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Os 4 conceitos

fundamentais de
psicanálise
1 – O inconsciente
2 – A repetição
3 – A transferência
4 – A Pulsão
1 – 0 inconsciente
A diferenciação do psíquico em consciente e inconsciente é a premissa básica da psicanálise e o
que a ela permite compreender e inscrever na ciência os processos patológicos da vida psíquica,
tão frequentes e importantes. (Freud, Eu e o Id, 1923)
1 – Incosciente
Aprendemos — isto é, tivemos de supor — que existem poderosos processos ou ideias psíquicas
(e aqui entra em consideração, pela primeira vez, um fator quantitativo, e portanto econômico)
que podem ter, na vida psíquica, todos os efeitos que têm as demais ideias, incluindo efeitos tais
que por sua vez podem tornar-se conscientes como ideias, embora eles mesmos não se tornem
conscientes. (Freud, O Eu e o id. 1932)
Inconsciente Basta dizer que aqui aparece a teoria psicanalítica, afirmando
que tais ideias não podem ser conscientes porque uma certa
força se opõe a isto, que de outro modo elas poderiam tornar-se
conscientes, e então se veria como elas se diferenciam pouco de
outros elementos psíquicos reconhecidos.

Ao estado em que se achavam estas, antes de tornarem-se


conscientes, denominamos repressão, e dizemos que durante o
trabalho analítico sentimos como resistência a força que
provocou e manteve a repressão.

(Freud, O Eu e o Id, 1923)


inconsciente
Adquirimos nosso conceito de inconsciente a partir da teoria da repressão. O reprimido é, para
nós, o protótipo do que é inconsciente. Mas vemos que possuímos dois tipos de inconsciente: o
que é latente, mas capaz de consciência, e o reprimido, que em si e sem dificuldades não é capaz
de consciência. (Freud, 1923)
Inconsciente
Ao que é latente, tão só descritivamente inconsciente, e não no sentido dinâmico, chamamos de
pré-consciente; o termo inconsciente limitamos ao reprimido dinamicamente inconsciente, de
modo que possuímos agora três termos, consciente (cs), pré-consciente (pcs) e inconsciente
(ics), cujo sentido não é mais puramente descritivo. O Pcs, supomos, está muito mais próximo
ao Cs do que o Ics, e, como qualificamos o Ics de psíquico, tampouco hesitaremos em qualificar
o Pcs latente de psíquico. (Freud, 1923)
Inconsciente
Mas no curso posterior do trabalho psicanalítico verifica-se que também essas diferenciações
não bastam, são insuficientes na prática.

Formamos a ideia de uma organização coerente dos processos psíquicos na pessoa, e a


denominamos o Eu* da pessoa. A este Eu liga-se a consciência, ele domina os acessos à
motilidade, ou seja: a descarga das excitações no mundo externo; é a instância psíquica que
exerce o controle sobre todos os seus processos parciais, que à noite dorme e ainda então pratica
a censura nos sonhos. (Freud, O eu e o Id, 1923)
inconsciente

Desse Eu partem igualmente as repressões através


das quais certas tendências psíquicas devem ser
excluídas não só da consciência, mas também dos
outros modos de vigência e atividade. Na análise, o
que foi posto de lado pela repressão se contrapõe ao
Eu, e ela se defronta com a tarefa de abolir as
resistências que o Eu manifesta em ocupar-se do
reprimido. (Freud, 1923)
Inconsciente durante a análise observamos que o doente
experimenta dificuldades quando lhe colocamos
certas tarefas; suas associações falham quando
devem aproximar-se do reprimido. Aí lhe
dizemos que ele se acha sob o domínio de uma
resistência, mas ele nada sabe disso, e mesmo
que intua, por suas sensações de desprazer, que
uma resistência atua nele então, não sabe dar-lhe
nome ou descrevê-la.
Encontramos no próprio Eu algo que é também
inconsciente, comporta-se exatamente como o
reprimido, isto é, exerce poderosos efeitos sem tornar-
se consciente, e requer um trabalho especial para ser
tornado consciente.
A partir da nossa compreensão das relações
estruturais da vida psíquica, temos de
substituir essa oposição por uma outra:
aquela entre o Eu coerente e aquilo
reprimido que dele se separou.
pois a qualidade de
ser consciente ou não
é, afinal, a única luz
na escuridão da
psicologia das
profundezas
Também o Ics só podemos
conhecer ao torná-lo consciente.
Porém,

como é possível isto?

Que significa tornar algo


consciente?

Como pode isto suceder?


A questão: “Como algo se
torna consciente?” seria,
mais apropriadamente
formulada: “Como algo se
torna pré-consciente?”. E a
resposta seria: pela ligação
com as representações
verbais correspondentes.
Essas representações
verbais são resíduos de
memória; foram uma vez
percepções e, como todos os
resíduos mnemônicos,
podem voltar a ser
conscientes.
apenas pode tornar-se
consciente aquilo que uma vez
já foi percepção cs, e que,
excluindo os sentimentos, o
que a partir de dentro quer
tornar-se consciente deve
tentar converter-se em
percepções externas
As sensações de caráter
prazeroso nada possuem de
premente em si, mas as
sensações desprazerosas têm
isso em alto grau.

