. J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Jean Piaget


São Paulo: Pioneira, 5a. Ed. , 1997 (p. 18)
FUNCIONAMENTO INTELECTUAL

Todo o funcionamento intelectual consiste num processo


ativo de assimilação do novo ao velho e de acomodação
do velho ao novo.

assimilação e acomodação => invariantes funcionais


 
assimilação: processo pelo qual uma pessoa integra um
novo dado (objeto, informação, situação) a um esquema de
ação ou a um esquema mental já existente.

acomodação: processo de criação de novos esquemas ou


modificação (ajustamento) de esquemas já existentes para
permitir a assimilação de um novo dado

Quanto maior a novidade, maior será a acomodação e


também a mudança da estrutura cognitiva.
PROCESSO DE EQUILIBRAÇÃO
Novidade gera=> perturbação, desequilíbrio.

Caso não seja possível assimilar diretamente a novidade, é necessário


modificar ou criar outros esquemas (acomodação). Quando a
assimilação acontece, o equilíbrio é restituído num nível superior.
ESTÁGIOS DO DESENVOVIMENTO
COGNITIVO
• Entre a criança e o adulto observa-se a construção de
estruturas cognitivas variadas, embora as grandes funções do
pensamento (assimilação e acomodação) sejam constantes
(invariantes funcionais)

• O processo de desenvolvimento cognitivo pode ser dividido


em 4 grandes estágios:
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO => processo de construção de sucessivas
estruturas cognitivas, sendo que cada nova estrutura resulta da precedente,
englobando-a e superando-a.

ESTÁGIO DAS
OPERAÇÕES FORMAIS

ESTÁGIO DAS
OPERAÇÕES CONCRETAS

ESTÁGIO
Os estágios têm um PRÉ–OPERACIONAL
caráter integrativo. A ordem de sucessão dos
As estruturas cognitivas estágios é constante.
construídas num Porém, as idades em que
determinado estágio são as crianças atingem cada
integradas nas estruturas ESTÁGIO estágio podem variar
do estágio seguinte SENSÓRIO-MOTOR em função de aspectos
biológicos e ambientais
Fatores do Desenvolvimento cognitivo
I - ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR (0 A 2 ANOS)

• Egocentrismo inconsciente => indiferenciação entre o eu e o mundo

• Ausência de pensamento e linguagem

• Construção de noções práticas de objeto permanente, espaço, tempo e


causalidade
• https://www.youtube.com/watch?v=LWehMRtdGY8

 inteligência prática (solução de problemas concretos, baseando-se na


percepção e ação) => coordenação de esquemas de ação diferenciando
entre meios e fins
Ex: puxar um barbante para pegar o objeto amarrado a ele

A inteligência prática ou S-M consiste no alicerce de toda a inteligência


posterior
II- ESTÁGIO PRÉ-OPERATÓRIO (2 A 7 ANOS)

• capacidade de representação ou função simbólica


capacidade de utilizar um símbolo para
representar um objeto ausente

Condutas Simbólicas
•Imitação diferida (ocorre posteriormente, na
ausência do modelo)
•Jogo simbólico (brincadeira de “faz de conta”)
•Desenho
•Linguagem (egocêntrica => linguagem social)

•Imagem mental
• CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO PRÉ-
OPERATÓRIO (4 a 6 anos)
http://www.youtube.com/watch?v=qyNGFOpRSE4
1. raciocínio pré-lógico => baseado na percepção (imagens mentais
estáticas, não acompanham transformações)
2. ausência de reversibilidade => incapacidade de reverter
mentalmente uma ação ou pensamento efetuado
3. ausência da noção de conservação (quantidade, líquido,
substância, peso, volume)
4. Pensamento animista => atribuição de vida a objetos inanimados
5. Egocentrismo => Incapacidade para raciocinar a partir do ponto
de vista do outro
http://www.youtube.com/watch?v=OinqFgsIbh0&feature=related
III- ESTÁGIO DAS OPERAÇÕES CONCRETAS
(7 A 12 ANOS)
•Surgimento das operações: ações internalizadas
(realizadas mentalmente) e reversíveis (passíveis de serem
revertidas mentalmente),
•Reversibilidade => possibilita pensamento lógico sobre
a realidade concreta,
Estágio Operatório
Estágio
Estágio Pré-operatório
Sensório-Motor
III - ESTÁGIO OPERATÓRIO-CONCRETO (7 a 12 anos)

Noção de conservação

A B A B’
Compreensão de que a quantidade de massa em A é igual á quantidade de
massa em B’
Argumentos Lógicos
Identidade (não tirou nem acrescentou nada)
Reversibilidade por inversão (possibilidade de voltar mentalmente ao ponto de
partida)
Reversibilidade por compensação/reciprocidade (B’ é mais alto, porém mais fino)
III- ESTÁGIO OPERATÓRIO-CONCRETO (7 a 12 anos)

OPERAÇÕES LÓGICAS

operação de classificação operação de seriação

Realizar agrupamentos lógicos,


de acordo com semelhanças

Ordenar
Compreensão da objetos de
relação de inclusão acordo com
de classes algum critério
(parte < todo) lógico
IV- ESTÁGIO DAS OPERAÇÕES FORMAIS (12 a 16
anos e +...)

• Ápice da estruturação cognitiva (enquanto potencialidade)


 Capacidade de lidar logicamente com conceitos abstratos
(justiça, solidariedade, democracia)
 Pensamento logico-formal: Ex: Se A < B
e B < C,
então: A < C
 Raciocínio hipotético-dedutivo (sobre possibilidades)
 Raciocínio científico-indutivo
 Esquemas operacionais formais: proporção, probabilidade,
combinatória
• Problema dos líquidos: buscar a mistura que produz
determinado efeito (cor amarela)

B
A de raciocinar
Capacidade Csobre umDconj. deEvariáveis combinatória
ao mesmo tempo,
testando sistematicamente todas as combinações possíveis: AB, AC, AD, AE,
BC, BD, BE, ...

• Problema do pêndulo: descobrir o(s) fator(es) que controla(m) o


ritmo de oscilação (peso e/ou comprimento do cordão)

comprimento peso oscilação

longo leve lenta

curto leve rápida

longo pesado lenta

curto pesado rápida


FATORES EXPLICATIVOS DO DESENVOLV. COGNITIVO
Maturação: refere-se ao crescimento físico e à maturação biológica
do sistema nervoso.
A maturação abre possibilidades e impõe limites para a construção das
estruturas cognitivas.
Experiência Ativa: refere-se às ações sobre os objetos
As ações (físicas e mentais) sobre os objetos provocam assimilação e
acomodação, resultando em mudanças cognitivas e possibilitando a
construção do conhecimento físico e lógico-matemático.
Interação Social: refere-se às relações sociais (linguagem, educação)
O intercâmbio de ideias entre as pessoas é particularmente importante para
o desenvolvimento do conhecimento social
Também pode ser fonte de conflitos (sócio)cognitivos quando a criança
toma conhecimento de que há outras formas de pensar diferentes da sua, o
que pode levar ao desequilíbrio e consequente reestruturação cognitiva.
Equilibração: tendência a compensar perturbações
É um fator interno, auto-regulador, que permite a passagem de um
estado de desequilíbrio para um estado de equilíbrio. Seus instrumentos são
a assimilação e a acomodação.
AÇÃO E CONHECIMENTO
Para Piaget, a construção dos esquemas (e portanto do
próprio conhecimento) é resultante das ações da criança
sobre os objetos e eventos do ambiente.

AÇÕES CONSTRUÇÃO
DE ESQUEMAS CONHECIMENTO
(assim. e acom.)

 agindo sobre o ambiente a criança constrói, amplia e


(re)organiza os esquemas que lhe permitem conhecer o real
As ações não precisam ser necessariamente manifestas.
Até 2 anos => predominam as ações manifestas (físicas)
Após 2 anos => coexistem ações manifestas (físicas) e
internalizadas (mentais)
TIPOS DE CONHECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
MORAL
MORAL E ÉTICA
Desenvolvimento Moral

• Toda moral consiste num sistema de regras , e a essencia de toda


moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire
por essas regras.

Jean Piaget, O julgamento moral na criança (1932)


Piaget (O julgamento moral na criança)

• Objetivo: estudar o desenvolvimento do julgamento


moral

•- Regras (jogos infantis)


-- Justiça (normas impostas pelos pais, professores)
-- Punição (expiação x reciprocidade)
-- Mentira
SOCIALIZAÇÃO E DESENV. MORAL

Julgamento pelas consequências Julgamento pelas intenções


Regras vistas como imutáveis Regras definidas por consenso
“Moral da obediência” “Moral do dever”
Punição por expiação Punição por reciprocidade

Relações de coação Relações de cooperação


e respeito unilateral e respeito mútuo
(adulto/criança) (criança/criança)

 Importância do tipo de interação social para o desenv. moral


Implicações pedagógicas

• As crianças precisam de liberdade (ausência da interferência adulta)


para cometer erros a fim de verem os resultados de suas ações

• A partir dos 7 anos é proveitoso discutir questões morais


(relacionadas aos conflitos vivenciados e à forma como foram
“resolvidos”)

• Autonomia => força de vontade => construção de uma escala


“permanente” de valores

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