Elas premem por mudança,


por descarga, e portanto
referimos o prazer a uma
elevação e o prazer a uma
diminuição do investimento
de energia.
a diferença entre Cs e Pcs não tem
sentido para os sentimentos, o Pcs
aqui não cabe, os sentimentos são
conscientes ou inconscientes. Mesmo
ao serem ligados a representações
verbais, não devem a elas o fato de
tornar-se conscientes, mas fazem-no
diretamente.
O Eu não é nitidamente separado
do Id; conflui com este na direção
inferior.
Mas também o reprimido conflui com o Id, é somente uma
parte dele. O reprimido é claramente separado do Eu apenas
pelas resistências da repressão; pelo Id pode comunicar-se
com ele.
O Eu - esforça em fazer valer a influência do mundo externo sobre o Id e os seus
propósitos, empenha-se em colocar o princípio da realidade no lugar do
princípio do prazer, que vigora irrestritamente no Id. A percepção tem, para o
Eu, o papel que no Id cabe ao instinto. O Eu representa o que se pode chamar
de razão e circunspecção, em oposição ao Id, que contém as paixões
A importância funcional do Eu se
expressa no fato de que
normalmente lhe é dado o controle
dos acessos à motilidade. Assim, em
relação ao Id ele se compara ao
cavaleiro que deve pôr freios à
força superior do cavalo, com a
diferença de que o cavaleiro tenta
fazê-lo com suas próprias forças, e
o Eu, com forças emprestadas
Assim como o cavaleiro, a fim de
não se separar do cavalo, muitas
vezes tem de conduzi-lo aonde ele
quer ir, também o Eu costuma
transformar em ato a vontade do Id,
como se ela fosse a sua própria.
O Eu é sobretudo corporal, não é
apenas uma entidade superficial, mas
ele mesmo a projeção de uma
superfície.
Bem mais peculiar é uma outra constatação.
Aprendemos, em nossas análises, que há pessoas nas
quais a autocrítica e a consciência [moral],* ou seja,
ações psíquicas altamente valorizadas, são
inconscientes e, enquanto tais, produzem os efeitos mais
importantes; o fato de a resistência permanecer
inconsciente na análise não é, portanto, a única
situação desse tipo.M
Mas a nova constatação, que nos
obriga, apesar de nossa melhor
compreensão crítica, a falar de um
sentimento de culpa inconsciente,
desconcerta-nos bem mais e nos
oferece novos enigmas, sobretudo
quando gradualmente notamos que
um tal sentimento de culpa
inconsciente tem papel decisivo,
em termos econômicos, num
grande número de neuroses, e
ergue os maiores obstáculos na
direção da cura.
Se o Eu fosse apenas a parte do Id
modificada por influência do sistema
perceptivo, o representante do mundo
externo real na psique, estaríamos
diante de algo simples.

Mas há outras coisas a serem


consideradas.
Os motivos que nos levaram a supor uma
gradação no Eu, uma diferenciação em seu
interior que pode ser chamada de “ideal do Eu”
ou Super-eu ... novidade que exige explicação é o
fato de essa parcela do Eu ter relação menos
estreita com a consciência.
Talvez, com essa introjeção que é uma espécie de
regressão ao mecanismo da fase oral, o Eu
facilite ou permita o abandono do objeto. Talvez
essa identificação seja absolutamente a condição
sob a qual o Eu abandona seus objetos. De todo
modo, o processo é muito frequente, sobretudo
nas primeiras fases do desenvolvimento,
O caráter do Eu é um precipitado dos
investimentos objetais abandonados, de
que contém a história dessas escolhas
de objeto
Se o Eu assume os traços do objeto, como que se oferece ele próprio
ao Id como objeto de amor, procura compensá-lo de sua perda,
dizendo: “Veja, você pode amar a mim também, eu sou tão
semelhante ao objeto”.
A transformação da libido objetal em libido
narcísica, que então ocorre, evidentemente
acarreta um abandono das metas sexuais,
uma dessexualização, ou seja, uma espécie
de sublimação
De volta à origem do ideal do Eu, pois por trás dele se esconde a primeira e mais
significativa identificação do indivíduo, aquela com o pai da pré-história pessoal. Esta
não parece ser, à primeira vista, resultado ou consequência de um investimento objetal; é
uma identificação direta, imediata, mais antiga do que qualquer investimento objetal.
Mas as escolhas de objeto pertencentes ao primeiro período sexual e relativas a pai e mãe
parecem resultar normalmente em tal identificação, e assim reforçar a identificação
primária
Dois fatores respondem por essa complexidade:

a natureza triangular da situação edípica

e a bissexualidade constitucional do indivíduo.


o desenlace da situação edípica numa identificação com o pai
ou a mãe parece depender, em ambos os sexos, da relativa força
das duas disposições sexuais. Esta é uma das formas como a
bissexualidade intervém no destino do complexo de Édipo.
Uma investigação mais penetrante mostra, em geral, o
complexo de Édipo mais completo, que é duplo, um positivo e
um negativo, dependente da bissexualidade original da
criança; isto é, o menino tem não só uma atitude ambivalente
para com o pai e uma terna escolha objetal pela mãe, mas ao
mesmo tempo comporta-se como uma garota, exibe a terna
atitude feminina com o pai e, correspondendo a isso, aquela
ciumenta e hostil em relação à mãe.

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